Exército simula guerra contra os EUA

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

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#46 Mensagem por Malandro » Qua Out 25, 2006 4:02 pm

antunsousa escreveu:
cicloneprojekt escreveu:
antunsousa escreveu:Uma coisa que eu não entendo na análise do pessoal sobre essa possibilidade de guerra na Amazônia é que eles esquecem de pôr na hipótese o restante do Brasil. Se, eventualmente, algum país resolvesse dar início a uma tal guerra, certamente, não poderia atacar apenas a região. No restante do país inteiro haveria muita mobilização. Haveria produção de armamento nos parques industriais do sul, sudeste e nordeste. Vocês acham que não? Acham que a guerra estouraria na Amazônia e que no restante do país a vida seguiria tranqüila, como se nada tivesse acontecendo? Pô, claro que não.


Questionamento perfeitamente plausível.

Na MB, trabalhávamos/trabalha-se com a idéia tida como certa e inevitável, de que o inimigo em potencial que o centro-sul do Brasil seria atacado sistematicamente para minar a capacidade de resist~encia da POPULAÇÂO. Com bombardeios sistemáticos de usinas de energia, linhas de transmissão ,rodovias, etc. ou seja, o básico para parar qualquer país.

No entanto, o Brasil através docomércio flobal já étão significativo p/ todos os países -chave do conselho de segurança da ONU, que considero remota(mas não desprezível) no momento tal intervenção.

Walter


É. O Brasil é um gigante na produção de alimentos. É o 2º maior produtor de grãos (soja + milho), o 1º de açucar, 1º de carne, 2º de mandioca, 1º de café, 1º de suco de laranja, 2º de frutas, etc. Portanto, se o Brasil for invadido, o mundo todo sentiria. O preço dos alimentos subiria no mundo todo. E, se a guerra fosse longa, chegaria um ponto em que o mundo inteiro faria pressão para que ela terminasse. Então, amigos, a coisa mais inteligente que o Brasil tem a fazer é continuar ampliando a sua inserção no mercado global. O mundo tem que cada vez mais ser dependente do Brasil. E será.

O etanol, mais cedo ou mais tarde, vai virar uma commodite. E, o Brasil que já não só produz como consome etanol, irá se firmar como o maior produtor de etanol do mundo e tornar-se-á o maior exportador também. Ou seja, mais dependência do mundo em relação ao Brasil. Mas, ainda não chegamos no ponto-chave da análise: o etanol para ser viável precisa de largas porções de terra, de modo que, a produção de alimentos, pelo menos um pouco, competirá com o etanol. Assim, os preços dos alimentos serão mais caros no futuro e a atividade agrícola, tanto para os produtores de alimento quanto de biocombustível, será mais estável e lucrativa.

O Brasil será um país pouco ameaçado no futuro. Pois, o mundo que já depende da produção brasileira, vai depender mais ainda no futuro. E quando esse futuro (não distante) chegar, invadir o Brasil não vai ser nem um pouco inteligente e será mesmo quase proibido. Uma invasão ao Brasil não passaria pelo CS da ONU de jeito nenhum.


OBS.: Isso tudo sem falar nos milhões de chineses e indianos que serão adicionados ao mercado consumidor (de alimentos e combustível).



Pior que é verdade . Até hoje tenho uma Newsweeek que chama o Brasil de celeiro do mundo . ALiás qdo comprei a revista encontri com o Henrique Meirelles do BC .




Carlos Mathias

#47 Mensagem por Carlos Mathias » Qua Out 25, 2006 9:10 pm

Eu não só acredito nisso, como nunca disse que não eram. São mesmo altamente preparados. E os soldados muito bem treinados.


Tenho um amigo oficial que está tentando a ESG. Ele me falou que vai largar tudo e fazer um concursinho de juiz, que é muito mais fácil. Portanto, os caras são muito bem preparados sim.

