Pronunciamento de deputado coloca "o dedo na ferida&
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- Guilherme
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Pronunciamento de deputado coloca "o dedo na ferida&
"O SR. JAIR BOLSONARO (PTB-RJ. Sem revisão do orador.)
- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, há pouco, ouvimos o Deputado Ivan Valente (PT-SP) falar sobre a decisão judicial de abrir os arquivos do Araguaia. S. Exa. falou isso em nome da verdade. E também falou em corrupção durante o regime militar, praticada por militares.
Duas observações apenas: primeiro, a imprensa está livre há mais de 20 anos em nosso País e tem fuçado a vida de dezenas e dezenas de militares, mas não achou até hoje um só coronel, general ou sargento com dinheiro no exterior ou com bens imóveis em nosso País. No entanto, já que o Deputado Ivan Valente é tão zeloso no tocante à corrupção, pergunto-lhe por que seu partido enterrou a CPI do Waldomiro?
Agora há pouco, falando sobre a operação da Polícia Federal denominada Sentinela, o Deputado Professor Luizinho falou que essa ação da PF compromete a governabilidade. Ora, Sr. Presidente, vamos deixar de pregar "moral de cuecas" aqui nesta Casa!
Em relação aos arquivos do Araguaia, também quero que sejam abertos. Nossos colegas militares também querem. Ninguém tem nada a esconder. Agora, não vamos admitir censura por ocasião da abertura dos arquivos. Ou não querem conhecer melhor, mais amiúde como eu conheço, a história do grande guerrilheiro José Genoíno? Inclusive, passou alguns anos como morto, depois de ter sido detido no Araguaia, para que os aparelhos existentes em São Paulo não mudassem de lugar e o Sr. José Genoíno pudesse, calmamente, enquanto freqüentava Brasília e São Paulo, delatar seus companheiros sem levar um tapa sequer. Genoíno não levou um tapa, um piparote sequer de um militar para entregar todos os seus companheiros.
E vamos acabar com essa história de que esse pessoal estava na condição de preso político. Eram, sim, seqüestradores, assaltantes de banco, estupradores, terroristas. E praticavam a corrupção em larga escala. Esse é o passado desse pessoal da esquerda que hoje está no governo.
E o que está em jogo meus companheiros, parece que muitos não acordaram para isso ainda, é o grande negócio do Sr. Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). O seu escritório de advocacia em São Paulo. S. Exa. declarou na mídia há poucos dias o seguinte: "É inútil dormir, que a dor não passa." A dor que S. Exa. sofre, Deputado Inocêncio Oliveira, chama-se LER, lesão por esforço repetitivo, que ataca de vez em quando alguns companheiros digitadores desta Casa. No caso de S. Exa., Deputado Greenhalgh, é de tanto contar dinheiro. Trata-se de LER no polegar e no indicador.
A LER do Sr. José Genoíno é de entregar os colegas e, a do Sr. Luiz Eduardo Greenhalgh, de contar dinheiro, de indenizações milionárias concedidas a amigos seus, às custas da Viúva, do erário.
Até seu Chefe de Gabinete, Sr. Dantas, recebeu mais de 1 milhão de reais a título de indenização, após ter passado sob o "crivo" de uma comissão de anistia parcial indicada pelo Secretário Nilmário Miranda, pelo Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que tem também "brilhante" escritório de advocacia, em São Paulo, e só defende marginal de altíssima periculosidade. Por isso, ele quer o fim dos crimes hediondos, para exatamente defender seqüestradores, colegas de Greenhalgh do passado, de José Genoíno, de Nilmário Miranda e por aí afora.
O que eles querem, na verdade, no tocante aos arquivos, é descobrir mais pseudotorturados. No início, estava previsto 1 bilhão de reais para esses marginais, agora, o Governo já sinalizou com 4 bilhões de reais, com 30% para o Greenhalgh, que resultam em 1 bilhão e 200 milhões de reais e ainda vejo o colega na Comissão de Constituição e Justiça votar emenda de Comissão para anistiados políticos. Isso é uma brincadeira, é uma farsa!
Quanto à abertura de arquivos, queremos ver melhor a história do Ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu, um precursor de Bin Laden, que lançou um carro-bomba ladeira abaixo em São Paulo, assassinando um soldado do Exército brasileiro. A Comissão de Anistia cujos membros são indicados por Greenhalgh e Cia, resolveu conceder aos pais do recruta Mário Kozel Filho, assassinado por JOSÉ DIRCEU, zero de indenização e, de pensão, 330 reais.
Não deu para armar com os pais do recruta. É um grande negócio essa história de ditadura militar. Esses que falam em ditadura vivem curtindo férias em Cuba e abraçando o maior ditador e sanguinário chamado Fidel Castro, que matou mais de 70 mil, esses sim, presos políticos. E agora começa a libertar alguns escritores para se aproximar de Espanha. Essa é a grande verdade, Sr. Presidente.
Esperamos colocar um fim nisso. Que esta Casa não continue acolhendo emendas para marginais, sanguinários, assassinos, covardes, estupradores da Esquerda. Esses marginais que chegaram neste Congresso agora e chegaram na Presidência em cima do estelionato eleitoral em 2002."
- Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, há pouco, ouvimos o Deputado Ivan Valente (PT-SP) falar sobre a decisão judicial de abrir os arquivos do Araguaia. S. Exa. falou isso em nome da verdade. E também falou em corrupção durante o regime militar, praticada por militares.
Duas observações apenas: primeiro, a imprensa está livre há mais de 20 anos em nosso País e tem fuçado a vida de dezenas e dezenas de militares, mas não achou até hoje um só coronel, general ou sargento com dinheiro no exterior ou com bens imóveis em nosso País. No entanto, já que o Deputado Ivan Valente é tão zeloso no tocante à corrupção, pergunto-lhe por que seu partido enterrou a CPI do Waldomiro?
Agora há pouco, falando sobre a operação da Polícia Federal denominada Sentinela, o Deputado Professor Luizinho falou que essa ação da PF compromete a governabilidade. Ora, Sr. Presidente, vamos deixar de pregar "moral de cuecas" aqui nesta Casa!
Em relação aos arquivos do Araguaia, também quero que sejam abertos. Nossos colegas militares também querem. Ninguém tem nada a esconder. Agora, não vamos admitir censura por ocasião da abertura dos arquivos. Ou não querem conhecer melhor, mais amiúde como eu conheço, a história do grande guerrilheiro José Genoíno? Inclusive, passou alguns anos como morto, depois de ter sido detido no Araguaia, para que os aparelhos existentes em São Paulo não mudassem de lugar e o Sr. José Genoíno pudesse, calmamente, enquanto freqüentava Brasília e São Paulo, delatar seus companheiros sem levar um tapa sequer. Genoíno não levou um tapa, um piparote sequer de um militar para entregar todos os seus companheiros.
E vamos acabar com essa história de que esse pessoal estava na condição de preso político. Eram, sim, seqüestradores, assaltantes de banco, estupradores, terroristas. E praticavam a corrupção em larga escala. Esse é o passado desse pessoal da esquerda que hoje está no governo.
E o que está em jogo meus companheiros, parece que muitos não acordaram para isso ainda, é o grande negócio do Sr. Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). O seu escritório de advocacia em São Paulo. S. Exa. declarou na mídia há poucos dias o seguinte: "É inútil dormir, que a dor não passa." A dor que S. Exa. sofre, Deputado Inocêncio Oliveira, chama-se LER, lesão por esforço repetitivo, que ataca de vez em quando alguns companheiros digitadores desta Casa. No caso de S. Exa., Deputado Greenhalgh, é de tanto contar dinheiro. Trata-se de LER no polegar e no indicador.
A LER do Sr. José Genoíno é de entregar os colegas e, a do Sr. Luiz Eduardo Greenhalgh, de contar dinheiro, de indenizações milionárias concedidas a amigos seus, às custas da Viúva, do erário.
Até seu Chefe de Gabinete, Sr. Dantas, recebeu mais de 1 milhão de reais a título de indenização, após ter passado sob o "crivo" de uma comissão de anistia parcial indicada pelo Secretário Nilmário Miranda, pelo Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, que tem também "brilhante" escritório de advocacia, em São Paulo, e só defende marginal de altíssima periculosidade. Por isso, ele quer o fim dos crimes hediondos, para exatamente defender seqüestradores, colegas de Greenhalgh do passado, de José Genoíno, de Nilmário Miranda e por aí afora.
