GULAG, o horror do comunismo.

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GULAG, o horror do comunismo.

#1 Mensagem por Clermont » Qui Jan 22, 2004 9:13 pm

GULAG, o horror do Comunismo.

Por Akashi Yogi, Norman Davies e Robert Service. (Dicionário Oxford da Segunda Guerra Mundial).

GULAG, acrônimo russo para Administração Principal de Campos, um ramo do NKVD (antecessor do KGB) dedicado ao controle dos campos de trabalho escravo soviéticos. Por extensão, o termo é também usado para descrever a rede de campos sobre os quais o GULAG presidia.

Junto com as galés comuns e as zonas de exílio administrativo, os campos constituiam o núcleo do sistema soviético de repressão. Os internos, homens e mulheres, normalmente passavam por um breve período de detenção e interrogatório antes de serem sentenciados in absentia a um período fixo de 8, 10, 12 ou 25 anos de trabalhos forçados. Eles podiam esperar que suas sentenças incluíssem um período posterior de “exílio livre” fora do campo. A vasta maioria não viveu para ver o fim de suas sentenças. Muitos sucumbiram durante a jornada inicial em comboios penais, que os levavam em vagões de gado ou barcas fluviais para as mais distantes e inóspitas regiões do país. A expectativa média de vida dentro dos campos era de um inverno. Para todos os propósitos práticos, ser sentenciado ao GULAG equivalia a uma sentença de morte.

Os primeiros campos foram erguidos logo após a Revolução de Outubro de 1917 e foram usados na guerra civil de 1918 a 1920. No final dos anos 1920, Stalin expandiu seu comando, seus poderes, e funções com o início da industrialização forçada e da coletivização da agricultura, também à força. O sistema criou vida própria com o chamado Grande Terror, com o maior nível de encarcerações ocorrendo de 1936 a 1938. Mas o sistema de campos de trabalho escravo em massa foi mantido daí por diante, e a detenção de inocentes cidadãos soviéticos continuou a ser uma prática difundida. Durante a campanha de “deskulakização” (a destruição dos proprietários de terras), tanto quanto nos últimos estágios do Grande Terror, os serviços de segurança soviéticos tinha frequentemente recorrido a fuzilamentos em massa como os que eles fizeram na Floresta de Katyn (o massacre de oficiais poloneses capturados na Segunda Guerra Mundial). Mas o relativo declínio do Terror após 1939, junto com a crescente demanda por mão-de-obra, restaurou a primazia do GULAG.

Informações sobre o GULAG começaram a aparecer no Ocidente durante o final dos anos 1920, por alguns dos poucos que conseguiram escapar. Em 1930, o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos impôs um embargo à alguns produtos soviéticos, em grande parte devido às evidências de que trabalho escravo havia sido usado em sua manufatura. Na Grã-Bretanha a Sociedade Contra a Escravidão lançou um inquérito que concluiu que prisioneiros estavam sendo usados como mão-de-obra escrava em madeireiras e exibiu sinistros relatos de suas condições de trabalho. Essas histórias foram reforçadas pelos poloneses do Exército de Anders (ex-prisioneiros de guerra, libertados graças à pressão dos Aliados ocidentais. Mais tarde, combateriam na Itália, com o 8o Exército britânico) quando eles deixaram a URSS em 1942. Eles eram o maior grupo de pessoas a chegar ao Ocidente com evidências de primeira-mão sobre os GULAG, e eles trouxeram com eles documentos do NKVD relatando o aprisionamento dos poloneses nos campos e sua subseqüente libertação. Evidências jamais vistas no Ocidente antes.

O começo da Segunda Guerra Mundial, em setembro de 1939 deu a Stalin sua chance para ocupar a Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia oriental e a Romênia oriental, onde vasto número de detenções tiveram lugar. A maquinaria do terror erigida na URSS foi geograficamente desdobrada pelas tropas do NKVD sob a liderança de Béria.

A política repressiva soviética tinha uma brutal racionalidade subjacente. Muitas das vítimas pertenciam as elites militares, políticas, profissionais e culturais, especialmente nas áreas recém-ocupadas. Stalin tencionava remover todas as influências reais e potenciais que obstruissem a imposição da estrutura política stalinista e da ideologia comunista.

As condições nos GULAG eram inumanas. Os prisioneiros eram forçados a trabalhar numa dieta de esfomeamento e sob extremas condições climáticas. O não-cumprimento dos índices exigidos era punido pela redução das rações, e quebras menores de disciplina por espancamentos e fuzilamentos. O novelista soviético Alexander Solzhenitsyin, ele mesmo um interno do sistema GULAG, calculou que a taxa de morte de desnutrição, doença e exaustão durante os anos de guerra alcançou 1% por dia. Não era anormal para os poucos prisioneiros que cumpriam seu termo ver recusada sua libertação sob o argumento de que eram os trabalhadores mais produtivos.

A maioria dos prisioneiros dos campos experimentou uma piora de suas condições após a invasão alemã da URSS, em 22 de junho de 1941. A ocupação por Hitler, da Ucrânia e de partes da região do Volga criou dificuldades de suprimentos alimentícios: e a população do GULAG foi compelida a suportar o peso da crise. Mesmo a ração planejada para os prisioneiros, abaixo do mínimo para subsistência, não era totalmente fornecida. A taxa de morte nos campos duplicou em 1941 e quintuplicou em 1942 em relação ao período anterior.