Sobre os soldados, vou interpretar o que você escreveu como ironia, então digo-lhe que o EB não tem grana prá manter toda a tropa bem treinada e equipada, mas as unidades de pronto emprego são sim muito bem treinadas e equipadas, sempre levando em conta as restrições orçamentárias mais que conhecidas. Voltando aos 4 estrelas, sim, são muito bem preparados sim. O resultado que se vê pode parecer pouco, mas com a porcentagem de gastos com as FAs que temos no Brasil, eu duvido muito mesmo que qualquer país tivesse mais sucesso se a doutrina fosse a mesma, lembrando sempre que o que é bom para A pode não ser para B.

Bem, eu estava falando de alimentos, não de produtos de mineração (materiais), mas, já que adoram falar de cobiça por minérios, mais uma vez vou repetir: quando foi que o Brasil se recusou a vender minérios para esse ou aquele país? E, outra, se o Brasil têm e eles não têm, é uma pena para eles. Quem tem vende, quem não tem compra. Primeira lei do capitalismo.


Alimentos entram nesta conta sim meu caro, afinal o que o povo deles vai comer? E os minérios são materiais finitos, postanto mais cedo ou mais tarde vão sair no tapa prá ter um pouco do necessário. O Brasil não precisa se negar a vender, isso não é o cerne da questão. Acontece que os EUA e outros, para manter sua posição de prevalência e dominância, um dia vão querer ter controle total sobre certas riquezas estratégicas, podendo comprar ou não. Nenhuma guerra começa porque A não quiz vender para B, mas sim porque B quer o controle absoluto sobre este bem, e isso só se consegue com a submissão de A, ou o domínio total sobre. Sobre capitalismo, isso é muito bonito enquanto o interesse permite, depois vai tudo pro cacete e tomam mesmo. O petróleo taí, sendo vendido e relativamente barato, mas sabemos que os EUA estão no Iraque por qualquer coisa menos democracia, direitos humanos e terrorismo.

Com o CS da ONU não, mas com retalhações sim. Nunca se esqueça de que os EUA têm a balança comercial menos favorável (mais negativa) do mundo. E, hoje, há muitos investimentos nacionais em outros países por meio das multinacionais - ou seja, mais alvos passíveis de sansões. Mas, afinal, você não quer comparar o Iraque com o Brasil, ou quer?
Amigo, o Iraque é um deserto. Não produz alimentos. Além disso, a produção de petróleo, ao contrário da produção de alimentos, é extremamente localizada nos poços. Já a produção de alimentos em escala requer largas porções, contínuas ou descontínuas, de terra.


Se o Iraque é essa merda toda e eles foram lá, imagine por algo que preste... A questão não é tomar o país e levar democracia e blá, blá, blá. A questão era a segunda maior reserva de petróleo do mundo na mão de um ditador rebelde, desalinhado, maluco e contrário. Vai lá, tira o cara, coloca um bucha qualquer que seja um fantoche e pronto. aliás, você viu que o vice dos EUA tá meio enparedado por causa dos contratos fajutos da empresa dele? Haja democracia, hein? Em tempo, os EUA podiam continuar comprando petróleo do resto do mundo e esquecer o Iraque, afinal, areia e outras besteiras...


É, mas quem faz isso quer guerra. Essa não seria uma atitude nada nada inteligente. E se o motivo para tanto fosse ideológico, menos ainda. É por isso que muitos põem a faca no próprio pescoço.


Então você está corroborando minha idéia, a de que o que temos não nos será permitido vender a quem quisermos, se quisermos. Pô, o bagulho é meu, eu vendo se eu quiser. Mas não, tem um cara que quer e acabou, vai ter que dar na marra. Assim fica fácil.

É, mas mesmo assim, a Rússia hoje tem o mesmo tamanho que tinha naquele tempo. (Agora, convenhamos, a Russia não é lá um bom exemplo de coitadinha. Não aprendeu nada com a IIG. Se tivesse aprendido, não teria invadido e anexado tantos países. Todo mundo fala que os EUA são imperialistas e blablablá, mas, não existe país mais expansionista que a Rússia. Mas, por safadeza ideológica, disso ninguém fala.)


Olha, se foi prá mim foi completamente descabido e muito sem educação. Se não foi, dá no mesmo. Não sou comunista, nunca fui e não quero saber de comunismo no Brasil. Gostar de equipamento militar russo por razões quaisquer que sejam não me tornam automaticamente comunista, que aliás já acabou por lá faz muito tempo. Achar que uma aproximação com a Rússia poderia trazer ganhos para nós, também não me faz comunista. E por aí vai. Portanto, não falei nada por "safadeza ideológica", se o comentário era dirigido à mim.