O que eles querem, na verdade, no tocante aos arquivos, é descobrir mais pseudotorturados. No início, estava previsto 1 bilhão de reais para esses marginais, agora, o Governo já sinalizou com 4 bilhões de reais, com 30% para o Greenhalgh, que resultam em 1 bilhão e 200 milhões de reais e ainda vejo o colega na Comissão de Constituição e Justiça votar emenda de Comissão para anistiados políticos. Isso é uma brincadeira, é uma farsa!
Quanto à abertura de arquivos, queremos ver melhor a história do Ministro Chefe da Casa Civil, José Dirceu, um precursor de Bin Laden, que lançou um carro-bomba ladeira abaixo em São Paulo, assassinando um soldado do Exército brasileiro. A Comissão de Anistia cujos membros são indicados por Greenhalgh e Cia, resolveu conceder aos pais do recruta Mário Kozel Filho, assassinado por JOSÉ DIRCEU, zero de indenização e, de pensão, 330 reais.
Não deu para armar com os pais do recruta. É um grande negócio essa história de ditadura militar. Esses que falam em ditadura vivem curtindo férias em Cuba e abraçando o maior ditador e sanguinário chamado Fidel Castro, que matou mais de 70 mil, esses sim, presos políticos. E agora começa a libertar alguns escritores para se aproximar de Espanha. Essa é a grande verdade, Sr. Presidente.
Esperamos colocar um fim nisso. Que esta Casa não continue acolhendo emendas para marginais, sanguinários, assassinos, covardes, estupradores da Esquerda. Esses marginais que chegaram neste Congresso agora e chegaram na Presidência em cima do estelionato eleitoral em 2002."
- Lauro Melo
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O CARA mandou muito bem. Gostaria muito de ver a resposta.
hehehehehehehehe ---------- Nota 10.
A dor que S. Exa. sofre, Deputado Inocêncio Oliveira, chama-se LER, lesão por esforço repetitivo, que ataca de vez em quando alguns companheiros digitadores desta Casa. No caso de S. Exa., Deputado Greenhalgh, é de tanto contar dinheiro. Trata-se de LER no polegar e no indicador.
hehehehehehehehe ---------- Nota 10.
"Os guerreiros não caem se ajoelham e levantam ainda mais fortes."
TOG: 22 anos de garra, determinação e respeito.
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- Clermont
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Da minha parte, não dou valor a nada que venha do ilustre Deputado Bolsonaro.
Quanto a participação de José Dirceu no atentado de 26 de junho de 1968, até que provas convincentes apareçam, eu considero mais uma das mau-caratices daqueles que defendem as atrocidades da ditadura militar.
Primeiro que, em termos de possível envolvimento pessoal e direto, José Dirceu nesse dia estava na Passeata dos Cem Mil. Segundo que não vi o nome dele na lista dos integrantes da VPR que executou o atentado. Aliás, os dirigentes dessa organização eram, quase todos, ex-militares de orientação comunista do próprio Exército.
Tanto quanto se saiba, José Dirceu estava totalmente imerso na luta estudantil da UNE, e acabou preso no Congresso de Ibiúna, em outubro de 1968. Ficou na cadeia até 1969, quando foi banido. Foi para Cuba, e só voltou ao Brasil em 1975, ano em que a guerra interna havia acabado.
De qualquer forma, toda essa conversa fiada só reforça uma coisa na minha cabeça: aquela geração de 1968 - tanto a dos esquerdistas, quanto a dos militares da repressão - está na casa dos 60 anos, hoje em dia. Eu creio que o Brasil só conhecerá uma autêntica democracia, quando essa geração tiver passado, naturalmente. Portanto, é fundamental que a nova geração de brasileiros lute para manter nossa democracia até que isso ocorra.
Por causa disso e de outras coisas, não gosto de Jair Bolsonaro: ele e seus seguidores não se enquadram no meu esquema de pessoas dedicadas a manutenção de ideias democráticos. Aliás, nem ele, nem José Stédile e assemelhados.
Quanto a ser feio ser direitista (ou esquerdista), eu diria que não há nada de mais. O que é feio é ser mentiroso; distorcer a história para atacar os inimigos políticos. E defender golpes, ditaduras, assassinatos, tortura, atentados à bomba, seqüestros políticos.
Qualquer um que defenda tais atos é um criminoso e um patife. Não tem importância alguma se é diretista ou esquerdista.
Quanto a participação de José Dirceu no atentado de 26 de junho de 1968, até que provas convincentes apareçam, eu considero mais uma das mau-caratices daqueles que defendem as atrocidades da ditadura militar.
Primeiro que, em termos de possível envolvimento pessoal e direto, José Dirceu nesse dia estava na Passeata dos Cem Mil. Segundo que não vi o nome dele na lista dos integrantes da VPR que executou o atentado. Aliás, os dirigentes dessa organização eram, quase todos, ex-militares de orientação comunista do próprio Exército.
Tanto quanto se saiba, José Dirceu estava totalmente imerso na luta estudantil da UNE, e acabou preso no Congresso de Ibiúna, em outubro de 1968. Ficou na cadeia até 1969, quando foi banido. Foi para Cuba, e só voltou ao Brasil em 1975, ano em que a guerra interna havia acabado.
De qualquer forma, toda essa conversa fiada só reforça uma coisa na minha cabeça: aquela geração de 1968 - tanto a dos esquerdistas, quanto a dos militares da repressão - está na casa dos 60 anos, hoje em dia. Eu creio que o Brasil só conhecerá uma autêntica democracia, quando essa geração tiver passado, naturalmente. Portanto, é fundamental que a nova geração de brasileiros lute para manter nossa democracia até que isso ocorra.
Por causa disso e de outras coisas, não gosto de Jair Bolsonaro: ele e seus seguidores não se enquadram no meu esquema de pessoas dedicadas a manutenção de ideias democráticos. Aliás, nem ele, nem José Stédile e assemelhados.
Quanto a ser feio ser direitista (ou esquerdista), eu diria que não há nada de mais. O que é feio é ser mentiroso; distorcer a história para atacar os inimigos políticos. E defender golpes, ditaduras, assassinatos, tortura, atentados à bomba, seqüestros políticos.
Qualquer um que defenda tais atos é um criminoso e um patife. Não tem importância alguma se é diretista ou esquerdista.
- Lauro Melo
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Clermont,
Concordo com que vc disse sobre algumas atrocidades sobre o período da ditadura.
Mas não tem como não dizer que algumas pessoas utilizam HOJE alguns fatos para ganhar dinheiro. Porque de uma hora para outra voltou-se a falar neste assunto que a quase 20 anos estava enterrado.
Estão em uma campanha forte ( vide a GLOBO desde domingo e alguns jornais a mais tempo ).
É inegável que alguns lucram com a situação e indenizações.
Abraços,
Concordo com que vc disse sobre algumas atrocidades sobre o período da ditadura.
Mas não tem como não dizer que algumas pessoas utilizam HOJE alguns fatos para ganhar dinheiro. Porque de uma hora para outra voltou-se a falar neste assunto que a quase 20 anos estava enterrado.
Estão em uma campanha forte ( vide a GLOBO desde domingo e alguns jornais a mais tempo ).
É inegável que alguns lucram com a situação e indenizações.
Abraços,
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- Clermont
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Primeiro que, em termos de possível envolvimento pessoal e direto, José Dirceu nesse dia estava na Passeata dos Cem Mil.
Opa, acho que escrevi besteira. É até possível que Dirceu estivesse nessa passeata, nesse dia. Mas não é provável. Ele era dirigente do movimento estudantil paulista.
E a Passeata se realizou no Rio de Janeiro.
Coitado dele! Com um advogado como o papai aqui, ele acabaria na cadeira elétrica. Se tivéssemos cadeira elétrica.
- Clermont
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Porque de uma hora para outra voltou-se a falar neste assunto que a quase 20 anos estava enterrado.
Porque coisas que foram enterradas ilegalmente e na clandestinidade, exigem a exumacão. E um novo sepultamento dentro da legalidade.
Espero que nesses dois anos que faltam para o fim do governo Lula, isso seja feito. E o Brasil possa, de uma vez por todas, virar a página do Araguaia e outros momentos infelizes de nossa história.
O país tem muita coisa pela frente. Não pode continuar preso ao passado.
- Vinicius Pimenta
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Que se abram os arquivos do período do Regime Militar. Mas que se abram os arquivos dos dois lados. Quero ver os arquivos do PC do B também, isto é, se eles já não trataram de destruí-los.
Clermont, por mais que tenha cometido excessos, no que o Deputado Jair Bolsonaro estava mentindo nesse discurso? Por que não discutir? Por que desconsiderar um discurso contrário aos "perseguidos"?
