Mesmo levando em consideração a situação política e a falta de apoio para a guerra na Itália, os combatentes italianos protagonizaram uma série de fatos que poderiam resultar em várias cenas de comédia. Ou drama...
Trechos do livro Memórias de Rommel, autobiografia do mesmo:
---------------------------------------------
Às 17 horas do dia 16 de Abril, lancei o batalhão blindado da Aríete (6 tanques médios e 12 ligeiros) contra a colina 187. Acompanhamos o ataque no seu flanco esquerdo. Em vez de pararem ao sul da colina, para observar o terreno com o binóculo, os italianos seguiram até ao cimo da colina 187, e só aí é que fizeram alto. É claro que, poucos minutos depois, a artilharia britânica abriu fogo sobre a colina. Os italianos retiraram-se apressadamente e pararam, confusos, e sem saberem o que fazer. Tentei fazer com que o comandante italiano avançasse sobre Ras el Madauer, mas não o consegui.
Enquanto isso, o Tenente Berndt observava o avanço da infantaria italiana. A princípio, a marcha fez-se em perfeita ordem, mas os italianos bruscamente fizeram meia volta e fugiram em debandada para oeste. Ordenei a Berndt que fosse ao encontro deles num carro blindado o mais depressa possível, para ver o que acontecera. Não se sentia o menor sinal de batalha. Meia hora mais tarde, Berndt reapareceu e informou-me que ouvira dizer a um soldado de infantaria italiano que o inimigo estava atacando com tanques. Depois de percorrer algumas centenas de metros para leste, vira um carro de exploração britânico conduzindo uma companhia de italianos de mão erguidas e abrira imediatamente fogo sobre o carro para dar aos italianos oportunidade de fugir. Estes, realmente, fugiram... Para as linhas britânicas.”
Continuando, Rommel narra que partiu para ”salvar o que restava” mas, em primeiro momento, não teve sucesso: ”Não consegui persuadir as tripulações dos tanques italianos a acompanharem-nos.”
Seguindo a narrativa, Rommel escreve: ”Por isso, tive de repetir o ataque a 17. A Ariete, ainda que não entrasse em qualquer ação, possuía apenas dez tanques dos cento e tal com que iniciara a ofensiva. O que faltava tinha ficado pelo caminho devido a diversas avarias mecânicas. Ao vermos o gênero de equipamentos com que o Duce enviava as suas tropas para a batalha, os nossos cabelos até se arrepiavam.”
Agora, um dos mais “inesquecíveis, curiosos e caricatos” (grifo meu) fatos da campanha italiana: ”...Fiquei imensamente aborrecido e encarreguei o Major Appel de fazer avançar os italianos. Appel realizou na verdade o melhor do seu esforço, mas não conseguiu grande coisa. Com a artilharia britânica fustigando todo o setor, os italianos rastejaram para debaixo dos veículos e resistiram a todas as tentativas dos oficiais para os fazer sair de lá.”
Mais adiante, na região de Quaret el Abd: ”A Divisão Sabratha fora quase totalmente aniquilada, perdendo a maior parte das baterias. Dizia-se que alguns comandantes de bateria não tinham aberto fogo sobre o inimigo, porque não receberam ordens. Os italianos abandonaram a linha, em pânico, e fugiram para o deserto. Enfim, o Estado-Maior do Exército Panzer, chefiado na altura pelo Tenente-coronel von Mellenthin, conseguiu deter o ataque britânico.”
------------------------------------------------
No livro dele, um resumo da falta de apoio que tinha:
"A julgar pela experiência, não havia qualquer possibilidade de estes pedidos (reforços) serem satisfeitos, de modo que só havia uma solução - retirar para oeste. Nenhum deles (Kesselring e Cavallero) conseguiu apresentar um argumento lógico contra este raciocínio. Quando lhes pedi a opinião sobre a ação tática a empregar no caso de um flanqueamento por forças britânicas, nenhum deles disse uma palavra. Não tinham vindo com a intenção de estudar os acontecimentos e formar um juízo racional. No fundo acreditavam que a culpa era nossa e pensavam que podiam animar o nosso espírito combativo com frases bombásticas e antiloquentes. Quanto a mim, consideravam-me um pessimista de primeira ordem e daí deriva provavelmente a lenda que mais tarde se espalhou pela retaguarda - e que foi engolida totalmente por certos oficiais de cadeira de enconsto, ansiosos por se iludirem a si próprios - de que eu era um 'galo vaidoso na vitória mas uma presa fácil do desespero na derrota'. De qualquer modo, era óbvio que nenhum dos marechais apoiaria o meu caso.
A questão do abastecimento continuava muito grave. Em vez das 400 toneladas diárias que precisávamos, só recebíamos 50, devido em parte à escassez de viaturas e em parte à grande distância entre Tripoli e a frente. O resultado traduziu-se em deficiências de todo o gênero."
Quanto a Mussolini, ele narra o seguinte:
"Efetivamente, Berndt disse-me mais tarde que o Duce tencionava entregar-me nesse dia a Medalha de Ouro Italiana de Valor Militar. Mas suspendeu essa atribuição, irritado pela minha atitude 'derrotista'. No entanto, agradeceu-me os nossos grandes sucessos na campanha africana e assegurou-me a sua confiança absoluta.
Na realidade, eu sempre admirara o Duce. Ele era, provavelmente, um grande ator, como a maioria dos italianos. E não era romano, embora procurasse parecê-lo. Se bem que dotado de uma boa capacidade intelectual, dependia demasiado das emoções para efetivar os seus planos ambiciosos."