Sobre anexação de estados, o México conhece bem essa história. A Rússia teve 20 milhões de mortos na IIGM, mais que todos os outros reunidos. Daí, para quererem garatir-se de outra Alemanha ou uma aliança democrática salvadora dos pobres e oprimidos foi uma conclusão óbvia. Anexaram? Sim, era a doutrina soviética. Mas, a URSS já acabou.




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#48 Mensagem por antunsousa » Qua Out 25, 2006 10:54 pm

Carlos Mathias escreveu:
Eu não só acredito nisso, como nunca disse que não eram. São mesmo altamente preparados. E os soldados muito bem treinados.


Tenho um amigo oficial que está tentando a ESG. Ele me falou que vai largar tudo e fazer um concursinho de juiz, que é muito mais fácil. Portanto, os caras são muito bem preparados sim.

Sobre os soldados, vou interpretar o que você escreveu como ironia, então digo-lhe que o EB não tem grana prá manter toda a tropa bem treinada e equipada, mas as unidades de pronto emprego são sim muito bem treinadas e equipadas, sempre levando em conta as restrições orçamentárias mais que conhecidas. Voltando aos 4 estrelas, sim, são muito bem preparados sim. O resultado que se vê pode parecer pouco, mas com a porcentagem de gastos com as FAs que temos no Brasil, eu duvido muito mesmo que qualquer país tivesse mais sucesso se a doutrina fosse a mesma, lembrando sempre que o que é bom para A pode não ser para B.



Eu não fui irônico. Eu acho mesmo que os oficiais brasileiros são bem preparados. Mas, não sei porque, o colega desconfia da minha opinião. Com relação aos soldados, o mesmo. Embora o dinheiro seja importante, e ele é mesmo, ele não é tudo. Tanto é verdade que a falta dele não impede, por exemplo, o CIGS de ser um centro de excelência em combate na selva. Infelizmente, está a desconfiar de mim. O por que? Eu, sinceramente, não sei.

Carlos Mathias escreveu:
Bem, eu estava falando de alimentos, não de produtos de mineração (materiais), mas, já que adoram falar de cobiça por minérios, mais uma vez vou repetir: quando foi que o Brasil se recusou a vender minérios para esse ou aquele país? E, outra, se o Brasil têm e eles não têm, é uma pena para eles. Quem tem vende, quem não tem compra. Primeira lei do capitalismo.


Alimentos entram nesta conta sim meu caro, afinal o que o povo deles vai comer? E os minérios são materiais finitos, postanto mais cedo ou mais tarde vão sair no tapa prá ter um pouco do necessário. O Brasil não precisa se negar a vender, isso não é o cerne da questão. Acontece que os EUA e outros, para manter sua posição de prevalência e dominância, um dia vão querer ter controle total sobre certas riquezas estratégicas, podendo comprar ou não. Nenhuma guerra começa porque A não quiz vender para B, mas sim porque B quer o controle absoluto sobre este bem, e isso só se consegue com a submissão de A, ou o domínio total sobre. Sobre capitalismo, isso é muito bonito enquanto o interesse permite, depois vai tudo pro cacete e tomam mesmo. O petróleo taí, sendo vendido e relativamente barato, mas sabemos que os EUA estão no Iraque por qualquer coisa menos democracia, direitos humanos e terrorismo.

Com o CS da ONU não, mas com retalhações sim. Nunca se esqueça de que os EUA têm a balança comercial menos favorável (mais negativa) do mundo. E, hoje, há muitos investimentos nacionais em outros países por meio das multinacionais - ou seja, mais alvos passíveis de sansões. Mas, afinal, você não quer comparar o Iraque com o Brasil, ou quer?
Amigo, o Iraque é um deserto. Não produz alimentos. Além disso, a produção de petróleo, ao contrário da produção de alimentos, é extremamente localizada nos poços. Já a produção de alimentos em escala requer largas porções, contínuas ou descontínuas, de terra.