Clermont, por mais que tenha cometido excessos, no que o Deputado Jair Bolsonaro estava mentindo nesse discurso? Por que não discutir? Por que desconsiderar um discurso contrário aos "perseguidos"?
Vinicius Pimenta
Você é responsável pelo ambiente e a qualidade do fórum que participa. Faça sua parte.
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- FinkenHeinle
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Vinicius Pimenta escreveu:Que se abram os arquivos do período do Regime Militar. Mas que se abram os arquivos dos dois lados.
Exato!
Sempre aprendi na escola que a Anistia de 79 tinha sido para ambos os lados: tanto para os militares, quanto para os opositores!
No mais, creio que abrir essas feridas qeu já estavam cicatrizando será prejudicial, pois será usado novamente como arma política!
Atte.
André R. Finken Heinle
"If the battle for civilization comes down to the wimps versus the barbarians, the barbarians are going to win."
Thomas Sowell
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- Clermont
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Que se abram os arquivos do período do Regime Militar. Mas que se abram os arquivos dos dois lados. Quero ver os arquivos do PC do B também, isto é, se eles já não trataram de destruí-los.
Não. Que se abram os arquivos da Ditadura Militar. Sem condicionantes de espécie alguma. Simplesmente, o Presidente ordena, os oficiais-generais obedecem e batem continência. E o Brasil fica logo livre dessa aporrinhação. Será que os militares não tem problemas mais prementes do que ficarem atolados nessa história de mais 30 anos?
Abram logo essa droga e vamos parar com esse papo!
Sobre esses "arquivos do PC do B", estão aí mesmo, nos documentos de convenções partidárias. De debates internos. Nas memórias dos militantes e chefes. Não há nada de secreto nisso. Basta ir a uma boa biblioteca.
Sem contar que, as pessoas que desejam ver os arquivos em poder dos militares, querem, primordialmente, descobrir os paradeiros de parentes desaparecidos.
Será que alguém imagina encontrar em um fantasioso "arquivo secreto do PC do B", o paradeiro de algum militar brasileiro, seqüestrado e levado para a Coréia do Norte?
Por que não discutir? Por que desconsiderar um discurso contrário aos "perseguidos"?
Uai! Eu disse para não se discutir? Eu disse que eu, pessoalmente, não considero nada que venha desse senhor. Mas ele, pelas suas sucessivas reeleições - e por ter sido capaz de eleger a família inteira - não precisa da minha atenção. Estamos numa democracia - embora alguns façam tudo para sabotá-la - e ele pode discutir o que quiser e com quem quiser lhe dar atenção.
Agora, se fizer afirmações, tipo o "fulano matou o Soldado Kozell", ele terá de provar isso. Caso contrário, que se explique na Justiça.
- Clermont
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"Vermelhitos" do amigo de sempre, o Clermont. "Vermelhitos"? Epa!
ESQUECIMENTO VIOLA A HISTÓRIA.
16 de dezembro de 2004.
Por Eduardo Graça
O livro sai em janeiro no Brasil pela Companhia Das Letras, mas o original americano contou com leitores do naipe do general Meira Mattos, comandante da Brigada Latino-Americana na invasão da República Dominicana em 1965, e do jornalista Elio Gaspari, que pediu em sua coluna dominical a urgente publicação em português de “Soldiers of the Patria – A History of Brazilian Army 1889-1937” (Stanford University Press).
O autor do calhamaço de 608 páginas é o professor Frank D. McCann, 66 anos, da Universidade de New Hampshire, considerado um dos mais importantes estudiosos estrangeiros das Forças Armadas brasileiras. Autor de “A Aliança Brasil-Estados Unidos, 1937-1945” (Bibliex, 1974), considerado o estudo definitivo das relações entre os dois países durante a Segunda Guerra Mundial, McCann conversou com o NoMínimo sobre a mais recente crise militar brasileira, que levou à substituição do ministro José Viegas, o envio de tropas ao Haiti, a trajetória peculiar das forças armadas do país e a prática da tortura no Brasil durante a ditadura militar e nos Estados Unidos da era Bush.
Professor, “Soldados da Pátria” chega às livrarias brasileiras num momento em que se discute intensamente o papel das Forças Armadas no país...
Antes de mais nada, precisamos lembrar que reestruturar as Forças Armadas brasileiras sempre foi uma tarefa muito complexa. E o Brasil sente, ainda hoje, a falta de um grupo de pesquisadores e estudiosos dos assuntos militares. Onde é que o governo Fernando Henrique ou mesmo o de Lula poderiam encontrar um staff para o Ministério da Defesa? Eu me lembro de que, com o fim da Guerra Fria, alguns jornais brasileiros, e jornais de peso, chegaram a questionar a função das Forças Armadas no “novo mundo”. Eles acreditavam, equivocadamente, que as ameaças externas simplesmente desapareceriam. Parece-me que, nesse processo todo, as Forças Armadas brasileiras reagiram de modo confuso. E é fundamental, em qualquer sociedade, que as Forças Armadas estejam sempre prontas para explicar com exatidão seu propósito, suas missões e seus métodos.
E como o senhor viu a passagem de José Viegas pelo Ministério da Defesa?
Sinceramente, acho que, se a gente levar em conta o peso das suas tarefas e as dificuldades de se reinventar um novíssimo superministério que tem de controlar três forças historicamente independentes, Viegas fez surpreendentemente um bom trabalho. É claro que o episódio de sua demissão mostra que existiram falhas na aproximação com as Forças Armadas. Eu não tenho a menor dúvida de que as questões históricas ligadas ao legado da ditadura militar deveriam ter sido a prioridade número um do Ministério da Defesa.
Como o senhor sabe, o ministro Viegas considerou-se desrespeitado pelo general Francisco Albuquerque no episódio em que o comandante do Exército soltou uma nota em nome da corporação, sem consulta a Viegas, justificando a tortura durante a ditadura militar...
Sim, mas era uma obrigação do Viegas estabelecer um relacionamento estreito com todos os comandantes das três forças. Ele era o superior, mas ele tinha de usar o bom senso para perceber que cabia a ele tomar a iniciativa e cultivar boas relações com os oficiais superiores. Viegas não poderia ter esperado que a aproximação partisse deles. Com todo o seu background diplomático, imaginei que ele tivesse entendido isso. Nenhum comandante de qualquer Força poderia sonhar em soltar notas ou declarações independentes, sem o conhecimento do ministro. Se Viegas tivesse tomado as rédeas, para começo de conversa, o general Albuquerque jamais teria soltado aquela nota.
O senhor leu a nota?
Li. Uma declaração que pretende justificar o uso da tortura, sob quaisquer circunstâncias, está tentando defender o que é completamente injustificável. O pecado mais grave de uma instituição militar é voltar suas armas contra os cidadãos que construíram e pagaram por aquelas armas. Mas, no Brasil, há a agravante de que a sociedade civil nunca resolveu de fato os problemas com o que eu vou chamar aqui de lado negro dos anos do governo militar.
Tivemos a anistia...
A anistia de 1978 buscou, basicamente, jogar as coisas feias para debaixo do tapete. Todos deveriam esquecer o que se passou e voltar para casa. Sabe o que me deixa bem curioso? Eu gostaria de saber como é que as escolas de Direito ensinam a Lei da Anistia e sua aplicação aos estudantes. Em “Soldados da Pátria”, eu fiz exatas 26 referências e comentários sobre “anistia”. Eu me surpreendi ao descobrir que “anistia” é um termo rotineiro na história das Forças Armadas brasileiras. Quase sempre era aplicada logo em seguida às revoltas. Anistias beneficiaram os oficiais que enfrentaram Floriano Peixoto na Revolta da Armada, os cadetes que se rebelaram em 1896 e em 1904, os tenentes na década de 20 e até os que ficaram ao lado de São Paulo nos acontecimentos de 32. E o mesmo ocorre durante todos os anos 50. Assim, em 1978, os militares estavam agindo no contexto de sua própria história como instituição.
Este não seria um aspecto positivo da sociedade brasileira?