O trabalho forçado era direcionado para os projetos vitais nacionais: a construção de estradas de ferro, fábricas, e aterros em áreas de clima áspero; a mineração de ouro e carvão; a derrubada de florestas. Sem trabalhadores escravos, a economia industrial comunista teria falhado muito antes de conseguir seus objetivos. Mas até mesmo Stalin e Béria tinham de reconhecer as prioridades de tempo de guerra. Sabe-se que mais de um milhão de prisioneiros foram libertados durante a guerra germano-soviética. Em alguns casos, oficiais de alta-patente reingressaram no Exército Vermelho com seus postos anteriores restaurados. De outro modo, eram alistados em unidades encarregadas das mais perigosas funções ofensivas. O declínio no número de internos nos campos foi revertido a partir de começos de 1944 quando a vitória era certa e soldados inimigos capturados e prisioneiros-de-guerra soviéticos repatriados entraram nos GULAG.

Os maiores complexos de campos estavam localizados próximo a recursos minerais nas latitudes mais setentrionais. Um, no distrito de Vorkuta, consitia de cerca de 30 instalações espalhadas em torno da congelada zona carbonífera da Rússia setentrional. “Em Vorkuta”, escreveu o historiador Robert Conquest sobre a área (The Great Terror, London, 1968, pg. 334), “faz 0o C durante dois terços do ano, e por mais de 100 dias o Khanoyev ou “Vento dos Ventos”, golpeia através da tundra... poucos poderiam estar vivos após um ano ou dois”. Outro no distrito aurífero de Kolyma, no nordeste da Sibéria cobria uma área similar a da Grã-Bretanha (suas vítimas sobrepujavam em número, aquelas de Auschwitz.). Um grande centro de recolhimento estava situado em Magadan na costa do Pacífico. Entre eles existia o que Solzhenitsyn chamava um “arquipélago” de centenas de campos de trânsito menores, centros de projetos, e estações de alimentação.

Um membro do Exército de Anders, aprisionado em Kolyma, mas tarde registrou que: “haviam cerca de 5.000 prisioneiros, 436 deles poloneses. Cerca de sete a onze homens morriam diariamente de fome e exaustão, de espancamentos durante o trabalho e de frio, e quando a temperatura descia a 68o C negativos, muitos morriam do chamado choque térmico. De todos os poloneses, apenas 46 permaneciam comigo, o resto morreu de fome ou de exaustão. Em março de 1941, um novo prisioneiro chegou na mina de Komsomoles, em Kolyma, um russo e antigo chefe do NKVD local no norte de Kamchatka, península de Tchukotka, onde haviam minas de chumbo. Em conversas com ele, descobri que em agosto de 1940, um barco havia chegado em Tchukotka, carregando 3.000 poloneses, na maioria pessoal militar e policial. Todos estes poloneses foram envido para s minas de chumbo, e seus grupos de trabalho foram, de propósito, enviados para as piores galerias. Os poloneses trabalhando nestas minas, sofriam de envenenamento pelo chumbo, e cerca de 40 morriam diariamente. Em 1941, georgianos e kazaques foram recebidos para substituir os poloneses. Até o tempo de minha partida de Kolyma, em 7 de julho de 1942, nenhum polonês havia retornado de Tchukotka.” (citado em W. Anders, An Army in Exile, London, 1949, pg. 73).

A escala das operrações do GULAG desafia a imaginação. Ao fim do Grande Terror em março de 1939, mais de 10% da população soviética se encontrava nos campos. O historiador Robert Conquest estimou a ocorrência de um milhão de mortes por ano, durante os anos de guerra que se seguiram. Por volta da época da morte de Stalin, em 1953, o número total de vítimas nos GULAG, provavelmente, excedeu 20 milhões. Estimativas revisadas, baseadas em registros soviéticos tem sido ansiosamente aguardadas desde o colapso da URSS, em 1991.

Comparações com as práticas nazistas e japonesas são instrutivas. Os nazistas não gostavam de deter alemães a não ser que fossem oponentes políticos, judeus, homossexuais, ciganos, ou indivíduos mentalmente perturbados. Os japoneses reprimiam seus compatriotas apenas em caso de comprovada delinqüencia política ou moral. Stalin foi o único líder de guerra que manteve milhões de seus próprios cidadãos privados de meios de vida sem fornecer quaisquer razões para sua repressão.