Se o Iraque é essa merda toda e eles foram lá, imagine por algo que preste... A questão não é tomar o país e levar democracia e blá, blá, blá. A questão era a segunda maior reserva de petróleo do mundo na mão de um ditador rebelde, desalinhado, maluco e contrário. Vai lá, tira o cara, coloca um bucha qualquer que seja um fantoche e pronto. aliás, você viu que o vice dos EUA tá meio enparedado por causa dos contratos fajutos da empresa dele? Haja democracia, hein? Em tempo, os EUA podiam continuar comprando petróleo do resto do mundo e esquecer o Iraque, afinal, areia e outras besteiras...


É, mas quem faz isso quer guerra. Essa não seria uma atitude nada nada inteligente. E se o motivo para tanto fosse ideológico, menos ainda. É por isso que muitos põem a faca no próprio pescoço.


Então você está corroborando minha idéia, a de que o que temos não nos será permitido vender a quem quisermos, se quisermos. Pô, o bagulho é meu, eu vendo se eu quiser. Mas não, tem um cara que quer e acabou, vai ter que dar na marra. Assim fica fácil.


Deus! Eu disse uma coisa, e o cara entendeu outra!


Carlos Mathias escreveu:
É, mas mesmo assim, a Rússia hoje tem o mesmo tamanho que tinha naquele tempo. (Agora, convenhamos, a Russia não é lá um bom exemplo de coitadinha. Não aprendeu nada com a IIG. Se tivesse aprendido, não teria invadido e anexado tantos países. Todo mundo fala que os EUA são imperialistas e blablablá, mas, não existe país mais expansionista que a Rússia. Mas, por safadeza ideológica, disso ninguém fala.)


Olha, se foi prá mim foi completamente descabido e muito sem educação. Se não foi, dá no mesmo. Não sou comunista, nunca fui e não quero saber de comunismo no Brasil. Gostar de equipamento militar russo por razões quaisquer que sejam não me tornam automaticamente comunista, que aliás já acabou por lá faz muito tempo. Achar que uma aproximação com a Rússia poderia trazer ganhos para nós, também não me faz comunista. E por aí vai. Portanto, não falei nada por "safadeza ideológica", se o comentário era dirigido à mim.


Primeiro: nunca disse que você é comunista. Segundo: não falei de comunismo no Brasil. Terceiro: não falei nada de equipamento militar. Quarto: não falei que o fato de você gostar de equipamentos russos faz de ti um comunista. Quinto: não falei nada, nem a favor nem contra, de uma aproximação entre Brasil e Rússia. Sexto: não, o comentário não foi dirigido a você.




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#49 Mensagem por Guerra » Qui Out 26, 2006 11:15 am

antunsousa escreveu:
Piffer escreveu:
Ixe, cara, você não entendeu nada do que leu. Eu não disse que a doutrina do CIGS deve valer para o Brasil inteiro. É uma doutrina de selva e serve, então, apenas para a selva. Eu disse que a guerra não seria apenas na Amazônia. Se um país resolvesse invadir o Brasil, ele atacaria o país inteiro. Foi isso o que eu disse.


Entendi sim. O que eu quis dizer é que o resto do país não está esquecido.


Então, quando forem falar de invasão, falem do país inteiro. Não adianta ficar apenas falando do cenário amazônico. Temos de falar de todos os cenários.


antusousa, tudo que é dito aqui no forum sobre emprego da força terrestre, fora da amazonia, se aplica a uma invasão de uma superpotencia. As possibilidades e limitações são as mesmas.
No caso dessa suposta invasão na amazonia, mesmo se guerra se limitasse na area da amazonia, o combate inicial seria de forma convencional. Segundo a teoria, um combate de resistencia só teria chances de sucesso, se antes tivesse uma resistencia de forma convencional.
Se o EB adotasse a estrategia de correr todo mundo para o mato como é dito aqui de forma irresponsavel, sem pelo menos reagir a invasão, a população jamais apoiaria uma guerra de resitencia.