O problema é que a maioria dos que receberam o benefício da anistia, quase sempre, foram oficiais. Cidadãos civis ou militares sem posição política ou poder estabelecido sempre foram deixados à margem. Os derrotados em Canudos, os que foram enviados nas piores condições para a Amazônia depois da Revolta da Chibata, em 1910, e os rebeldes de Contestado (1912-15), foram semi-escravizados por coronéis, tiveram sua garganta cortada ou desapareceram no pó da estrada. Anistia, no Brasil, sempre foi um pacto entre “gente graúda”, não havendo lugar para o “povão”. E a anistia elaborada em 78 foi baseada no esquecimento, não no perdão, dos crimes dos dois lados que se enfrentaram nos anos de chumbo. Eu até concordo que foi uma maneira prática de lidar com as emoções naquele momento específico da história do Brasil, em que o objetivo maior era retirar os generais do Planalto e devolver o poder à sociedade civil. Mas se trata, como estamos vendo, de uma política falida no futuro imediato. O Brasil não é o mesmo país de 1904 ou 1910, quando certos “fatos desagradáveis” do passado podiam ser esquecidos. Os “fatos desagradáveis” de 1964-85 não podem e nem devem ser esquecidos jamais. A tortura de prisioneiros abandonados à sua própria sorte não pode ser justificada por qualquer ato – por pior que fosse – cometido pelos que enfrentaram o regime. Especialmente por oficiais profissionais que são servidores públicos, protetores da população.
Professor, é inegável que aquela nota divulgada pelo General Albuquerque reflete a posição de boa parte do oficialato...
De fato, oficiais que fizeram parte dos DOIs (Divisões de Operações e Informações) e CODIs (Centros de Informações para Defesa Interna) dizem que estavam convencidos de que a tortura era necessária para obter o mais rapidamente possível informações úteis para suprimir a guerrilha, evitando assim mais mortes. Uma justificativa que se invalida, entre muitos outros motivos, quando se percebe que muitos prisioneiros foram torturados muito tempo depois de serem capturados. Qualquer informação, naquele caso, já perdera a relevância. No entanto, o que muitas vezes é deixado de lado é o fato de que boa parte das Forças Armadas brasileiras foi contrária à tortura. Eu posso afirmar sem medo que, literalmente, este foi um tópico que separou, para sempre, membros de uma mesma família. Também é importante frisar que os DOI-CODIs foram quase sempre instituições independentes da cadeia de comando, com seus membros recebendo um pagamento especial, e sendo encorajados a pensar de modo independente das regras da caserna.
Este certamente foi um fator importante para que a “política do esquecimento”, como o senhor a classifica, tenha sido pouco questionada até o momento...
É, mas também acho que, se por um lado, esta independência ajuda a explicar porque muitos oficiais podem hoje dizer que nada sabiam a respeito da tortura, por outro só aumenta a responsabilidade da instituição que gerou, sozinha, a brutalidade dos “porões”. Mesmo que não tenham sido todos os oficiais, alguns deles certamente souberam quem torturava e como eles torturavam. E se eles souberam, a sociedade brasileira, como um todo, inclusive os setores militares, tem o direito de saber. Eu acho que a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), por exemplo, deveria utilizar nas salas de aula o importante livro de Martha Huggins, que foi, para meu imenso orgulho, minha aluna no mestrado da Universidade de New Hampshire. Seu livro é uma cuidadosa pesquisa que se chama “Violence Workers: Torturers and Murderers Reconstruct Brazilian Atrocities” (Berkeley: U. of California Press, 2002), e ajuda a explicar esses episódios terríveis. Os cadetes brasileiros deveriam aprender o que eles não devem fazer quando virarem oficiais. Uma das principais conclusões de Huggins é a de que a tortura é “raramente confinada a um pequeno grupo de oficiais. Ao contrário, é um problema sistêmico, alimentado por fatores sociológicos e psicológicos que educam, facilitam, justificam e desculpam a prática da tortura em toda uma cultura”.
O senhor não acha que o livro também deveria ser apresentado aos soldados americanos que estão no Iraque?
É claro que sim! Os recentes maus-tratos a prisioneiros afegãos e iraquianos na base da Baía de Guantânamo provam isso. Mais: provam que esta definição de tortura precisa ser repetida de maneira incansável. Sempre.
Também não podemos esquecer que os militares brasileiros foram treinados na arte da tortura pelos seus pares norte-americanos. Pense na Escola das Américas...
Quem percorrer os capítulos anteriores a 1930 em “Soldados da Pátria” vai descobrir que os brasileiros jamais precisaram de professores externos para lhes ensinar como torturar. Uma sociedade de herança escravagista como a brasileira se depara com a prática da tortura do topo ao fim da escala social. Há momentos de refinamento desta prática, como nos anos 30, com a gangue de Filinto Müller, que recebeu treinamento da Gestapo, e, durante a Guerra Fria, com os “métodos de investigação” exportados pela CIA. O cerne da questão é entender por que os oficiais brasileiros aprovaram ou, ainda mais grave, torturaram eles mesmos outros cidadãos brasileiros.
No Chile e na Argentina há uma grande discussão sobre as obrigações do Estado no que se refere à tortura e eliminação de presos políticos. O senhor acha que estas sociedades estão um passo à frente da brasileira?
Não dá para comparar. O que aconteceu no Chile e na Argentina foi muito diferente. Por piores que as coisas tenham se dado no Brasil, elas nunca chegaram ao caos chileno ou argentino. No Brasil, a repressão diferiu em escala, intensidade e descaramento também. Precisamos lembrar que o Chile tinha perto de 14 milhões de habitantes durante a era Pinochet e que a Argentina tinha cerca de 40 milhões, sendo que três quintos viviam na Grande Buenos Aires. Foram centenas, quiçá milhares, de famílias afetadas diretamente pela perda de parentes queridos. O medo tomou conta destas duas sociedades e os militares foram completamente cúmplices e organizadores das atrocidades. A Força Aérea brasileira jamais foi acusada de jogar prisioneiros no oceano e a repressão brasileira jamais aconteceu de maneira aberta, às claras. Eles sabiam que a simples eliminação de quem estava do outro lado do regime era errada e tentavam esconder seus atos. Seres humanos costumam esconder os atos pelos quais se envergonham. Mas, por favor, eu não pretendo aqui dizer que a gravidade do que aconteceu no Brasil foi menor. Não foi. É intolerável que uma pessoa seja torturada. O Presidente Geisel lutou para acabar com os maus-tratos a prisioneiros políticos. Pinochet não apenas sancionou a tortura, ele pessoalmente ganhou dinheiro com a eliminação de adversários, como a movimentação de suas contas secretas em bancos de Washington nos mostraram recentemente. É claro que deve haver oficiais brasileiros que merecem sofrer punição, mas, com a “política do esquecimento”, eles não podem ser descobertos.
Vamos falar, então, da estrutura das Forças Armadas brasileiras. O senhor acredita que Exército, Marinha e Aeronáutica devam mesmo ser comandados diretamente por um ministro civil?
O importante, aqui, é pensar que, se a sociedade brasileira quer que os civis controlem os militares, então não pode haver meio-termo. O comando tem de ser claramente da autoridade civil, que deve ser educada nos negócios militares. As universidades brasileiras estão fazendo muito pouco para preparar os futuros administradores da Defesa Nacional. Uma saída importante é recrutar pessoas que passaram pelas Forças Armadas e se aposentaram ou trocaram de área, mas entendem o funcionamento da corporação, por exemplo.
Vamos tratar da educação militar. Em uma recente série, a “Folha de S.Paulo” mostrou que os estudantes da AMAN estão aprendendo que o golpe militar de 1964 foi uma atitude preventiva contra o estabelecimento de uma possível república comunista no Brasil. O senhor acha que eles estão aprendendo História de forma correta nas salas de aula em Resende?
Os experts do Ministério da Defesa deveriam estar prestando atenção redobrada ao que os cadetes da AMAN estão aprendendo. Estes cadetes deveriam estar lendo, por exemplo, todos os textos de história oral que o CPDOC da Fundação Getúlio Vargas vem produzindo a partir de entrevistas com oficiais de comando e políticos daquela era. Eu não acho de forma alguma que o Brasil, em 1964 ou em qualquer outro momento de sua história, precisou ser “salvo da ameaça do comunismo”. O governo de João Goulart foi certamente confuso e caótico, mas é muito difícil ver ali os agentes do comunismo internacional trabalhando para um Brasil vermelho.
Eu imagino que o senhor esteja a par das ligações entre o general Albuquerque e líderes do PT, como o senador Aloízio Mercadante e o ministro Luiz Gushiken. Como o senhor vê esta aproximação?
Eu tenho uma opinião formada sobre as ligações entre militares e políticos. Oficiais devem estudar Política como parte de sua educação contínua, mas não podem jamais atuar como membros ou estabelecerem ligações com grupos partidários. Como oficiais da ativa, são servidores da nação, “Soldados da Pátria”. Eles não podem apoiar posições ou interesses partidários. Mais: o envolvimento político de militares na história brasileira acabou sempre por prejudicar os interesses institucionais das próprias Forças Armadas. Agora, quanto aos oficiais da reserva, acho que eles devem ser livres para se expressar politicamente como bem entenderem.