Ao fim da guerra no Extremo Oriente, em agosto de 1945, centenas de milhares de japoneses também foram internados nos GULAG. Duas semanas após o Exército Vermelho ter dominado o Manchukuo, soldados e civis japoneses no Manchukuo, norte da Coréia, Sakhalina e as Ilhas Kurilas foram organizados em 569 grupos de trabalho, cada um com cerca de 1.000 pessoas; pelo fim de agosto de 1945, 639.635 japoneses (incluindo 575.000 soldados pertencentes ao Exército do Kwantung japonês) haviam sido internados. Os soldados foram postos em cerca de 2.000 campos de prisioneiros-de-guerra localizados na Sibéria oriental, Mongólia Exterior, Ásia Central, e nas áreas meridionais (Rostov) e ocidentais (Moscou) da União Soviética. Os campos foram construidos pelos próprios PGs, e 80 % estavam na Sibéria onde a temperatura descia até 30 – 40o C abaixo de zero durante o inverno. Falta de roupas de inverno, combustível, comida e remédios cobraram um tributo de mais de 60.000 vidas, cerca de 10 % dos japoneses internados, em onze anos de prisão. Muitos deles foram sepultados em covas sem marcas, suas localizações desconhecidas até hoje.

PGs japoneses foram mobilizados em campos de trabalhos forçados de todas os tipos, tais como mineração de carvão, corte de árvores, construção de ferrovias, estradas, e edifícios, e trabalhos em fazendas, fábricas, e em portos. A construção da ferrovia de Bam (segunda ferrovia siberiana) e da ferrovia de Ulgar (350 Km de extensão, conectando a primeira e a segunda ferrovias siberianas) foi tão dura que, sob cada dormente da ferrovia, jaz o corpo de um soldado japonês. Não é exagero afirmar que os prisioneiros-de-guerra japoneses ajudaram a reconstrução da União Soviética, no pós-guerra.

Administradores soviéticos e alguns renegados japoneses impuseram uma quota de produção, de acordo com a qual, a comida era racionada. O esforço para atingir a cota levou centenas de PGs a morrerem de exaustão.

Autoridades soviéticas realizaram lavagem cerebral em internos japoneses organizando em cada campo de PGs uma “Associação de Amizade”. Prisioneiros eram obrigados a ler material de propaganda, que promovia a luta de classes e atacava a estrutura de classes japonesa. Líderes dessa campanha de lavagem cerebral eram radicais que detinham o poder real nos campos de PGs e, com freqüencia, serviam como informantes delatando colegas prisioneiros que não eram simpáticos ao comunismo e não cooperavam com os funcionários soviéticos. Aqueles que se opuseram ao comunismo foram impedidos de serem repatriados, processo que se iniciou no final de dezembro de 1946. Por volta de 1950, mais de 530.000 já haviam sido repatriados. Isso deixou cerca de 3.000 japoneses ainda mantidos nas prisões. Como resultados de negociações entre representantes da Cruz Vermelha Internacional de ambos os países e da morte de Stalin, a repatriação foi retomada em dezembro de 1953. Com a normalização das relações diplomáticas nipo-soviéticas em outubro de 1956, os restantes 1.049 prisioneiros foram repatriados em dezembro.

O governo japonês e organizações particulares formadas por antigos PGs continuam a pressionar o governo soviético sobre detalhes das mortes de prisioneios e as localizações de cerca de 780 campos de sepultamento, informações que foram, em parte, fornecidas pelo então presidente soviético, Mikhail Gorbachev, quando visitou o Japão em abril de 1991.

___________

BUCA, E. Vorkuta (London, 1976)

CONQUEST, G. R. A., Kolyma: The Arctic Death Camps (London, 1987)




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#2 Mensagem por Spetznaz » Qui Jan 22, 2004 11:23 pm

Opa.
O texto é bastante interessante mesmo. Realmente se no início nao se tivesse instituido os trabalhos forçados, muitos dos objetivos soviéticos teriam ido por agua abaixo e as mortes, por fome e frio, da populaçao teriam sido muito maiores -apesar de achar que uma coisa nao justifica a outra. Sao erros realmente tristes da história da implataçao do socialismo.
A unica coisa que eu nao concordo, Clermont, é que um dos textos tem o titulo de "o horror do nazismo" e outro tem o titulo de "o horror do comunismo".
Penso eu ser uma grande injustiça a escolha dos titulos, já que o justo seria ou especificar os titulos ou generaliza-los. Espefificando um e generalizando outro vc comete uma grande injustiça com relaçao ao socialismo -nem comunismo ainda-, condenando todo um sistema, pela açao de um só regime, que foi o Stalinismo -um pouco de leninismo tb, mas este patentemente muito menos cruel. Caso colocasse o titulo como o horror do stalinismo, nao condenaria todo um sistema, e sim uma das correntes. O mesmo pode ser dito do outro titulo, que poderia se chamar, "o horror do CAPITALISMO", já que se analisando historicamente, tudo aquilo nao passa de uma simples consequencia do capitalismo em ação. Desssa forma, ou STALINISMO X NAZISMO, ou CAPITALISMO X SOCIALISMO. De outra maneira é injustiça.
DO mais está tudo bem. :lol:
Valeu.




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#3 Mensagem por VICTOR » Sex Jan 23, 2004 7:22 pm

Boa Clermont 8)




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#4 Mensagem por Spetznaz » Sex Jan 23, 2004 7:26 pm

Boa Victor. 8)
HAUAHUAHUAHUHAUHA. Cada uma.




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#5 Mensagem por VICTOR » Sex Jan 23, 2004 7:55 pm

Alô moderação, cadê vocês? A coisa virou palhaçada?