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#50 Mensagem por WalterGaudério » Qui Out 26, 2006 3:41 pm

antusousa, tudo que é dito aqui no forum sobre emprego da força terrestre, fora da amazonia, se aplica a uma invasão de uma superpotencia. As possibilidades e limitações são as mesmas.
No caso dessa suposta invasão na amazonia, mesmo se guerra se limitasse na area da amazonia, o combate inicial seria de forma convencional. Segundo a teoria, um combate de resistencia só teria chances de sucesso, se antes tivesse uma resistencia de forma convencional.
Se o EB adotasse a estrategia de correr todo mundo para o mato como é dito aqui de forma irresponsavel, sem pelo menos reagir a invasão, a população jamais apoiaria uma guerra de resitencia.


Eu tb não entendi ainda porque está havendo tanta confusão neste tópico. O EB e demais forças congêneres podem atuar naturalmente oferecendo combate onde for adequado. Teatro de operações no Brasil é o que não falta, e p/ cada qual é natural que existam hipóteses de emprego específicas.

Walter




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#51 Mensagem por antunsousa » Qui Out 26, 2006 3:42 pm

A invasão da Amazônia

Por que a ameaça de domínio da região por estrangeiros persiste como um sonho mau que povoa o imaginário da população brasileira

Susana Dias, ComCiência

Os temores diante da possibilidade do domínio da Amazônia por estrangeiros já fazem parte da história brasileira. Embora esses temores nem sempre sejam verdadeiros – às vezes são –, certamente revelam muito sobre quem os sente. Nos últimos quinze anos, os discursos sobre a existência de uma cobiça externa por esse território têm ganhado força e a internacionalização da Amazônia é um tema constantemente revisitado. Atualmente, entre os diversos segmentos da sociedade preocupados com essa questão – cientistas, políticos, militares, ambientalistas, representantes de ONGs e movimentos sociais – encontram-se análises que assumem visões distintas sobre a internacionalização: uma funciona pela noção de território, ligando-se à idéia de Estado-Nação; outra opera pela noção de capital, e é crítica à transnacionalização da economia.

Para aqueles que imaginam a internacionalização a partir da perspectiva do território, a invasão e a tomada da Amazônia por outras nações, com a criação de um governo específico para sua gerência, são factíveis e, embora ainda não tenham acontecido, se constituem em perigos iminentes com os quais o Estado brasileiro deve se preocupar. Os defensores dessa hipótese, principalmente os militares brasileiros, argumentam que as reservas de energia e água do planeta estão próximas do esgotamento e que o potencial da floresta amazônica resultará, inevitavelmente, em futuras investidas das grandes potências mundiais sobre o território brasileiro. Os discursos proferidos por autoridades estrangeiras com freqüência alimentam tais desconfianças, como a fala de Pascoal Lamy, na época comissário de Comércio da União Européia, e atual diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC) que, ainda este ano, se referiu às florestas tropicais mundiais como “bens públicos mundiais” que deveriam ser submetidas a uma “gestão compartilhada internacional”.

Já os que analisam sob o ponto de vista do capital, denunciam que a internacionalização da Amazônia já está acontecendo, não pela tomada de território físico, que é considerada hipótese remota, mas por mecanismos mais atuais e refinados ligados à exploração econômica: a aposta cada vez mais forte na mercantilização da natureza; a abertura ao mercado externo; o estímulo à participação do capital estrangeiro no país; e a flexibilização das políticas de exploração das florestas. Nessa perspectiva, os inimigos – os interesses transnacionais – já estariam em território amazônico representados pelas indústrias madeireiras, mineradoras, farmacêuticas e de sementes.

Essas noções de internacionalização têm sido mobilizadas em diferentes situações e, muitas vezes, em nome da defesa dos interesses nacionais e da soberania do país, resultam em generalizações e reducionismos perigosos, alerta Andréa Luisa Moukhaiber Zhouri, do Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais. Para a pesquisadora, a polarização nós-eles, brasileiros-estrangeiros, tem transformado sociedades multiétnicas e multiculturais em massas sem especificidades e diferenças.

Nessa lógica, ambientalistas são tomados por capitalistas, todas as ONGs são tratadas como invasoras e qualquer uso de recursos estrangeiros é classificado como prática de incentivo à internacionalização. Como resultado, movimentos sociais, ONGs, entidades estrangeiras, comunidades indígenas e tradicionais, que lutam pela garantia de direitos humanos e ambientais, têm suas reivindicações desautorizadas e temas complexos como a sustentabilidade na Amazônia são reduzidos a problemas de conspiração internacional e segurança nacional.