O senhor achou positiva a nomeação do vice-presidente José Alencar para o Ministério da Defesa?
Eu ainda não consegui entender esta nomeação. Antes de mais nada, eu pensaria que Alencar tem um trabalho full-time a fazer na vice-presidência, ou não? E quais são as suas qualificações para o posto? O quanto ele entende dos negócios militares? Além do mais, ele pode ser retirado do ministério, mas jamais da vice-presidência. Se Lula resolveu mostrar autoridade presidencial para resolver esta crise, pode-se pensar em algum senso nesta indicação, mas, se, mais uma vez, se resolveu buscar aqui consenso imediato e valorizar a política do esquecimento, o futuro vai ferver de novo.
Outro importante especialista em estudos militares, o professor Alfred Stepan, declarou recentemente ao colunista Merval Pereira, de “O Globo”, que o maior erro de Lula foi não ter demitido o general Albuquerque imediatamente. Ele também disse que o episódio fortaleceu o grupo de militares ligado a Albuquerque e que o governo Lula é mais fraco do que a administração Fernando Henrique na relação com os militares. O senhor concorda com a avaliação de Stepan?
Respeito imensamente as opiniões de Al Stepan, mas não estou convencido de que o episódio todo tenha apenas um culpado, o general Albuquerque. Para mim, a nota refletiu a opinião dos oficiais brasileiros como um todo. O ministro Viegas deveria saber o que os oficiais pensavam sobre a tortura e deveria ter agido para corrigir este pensamento. O general Albuquerque não é um ministro de Estado, que poderia ser removido por um erro político, ele é um oficial-comandante das Forças Armadas. Ele vem do Exército, ele fala pelo Exército. Não tem jeito: para o bem ou para o mal, ele vai e deve refletir o pensamento do Exército. Se o governo não gosta da ideologia em vigor nas Forças Armadas, deve se mexer para modificá-la. Esta, inclusive, deveria ser uma das principais tarefas do Ministério da Defesa: ser o agente do Presidente da República, do Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, para moldar o corpo militar da maneira que o Presidente acha ser a mais adequada para o país. E eu não vejo o governo Lula mais fraco do que o de Fernando Henrique na área militar. Mas é claro que agora, com toda esta crise, talvez eu devesse fazer uma nova avaliação...
Já que falamos de governos passados, como o senhor reagiu à decisão do governo Fernando Henrique de estender o prazo de liberação para consulta pública de arquivos sigilosos?
Um completo desastre. Este é um tema caríssimo para mim, toca fundo meu coração. Dou um exemplo prático e pessoal: quando estava pesquisando para o meu livro sobre a aliança militar entre o Brasil e os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, o então presidente Castello Branco decidiu que todos os documentos a partir de 1914 estariam vedados a historiadores estrangeiros. O que me salvou foi meu contato com a família de Osvaldo Aranha, que tinha guardado um belo material. Quando historiadores não têm acesso a documentos, pessoas menos preparadas para a função escrevem o que bem entendem. Quando a política do esquecimento chega ao ponto de fechar os arquivos, a história não é apenas apagada, ela é violada.
O senhor acha, então, que os arquivos referentes à ditadura militar devem ser abertos o mais rapidamente possível?
Em uma democracia, é sempre melhor abrir arquivos o mais rapidamente possível. Nos Estados Unidos, o atual presidente tem uma reputação de não liberar a abertura de nenhum tipo de arquivos. Mas a lei geral é de que, em 25 anos, os arquivos têm de ser abertos. É tempo suficiente para que eles sejam catalogados apropriadamente para que possam ser utilizados a quem interessar no futuro. Para que os anos de governo militar no Brasil sejam estudados de maneira apropriada, é fundamental a abertura dos arquivos. Arquivos e documentos são matérias-primas para os historiadores. Sem eles, você não cria história, mas fantasias, distorções e mitos.
Alguns protetores dos arquivos dizem que várias informações são delicadas e expõem a vida privada de dissidentes políticos do regime militar...
Claro, é preciso enfatizar que os pesquisadores responsáveis por esses arquivos têm de ser sérios e preparados para a tarefa. O problema aqui é outro: não deveria caber às Forças Armadas, ao Itamaraty ou a qualquer agência governamental a decisão de quando e se deve ser aberto este ou aquele arquivo. O que deveria haver é uma política nacional referente ao tema, votada no Congresso Nacional. Depois de anos pesquisando em arquivos públicos e privados no Brasil, ainda me espanta que a maioria destes documentos esteja sob a posse das Forças Armadas ou do Itamaraty. Por que não estão todos no Arquivo Nacional? Pense que a maior parte da “literatura” da Guerra Civil de 1932 em São Paulo, por exemplo, não nos serve de base porque é uma grande distorção, um mito criado para transformar Getúlio Vargas em uma figura odiosa. A Guerra Civil contribuiu decisivamente para o endividamento do país e para a crise que levou ao Estado Novo. Vou além: sem a Guerra Civil de 1932, talvez não houvesse uma ditadura no Brasil nos anos 40.
Os brasileiros estão comandando a força de paz da ONU no Haiti. No Brasil, houve uma série de críticas à decisão do governo Lula de enviar tropas a um país latino-americano que acabara de ter seu presidente deposto em um episódio, no mínimo, controverso. O senhor acha que foi uma boa jogada diplomática brasileira?
Por um lado, não concordo com os que vêem a força de paz no Haiti como uma interferência nos negócios internos de um país vizinho e tenho informações seguras de que as tropas brasileiras estão fazendo um trabalho magnífico por lá. Ao mesmo tempo, eu jamais enviaria tropas para o Haiti, especialmente com as peculiares e questionáveis circunstâncias em que o presidente Aristide foi deposto. E, do mesmo modo que os franceses e canadenses, acho que as tropas brasileiras devem se distanciar de ações que possam parecer destinadas a servir aos interesses do governo Bush. Mas, ainda mais importante, eu jamais escolheria me envolver com a realidade haitiana neste momento. O Haiti está em tal situação que apenas um esforço verdadeiramente intenso e mundial poderá dar um jeito. Falta tudo lá, de água potável a terra fértil para se plantar, sem falar em infra-estrutura básica e condições sociais e econômicas normais. O Haiti de agora me lembra a velha história do “bebê de piche”. Todos os que o tocarem ficarão marcados, não tem jeito. Eu adoraria saber quem é que foi aconselhar o presidente Lula a mandar tropas para o Haiti. Esta pessoa deveria ser demitida.

ESQUECIMENTO VIOLA A HISTÓRIA.
16 de dezembro de 2004.
Por Eduardo Graça
O livro sai em janeiro no Brasil pela Companhia Das Letras, mas o original americano contou com leitores do naipe do general Meira Mattos, comandante da Brigada Latino-Americana na invasão da República Dominicana em 1965, e do jornalista Elio Gaspari, que pediu em sua coluna dominical a urgente publicação em português de “Soldiers of the Patria – A History of Brazilian Army 1889-1937” (Stanford University Press).
O autor do calhamaço de 608 páginas é o professor Frank D. McCann, 66 anos, da Universidade de New Hampshire, considerado um dos mais importantes estudiosos estrangeiros das Forças Armadas brasileiras. Autor de “A Aliança Brasil-Estados Unidos, 1937-1945” (Bibliex, 1974), considerado o estudo definitivo das relações entre os dois países durante a Segunda Guerra Mundial, McCann conversou com o NoMínimo sobre a mais recente crise militar brasileira, que levou à substituição do ministro José Viegas, o envio de tropas ao Haiti, a trajetória peculiar das forças armadas do país e a prática da tortura no Brasil durante a ditadura militar e nos Estados Unidos da era Bush.
Professor, “Soldados da Pátria” chega às livrarias brasileiras num momento em que se discute intensamente o papel das Forças Armadas no país...
Antes de mais nada, precisamos lembrar que reestruturar as Forças Armadas brasileiras sempre foi uma tarefa muito complexa. E o Brasil sente, ainda hoje, a falta de um grupo de pesquisadores e estudiosos dos assuntos militares. Onde é que o governo Fernando Henrique ou mesmo o de Lula poderiam encontrar um staff para o Ministério da Defesa? Eu me lembro de que, com o fim da Guerra Fria, alguns jornais brasileiros, e jornais de peso, chegaram a questionar a função das Forças Armadas no “novo mundo”. Eles acreditavam, equivocadamente, que as ameaças externas simplesmente desapareceriam. Parece-me que, nesse processo todo, as Forças Armadas brasileiras reagiram de modo confuso. E é fundamental, em qualquer sociedade, que as Forças Armadas estejam sempre prontas para explicar com exatidão seu propósito, suas missões e seus métodos.