Carlos Eduardo

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#6 Mensagem por Spetznaz » Sex Jan 23, 2004 8:59 pm

Palhaçada da parte de quem?
Alias. Provocaçao da parte de quem?
A minha nao foi provocaçao, a sua foi?
Subjetivismo ruleia.
Falow. 8)




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#7 Mensagem por César » Sex Jan 23, 2004 9:55 pm

Spetznaz escreveu:Boa Victor. 8)
HAUAHUAHUAHUHAUHA. Cada uma.


E, qual foi o problema com o post do Victor Spetz? Eu não vi nada de engraçado....
Espero que isso não tenha sido uma provocação gratuita e sem sentido(e olha que tá com cara de uma!).

Bem, me atendo ao texto do Clermont, ótimo texto 8) Uma boa fonte de referência.
Há um tempo atrás, no meu colégio(na verdade, antigo colégio, já que eu terminei o Ensino Médio) uma mulher da Republica Tcheca veio dar uma palestra. Ela contou muitas das atrocidades que a então Tchecoslováquia(que se dividiu em 1993) fez durante o período de governo comunista, que durou desde o fim da WWII até o fim da década de 80. Dá pra ilustrar que mesmo em sistemas socialistas menos conhecidos e sangrentos, também houve uma grande repressão.

Abraço a todos

César




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#8 Mensagem por VICTOR » Sex Jan 23, 2004 10:19 pm

Isso sem falar que a Tchecoslováquia foi palco de (mais) uma tragédia: a invasão pela URSS em 1968, pondo fim às liberdades da Primavera de Praga. Como seria a Tchecoslováquia hoje se tivesse acontecido o que Dubcek queria? No mínimo bem melhor do que está hoje.

http://educaterra.terra.com.br/voltaire ... 1968_6.htm

Em 5 de abril de 1968 o povo tcheco tomou-se de surpresa quando soube dos principais pontos do novo Programa de Ação do PC tchecoslovaco. Fora uma elaboração de um grupo de jovens intelectuais comunistas que ascenderam pela mão do novo secretário-geral Alexander Dubcek, indicado para a liderança em janeiro daquele ano. Dubcek um completo desconhecido decidira-se a fazer uma reforma profunda na estrutura política do pais. Imaginara desestalinizá-lo definitivamente, removendo os derradeiros vestígios do autoritarismo e do despotismo que ele considerava aberrações do sistema socialista.

Apesar da desestalinização ter-se iniciado no XXº Congresso do PCURSS, em 1956, a Tchecoslováquia ainda era governada por antigos dirigentes identificados com a ortodoxia. Ainda viviam sob a sombra do que Jean-Paul Sartre chamou de “o fantasma de Stalin”. Dubcek achou que era o momento de “dar uma face humana ao socialismo”.

Além de prometer uma federalização efetiva, assegurava uma revisão constitucional que garantisse os direitos civis e as liberdades do cidadão. Entre elas a liberdade de imprensa e a livre organização partidária, o que implicava no fim do monopólio do partido comunista. Todos os perseguidos pelo regime seriam reabilitados e reintegrados. Doravante a Assembléia Nacional multipartidária é quem controlaria o governo e não mais o partido comunista, que também seria reformado e democratizado. Uma onda de alegria inundou o país. Chamou-se o movimento, merecidamente, de “ A Primavera de Praga”.

De todos os lados explodiram manifestações em favor da rápida democratização. Em junho de 1968, um texto de “Duas Mil Palavras” saiu publicado na Gazeta Literária (Liternární Listy), redigido por Ludvik Vaculik, com centenas de assinaturas de personalidades de todos setores sociais, pedindo a Dubcek que acelerasse o processo. Acreditava que seria possível transitar pacificamente de um regime comunista ortodoxo para uma social-democracia ocidentalizada. Dubcek tentava provar a possibilidade do convívio entre uma economia coletivizada com a mais ampla liberdade democrática.
O mundo olhava para Praga com apreensão. O que fariam os soviéticos e os seus vizinhos comunistas? As liberdades conquistadas em poucos dias pelo povo tcheco eram inadmissíveis para as velhas lideranças das “Democracias Populares”. Se elas vingassem em Praga eles teriam que também liberalizar os seus regimes. Os soviéticos por sua vez temiam as conseqüências geopoliticas. Uma Tchecoslováquia social-democrata e independente significava sua saída do Pacto de Varsóvia, o sistema defensivo anti-OTAN montado pela URSS em 1955. Uma brecha em sua muralha seria aberta pela defecção de Dubcek.

Então, numa operação militar de surpresa, as tropas do Pacto de Varsóvia lideradas pelos tanques russos entraram em Praga no dia 20 de agosto de 1968. A “Primavera de Praga” sucumbia perante a força bruta. Sepultaram naquela momento qualquer perspectiva do socialismo poder conviver com um regime de liberdade. Dubcek foi levado a Moscou e depois destituído. Cancelaram-se as reformas, mas elas lançaram a semente do que vinte anos depois seria adotado pela própria hierarquia soviética representada pela política da glasnost de Michail Gorbachov. Como um toque pessoal e trágico, em protesto contra a supressão das liberdades recém-conquistadas, o jovem Jan Palach incinerou-se numa praça de Praga em 16 de janeiro de 1969.