Forças armadas trabalham com possível invasão da Amazônia

Se, para muitos, a internacionalização da Amazônia, como apropriação e ocupação de território, é apenas uma lenda, um mito, um fantasma, para as Forças Armadas brasileiras ela é uma possibilidade. O cientista político Paulo Ribeiro Rodrigues da Cunha, da Universidade Estadual
Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), conta que “os militares brasileiros hoje analisam que a situação não é propriamente de perigo, mas que remete, projeta, um conflito futuro para daqui a 30 ou 40 anos com o inimigo mais provável: os EUA”. Por isso, os militares tornaram a
Amazônia uma prioridade nacional quando o assunto é a defesa da soberania do país e têm, sistematicamente, transferido tropas do sul para a região Norte.

Cunha avalia como “extremamente positiva” essa movimentação das Força Armadas. Em sua opinião, “não devemos ser paranóicos, mas muito menos ingênuos. Objetivamente temos que pensar que a internacionalização é algo que pode de fato acontecer. Embora estejamos em um mundo ‘civilizado’, estamos muito próximos da barbárie, cujos valores são construídos e facilmente subjugados aos interesses econômicos, como vimos no Iraque”.

A ameaça de ocupação internacional da floresta já alimenta os projetos das forças armadas a muitos anos. Entre os argumentos apresentados pela Secretaria Geral do Conselho de Segurança Nacional para a criação do Projeto Calha Norte, em 1985, por exemplo, estavam: a cobiça internacional dos recursos minerais existentes na região; o crescente trânsito ilegal de estrangeiros; a instabilidade interna nos países vizinhos; a intensificação dos conflitos de terras; e pressões (internas
e, sobretudo, externas) para criação de reservas indígenas em áreas ricas de minérios e na faixa de fronteira. Essa argumentação se repetiu na época da implementação do Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). É o que explica Geraldo Lesbat Cavagnari Filho, fundador e pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos da Unicamp, em seu artigo “Defesa com democracia e desenvolvimento”.

Cavagnari, que não acredita numa possibilidade de invasão do território nacional por forças estrangeiras, teme que “a paranóia da internacionalização esteja reduzindo equivocadamente a defesa nacional à defesa da Amazônia”. Para ele “não se deve pensar a Amazônia sob critérios de defesa militar, sem nenhum compromisso com a preservação do meio ambiente e sobrevivência das comunidades indígenas, na perspectiva de solucionar um problema militar que é inexistente”.

Mecanismos atuais de internacionalização operam pelo capital

Para o ex-governador do Amapá e atual senador João Alberto Capiberibe “a idéia de internacionalização como invasão e tomada do espaço físico é um pouco remota”. Em sua opinião, a internacionalização do Brasil já se deu com a entrada de capital financeiro estrangeiro. “Os mecanismos atuais de dominação não passam necessariamente pela presença física de uma ou outra potência. Eles mudaram, e são tão danosos ou piores. Quando temos a presença física do inimigo sabemos como nos defender, mas quando temos a presença do capital financeiro que, do dia para noite, muda de um lugar para o outro e deixa a população na mais completa miséria, aí é complicado de combater”, analisa.

Para o economista Aluízio Lins Leal, da Universidade Federal do Pará (UFPA), a Amazônia também já está internacionalizada pelo capital. “Hoje não se internacionaliza como antes, com guerras. Hoje o capital tem uma plasticidade tamanha que uma guerra é internacionalizada por meio do controle das economias dos países em desenvolvimento. E aqui na Amazônia o núcleo estratégico da economia regional está todo nas mãos do capital multinacional”, disse em entrevista recente ao Boletim da Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB).