E como o senhor viu a passagem de José Viegas pelo Ministério da Defesa?
Sinceramente, acho que, se a gente levar em conta o peso das suas tarefas e as dificuldades de se reinventar um novíssimo superministério que tem de controlar três forças historicamente independentes, Viegas fez surpreendentemente um bom trabalho. É claro que o episódio de sua demissão mostra que existiram falhas na aproximação com as Forças Armadas. Eu não tenho a menor dúvida de que as questões históricas ligadas ao legado da ditadura militar deveriam ter sido a prioridade número um do Ministério da Defesa.
Como o senhor sabe, o ministro Viegas considerou-se desrespeitado pelo general Francisco Albuquerque no episódio em que o comandante do Exército soltou uma nota em nome da corporação, sem consulta a Viegas, justificando a tortura durante a ditadura militar...
Sim, mas era uma obrigação do Viegas estabelecer um relacionamento estreito com todos os comandantes das três forças. Ele era o superior, mas ele tinha de usar o bom senso para perceber que cabia a ele tomar a iniciativa e cultivar boas relações com os oficiais superiores. Viegas não poderia ter esperado que a aproximação partisse deles. Com todo o seu background diplomático, imaginei que ele tivesse entendido isso. Nenhum comandante de qualquer Força poderia sonhar em soltar notas ou declarações independentes, sem o conhecimento do ministro. Se Viegas tivesse tomado as rédeas, para começo de conversa, o general Albuquerque jamais teria soltado aquela nota.
O senhor leu a nota?
Li. Uma declaração que pretende justificar o uso da tortura, sob quaisquer circunstâncias, está tentando defender o que é completamente injustificável. O pecado mais grave de uma instituição militar é voltar suas armas contra os cidadãos que construíram e pagaram por aquelas armas. Mas, no Brasil, há a agravante de que a sociedade civil nunca resolveu de fato os problemas com o que eu vou chamar aqui de lado negro dos anos do governo militar.
Tivemos a anistia...
A anistia de 1978 buscou, basicamente, jogar as coisas feias para debaixo do tapete. Todos deveriam esquecer o que se passou e voltar para casa. Sabe o que me deixa bem curioso? Eu gostaria de saber como é que as escolas de Direito ensinam a Lei da Anistia e sua aplicação aos estudantes. Em “Soldados da Pátria”, eu fiz exatas 26 referências e comentários sobre “anistia”. Eu me surpreendi ao descobrir que “anistia” é um termo rotineiro na história das Forças Armadas brasileiras. Quase sempre era aplicada logo em seguida às revoltas. Anistias beneficiaram os oficiais que enfrentaram Floriano Peixoto na Revolta da Armada, os cadetes que se rebelaram em 1896 e em 1904, os tenentes na década de 20 e até os que ficaram ao lado de São Paulo nos acontecimentos de 32. E o mesmo ocorre durante todos os anos 50. Assim, em 1978, os militares estavam agindo no contexto de sua própria história como instituição.
Este não seria um aspecto positivo da sociedade brasileira?
O problema é que a maioria dos que receberam o benefício da anistia, quase sempre, foram oficiais. Cidadãos civis ou militares sem posição política ou poder estabelecido sempre foram deixados à margem. Os derrotados em Canudos, os que foram enviados nas piores condições para a Amazônia depois da Revolta da Chibata, em 1910, e os rebeldes de Contestado (1912-15), foram semi-escravizados por coronéis, tiveram sua garganta cortada ou desapareceram no pó da estrada. Anistia, no Brasil, sempre foi um pacto entre “gente graúda”, não havendo lugar para o “povão”. E a anistia elaborada em 78 foi baseada no esquecimento, não no perdão, dos crimes dos dois lados que se enfrentaram nos anos de chumbo. Eu até concordo que foi uma maneira prática de lidar com as emoções naquele momento específico da história do Brasil, em que o objetivo maior era retirar os generais do Planalto e devolver o poder à sociedade civil. Mas se trata, como estamos vendo, de uma política falida no futuro imediato. O Brasil não é o mesmo país de 1904 ou 1910, quando certos “fatos desagradáveis” do passado podiam ser esquecidos. Os “fatos desagradáveis” de 1964-85 não podem e nem devem ser esquecidos jamais. A tortura de prisioneiros abandonados à sua própria sorte não pode ser justificada por qualquer ato – por pior que fosse – cometido pelos que enfrentaram o regime. Especialmente por oficiais profissionais que são servidores públicos, protetores da população.
Professor, é inegável que aquela nota divulgada pelo General Albuquerque reflete a posição de boa parte do oficialato...
De fato, oficiais que fizeram parte dos DOIs (Divisões de Operações e Informações) e CODIs (Centros de Informações para Defesa Interna) dizem que estavam convencidos de que a tortura era necessária para obter o mais rapidamente possível informações úteis para suprimir a guerrilha, evitando assim mais mortes. Uma justificativa que se invalida, entre muitos outros motivos, quando se percebe que muitos prisioneiros foram torturados muito tempo depois de serem capturados. Qualquer informação, naquele caso, já perdera a relevância. No entanto, o que muitas vezes é deixado de lado é o fato de que boa parte das Forças Armadas brasileiras foi contrária à tortura. Eu posso afirmar sem medo que, literalmente, este foi um tópico que separou, para sempre, membros de uma mesma família. Também é importante frisar que os DOI-CODIs foram quase sempre instituições independentes da cadeia de comando, com seus membros recebendo um pagamento especial, e sendo encorajados a pensar de modo independente das regras da caserna.
Este certamente foi um fator importante para que a “política do esquecimento”, como o senhor a classifica, tenha sido pouco questionada até o momento...
É, mas também acho que, se por um lado, esta independência ajuda a explicar porque muitos oficiais podem hoje dizer que nada sabiam a respeito da tortura, por outro só aumenta a responsabilidade da instituição que gerou, sozinha, a brutalidade dos “porões”. Mesmo que não tenham sido todos os oficiais, alguns deles certamente souberam quem torturava e como eles torturavam. E se eles souberam, a sociedade brasileira, como um todo, inclusive os setores militares, tem o direito de saber. Eu acho que a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), por exemplo, deveria utilizar nas salas de aula o importante livro de Martha Huggins, que foi, para meu imenso orgulho, minha aluna no mestrado da Universidade de New Hampshire. Seu livro é uma cuidadosa pesquisa que se chama “Violence Workers: Torturers and Murderers Reconstruct Brazilian Atrocities” (Berkeley: U. of California Press, 2002), e ajuda a explicar esses episódios terríveis. Os cadetes brasileiros deveriam aprender o que eles não devem fazer quando virarem oficiais. Uma das principais conclusões de Huggins é a de que a tortura é “raramente confinada a um pequeno grupo de oficiais. Ao contrário, é um problema sistêmico, alimentado por fatores sociológicos e psicológicos que educam, facilitam, justificam e desculpam a prática da tortura em toda uma cultura”.
O senhor não acha que o livro também deveria ser apresentado aos soldados americanos que estão no Iraque?
É claro que sim! Os recentes maus-tratos a prisioneiros afegãos e iraquianos na base da Baía de Guantânamo provam isso. Mais: provam que esta definição de tortura precisa ser repetida de maneira incansável. Sempre.
Também não podemos esquecer que os militares brasileiros foram treinados na arte da tortura pelos seus pares norte-americanos. Pense na Escola das Américas...
Quem percorrer os capítulos anteriores a 1930 em “Soldados da Pátria” vai descobrir que os brasileiros jamais precisaram de professores externos para lhes ensinar como torturar. Uma sociedade de herança escravagista como a brasileira se depara com a prática da tortura do topo ao fim da escala social. Há momentos de refinamento desta prática, como nos anos 30, com a gangue de Filinto Müller, que recebeu treinamento da Gestapo, e, durante a Guerra Fria, com os “métodos de investigação” exportados pela CIA. O cerne da questão é entender por que os oficiais brasileiros aprovaram ou, ainda mais grave, torturaram eles mesmos outros cidadãos brasileiros.
No Chile e na Argentina há uma grande discussão sobre as obrigações do Estado no que se refere à tortura e eliminação de presos políticos. O senhor acha que estas sociedades estão um passo à frente da brasileira?