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#9 Mensagem por Spetznaz » Sex Jan 23, 2004 11:29 pm

Boa Victor. 8)
Parabens.




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#10 Mensagem por miliko » Dom Jan 25, 2004 2:46 pm

É sempre o mesmo papo..esse nao era o comunismo real...era o stalinismo..etc...
o problema do comunismo esta no marxismo. Marx, aos 24 anos, no sec XIX, qdo as ciencias estavam recem se afirmando conseguiu prever ( ou inventar..) qual seria o proximo sistema economico-social....
como e uma doutrina baseada na tomada do poder ( em alguns do seus vieses) e q prssupoem a ditadura do proletariado para a posterior extincao das classes, acaba trazendo em seu cerne o germe do totalitarismo.
Toda revolucao de cunho socialista so conseguiu duas coisas ( muito diferentes de seus objetivos igualitarios): governos totalitarios ou decadas de guerra civil. Onde ganharam ( URSS, Cuba, Vietna, Camboja,) um governo totalitario de esquerda, onde perderam ( Brasil, Chile, Argentina, etc) um governo totalitario de direita, e onde empataram ( Colombia, Angola, etc..) decadas de guerra civil fratricida que destroem o pais.




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#11 Mensagem por César » Dom Jan 25, 2004 5:11 pm

Olá galera 8)

Bem Victor, ela falou dessa invasão soviética da Tchecoslováquia. Ela falou que o governo começou a ficar menos linha dura, mais democrático, e que o povo percebia um governo caminhar a passos largos rumo a uma democracia(pelo menos essa era a impressão geral).

Gostaria de contar algumas curiosidades que eu ouvi, que acho que são interessantes de serem partilhadas com o pessoal. OK? Lá vai:

1) Como de praxe, opositores do regime, ou os não "verdadeiros comunistas", eram mandados para campos de trabalho forçado. Se não me engano, a maioria ia para estrair carvão(ou coisa parecida).

2) Não se podia fazer qualquer tipo de crítica ao regime vigente. Todos tinham que estar felizes com o sistema. De forma extremamente similar ao que o Brasil fez na época da ditadura, pessoas eram contratadas para ficarem "de olho" em qualquer tipo de breve oposição ao regime. Moradores de bairros, muitas vezes denunciavam confissões de vizinhos, traindo inclusive pessoas de confiança. Pessoas com desavenças pessoais que eram contratadas pelo governo para fazerem essas denuncias, muitas vezes acusavam inimigos pessoais de "anti-comunistas", mesmo que esses nunca tivessem falado nada. Ou seja, ocorria muita injustiça.

3) Após a invasão soviética, o sistema endureceu de maneira extraordinária. Como ela disse, teve sorte quem conseguiu fujir nos primeiros dias após a invasão, quando tudo ainda estava uma bagunça por lá. Quem correu, correu, quem não correu se f...eu. :shock:

4) Sistema extremamente falho na produção de utencílios para a população. Tem um caso engraçado, que gostaria de contar pra vocês(que ela falou):
Você chegava, na antiga Tchecoslováquia, em uma loja qualquer, que vendia uma ampla variedade de utencílios, e dizia(um exemplo):

- Gostaria de comprar uma vara de pescar(exemplo tosco, mas exemplo :lol: ).

O vendedor respondia:

-Olha, não temos varas de pescar, mas temos pneus de carro. Você quer?

E as pessoas pensavam, depois dessa resposta:

-É, acho que vou comprar pneus de carro, porque eu não sei quando vai ter denovo pra vender, e talvez eu venha a precisar deles no futuro e não tenha pra vender.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! HAHAHA :D

Ou seja, sempre havia uma escasses crônica de produtos. Você não podia contar que determinado produto estivesse sempre no mercado, pois não estava. Só em algumas épocas, então você não tinha garantias que pudesse comprar aquilo que você precisa, na hora que você precisa.
Não estou mentindo, foi ela, que morou na antiga iguslávia, que falou pra minha sala.
Outra curiosidade que ela falou era que, se você via uma fila grande em uma loja, você geralmente entrava sem saber qual era o produto, pois quando isso acontecia, geralmente era um que havia desaparecido a um bom tempo. Você chegava no final da fila, e via que não precisava daquilo, mas comprava assim mesmo, pois você talvez precisasse no futuro e ele não estivesse disponível. Seria cômico se não fosse trágico.

5) Assim como aqui no Ocidente existiam aquelas propagandas depreciativas dos países atrás da "cortina de ferro"(como aquela que comiunista come criancinha), lá acontecia a mesma coisa em relação ao Ocidente. Erámos vistos como o Demonio, e eles sempre davam graças a Deus por Stalin ter salvo eles dos "carmas" do capitalistas.

6) Você era, como um cidadão comum normal, geralmente impedido de sair do país, principalmente para países ocidentais, isso era completamente proibido. Você só era autorizado a ir para países vizinhos socialistas(se não me engano Búlgaria, sei lá, não me lembro). Tinha que falar o motivo da viajem, e não fazer nada além do extritamente permitido.