Segundo o economista, os grandes projetos minerais da Amazônia estão atualmente sob controle da empresas estrangeiras – a canadense Alcan Alumínio do Brasil, a multinacional brasileira Vale do Rio Doce e a Albras, da Alunorte, controlada pela Nikon Amazon Aluminum Corporation – que juntas abastecem o mercado mundial com bauxita metalúrgica e alumínio primário. Carajás também é controlada por capital japonês e exporta aproximadamente 90 milhões de toneladas de minério de ferro por ano. As mineradoras Pará Pigmentos e a Rio Capim Caulim são duas associações de empresas brasileiras com capital estrangeiro que, segundo Leal, daqui a três anos vão transformar o Pará em um exportador de caulim maior do que os Estados Unidos.

A retomada de grandes projetos de infra-estrutura para a região amazônica, que foram abortados na década de 1970 e 1980 por conta da crítica ambientalista, também é, na opinião de Andréa Zhouri, um plano de abertura da floresta para o mercado externo operando, nesse sentido, a internacionalização econômica da Amazônia. Destacam-se a Iniciativa de Integração da Infra-estrutura Regional Sul-americana (IIRSA), um ambicioso projeto para o setor de transportes, avaliado em mais de US$ 20 milhões, que visa a retomada da estratégia dos eixos de abertura para integração econômica dos países sul-americanos; e a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte no alto do Xingu que foi aprovada recentemente. “O retorno desses empreendimentos denota a existência de um plano de desenvolvimento para a Amazônia voltado para exportação de mercadorias, com fins de acumulação de riqueza abstrata, e não com fins de um desenvolvimento local, alternativo, que incorpore as culturas, as
diversidades locais e as condições ecológicas das localidades”, analisa Zhouri.

Internacionalização alimenta “nacionalismo seletivo”

Quando se fala em internacionalização, hoje, as dúvidas e acusações recaem, na maioria das vezes, sobre as organizações não-governamentais de forma generalizada. “A maioria das ONGs trabalha com interesses ambientais e das comunidades locais, mas é claro que existem algumas que representam interesses do grande capital e que estão lá para fazer biopirataria”, comenta Capiberibe. Para o senador “é preciso modificar o discurso, principalmente no parlamento, em que há uma tendência de
classificar todas as ONGs na vala comum: da infiltração, da tentativa de internacionalizar e dividir o país. Isso não é verdade, tanto que existe um conflito com as oligarquias locais que querem a floresta para exploração dos recursos madeireiros na Amazônia sem nenhuma preocupação com limites legais ou éticos”. Para Andréa Zhouri, o discurso da internacionalização da Amazônia tem sido usado em diferentes momentos da história brasileira, principalmente por políticos e militares, quando o assunto é demarcação de terra indígena ou preservação das florestas, caracterizando uma espécie de “nacionalismo seletivo, que é permissivo quando se tratam dos atores do capital, mas que é desconfiado quando se trata da sociedade civil ou entidades que representam a defesa dos direitos das comunidades ou os direitos ambientais”.

Em seu artigo “O fantasma da internacionalização da Amazônia revisitado” a cientista social mostra que os temores de uma possível internacionalização da Amazônia deram legitimidade ao exército para, em 2001, investigar movimentos sociais, organizações sindicais, partidos políticos e ONGs, em especial, MST, a CUT, o PT e ONGs ambientalistas que “eram consideradas como 'forças adversas', admitindo-se 'arranhar direitos' em seu combate”. Em sua opinião, “ao deslocarem a atenção para ONGs e movimentos sociais, os militares deixam escapar da crítica os interesses transnacionais realmente atuantes na Amazônia: as indústrias madeireiras, mineradoras, farmacêuticas e o agronegócio”. Além disso, contribuem para deslegitimar as demandas dos povos indígenas, ambientalistas e defensores dos direitos humanos na sociedade, como se viu no caso do massacre dos Yanomami e, mais recentemente, na demarcação da terra indígena Raposa Serra do Sol.

Publicado em http://www.planetaportoalegre.net: 10/08/2005




Carlos Mathias

#52 Mensagem por Carlos Mathias » Qui Out 26, 2006 8:06 pm

Bem resumidamente, se os milicos acham que a coisa vem, então eu confio neles e acredito que virá.

Antunsousa, vamos deixar isso prá lá tá certo? Se eu entendi errado me perdoe e se você entendeu erra tá beleza. MAs eu acredito que os caras tão de olho na Amazônia sim, é só questão de tempo.




