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Mensagem
por Clermont » Sáb Set 01, 2012 2:22 pm
É JÓIA SER UM NÃO-ALINHADO - Um clarão do passado: o Movimento dos Não-Alinhados.
Por Eric Margolis - 1º de setembro de 2012.
A conferência desta semana do Movimento dos Não-Alinhados (NAM) em Teerã trouxe memórias da Guerra Fria e líderes de ascendência mundial como Nehru, Nasser, Castro, Nkrumah e Sukarno. No entanto, a maioria destes foram desastres para suas nações, mas eles, com certeza, eram coloridos e interessantes.
Apesar dos intensos esforços dos Estados Unidos e de Israel para impedir o comparecimento no encontro de Teerã - apoiado por uma onda de ataques da mídia ocidental contra o conclave - mais de 150 nações e corpos internacionais participaram.
Este grande comparecimento marcou um grande fracasso de Washington para apertar mais ainda o cerco sobre o Irã. De particular interesse foi a presença do primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh. A Índia recusou a curvar-se perante a pressão dos Estados Unidos para boicotar o evento e anunciou futuros acordos de energia, comércio e transporte com o Irã.
O Irá desempenha um papel-chave nos planos da Índia para expandir sua influência sobre o Afeganistão e a Ásia Central. A Índia está construindo uma nova e estratégica linha ferroviária ligando o porto iraniano de Chahbahar ao Afeganistão ocidental. O Irã fornece mais de 11 porcento da crescente demanda da Índia por energia. Delhi cada vez mais preocupa-se com a segurança de suas importações de energia do Oriente Médio.
Como eu escrevi uma década atrás em meu primeiro livro, War at the Top of the World, os Estados Unidos e a Índia podem, um dia, tornar-se rivais pelo petróleo e o gás do Oriente Médio - e, na verdade, pelo controle do Golfo. A recusa da Índia em seguir junto com a política americana sublinha ainda mais a gradual mudança para a Ásia do centro de gravidade estratégico e econômico do mundo.
Para ainda mais desagrado de Washington, o novo presidente do Egito, Mohammed Morsi, rechaçou as ameaças de corte no auxílio americano e voou para Teerã. Sob os trinta anos de ditadura de Mubarak, o Egito foi um baluarte contra o Irã. Não mais. A cada vez mais autoconfiante e independente, Morsi, deixou claro que o Egito seguirá seus próprios interesses de política externa antes do que aqueles dos EUA e Israel, como no passado.
Morsi surpreendeu quase todo mundo. Quando ele esbarrou com o poder no início deste ano, ele era considerado como um lerdo zé-mané, escolhido pelos todo-poderosos militares para cumprir seu mandato e não criar aborrecimentos. O líder da Confraria Muçulmana, um antigo engenheiro espacial, jogou fora seu manto de humildade e rapidamente passou a silenciar os intimidadores militares apoiados pelos americano, a chave para a dominação dos Estados Unidos sobre o Egito pelos últimos quarenta anos.
Como Morsi fez isto sem enfrentar um golpe militar permanece um mistério. Mas, ele, certamente, tem o apoio da maioria dos egípcios. Levou uma década para o governo islamista "lite" da Turquia empurrar os generais fanfarrões de volta para seus quartéis e trazer a democracia de verdade.
O líder egípcio atordoou todo mundo ao, abertamente, admoestar o regime sírio de Bashar Assad, pedindo por sua substituição por um governo democrático, eleito. A intervenção egípcia no sangrento conflito sírio pode ajudar a pavimentar o caminho para um acordo pacífico. Ela pode, também, reacender a ancestral rivalidade sírio-egípcia pela liderança do mundo árabe.
Apesar de emitir banalidades açucaradas sobre a volta do Egito à democracia, Washington está extremamente infeliz com o novo governo eleito. Este não mais será um discreto defensor e aliado de Israel, como era sob Mubarak, mas uma potência rival que, genuinamente, exige um estado palestino e não vê razão para confrontar o Irã ou outros adversários dos Estados Unidos.
Os EUA estão respondendo a recém-achada independência do Egito com murmúrios sobre cortes às suas doações anuais de $ 1,3 bilhão para as forças armadas egípcias e milhões mais em pagamentos secretos. Entretanto, os sauditas e os árabes do Golfo estão emprestando ao encalacrado Cairo, $ 3 bilhões e o FMI administrado pelos EUA, outros $ 4,8 bilhões em empréstimos. Interessantemente, o presidente Morsi acabou de visitar a China onde ele recebeu garantias de auxílio.
Nos anos passados, a maioria das conferências de não-alinhados, cujo objetivo era encontrar um caminho do meio entre o Ocidente e o império soviético, só produziam ar quente, com freqüencia, bem anti-americano. Enquanto o poder mundial da América declina após a perda de duas guerras e uma profunda recessão, o encontro do NAM em Teerã, pode ser um degrau, ainda que pequeno, rumo a um afastamento do atual mundo unipolar, na direção de um sistema internacional mais equilibrado, e equitativo.
O líder supremo do Irã, Grande Aiatolá Ali Khamenei, disparou uma Flecha Parta, no final da conferência. Ele chamou o Conselho de Segurança das Nações Unidas de ultrapassado, desequilibrado e de instrumento das potências ocidentais. Khamenei pediu por uma grande reforma da instituição mundial. Poucos delegados discordaram dele.