A única ressalva que ela falou era que, de fato, nesse sistema ninguém passava fome, e existia saúde para todos. Porém, o sistema médico era completamente falho, devido a falta de equipamentos e dinheiro, e médicos capacitados(ou seja, apesar de existir saúde para todos, muitas pessoas morriam de diversas doenças, por falta de $$$$, típico de países socialistas). O país sentia falta de mão de obra com ensino superior, pois eram poucos que iam para as universidades. O sistema educacional cobria até o ensino médio.

Mas não deixa de ser uma idéia interessante esse sistema. Mas, como já disse outras vezes, uma utopia. No papel é lindo, dá vontade de chorar, mas na prática......

Abraço a todos! :wink:

César




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#12 Mensagem por Plinio Jr » Seg Jan 26, 2004 11:00 am

Parabéns Cleremont, muito boa a sua análise e colocação de fatos.....

A brutalidade é e foi comum durante toda a história ,sejam perdedores ou até mesmo os vencedores cometem abusos e crimes tão cruéis quanto os vencidos. Não quero inocentar os nazistas, que com certeza cometeram os mais graves e divulgados abusos, mas é bom lembrar que os famigerados campos de extermínio eram de conhecimento de todos e fica a pergunta: Porque os aliados não os bombardearam ???

Vários alvos industriais e militares da região foram atingidos no período de 1944 e 1945, tanto pelos ingleses e americanos quanto pelos russos que se aproximavam destas regiões apartir do verão de 1944, não o fizeram pois sabiam da existência dos mesmos e tiraram o máximo de proveito disto no pós guerra para destruir de vez o moral alemão após o fim do conflito. Mas isto realmente se justifica ???

Milhares de vidas foram sacrificadas para este fim, o que no meu ponto de vista, os aliados contribuíram seriamente com estas atrocidades e nem mesmo a criação do estado de Israel , com forte apoio dos EUA e dos Ingleses como uma forma compensatória para isto justifiquem tal ato .

Massacres e excessos não foram algo de exclusividade alemã, somente 15% dos alemães capturados durante o conflito com os russos retornaram a Alemanha no final das hostilidades, para exemplificar, dos 96.000 capturados em Stalingrado, somente 5 mil voltaram, a grande maioria fora executada ou pereceu em campos de trabalhados forçados.

Os americanos cometeram diversas atrocidades tbm, centenas de soldados alemães foram executados por tropas aerotransportadas da
101 Div durante os primeiros combates na Normandia, isto pode-se comprovar em diversos relatos de vários soldados desta unidade que confessaram na maior cara de pau ...rs..
E nenhum deles fora julgado por tais atos. Muitos o justificam por um comunicado do alto comando aliado que prisioneiros feitos das unidades SS, Pará-quesdistas e das Panzer Divs , qualificadas como tropas de elite, deveriam ser sumariamente executados, o alto comando aliado nega ter divulgado tal ordem.

Na Batalha do Bolsão de Falaise, tropas polonesas anexadas ao Exército Britânico comunicaram o alto comando aliado que teriam feito mais de 400 prisioneiros, muitos deles pertencentes a 12 SS Panzer Div, cuja função era manter aberta um corredor de fuga para as tropas cercadas dentro do bolsão. Somente 20 prisioneiros foram recolhidos, alegaram que o restante fugiu ou resistiu durante o percurso, dias após, vários corpos foram localizados na região, com todos os indícios de execução, mais um caso que passou em branco sem investigações.

E finalizando, lembramos a destruição sistemática de cidades alemãs, principalmente em 1945 quando a resistência alemã já declinava, cidades eram impiedosamente atacadas e massacradas, produzindo grandes baixas na população civil, em Dresden , cerca de 120 mil pessoas pereceram em 02 grandes ataques diurnos e noturnos feitos pela USAAF e RAF, na qual hospitais e equipes de Defesa Civil foram duramente atingidos.

Em abril de 1945 a USAAF em apoio as tropas russas realizou um grande ataque a Berlin, onde mais de 40 mil pessoas morreram .

Hiroshima e Nagasaki, onde os japoneses já estavam se reunindo para rendição e foram alvo de 02 bombas nucleares, com intenções políticas para avisar os soviéticos a não pensarem no restante da Europa, uma verdadeira carnificina completamente desnecessária .

Com tais exemplos pensávamos que a humanidade jamais faria novos episódios, mas como vimos na Bósnia, Ruanda entre outros que infelizmente acontecimentos como estes continuaram existindo e que a unidade que foi criada para impedir isto, a ONU, está completamente de mãos atadas para impedir tais atos., :cry: :cry:

ABRAÇOS

Plinio Jr.




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Clermont
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#13 Mensagem por Clermont » Ter Jan 27, 2004 1:09 am

Salve Plínio Jr.

Permita-me comentar alguns trechos da sua mensagem:

Não quero inocentar os nazistas, que com certeza cometeram os mais graves e divulgados abusos, mas é bom lembrar que os famigerados campos de extermínio eram de conhecimento de todos e fica a pergunta: Porque os aliados não os bombardearam ???