Não dá para comparar. O que aconteceu no Chile e na Argentina foi muito diferente. Por piores que as coisas tenham se dado no Brasil, elas nunca chegaram ao caos chileno ou argentino. No Brasil, a repressão diferiu em escala, intensidade e descaramento também. Precisamos lembrar que o Chile tinha perto de 14 milhões de habitantes durante a era Pinochet e que a Argentina tinha cerca de 40 milhões, sendo que três quintos viviam na Grande Buenos Aires. Foram centenas, quiçá milhares, de famílias afetadas diretamente pela perda de parentes queridos. O medo tomou conta destas duas sociedades e os militares foram completamente cúmplices e organizadores das atrocidades. A Força Aérea brasileira jamais foi acusada de jogar prisioneiros no oceano e a repressão brasileira jamais aconteceu de maneira aberta, às claras. Eles sabiam que a simples eliminação de quem estava do outro lado do regime era errada e tentavam esconder seus atos. Seres humanos costumam esconder os atos pelos quais se envergonham. Mas, por favor, eu não pretendo aqui dizer que a gravidade do que aconteceu no Brasil foi menor. Não foi. É intolerável que uma pessoa seja torturada. O Presidente Geisel lutou para acabar com os maus-tratos a prisioneiros políticos. Pinochet não apenas sancionou a tortura, ele pessoalmente ganhou dinheiro com a eliminação de adversários, como a movimentação de suas contas secretas em bancos de Washington nos mostraram recentemente. É claro que deve haver oficiais brasileiros que merecem sofrer punição, mas, com a “política do esquecimento”, eles não podem ser descobertos.
Vamos falar, então, da estrutura das Forças Armadas brasileiras. O senhor acredita que Exército, Marinha e Aeronáutica devam mesmo ser comandados diretamente por um ministro civil?
O importante, aqui, é pensar que, se a sociedade brasileira quer que os civis controlem os militares, então não pode haver meio-termo. O comando tem de ser claramente da autoridade civil, que deve ser educada nos negócios militares. As universidades brasileiras estão fazendo muito pouco para preparar os futuros administradores da Defesa Nacional. Uma saída importante é recrutar pessoas que passaram pelas Forças Armadas e se aposentaram ou trocaram de área, mas entendem o funcionamento da corporação, por exemplo.
Vamos tratar da educação militar. Em uma recente série, a “Folha de S.Paulo” mostrou que os estudantes da AMAN estão aprendendo que o golpe militar de 1964 foi uma atitude preventiva contra o estabelecimento de uma possível república comunista no Brasil. O senhor acha que eles estão aprendendo História de forma correta nas salas de aula em Resende?
Os experts do Ministério da Defesa deveriam estar prestando atenção redobrada ao que os cadetes da AMAN estão aprendendo. Estes cadetes deveriam estar lendo, por exemplo, todos os textos de história oral que o CPDOC da Fundação Getúlio Vargas vem produzindo a partir de entrevistas com oficiais de comando e políticos daquela era. Eu não acho de forma alguma que o Brasil, em 1964 ou em qualquer outro momento de sua história, precisou ser “salvo da ameaça do comunismo”. O governo de João Goulart foi certamente confuso e caótico, mas é muito difícil ver ali os agentes do comunismo internacional trabalhando para um Brasil vermelho.
Eu imagino que o senhor esteja a par das ligações entre o general Albuquerque e líderes do PT, como o senador Aloízio Mercadante e o ministro Luiz Gushiken. Como o senhor vê esta aproximação?
Eu tenho uma opinião formada sobre as ligações entre militares e políticos. Oficiais devem estudar Política como parte de sua educação contínua, mas não podem jamais atuar como membros ou estabelecerem ligações com grupos partidários. Como oficiais da ativa, são servidores da nação, “Soldados da Pátria”. Eles não podem apoiar posições ou interesses partidários. Mais: o envolvimento político de militares na história brasileira acabou sempre por prejudicar os interesses institucionais das próprias Forças Armadas. Agora, quanto aos oficiais da reserva, acho que eles devem ser livres para se expressar politicamente como bem entenderem.
O senhor achou positiva a nomeação do vice-presidente José Alencar para o Ministério da Defesa?
Eu ainda não consegui entender esta nomeação. Antes de mais nada, eu pensaria que Alencar tem um trabalho full-time a fazer na vice-presidência, ou não? E quais são as suas qualificações para o posto? O quanto ele entende dos negócios militares? Além do mais, ele pode ser retirado do ministério, mas jamais da vice-presidência. Se Lula resolveu mostrar autoridade presidencial para resolver esta crise, pode-se pensar em algum senso nesta indicação, mas, se, mais uma vez, se resolveu buscar aqui consenso imediato e valorizar a política do esquecimento, o futuro vai ferver de novo.
Outro importante especialista em estudos militares, o professor Alfred Stepan, declarou recentemente ao colunista Merval Pereira, de “O Globo”, que o maior erro de Lula foi não ter demitido o general Albuquerque imediatamente. Ele também disse que o episódio fortaleceu o grupo de militares ligado a Albuquerque e que o governo Lula é mais fraco do que a administração Fernando Henrique na relação com os militares. O senhor concorda com a avaliação de Stepan?
Respeito imensamente as opiniões de Al Stepan, mas não estou convencido de que o episódio todo tenha apenas um culpado, o general Albuquerque. Para mim, a nota refletiu a opinião dos oficiais brasileiros como um todo. O ministro Viegas deveria saber o que os oficiais pensavam sobre a tortura e deveria ter agido para corrigir este pensamento. O general Albuquerque não é um ministro de Estado, que poderia ser removido por um erro político, ele é um oficial-comandante das Forças Armadas. Ele vem do Exército, ele fala pelo Exército. Não tem jeito: para o bem ou para o mal, ele vai e deve refletir o pensamento do Exército. Se o governo não gosta da ideologia em vigor nas Forças Armadas, deve se mexer para modificá-la. Esta, inclusive, deveria ser uma das principais tarefas do Ministério da Defesa: ser o agente do Presidente da República, do Comandante-em-Chefe das Forças Armadas, para moldar o corpo militar da maneira que o Presidente acha ser a mais adequada para o país. E eu não vejo o governo Lula mais fraco do que o de Fernando Henrique na área militar. Mas é claro que agora, com toda esta crise, talvez eu devesse fazer uma nova avaliação...
Já que falamos de governos passados, como o senhor reagiu à decisão do governo Fernando Henrique de estender o prazo de liberação para consulta pública de arquivos sigilosos?
Um completo desastre. Este é um tema caríssimo para mim, toca fundo meu coração. Dou um exemplo prático e pessoal: quando estava pesquisando para o meu livro sobre a aliança militar entre o Brasil e os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, o então presidente Castello Branco decidiu que todos os documentos a partir de 1914 estariam vedados a historiadores estrangeiros. O que me salvou foi meu contato com a família de Osvaldo Aranha, que tinha guardado um belo material. Quando historiadores não têm acesso a documentos, pessoas menos preparadas para a função escrevem o que bem entendem. Quando a política do esquecimento chega ao ponto de fechar os arquivos, a história não é apenas apagada, ela é violada.
O senhor acha, então, que os arquivos referentes à ditadura militar devem ser abertos o mais rapidamente possível?
Em uma democracia, é sempre melhor abrir arquivos o mais rapidamente possível. Nos Estados Unidos, o atual presidente tem uma reputação de não liberar a abertura de nenhum tipo de arquivos. Mas a lei geral é de que, em 25 anos, os arquivos têm de ser abertos. É tempo suficiente para que eles sejam catalogados apropriadamente para que possam ser utilizados a quem interessar no futuro. Para que os anos de governo militar no Brasil sejam estudados de maneira apropriada, é fundamental a abertura dos arquivos. Arquivos e documentos são matérias-primas para os historiadores. Sem eles, você não cria história, mas fantasias, distorções e mitos.
Alguns protetores dos arquivos dizem que várias informações são delicadas e expõem a vida privada de dissidentes políticos do regime militar...
