#147
Mensagem
por Clermont » Sex Jun 13, 2008 6:47 am
OBAMA É UM AUTÊNTICO DEMOCRATA EXPANSIONISTA.
Por John Pilger – 13 de junho de 2008.
Em 1941, o editor Edward Dowling escreveu: “Os dois grandes obstáculos à democracia nos Estados Unidos são, primeiro, a difundida ilusão entre os pobres de que temos uma democracia, e segundo, o terror crônico entre os ricos, de que nós criemos uma.”
O que mudou? O terror dos ricos é ainda maior do que nunca, e os pobres passaram de sua desilusão para aqueles os que acreditam que George W. Bush, quando finalmente se retirar em janeiro próximo, suas numerosas ameaças à humanidade irão diminuir.
A escolha de Barack Obama, que, de acordo com um excitado comentarista, “marca um momento histórico nos Estados Unidos, autenticamente excitante”, é produto de uma nova ilusão. Realmente, ele apenas parece nova. Momentos históricos autenticamente excitantes tem sido fabricados em todas as campanhas presidenciais americanas por tanto tempo quanto consigo lembrar, gerando o que pode, apenas, ser descrito como besteiras em grande escala. Raça, sexo, aparência, linguagem corporal, esposas e rebentos boquirrotos, mesmo rasgos de trágica grandeza, tudo está incorporado ao marketing e “criação de imagem”, agora magnificados pela tecnologia “virtual”. Graças a um sistema de Colégio Eleitoral anti-democrático (ou, no caso de Bush, máquinas eleitorais manipuladas) apenas estes que, tanto controlam e obedecem ao sistema podem ganhar. Esse tem sido o caso desde a verdadeiramente histórica e excitante vitória de Harry Truman, o democrata liberal considerado um humilde homem do povo, que mostrou o quanto era durão, obliterando duas cidades com a bomba atômica.
Compreender Obama como um provável presidente dos Estados Unidos não é possível sem compreender as exigências de um, essencialmente imutável, sistema de poder: com efeito, um grande jogo de mídia. Por exemplo, desde que comparei Obama com Robert Kennedy nestas páginas, ele realizou duas importantes declarações, cujas implicações não se intrometeram nas celebrações. A primeira foi na conferência do Comitê de Assuntos Públicos Israelo-Americanos (AIPAC), o lobby sionista, que, de acordo com Ian William, “fará você ser acusado de anti-semitismo, se citar o próprio website deles sobre seu poder”. Obama já ofereceu sua genuflexão, mas em 4 de junho ele foi mais longe. Ele prometeu apoiar uma “Jerusalém indivisa” como capital de Israel. Nem um só governo da Terra apóia a anexação israelense de toda a Jerusalém, incluindo o regime Bush, que reconhece a resolução da ONU, designando Jerusalém como cidade internacional.
Seu segundo pronunciamento, largamente ignorado, foi feito em Miami, em 23 de maio. Falando para a comunidade cubana expatriada – que através dos anos, lealmente tem produzido terroristas, assassinos e traficantes de drogas para as administrações americanas – Obama prometeu continuar o incapacitante embargo de 47 anos sobre Cuba, que tem sido declarado ilegal, ano após ano, pela ONU.
De novo, Obama foi além de Bush. Ele disse que os Estados Unidos “perderam a América Latina”. Ele descreveu os governos democraticamente eleitos na Venezuela, Bolívia e Nicarágua como “vácuos” a serem preenchidos. Ele levantou o non-sense da influência iraniana na América Latina, e endossou o “direito” da Colômbia de “atacar terroristas que busquem paraísos seguros além das fronteiras”. Traduzindo, isso quer dizer o “direito” de um regime, cujo presidente e principais políticos são ligados a esquadrões da morte, de invadir seus vizinhos em nome de Washington. Ele também endossou a chamada Iniciativa de Mérida, que a Anistia Internacional e outros condenaram como o transporte americano da “solução colombiana” para o México. Ele não parou aí. “Nós temos de rumar ainda mais para o sul, também,” ele disse. Nem mesmo Bush disse isso.
Já é tempo de os sonhadores crescerem politicamente e debaterem o mundo da grande potência como ele é, não como eles esperam que ele seja. Como todos os candidatos presidenciais sérios, do passado e presente, Obama é um “falcão” e um expansionista. Ele provém de uma ininterrupta tradição democrata, como os presidentes criadores de guerras, Truman, Kennedy, Johnson, Carter e Clinton, demonstram. A diferença de Obama pode ser de que ele sinta uma necessidade, maior ainda, de mostrar o quão durão ele é. Não importando o quanto a cor da pele dele atraia racistas e apoiadores, isso, de outra forma, é irrelevante para o jogo de grande potência. O “momento histórico nos Estados Unidos, autenticamente excitante” irá ocorrer, apenas, quando o jogo, em si, for desafiado.
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John Pilger, nasceu e foi educado em Sydney, Austrália. Ele tem sido correspondente de guerra, cineasta e teatrólogo. Baseado em Londres, ele tem escrito de muitos países e ganhou, por duas vezes, o mais alto prêmio do jornalismo britânico, esse de “jornalista do ano”, por seu trabalho no Vietnam e no Camboja.