Olha, com certeza os campos de extermínio não eram do conhecimento de todos. Pelo menos, não a exata escala do que se passava lá dentro. Que os judeus e outras minorias estavam sendo perseguidas todo mundo sabia, desde 1935. Mas a idéia do extermínio industrializado era uma coisa absolutamente inédita e incompreensível. Se vc der uma olhada no outro tópico sobre o nazismo, vc verá que até mesmo os rabinos de Budapeste ainda não tinham conhecimento do que se passava nos campos. E isso numa data tão tardia quanto meados de 1944. Também lá no outro tópico, vc verá que, agora com a liberação de fotos de reconhecimento essa questão do possível bombardeio veio à tona, mais uma vez. Por quê isso não foi feito? Não sei. Não me atrevo a comentar, com profundidade, aspectos técnicos. Mas perguntaria se era, realmente viável, incursões de bombardeio aliadas a um alcance tão extremo. O complexo de campos de extermínio estava no coração da Polônia e em território russo capturado. Seria tão fácil assim, atingir esses alvos a partir da Grã-Bretanha, ou das bases aéreas no Mediterrâneo? E outra coisa, os comandantes das forças de bombardeiros mantinham o controle sobre suas operações, quase ao ponto da insubordinação. Basta ver a luta que foi para o General Eisenhower obter o controle operacional dessas forças, durante a preparação para o Dia D. Seus comandantes não queriam nem ouvir falar em “perder tempo” bombardeando ferrovias e bases alemãs na França. O negócio deles era pulverizar as cidades e indústrias alemãs. Imagine só, como teriam reagido à ordem de montar uma gigantesca operação no mais extremo raio de ação de seus bombardeiros, contra hipotéticos "campos da morte"...

Vários alvos industriais e militares da região foram atingidos no período de 1944 e 1945, tanto pelos ingleses e americanos quanto pelos russos que se aproximavam destas regiões apartir do verão de 1944, não o fizeram pois sabiam da existência dos mesmos e tiraram o máximo de proveito disto no pós guerra para destruir de vez o moral alemão após o fim do conflito. Mas isto realmente se justifica ???


Discordo. Cada um tem o direito de crer no que deseja. Mas, aos meus olhos, isso não passa de mais uma teoria conspiratória. No pós-guerra, os aliados estavam mais interessados em impedir que os alemães entrassem em extinção do que “em destruir o moral” deles. Até porquê, desde muito cedo, os britânicos e americanos compreenderam que iriam precisar de todo o “moral” alemão, para ajudar a conter seus, até então, “amiguinhos” soviéticos.

Massacres e excessos não foram algo de exclusividade alemã, somente 15% dos alemães capturados durante o conflito com os russos retornaram a Alemanha no final das hostilidades, para exemplificar, dos 96.000 capturados em Stalingrado, somente 5 mil voltaram, a grande maioria fora executada ou pereceu em campos de trabalhados forçados.


Bem, acho que isso está descrito ai em cima. Nesse tópico sobre o GULAG. Mas, há uma coisinha que tem de ser dita: por pior que o Comunismo fosse, a verdade é que os alemães não tem muito do que reclamar por um simples detalhe. Foi a Alemanha nazista quem invadiu a Rússia comunista e não o contrário. Foram os alemães quem deram início à uma guerra de extermínio contra o povo soviético e não o contrário. Como foi debatido em outro tópico, aliás foi de uma burrice exemplar. Pois os povos subjugados pelo Comunismo estavam prontos para receber Hitler de braços abertos, como libertador. Mas, devido à selvageria brutal do Nazismo (que, diga-se de passagem, contaminou também os militares das Forças Armadas alemãs) esses mesmos povos acabaram se unindo em torno de Stalin e do Partido Comunista. Que eram bem mais espertos que seus congêneres nazistas, nesse aspecto.

Os americanos cometeram diversas atrocidades tbm, centenas de soldados alemães foram executados (...) Na Batalha do Bolsão de Falaise, tropas polonesas anexadas ao Exército Britânico comunicaram o alto comando aliado que teriam feito mais de 400 prisioneiros (...)


Isso é uma discussão que pode não ter fim. Mas há algo que deve ser evitado à qualque custo. O misturar-se a questão dos crimes de guerra, das atrocidades em campo de batalha, com a política de genocídio cometida pelos nazistas na Segunda Guerra, e depois pelos sérvios na guerras civis na Iugoslávia.

É claro que muitos soldados alemães foram fuzilados pelos aliados. Embora, eu não saiba se foram centenas. E muito menos, de uma vez. Até porquê, ao contrário da Alemanha, os americanos tinham por hábito julgar seus militares que cometessem atrocidades em uma escala, digamos, que chamasse a atenção. Nunca ouvi falar de algum tribunal militar alemão que tenha julgado algum oficial ou soldado (do Exército, por que das Waffen-SS nem pensar!) por ter fuzilado prisioneiros. Mas os americanos julgaram oficiais e soldados envolvidos em fuzilamentos de prisioneiros ocorridos na Sicília, em 1943. É bem verdade que os acusados, ou acabaram absolvidos, ou tiveram suas sentenças comutadas. Mas isso é outra história. Quanto aos poloneses, bem, tente ver a coisa pelo lado deles. Quando um americano disse a um oficial polonês que eles não podiam fuzilar prisioneiros alemães, o polonês respondeu: “Ah, podemos sim. Eles mataram os nossos camponeses!” Por outro lado, pra ver como são as coisas: em meio a um combate muito feroz, na Normandia, os poloneses permitiram a passagem de um comboio hospitalar alemão, sendo muito elogiados “por seu comportamento cavalheiresco” pelo comandante germânico.

