A guerra pelo controle do tráfico de drogas na Rocinha, iniciada às 18h30 de quarta-feira, só terminou por volta das 7h de ontem. No rastro das mais de dez horas de confronto entre quadrilhas rivais, cinco moradores da comunidade e um bandido mortos, oito pessoas feridas, 14 traficantes presos, um suspeito detido, o comércio no local fechado e medo e terror disseminados por bairros vizinhos à maior favela da América Latina.
Pela terceira vez em menos de um ano, moradores da Rocinha, da Gávea e de São Conrado, reféns do cotidiano de violência na cidade, assistiram a cenas de uma guerra civil. Do momento da invasão, detalhada num mapa apreendido pela polícia em uma calça largada por um dos bandidos, até a fuga desesperada, cerca de 40 traficantes de quatro favelas rivais impuseram o terror. Todos vestidos de preto, pintura de carvão no rosto e armados com fuzis, pistolas e granadas.
Para quem mora na favela, silêncio e medo marcaram o fim da noite e toda a madrugada, em grande parte dela às escuras depois que os bandidos explodiram um transformador de energia. Muitos sequer dormiram em casa, impedidos de subir.
Aos moradores dos bairros vizinhos, o exílio em casa já não parece ser suficiente. Desesperados, traficantes em fuga aterrorizaram algumas pessoas no Alto Leblon. Um bando invadiu um edifício na Sambaíba, onde o administrador de condomínio X., 42 anos, e dois funcionários passaram duas horas nas mãos dos bandidos. Eles, diversas vezes, ameaçaram queimar X. vivo.
Ao fim do confronto, diante de uma aparente normalidade, as autoridades de segurança repetiram o discurso. As favelas da Rocinha e do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, onde foi planejada a invasão, foram ocupadas por policiais militares, assim como o Alto Leblon teve o policiamento reforçado. Para as vítimas da guerra, horas sem sono, traumas e dor.
- Essa guerra maldita, que nunca termina, levou meu único sobrinho - desabafou Cristiane de Castro, tia do estudante Diego de Araújo Lima, 14 anos, morto por uma bala perdida no confronto.
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Pânico chega ao Alto Leblon
Bando foge pela mata e invade prédio na Sambaíba
O pânico vivido pelos moradores do Alto Gávea não se limitou à tarde de quarta-feira, quando cerca de 40 homens vestidos de preto invadiram a Favela da Rocinha. O bando da facção criminosa Comando Vermelho (CV), que tentou tomar o morro, fugiu justamente pela região. Depois de atravessarem um portão que separa a Rua Caio Mário da mata, entraram na floresta e foram até o Alto Leblon, onde invadiram um prédio.
Vinte policiais do 23º BPM (Leblon) montaram um cerco na Rua Timóteo da Costa, ainda na noite de quarta, para prender os bandidos. Dois foram pegos quando desciam pela mata, por volta das 23h. Um deles estava baleado. Os PMs desistiram das buscas na mata e pouco depois da meia-noite foram acionados por seguranças particulares por causa da invasão por bandidos do edifício 699 da Rua Sambaíba.
Os criminosos estavam na mata localizada nos fundos do edifício e renderam o administrador do Condomínio Quintas e Quintais, e mais dois funcionários. Segundo a presidente da Associação Comercial do Leblon, Evelyn Rosenweig, os bandidos ficaram cerca de duas horas no prédio. O administrador chegou a sofrer ameaças de ser queimado vivo.
A invasão ocorreu à noite mas só por volta das 6h o síndico e o porteiro foram rendidos com golpes de gravata por quatro bandidos. Eles foram levados para a casa de máquinas. Vestidos como funcionários do local, dois criminosos saíram e foram presos. Os PMs negociaram a rendição dos outros dois - que acabaram capturados - e foram aplaudidos pelos moradores ao término da operação. A mulher de Leandro de Souza, 22 anos, um dos presos, aguardava em um táxi e também foi detida.
Às 7h de ontem, a polícia reiniciou as buscas no Alto Leblon e trocou tiros com traficantes. Cerca de 10 bandidos conseguiram fugir do cerco e interceptaram a Pajero da psicóloga Mônica Gonçalves, 40 anos, próximo ao Clube Federal, na Timóteo da Costa.
- Minha mulher estava levando nossa filha de um ano e meio à creche quando eles a mandaram descer. Ela pediu que a deixassem tirar a menina e correu - contou o engenheiro civil Sérgio Gonçalves, 47 anos, no Morro do Pavão-Pavãozinho, onde foi buscar o carro, recuperado pela PM horas depois.
Na mesma rua, bandidos roubaram o Fox branco de uma chilena, moradora do 699, assim que ela deixou o prédio. A professora de bioquímica Elba Bon, 50 anos, voltava de uma caminhada, na manhã de ontem, quando se deparou com o Caveirão (carro blindado do Batalhão de Operações Especiais) estacionado na porta de seu edifício.
- Pagamos o IPTU mais alto do Rio e é isso que temos em troca. A população está entregue - reclamou.
O engenheiro Luiz Fernando Gabaglia Penna, presidente da Associação de Moradores do Alto da Gávea, presenciou os dois lados da mesma viagem: a chegada dos traficantes, que atacaram pelo Clube Umuarama, pela Rua 1, e a fuga. Impressionado, ele contou:
- Moro há 24 anos aqui e nunca vi nada parecido. Os tiros faziam o Rio lembrar Beirute.
A PM apreendeu seis fuzis, 654 munições, oito carregadores e um celular. O material foi levado para a 15ª DP (Gávea).