Penguin escreveu:Uma consequência positiva disso tudo é que os fatos podem começar a emergir...
Operação Zelotes
Comando da Aeronáutica nega irregularidades na escolha de caça sueco para FAB
Diante da reabertura das investigações do Programa F-X2 pelo Ministério Público, militares afirmam que opção pelo Saab Gripen NG seguiu critérios exclusivamente técnicos
11 de Fevereiro de 2016 às 16:00
O Ministério Público Federal reabriu as investigações sobre o processo de compra do caça Gripen NG, dentro do programa F-X2. A suspeita de irregularidades surgiu durante a Operação Zelotes, da Polícia Federal, que investiga a compra de Medidas Provisórias durante o governo Lula. Os procuradores acreditam haver indícios de que o contrato firmado entre o governo brasileiro e a empresa sueca Saab possa ter sido influenciado pelos lobistas Mauro Marcondes e Cristina Mautoni, que tinham acesso privilegiado ao ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Documentos recém-descobertos apontam que Marcondes atuou como lobista da empresa sueca junto ao governo brasileiro durante o programa F-X2. A suspeita do Ministério Público é a de que a atuação possa ter envolvido a corrupção e tráfico de influência.
Em contato com a reportagem de AERO Magazine, o Comando da Aeronáutica reafirma que todo o processo foi conduzido pela COPAC (Comissão Coordenadora do programa Aeronaves de Combate) de forma independente e completamente técnica.
O relatório com mais de 37 mil páginas produzido pela COPAC aponta o Gripen NG como preferido pelos militares. Segundo o documento, o caça sueco é a melhor opção operacional, logística, industrial e tecnológica.
Em outras palavras, o que os militares estão dizendo é que a escolha dos caças Gripen NG pela COPAC não sofreu influência da atuação dos lobistas junto ao governo em prol da Saab, tampouco de supostas irregularidades que possam ter cometido. Ou seja, se houve algum tipo de ato ilícito, ele foi irrelevante para a definição dos caças suecos pelos militares.
Histórico do programa
Durante o F-X, ainda conduzido pelo governo Fernando Henrique Cardoso, a força aérea elegeu o Gripen C/D como seu vetor de caça. Ao ser cancelado no começo do governo Lula, o projeto F-X foi completamente redesenhado e relançado como F-X2, que incluiu uma nova lista de candidatos. Entre os três finalistas estavam o norte-americano F/A-18 Super Hornet, produzido pela Boeing, o francês Rafale, da Dassault, e a nova geração do Gripen, que ampliou o interesse dos militares brasileiros.
Poucos dias antes do anúncio do vencedor do programa F-X2, que ocorreu já sob a gestão da presidente Dilma Rousseff, um relatório final da Copac divulgado pela imprensa mostrava a clara vantagem do Gripen NG entre os militares.
A COPAC apontava que o novo avião permitiria ao Brasil ter acesso à cadeia de desenvolvimento e produção de um caça de geração 4++, algo inédito na história da indústria aeronáutica nacional. Em segundo lugar ficou o Super Hornet, por suas qualidades comprovadas em combate e, por fim, na terceira posição, o Rafale, sobretudo por seu elevado valor tanto operacional quanto de aquisição.
O Comando da Aeronáutica aponta que o relatório foi produzido por oficiais que avaliaram exclusivamente os critérios técnicos do programa, sem qualquer relação com questões governamentais ou empresariais.
Após o governo brasileiro formalizar o acordo de compra e desenvolvimento do Gripen NG, em outubro de 2014, num projeto orçado em mais de US$ 5 bilhões, o Ministério Público apurou a lisura do processo. Na ocasião, as autoridades policiais analisaram informações e documentos fornecidos por Força Aérea, Saab e Ministério da Defesa. Em agosto de 2015, sem encontrar dados que justificassem o andamento das investigações, o processo foi arquivado.
Ainda assim, durante o desarquivamento do inquérito envolvendo a escolha do Gripen NG, o procurador da República Anselmo Henrique Cordeiro Lopes afirma que a decisão leva em consideração a “superveniência de novos indícios que colocam em dúvida a idoneidade da contratação da Saab”. Também foi requerido que o Ministério da Defesa e a Saab forneçam informações complementares e atualizadas sobre o caso.
A força-tarefa encarregada da Operação Zelotes também foi solicitada a fornecer novos dados que possam auxiliar na investigação e instauração do inquérito.