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#53 Mensagem por antunsousa » Qui Out 26, 2006 8:24 pm

Carlos Mathias escreveu:Bem resumidamente, se os milicos acham que a coisa vem, então eu confio neles e acredito que virá.

Antunsousa, vamos deixar isso prá lá tá certo? Se eu entendi errado me perdoe e se você entendeu erra tá beleza. MAs eu acredito que os caras tão de olho na Amazônia sim, é só questão de tempo.


Beleza, Carlos. Agora, tomara que os milicos estejam errados e os caras não venham. Se, todavia, eles vierem, eu tenho CERTEZA de que NINGUÉM aqui vai deixar de defender o Brasil.




Carlos Mathias

#54 Mensagem por Carlos Mathias » Qui Out 26, 2006 8:50 pm

CAra, eu tenho 40 anos e meu pai é militar da reserva. À muuuuito tempo ele assinava uma revista da BIBLIEX chamada "A Defesa Nacional". Nesta revista já se falava da Amazônia.




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#55 Mensagem por Bolovo » Qui Out 26, 2006 8:53 pm

Carlos Mathias escreveu:CAra, eu tenho 40 anos e meu pai é militar da reserva. À muuuuito tempo ele assinava uma revista da BIBLIEX chamada "A Defesa Nacional". Nesta revista já se falava da Amazônia.

Pra ver como os milicos não estão assim tão certos.

Falam a 40 anos e até hoje NADA.




"Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."
Darcy Ribeiro (1922 - 1997)
Carlos Mathias

#56 Mensagem por Carlos Mathias » Qui Out 26, 2006 10:45 pm

Bolovo, eu tenho 40 anos mas não nasci sabendo ler e nem a BIBLIX estava à meu alcançe à 40 anos, portanto... De qualquer maneira eu tinha uns 14 anos quando começei a ler as primeiras. Ainda assim, naquela época não se falava abertamente dos EUA e Europa, pois ao pesquisar a história verificar-se-á que havia então uma URSS e que esta seria a maior ameaça. Ali, naquelas páginas, pregava-se a ocupação da Amazônia pelo projeto calha Norte, coisa bem antiga e que ao iniciar-se a "Nova República" foi engavetado. Mais recentemente, o assunto voltou a baila e percebe-se agora que o tal Calha Norte faz falta hoje, daí a movimentação de tropas para a região Norte. De qualquer maneira, os militares falam num horizonte de 20 anos, que não é muita coisa não, passa bem rápido.




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#57 Mensagem por Bolovo » Qui Out 26, 2006 10:53 pm

Sei lá cara... acredito que não vão invadir nada.

Mas se alguem ousar em invadir o Brasil, seja hoje, amanha ou daqui 20 anos, pode ter certeza que eu vou ficar aqui e defender o país... né POWS.

:wink:




"Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."
Darcy Ribeiro (1922 - 1997)
Carlos Mathias

#58 Mensagem por Carlos Mathias » Qui Out 26, 2006 11:01 pm

Não vão invadir se nós nos prepararmos minimamente. Se pudermos tornara empreitada cara demais, seja economicamente e/ou principalmente politicamente. Como falei, 20 anos não é nada. Veja que os Eurocanards estão por aí à mais ou menos isso e só agora começam a ficar operacionais.




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Guerra
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#59 Mensagem por Guerra » Sex Out 27, 2006 9:35 am

Bolovo escreveu:
Carlos Mathias escreveu:CAra, eu tenho 40 anos e meu pai é militar da reserva. À muuuuito tempo ele assinava uma revista da BIBLIEX chamada "A Defesa Nacional". Nesta revista já se falava da Amazônia.

Pra ver como os milicos não estão assim tão certos.

Falam a 40 anos e até hoje NADA.


Defesa nacional não é questão de estar certo ou não. Defesa nacional trabalha com hipotese. Os EUA, por exemplo, esperava uma guerra com a URSS que nunca aconteceu.




Carlos Mathias

#60 Mensagem por Carlos Mathias » Sex Out 27, 2006 10:12 am

E sempre com a pior hipótese. Pelo menos quando se leva a defesa à sério.




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