Claro, é preciso enfatizar que os pesquisadores responsáveis por esses arquivos têm de ser sérios e preparados para a tarefa. O problema aqui é outro: não deveria caber às Forças Armadas, ao Itamaraty ou a qualquer agência governamental a decisão de quando e se deve ser aberto este ou aquele arquivo. O que deveria haver é uma política nacional referente ao tema, votada no Congresso Nacional. Depois de anos pesquisando em arquivos públicos e privados no Brasil, ainda me espanta que a maioria destes documentos esteja sob a posse das Forças Armadas ou do Itamaraty. Por que não estão todos no Arquivo Nacional? Pense que a maior parte da “literatura” da Guerra Civil de 1932 em São Paulo, por exemplo, não nos serve de base porque é uma grande distorção, um mito criado para transformar Getúlio Vargas em uma figura odiosa. A Guerra Civil contribuiu decisivamente para o endividamento do país e para a crise que levou ao Estado Novo. Vou além: sem a Guerra Civil de 1932, talvez não houvesse uma ditadura no Brasil nos anos 40.
Os brasileiros estão comandando a força de paz da ONU no Haiti. No Brasil, houve uma série de críticas à decisão do governo Lula de enviar tropas a um país latino-americano que acabara de ter seu presidente deposto em um episódio, no mínimo, controverso. O senhor acha que foi uma boa jogada diplomática brasileira?
Por um lado, não concordo com os que vêem a força de paz no Haiti como uma interferência nos negócios internos de um país vizinho e tenho informações seguras de que as tropas brasileiras estão fazendo um trabalho magnífico por lá. Ao mesmo tempo, eu jamais enviaria tropas para o Haiti, especialmente com as peculiares e questionáveis circunstâncias em que o presidente Aristide foi deposto. E, do mesmo modo que os franceses e canadenses, acho que as tropas brasileiras devem se distanciar de ações que possam parecer destinadas a servir aos interesses do governo Bush. Mas, ainda mais importante, eu jamais escolheria me envolver com a realidade haitiana neste momento. O Haiti está em tal situação que apenas um esforço verdadeiramente intenso e mundial poderá dar um jeito. Falta tudo lá, de água potável a terra fértil para se plantar, sem falar em infra-estrutura básica e condições sociais e econômicas normais. O Haiti de agora me lembra a velha história do “bebê de piche”. Todos os que o tocarem ficarão marcados, não tem jeito. Eu adoraria saber quem é que foi aconselhar o presidente Lula a mandar tropas para o Haiti. Esta pessoa deveria ser demitida.
- rodrigo
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- Registrado em: Dom Ago 22, 2004 8:16 pm
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Esse professor é um acadêmico, só viu violência na televisão, e em suas bibliotecas climatizadas, quer julgar as FFAA brasileiras, e está claro que ele utiliza as FFAA americanas como padrão de julgamento.
Deviam ter entregue o país aos comunistas, com certeza seria um paraíso de diálogo e convivência pacífica entre aqueles de ideologia diferente.Uma declaração que pretende justificar o uso da tortura, sob quaisquer circunstâncias, está tentando defender o que é completamente injustificável. O pecado mais grave de uma instituição militar é voltar suas armas contra os cidadãos que construíram e pagaram por aquelas armas.
Ou eu não entendi, ou isso é uma grande besteira. A anistia, em um momento em que se combatiam duas frentes nas FFAA: linha dura X abertura, é que possibilitou o retorno de vários políticos de esquerda, o reinício de uma vida política ampla, e a liberdade total de imprensa, que culminou nesse sistema que vivemos agora. Com um gostinho de arrependimento, depois que vimos que o que não se conseguiu com a luta armada, não efetivaram nem quando tiveram a legitimidade das urnas.O problema é que a maioria dos que receberam o benefício da anistia, quase sempre, foram oficiais. Cidadãos civis ou militares sem posição política ou poder estabelecido sempre foram deixados à margem.
Imaginem se um estrangeiro sugerisse o que se estudar ou fazer na academia de West Point, nos EUA, iam dizer:Eu acho que a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), por exemplo, deveria utilizar nas salas de aula o importante livro de Martha Huggins, que foi, para meu imenso orgulho, minha aluna no mestrado da Universidade de New Hampshire. Seu livro é uma cuidadosa pesquisa que se chama “Violence Workers: Torturers and Murderers Reconstruct Brazilian Atrocities” (Berkeley: U. of California Press, 2002), e ajuda a explicar esses episódios terríveis. Os cadetes brasileiros deveriam aprender o que eles não devem fazer quando virarem oficiais. Uma das principais conclusões de Huggins é a de que a tortura é “raramente confinada a um pequeno grupo de oficiais. Ao contrário, é um problema sistêmico, alimentado por fatores sociológicos e psicológicos que educam, facilitam, justificam e desculpam a prática da tortura em toda uma cultura”.
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Manifestação ridícula, claramente democrata. Se a política do Bush fosse tão ruim assim, e ainda com mais a pressão de toda grande mídia americana a favor dos democratas, e o resto do mundo, os republicanos não teriam ganho a presidência, e a maioria na câmara e senado.Ao mesmo tempo, eu jamais enviaria tropas para o Haiti, especialmente com as peculiares e questionáveis circunstâncias em que o presidente Aristide foi deposto. E, do mesmo modo que os franceses e canadenses, acho que as tropas brasileiras devem se distanciar de ações que possam parecer destinadas a servir aos interesses do governo Bush. Mas, ainda mais importante, eu jamais escolheria me envolver com a realidade haitiana neste momento. O Haiti está em tal situação que apenas um esforço verdadeiramente intenso e mundial poderá dar um jeito. Falta tudo lá, de água potável a terra fértil para se plantar, sem falar em infra-estrutura básica e condições sociais e econômicas normais. O Haiti de agora me lembra a velha história do “bebê de piche”. Todos os que o tocarem ficarão marcados, não tem jeito. Eu adoraria saber quem é que foi aconselhar o presidente Lula a mandar tropas para o Haiti. Esta pessoa deveria ser demitida.
"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."
João Guimarães Rosa
possibilidade de tomada de poder pelos comunistas
To sem tempo, to de mudança, meus livros estao embalados, mas assim q puder vou colocarb alguns trechos do livro"o golpe de 1964", de JJ chiavenatto, e la existem cklaras evidencias de q isso estava em curso. no mesmo livro ele tece justificativas a" violencia revolucionaria" das esquerdas.
Sugerir ler textos do cpdoc? fala serio. eu faço faculdade de historia, o q se cultua por grande parte dos professores, e a cultura da revoluçao. se estuda as "classes revolucionarias", pq faltou consciencia revoluciuonaria em na reoluçao pernambucana, etc. Ha uma verdadeira GLORIFICAÇAO do modelo revolucionario como meio de soluçao dos problemas da sociedade. Isso é ser democratico? essa abertura vai servir, no momento, é pra lucrar mesmo e avivar revanchismos. se abrissem daqui a umas decadas, acho que , ai sim, poderiam ser analisados sem maiores paixoes . no momento atual, o q fazem é puro revanchismo e busca de vantagens monetraias. um a verdadeira industria de indenizaçoes.
Sugerir ler textos do cpdoc? fala serio. eu faço faculdade de historia, o q se cultua por grande parte dos professores, e a cultura da revoluçao. se estuda as "classes revolucionarias", pq faltou consciencia revoluciuonaria em na reoluçao pernambucana, etc. Ha uma verdadeira GLORIFICAÇAO do modelo revolucionario como meio de soluçao dos problemas da sociedade. Isso é ser democratico? essa abertura vai servir, no momento, é pra lucrar mesmo e avivar revanchismos. se abrissem daqui a umas decadas, acho que , ai sim, poderiam ser analisados sem maiores paixoes . no momento atual, o q fazem é puro revanchismo e busca de vantagens monetraias. um a verdadeira industria de indenizaçoes.
- Lauro Melo
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Depois de ler todo texto posso dizer que este cara assim como muitos outros que "vender" seu peixe explorando o velho assunto da ditadura.
Tomara que seu livro seja um fracasso de vendas.
Discute O Papel das Forças Armadas...... se depender de pessoas assim, ficamos apenas com uma Guarda Nacional.
O Rodrigo fez boas colocações sobre outras partes, nada a acrescentar.
Abraços,
Tomara que seu livro seja um fracasso de vendas.
Professor, “Soldados da Pátria” chega às livrarias brasileiras num momento em que se discute intensamente o papel das Forças Armadas no país...
Se o governo não gosta da ideologia em vigor nas Forças Armadas, deve se mexer para modificá-la. Esta, inclusive, deveria ser uma das principais tarefas do Ministério da Defesa:
Discute O Papel das Forças Armadas...... se depender de pessoas assim, ficamos apenas com uma Guarda Nacional.
O Rodrigo fez boas colocações sobre outras partes, nada a acrescentar.
Abraços,
"Os guerreiros não caem se ajoelham e levantam ainda mais fortes."
TOG: 22 anos de garra, determinação e respeito.
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