Original:
http://aeromagazine.uol.com.br/artigo/m ... z3zuORxuhJ
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JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO
10/02/2016
http://politica.estadao.com.br/noticias ... 0000015593
Os caças da FAB
Eliane Cantanhêde
O Ministério Público reabriu as investigações sobre os caças da FAB, mas uma coisa é certa: se alguém pagou propina a favor do sueco Gripen NG, da Saab, jogou dinheiro fora; e, se alguém recebeu por fora para forçar esse resultado,levou sem muito esforço (recorrendo à Wikipedia?) O que, talvez, torne aindamais grave a suspeita de suborno. O programa FX da FAB começou no governo Fernando Henrique, arrastou-se pelos oito anos de Lula e só teve um desfecho no primeiro mandato de Dilma. Deve ter rolado muito lobby, pressão e tráfico de influência, mas o fato é que a narrativa tem uma sequência razoavelmente clara e uma conclusão lógica.
Com corrupção ou não, daria o avião sueco.
O FX evoluiu para FX-2, já com novos modelos, e levou todos esses anos por falta de dinheiro, decisão política e coragem para enfrentar a opinião pública, que prefere investir em saúde (e evitar o zika vírus) a comprar aviões, tanques e submarinos das Forças Armadas. Mas, quando Dilma Rousseff anunciou o sueco, com um custo aproximado de US$ 5 bilhões, não houve bafafá. A sociedade já tinha assimilado a importância da defesa aérea e os concorrentes estavam preparados. Passou sem dor.
Além do Gripen NG, concorriam o francês Rafale, da Dassault, e o americano F-18 Super Hornet, da Boeing, alvos de um embate entre as áreas política e técnica do governo nos dois mandatos de Lula.
O presidente e os ministros da Defesa, Nelson Jobim, e das Relações Exteriores, Celso Amorim, fizeram de tudo pelo Rafale, mas a Aeronáutica sempre trabalhou pelo Gripen, com apoio de empresas brasileiras do setor.
Deslumbrado com a tal “aliança estratégica” com a França, Lula queria o Rafale e, num dos três ou quatro encontros com o então presidente Nicolas Sarkozy num único ano, chegou a anunciar a escolha do caça francês antes de receber o relatório da Comissão Coordenadora do Programa Aeronaves de Combate (Copac, da FAB).
Diante do constrangimento geral e da chiadeira na Força Aérea, voltou atrás no dia seguinte. Primeiro, a posição da FAB; depois o anúncio.
E aí veio o problema: a conclusão do relatório de 37 mil páginas, que vazou pela imprensa, dava o caça sueco em primeiro lugar, o dos EUA em segundo e o queridinho do Planalto em terceiro e último. Como anunciar o francês na contramão da Aeronáutica? A partir daí, a política fez o resto. Lula foi se afastando de Sarkozy e perdeu definitivamente o encanto quando a França passou-lhe uma bela rasteira, votando na ONU contra o acordo do Irã articulado por Brasil e Turquia. Nunca mais Lula falou de Sarkozy e de caça da FAB. Selou-se, assim, a sorte do mais caro dos três concorrentes do FX-2.
Início de Dilma, reinício do programa. Sem o Rafale, começou a decolar o F-18 americano, embalado pelo fato de que os EUA são o país que mais investe em defesa, a Boeing é a maior empresa do setor no mundo e dez entre dez pilotos adoram os caças americanos. Com essa promissora avenida – ou pista –, a Boeing instalou até representação no Brasil, com a respeitada ex-embaixadora Donna Hrinak à frente, mas a espionagem dos EUA no Brasil explodiu tudo. Assim como o acordo do Irã derrubou o Rafale, a NSA atingiu o F-18 em plena decolagem.
A compra dos jatos deu um giro de 180 graus e voltou ao início: o relatório da Copac, que considerou critérios como preço, custo de manutenção e absorção de tecnologia, e deu a vitória ao Gripen NG. Muita gente certamente ganhou dinheiro por fora dos três lados, mas
prevaleceu a lógica: pela preferência da FAB, pelas condições técnicas e pelas circunstâncias políticas, daria o avião sueco de qualquer jeito. Se o MP e a PF descobrirem mutretas, vão descobrir também que quem pagou entrou de gaiato e quem levou ficou na sombra e água fresca.