Re: TÓPICO OFICIAL DO FX-2: GRIPEN NG
Enviado: Sex Nov 28, 2014 10:30 pm
kirk escreveu: Boa Noite andrelemos !
Tomei a liberdade de juntar estes dois posts que envolvem o mesmo assunto !
Em primeiro lugar, se me permite uma observação, muito interessante sua linha de raciocínio!
Porém parte de uma premissa de que nosso GF atua na América do Sul, com uma linha de conduta bem definida e fortemente ancorada numa estratégia nobre de liderança regional e de autoridade moral para "contermos" os ânimos de alguns, bem como, apoiadores do crescimento econômico e social de outros ... coisa que sinceramente não é o que eu vejo no Itamaraty, absolutamente.
Aliás isso é o que queríamos que fosse o Itamaraty ...
Na minha opinião, o que acontece é exatamente o contrário, vejo um MRE absolutamente impregnado e ancorado numa ideologia ultrapassada, com valores morais, abaixo de ZERO a esquerda ... tendencioso, fraco, sem nenhuma autoridade internacional, de caráter duvidoso, titubeante, enfim, UMA VERGONHA PARA O NOSSO PAÍS.
Vejo uma instituição que coloca seus valores ideológicos acima dos interesses nacionais, sob uma "lógica socialista" em que os amigos "tudo pode" aos demais ... às regras !
Não vou me alongar nos exemplos, mas podemos citar alguns:
- Nunca condenou as atrocidades cubanas, pela opressão ao seu povo, o cerceamento da liberdades individuais, na comissão dos direitos humanos, quando o faz sem cerimônia aos chamados "demais".
- Apoiou a assunção ao poder do Maduro (eleito por Chaves), mesmo quando seu governo massacrou as manifestações populares na Venezuela com milícias armadas ... matando indivíduos que protestavam contra o governo ... o Brasil se CALOU ... fechou os olhos de forma covarde e parcial e amoral.
- Excluiu o Paraguai do Mercosul para burlar o regimento interno daquela instituição internacional porque o Congresso daquele País não referendava a entrada da Venezuela (aliás aqui vai um adendo a seu comentário: Que falta de democracia é esta que o amigo viu no Paraguai ???? ... conhece bem suas leis ??? )
- Contrata médicos cubanos e lhes paga salário de fome, passando 80% de seus salários para o "regime" ... em apoio explícito à Cuba e em detrimento dos direitos TRABALHISTAS dos médicos.
QUE AUTORIDADE MORAL TEM ESSE ITAMARATY ???? ... Que liderança é essa que amigo de forma lúdica educada e inteligente e até Romântica quer nos convencer que o Brasil exerce ou exercerá ????
É digno de nota, que não se vê "parceria estratégica" com Colômbia, México, Chile, Peru, né ??? ... porque será ???
Pelos posts inteligentes GOSTARIA DE SUAS OBSERVAÇÕES !
Boa noite kirk,
Creio que você fez uma salada de várias coisas, algumas que não tem nada a ver com a atuação do Itamaraty, como a questão dos médicos cubanos (decisão do governo Dilma, ou seja, o executivo, ao qual o Itamaraty é subordinado).
Temos de tentar separar as declarações a ações de outros agentes do governo, entre eles o do "assessor especial" Marco Aurélio Garcia, que nada tem a ver com o pensamento estratégico desenvolvido pelo Itamaraty e outros órgãos de Estado, não de Governo.
O que posso dizer, de cabeça, e em linhas gerais, é que o Itamaraty sempre se pautou pelo seguinte raciocínio:
O Brasil é um país "sem excedentes de poder" (frase do ex-Chanceler Saraiva Guerreiro), portanto deve se pautar pelo respeito às leis do direito internacional, e em igual medida, pela defesa da soberania dos países em questões "internas". Outra vertente de pensamento clássica do Itamaraty (remonta dos anos 60 com a chamada Política Externa Independente), é a busca de parceiros fora do eixo tradicional, que na época eram os EUA e Europa, a fim de fortalecer vínculos com outros países em desenvolvimento e buscar a atuação em bloco destes países, em questões mais amplas sobre comércio internacional, não proliferação nuclear, etc, para tentar se contrapor aos ditames dos EUA e Europa nessas questões.
Veja que estas estratégias atendem às necessidades de um país em desenvolvimento ciente do seu potencial, mas ainda excessivamente frágil do ponto de vista econômico (e portanto militar) para tentar algo mais audacioso. Tratava-se, à época, de tentar maximizar os ganhos políticos e econômicos das relações com todos os países (com exceção do bloco soviético, e mesmo com eles houveram alguns pequenos acordos comerciais) e, ao mesmo tempo, evitar riscos e um possível isolamento em um ambiente internacional altamente polarizado ideologicamente, mas onde diversas nações emergentes buscavam seu espaço.
Este pensamento continua a nortear a ação do Itamaraty. O Brasil evita ao máximo atuar de forma condenatória contra países que violam os direitos humanos dentro de suas próprias fronteiras e contra seu próprio povo, pois entende que o ato de meramente condenar além de não servir propósito prático (nenhum país para por mera condenação), entende que tal tipo de medida serve apenas para aumentar o isolamento daquele país e reduz as chances de uma solução negociada, na maioria dos casos a solução mais desejável.
Assim, a defesa da soberania em assuntos internos é mais importante do que considerações de DH e outros, que por mais louváveis sejam, muitas vezes na arena internacional servem apenas como ferramentas para fins políticos. Assim, países amigos de Israel (mormente os EUA) não os condenam quando violam o direito internacional, e acusam seus inimigos. A China fecha os olhos para a Coréia do Norte, e a protege, etc.
Não estou com isto dizendo que os DH humanos não servem para nada, apenas que deve-se olhar com muito cuidado para quem condena, e com que objetivo em mente.
O "apoio" ao Maduro (não vi apoio explícito nenhum) vai na mesma linha. Eles lá na Venezuela que se resolvam. Vamos fazer o quê, invadir para salvá-los de si mesmos? O mesmo vale para o Paraguai. O fato de um Presidente ser destituído em 24 horas é sim uma fonte de preocupação, da mesma forma que uma "troca" de governo tão rápida e tão conturbada em qualquer outro país democrático seria fonte de preocupação. Quanto tempo demorou o processo de impeachment do Collor? A questão não é dizer se o governo é bom ou mau, a questão é se os processos constitucionais foram seguidos da forma correta, e quanto a isso houveram controvérsias.
Enfim, estas são questões complexas que necessitam de um exame muito mais detalhado do que sou capaz de fazer assim, sem preparação alguma. Continuo reiterando o que disse anteriormente: não podemos tentar entender o planejamento estratégico e o posicionamento geopolítico de um país por meio das ideologias políticas.