BRASIL PERGUNTA: DEVEMOS FABRICAR A BOMBA ATÔMICA?Resposta à pergunta do leitor Milton Guarnieri – Recife - Pernambuco
SIM
Porque a tecnologia necessária à fabricação de uma bomba atômica é a mesma que se utiliza para
fins pacíficos, objetivando o desenvolvimento. Impõe-se, neste setor, uma política nacionalista. Para
nós, que lutamos por um mundo melhor, não há outra alternativa: é impossível o humanismo sem
desenvolvimento; o desenvolvimento sem tecnologia alheia, e ficar sujeitos ao controle de outros
povos e outros interesses. Num mundo dividido em nações, renunciaremos a essa categoria e
aceitaremos a condição de senzala, se não tivermos uma definida consciência nacional. Temos como
poucos as condições para sermos uma grande potência. Não nos faltam técnicos de valor,
principalmente no setor nuclear, e dispomos de reservas apreciáveis de minerais atômicos.
Poderemos, pois, atingir tranquilamente o progresso que a ciência moderna promete aos povos
capazes e corajosos. Livremo-nos dos complexos coloniais e de inferioridade e seremos uma das
maiores nações do mundo. Para isso urge libertarmo-nos da subserviência de alguns e da ignorância
de muitos. Só não seremos o que todos sonham se não quisermos ou não soubermos. Não vemos
razão para que os povos que ainda não possuem armas atômicas – por iniciativa da Rússia e dos
Estados Unidos, que já as têm – assumam compromisso de não construí-las, quando os outros não
desistem de continuar a fabricá-las. É a tentativa de paralisar a nossa procura de desenvolvimento.
Estamos na civilização atômica. Se perdermos a corrida, renunciaremos, definitivamente, às nossas
possibilidades de plena realização. Somos pacifistas, mas não abrimos mão de estudos e
manipulações científicas que se entrelaçam, quer para fins bélicos ou pacíficos. No mundo atual, para
o país ser respeitado, e estar seguro, não podem ter um simples depósito de armas obsoletas.
Devemos lutar também para termos armamento atualizado, obtido com tecnologia própria; não se
compreende segurança nacional com dependência estrangeira nesse setor. E segurança nacional
com armas clássicas não passa, hoje, de simples passatempo de crianças grandes. Não nos convém
abandonar nenhuma linha, nenhum caminho que nos conduza ao progresso que queremos deixar
aos descendentes de nossa geração.
Ivete Vargas
Deputada Federal (MDB, S. Paulo)
NÃO
A bomba atômica não é um elemento efetivo de segurança nacional. Seu emprego como argumento
dissuasório, ainda que discutível, só vale no plano das suas grandes potências nucleares, que não
são grandes porque têm a bomba atômica, mas têm a bomba atômica porque são grandes. Nas mãos
de potências menores, a bomba atômica perde muito desse sentido e representa mais um risco de
guerra do que uma garantia de paz. Sua presença no arsenal de países mal organizados e, portanto,
sem a infraestrutura não só militar, como civil, que dá o sentido pleno da segurança nacional, é uma
tentação perigosa de querer compensar o desequilíbrio efetivo por uma ação de surpresa. A bomba
atômica adquire nesse caso um sentido de intenção ofensiva. Não vejo como qualquer razão de
segurança nacional poderia levar o Brasil de hoje a uma aventura e ao mesmo tempo inútil. A bomba
atômica também não é condição necessária para o desenvolvimento nuclear de um país. Apesar de
certas pessoas – que deveriam demonstrar menos ignorância e mais senso – terem afirmado que o
Brasil só entrará na era atômica quando fabricar a bomba, um país pode e deve realizar seu
desenvolvimento no sentido de tirar da energia nuclear os inúmeros benefícios que ela pode
proporcionar, sem se empolgar pelo prestígio ilusório e perigoso de sua capacidade de fazer mal.
Trabalhando para utilizar ao máximo a energia nuclear em atividades pacíficas, conseguiremos com
maior economia e segurança atingir o estágio de desenvolvimento que nos permitirá, se a tanto
formos obrigados, a construir a bomba atômica. Nessa ocasião, o problema não será mais o
desenvolvimento científico, técnico e econômico, mas simplesmente de ordem moral. E é nesse plano
que está a decisão futura. Atualmente falta muita coisa ao Brasil, além da bomba atômica. Muita coisa
mais simples, mais útil e menos perigosa, que nos pode ser proporcionada pela energia nuclear. E
creio que, mercê de Deus, lhe falta principalmente o desejo de acrescentar aos tormentos da
humanidade mais uma fonte de inquietação e desesperança.
Almirante Otacílio CunhaPresidente do Centro Brasileira de Pesquisas Físicas
FONTE: REVISTA REALIDADE – Número 16 – Julho de 1967
Pelo visto o cara era contra o Brasil ter BA. Mas , e os outros????
Fi.........