E finalizando, lembramos a destruição sistemática de cidades alemãs, principalmente em 1945 quando a resistência alemã já declinava(...) Hiroshima e Nagasaki, onde os japoneses já estavam se reunindo para rendição e foram alvo de 02 bombas nucleares, com intenções políticas para avisar os soviéticos a não pensarem no restante da Europa, uma verdadeira carnificina completamente desnecessária . (...)


Quanto à questão do bombardeio, muita gente acha que se consumiu muita bomba pra pouco efeito prático. Ou seja, na maior parte dos casos se escolheram os alvos errados na ofensiva de bombardeio dos Aliados. Isso de um ponto de vista, estritamente militar. Do ponto de vista humanitário a coisa é complicada. Diferentemente de hoje em dia – e está aí o pessoal do fórum, como Victor e Fox, profundos conhecedores de tecnologia moderna – que se pode destruir, com “absoluta” precisão (entre aspas, por quê nunca poderá haver absoluta precisão em se tratando de arremessar centenas de toneladas de alto-explosivo, em áreas habitadas) um determinado alvo. Na Segunda Guerra, você precisava destruir o quarteirão inteiro pra fazer a mesma coisa. Mas é claro que, muitos dos bombardeios aliados, viraram simples ataques terroristas, no sentido mais estrito do termo: para “aterrorizar” as populações civis. Isso estava errado? Era imoral? Para mim, com a bunda na cadeira, no Brasil, sessenta anos depois, seria facílimo emitir juízos de valor sobre esssa estratégia de bombardeio aliada. Mas há profissionais (militares profissionais, historiadores de guerra) que sustentam que ela foi fundamental para a vitória final, mesmo com seus horrores. Quem é que vai saber?

E de qualquer forma, antes de demonizar os EUA e a Grã-Bretanha, voltamos a questão acima sobre os crimes soviéticos contra os alemães. Quem foi que começou a Segunda Guerra Mundial? Quem foi a primeira nação a inaugurar a prática de bombardeio aéreo terrorista contra civis? Quem foi que destruiu Guernica, em 1937? Quem foi que arrasou Varsóvia em 1939? E quem foi que bombardeou Roterdã, em 1940?

Não há o que contestar, o bombardeio de Dresden foi uma grande tragédia humana, e desnecessária. Mas o povo alemão faria bem em culpar, acima de qualquer outro, a sua própria liderança político-militar.

Sobre Hiroshima e Nagasaki, temos outro batata quente. Que nunca irá esfriar. Podem me chamar de contraditório mas, se de um lado eu acredito que o Japão poderia ter sido levado à rendição, sem o uso da bomba atômica; por outro, eu acho que esse fato acabou virando um “slogan” anti-americano, a ser gritado toda vez que se tem vontade de sacanear os “imperialistas ianques”.

O bombardeio de Dresden não teve finalidade prática nenhuma. Mas não se pode negar que após as explosões atômicas, o governo japonês resolveu todas suas disputas internas e se rendeu de uma vez. Repetindo, eu acredito que o mesmo resultado poderia ser obtido sem o uso da bomba. Mas, quem é que irá saber, com absoluta certeza? Uma coisa apenas é certa: sob hipótese alguma, se poderia permitir que Segunda Guerra Mundial entrasse pelo ano de 1946 à dentro. O Japão tinha de ser forçado a se render o quanto antes. Custe o que custasse. E ponto final.




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#14 Mensagem por VICTOR » Ter Jan 27, 2004 8:24 am

Diferentemente de hoje em dia – e está aí o pessoal do fórum, como Victor e Fox, profundos conhecedores de tecnologia moderna – que se pode destruir, com “absoluta” precisão (entre aspas, por quê nunca poderá haver absoluta precisão em se tratando de arremessar centenas de toneladas de alto-explosivo, em áreas habitadas) um determinado alvo. Na Segunda Guerra, você precisava destruir o quarteirão inteiro pra fazer a mesma coisa

Obrigado, Clermont, vindo de você é um comentário de peso! :wink:

Os americanos até tentaram fazer bombardeios diurnos de precisão na 2a. Guerra, enquanto os ingleses bombardeavam à noite, com o (mais cruel) método "em tapete" (carpet bombing). Só que depois descobriu-se que a tal mira Norden que os bombardeiros dos EUA usavam não era nenhuma maravilha, e a taxa de destruição de fábricas, bases eetc. continuava muito baixa. Tive a oportunidade de conhecer a Norden num museu, foi muito interessante.

PS Clermont, quais seriam as conseqüências catastróficas da Guerra entrar em 1946? Imagino que deva ser algo relacionado à expansão da URSS ("República Democrática Popular do Japão"), como você comentou uma vez, achei muito interessante. Aprecio bastante esses "e se..." (what if)...




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#15 Mensagem por miliko » Ter Jan 27, 2004 1:49 pm

Excelente, Clermont!!




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