LeandroGCard escreveu:O que questionei foi confundir isso com a não-necessidade de apoio e incentivo ao nosso setor industrial, sub-entendida na frase "deixarmos de produzir o que fazemos bem". Um mantra dos quem tem uma visão liberal utópica de que o mercado sozinho vai resolver todos os problemas se apenas se os agente econômicos buscarem trabalhar da forma mais "livre" e "eficiente" possível.
Leandro G. Card
Mas quem disse isso?
Isso é um mantra que vem de dois lugares. O primeiro dos ultra libertários que só existem na internet e redes sociais. O segundo, mais comum e disseminado, de um suposta esquerda e, principalmente, setores rent-seeking (sequestradores de renda) que usam como forma de justificar que na mude e permanece igual. Esse pessoal que está por trás dos empréstimos subsidiados do BNDES, incentivos tributários no nível federal e estadual, e que entravam concorrência nacional de novas firmas e estrangeiras. Não que não exista em outros países, mas no Brasil são mais cara de pau e tem margem para agir.
Aqueles trabalham com comércio internacional, políticas de integração regional, política industrial, desenho de sistema tributário, regulação e investimentos em infraestrutura nunca disse isso. Sem partidarizar e transformar na guerra coxinha vs mortandela como é no Brasil. Quer dizer, que virou nos últimos anos, já que nos grandes tempos que Lula I, o Palocci chamou os melhores especialista da época e nenhum deles era do PT e nem da Unicamp. Por que o mundo real cheio de imperfeições não é assim que funciona. Além disso, as preferências e os objetivos não são claros, mudam entre países e regiões dentro de países, não existe um bom ou ruim. isso é discussão de planejamento e ação no setor privado e público.
Essa tal utopia liberal é incorporada no modelo teórico de mercado perfeito (produtos iguais, agentes tomadores de preços, libre entrada e saída, agentes racionais e informação perfeita). É um modelo teórico idealizado e formalizado nos anos 1950, mas o que não contam que o ponto inicial para introduzir imperfeições, elementos não mercado (as famosas instituições), verificar os efeitos, como intervir. De lá surgiu uma literatura gigantesca sobre contratos, problemas de informação, regulação setorial e desenho de processo concorrencial.
Não é novo, tanto que tem artigo de 1974
https://assets.aeaweb.org/assets/produc ... 91-303.pdf
No Brasil, começou surgir material aplicado aos problemas nacional
https://www.insper.edu.br/wp-content/up ... wpe311.pdf
Outro exemplo do livre comércio e vantagens comparativas. Existe uma evolução de dois séculos em uns dois séculos:

Século XVIII do adam smith e outros - especializar no que é mais produtivo e exige menos trabalho;

Século XIX e modelo Ricardiano - alocar mais trabalho proporcionalmente para o bem que é mais produtivo;

Começo do século XX e o modelo H-O - precisa considerar outros fatores como capital e trabalho para explicar produtividade e que afeta distribuição de renda;

Meio do século XX introdução da incerteza e problemas informacionais - o mundo não é perfeito, instabilidade política e econômica afetam o padrão de comércio;

Anos 1970 com ganhos escala e avanço técnico - a escala é importante para entender desenvolvimento tecnológico e especialização do país ou região;

Anos 1980 considerar mobilidade de capital e trabalho - colocar em pauta transferência de tecnologia, migração e multinacionais e como afetam produtividade, eficiência e distribuição de renda;

Atualmente efeito sobre aspectos sociais, distribuição de renda, comportamento do eleitor, impactos sobre comportamento dos políticos que afetam acordos comerciais, contratos, regulação setorial, etc...
Para discutir comércio tudo está no pacote. E muito mais coisas. Quem fala ao contrário e diz que é da área, lá no fundo, é um grande picareta ou está distorcendo as coisas para vender alguma ideia.
A ideia do Adam Smith de liber comércio e especialização implica em maior especialização entre firmas e países, que contribui para produtividade e maior investimento em tecnologia e mais produtividade. Ou seja, ele incorporou escala e avanço tecnológico que rompe status quo, dizendo que o mundo não é estático e a competição fundamental. A coisa fundamental quando lê Smith no aspecto econômico. O que maioria não entende ou ignora. Essa ideia aparece em qualquer modelo de desenvolvimento ou análise atual, muito mais formalizado e buscando evidência que está lá. E, geralmente, é encontrada.