Brasileiro escreveu:Leandro,
Por que esses mísseis tem essa especialidade de precisarem de uma quantidade tão grande de disparos? São pouco precisos? Só leio coisa boa sobre esses guiamentos tipo CLOS... tem até um artigo da Koslova (de 2005 acho) no Defesanet sobre esse sistema.
É o mesmo sistema de guiamento dos Sea Wolf da Marinha Brasileira e Britânica, que tem uma precisão muito boa contra mísseis.
Acho, inclusive, que é um sistema de guiamento já de conhecimento antigo por parte do CTEx e do CTA, que já trabalharam em mísseis desse tipo em épocas passadas (Ex: cópia do míssil Roland pelo EB, MSA-1 do CTA, baseado no Piranha, ambos to tipo CLOS), o que não causaria muitos problemas em uma possível nacionalização/licensiamento da produção do míssil. Talvez, alguns equipamentos de comunicação das estações de terra, bem como o radar diretor de tiro, deveriam ser importadas. O resto, desde as salas de controle de tiro e missão e o radar de busca, podem ser feitos totalmente aqui no Brasil, e acredito até que a idéia seja essa mesma, já adiantada pelo Ciclone. "Sistemas de busca do alvo todos feitos no Brasil".
abraços]
Olá Brasileiro,
Não há problema nenhum com o sistema de guiagem e a precisão destes mísseis, muito pelo contrário, eles são ótimos. As questões são de ordem operacional, devido à faixa e alcance do míssil. Aí tem-se que levar em consideração alguns pontos importantes:
Cada unidade lançadora só protege o alvo até o alcance máximo dos mísseis, na faixa dos 15 a 25 Km. Mas hoje a maioria do armamento ar-terra não propulsado pode ser lançada desta faixa de distância, usando munições guiadas (principalmente por GPS e Laser) ou bombas burras no modo CCIP. Da munição auto-propulsada então nem se fala. Portanto, se o lançador estiver instalado na mesma posição do alvo ele estará operando no limite de sua capacidade, e dificilmente poderá atingir o avião lançador, terá que ficar apenas tentando derrubar as próprias bombas. Imagine quantas bombas um inimigo pode lançar contra um alvo nestas condições e quantos mísseis serão necessários para detê-las, e isso com uma péssima relação custo-benefício!
A solução é colocar alguns lançadores distantes do alvo, no entorno dele para evitar que os aviões atacantes simplesmente os contornem. Isto significa mais mísseis e lançadores para proteger cada alvo. E aí os lançadores passam a ser os objetivos iniciais dos ataques naquela fase da guerra em que o inimigo está tentando destruir a capacidade de defesa do oponente, então as bombas burras e guiadas são lançadas contra eles novamente no limite do alcance. Ou eles se defendem, e novamente haja míssil, ou cedo ou tarde são destruídos. A defesa então tem que mudar os lançadores de lugar o tempo todo (daí a importância de sua mobilidade) esperando que o inimigo deixe de localizar um ou outro que consiga fazer um ataque de surpresa contra os aviões inimigos. É uma luta de gato-e-rato e quanto mais lançadores disponíveis a defesa tiver e mais mísseis lançar (os mísseis lançados podem forçar a aeronave inimiga a se aproximar de lançadores não detectados), maiores as chances de abater o inimigo. E haja míssil!
Nestas condições, se o inimigo souber que o estoque de mísseis é limitado poderá usar a tática de simplesmente se aproximar dos lançadores apenas o suficiente para provocar o disparo e depois fugir para fora do alcance, e em pouco tempo os mísseis acabarão e todo o sistema ficará inútil, não importa o quão sofisticado e preciso ele for. Pode-se também lançar UAV’s simples e baratos para atrair os mísseis e deixar que se esgotem. Em qualquer caso, após alguns dias de operações de amaciamento a defesa ou estará sem mísseis ou evitará lançá-los até o último momento, deixando assim os alvos à mercê dos ataques, que é justamente o que se pretende evitar.
Somente um estoque praticamente ilimitado de mísseis deixará claro para o atacante que não importa o que ele faça, seus aviões sempre serão ameaçados pela defesa aérea inimiga e ou eles se arriscam ou desistem de atacar. Mas comprar um estoque enorme de mísseis em tempo de paz é absurdo, e durante a crise que precede a guerra eles dificilmente estarão disponíveis na quantidade realmente necessária. A única solução é a produção local. Senão qualquer defesa anti-aérea baseada em mísseis deste tipo será efetiva por apenas uns poucos dias, mesmo contra uma força atacante apenas mediana.
É claro que mísseis com maior alcance resolvem a maioria destes problemas, mas eles são muito mais caros por precisarem de sistemas e guiagem autônomos, e aí vale ainda mais à pena para o atacante usar mísseis de maior alcance e UAV’s para destruí-los ou atraí-los. O ideal portanto é usá-los em combinação com os mísseis de alcance médio (que de qualquer forma deverão estar disponíveis em grande quantidade), justamente para pegar os aviões que estiverem distraídos lidando com estes.
Um grande abraço,
Leandro G. Card