Reflexões sobre a Guerra e os Militares

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

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#16 Mensagem por Clermont » Sex Fev 02, 2007 12:09 am

FRED: UM VERDADEIRO “SON” DE TZU. GUDERIAN ERA A MÃE. * (Traduzir sacanagenzinhas americanas, de modo que tenham um sentido sacana, também em português, é inglório. Que o diga a turma que traduz HQs).

Fred Reed – 23 de janeiro de 2007.

Sendo um pensador militar do tipo mais profundo, eu ofereço o seguinte manual de assuntos marciais para as nações desejosas de copiar o modo americano de guerrear. Leia cuidadosamente. Grande clareza resultará. Os passos delineados abaixo irão facilitar o desastre sem impor o ônus de reinventá-lo. O Pentágono podia imprimir cópias para distribuição.

1) Subestime o inimigo. Felizmente, isso é fácil quando uma potência tecnologicamente avançada se prepara para atacar uma nação subdesenvolvida. Seus cidadãos inimigos serão, prontamente, vistos como primitivos, sem ferramentas, provavelmente, geneticamente estúpidos e dificilmente dignos da atenção de forças armadas de verdade.

2) Evite aprender qualquer coisa sobre o inimigo – sua cultura, religião, linguagem, história, ou respostas a invasões passadas. Essas coisas não importam já que o inimigo não tem ferramentas, é primitivo e provavelmente, geneticamente estúpido. De qualquer forma, conhecimento apenas poderia deixar os praças nervosos, e confundir o corpo de oficiais.

Ignorância cega da linguagem é, especialmente, desejável (tanto quanto virtualmente garantida). Por um lado, isso irá permitir que suas tropas sejam vistas como invasores brutais nada tendo em comum com a população; isso ajuda a ganhar corações e mentes. Por outro, isso irá permitir que funcionários anglófonos do governo fantoche ventilem tantas informações sobre o país quanto eles quiserem que você tenha.

3) Explique a invasão ao público americano em termos morais simples, adequados para crianças do segundo-grau num acampamento de verão evangélico: nós estamos bombardeando cidades para ofertar o dom da democracia e dos valores americanos, ou para derrotar algum vago, mas assustador mal, talvez oculto debaixo da cama, ou para se ver livre de um ditador mau, não mais a nosso serviço, ou para trazer a liberdade e a prosperidade a quaisquer sobreviventes. (Isso não funciona na Europa, que é honestamente imperialista.) O público pode, então, perceber um sentido de virtude não apreciada quando os primitivos resistem. Moralismo formal deve sempre triunfar sobre a razão.

4) Uma incompreensão da realidade militar ajuda. Além do mais, compreensão poderia levar, somente, à depressão. Como disse Napoleão, ou pode ter dito, na guerra o moral está para o material como três para um, o que implica que fatos desagradáveis devem ser desconsiderados em favor de se cultivar uma atitude triunfalista. Em especial, não deve ser observado que umas poucas dezenas de milhares de primitivos, provavelmente, geneticamente estúpidos, determinados e com armas leves, pode paralisar uma força triunfalista, ainda que pesadamente armada.

Não preste atenção à táticas, que são tediosas. Nunca deve entrar na sua mente que, nesse tipo de guerra, se você não ganha, você perde; se o inimigo não perde, ele ganha. Pense em outra coisa qualquer. Acima de tudo, não compreenda que o alvo do inimigo não é você, mas a opinião pública em casa. Você não precisa se lembrar disso, já que o inimigo irá lembrar isso para você.

5) Não esqueça que a razão de existir dos militares é cerrar com o inimigo é destruí-lo. Qualquer exército não está no ramo dos serviços sociais. Não deixe que a missão seja obstruída por considerações sentimentais. Se você tiver que matar dezessete crianças para pegar um tocaieiro, assim seja. O inimigo precisa compreender que isso são negócios. Ignore traços culturais, que são da preocupação, apenas, de civis idealistas. Boline as mulheres do inimigo. Estupros generalizados são uma boa idéia, já que eles ensinam respeito. É melhor ser temido do que ser amado. Esteja certo de que a embaixada tenha um heliponto.

6) Insularidade intelectual deve ser um objetivo primário, já que evita distrações. Essa salubre condição pode ser obtida fazendo com que os oficiais leiam Tom Clancy em vez de história. No discurso militar isso também ajuda a encorajar o uso de frases como “multiplicador de força” e “guerra multi-dimensional”, pois isso aumenta a confiança sem significar coisa alguma.

Lembrem-se que doutrina e otimismo devem sempre pesar mais do que história e senso-comum. Desencoraje coronéis e acima de lerem a respeito de campanhas semelhantes travadas por outros exércitos, já que isso pode levar a dúvidas incômodas, e até mesmo a pensamentos. Encoraje a crença de que outros países perderam guerras por serem inferiores aos Estados Unidos. “Os franceses perderam no Vietnam? E o que mais você esperaria de franceses? Nunca acontecerá conosco”.

Alguns filósofos militares favorem, até, a remover das bibliotecas militares, livros sobre o que aconteceu aos franceses e aos americanos no Vietnam, aos russos no Afeganistão, aos americanos no Afeganistão (um trabalho ainda em progresso), aos franceses na Argélia, aos americanos no Iraque (também em progresso), aos israelenses no Líbano da primeira vez, aos israelenses no Líbano da última vez, aos americanos no Líbano em 1983, aos americanos na Somália da primeira vez, e por aí vai. Entretanto, os melhores pensadores sustentam que não importa quais livros estejam nas bibliotecas, somente aqueles com vitórias estimulantes irão mesmo ser checados.

7) Mantenha-se atualizado com as últimas panacéias e balas de prata. Organize suas forças armadas como uma força de alta-tecnologia, leve e enxuta, caracterizada pela mobilidade relâmpago, enorme poder de fogo, e extraordinária inadequação para o tipo de guerras que, realmente, terá de lutar. A turma das relações-públicas da Lockheed irá ajudar nisso. Reconheça que um avançado avião de caça custando duzentos milhões de dólares, invisível ao radar, empregando impressionantes contra-medidas eletrônicas, e capaz de viajar em cruzeiro à velocidade supersônica é, exatamente, a coisa certa para enfrentar um atirador num porão em Bagdá. Tais aeronaves são um multiplicador de força crucial em guerra multi-dimensional. De qualquer jeito, a al-Qaeda pode agrupar uma avançada força aérea, à qualquer momento. É bom estar pronto.

8) É uma boa idéia expor suas deficiências. Esteja pronto para as guerras do passado e do futuro, mas não do presente. O Pentágono faz isso muito bem. Observe que as atuais forças armadas, uma versão avançada da força da Segunda Guerra Mundial, estão prontas para o caso da Marinha Imperial japonesa retornar. Elas também tem armaria fenomenalmente avançada para lidar com inimigos da era espacial, talvez de Marte, caso apareça algum. É somente para o presente que os Estados Unidos não estão preparados.

9) Veja as coisas em um contexto mais amplo. Pessoas que tem pouca compreensão das forças armadas tendem ter o foco exclusivamente em ganhar guerras, perdendo a importância maior do Pentágono como roda de transmissão econômica. Empregos são mais importantes do que guerras travadas em países cheios de mato. Um militar americano tem de pensar nos americanos primeiro. Isso é simples patriotismo. É essencial dispender tanto dinheiro quanto possível em armas avançadas que não tem atualmente, uso algum, nem à vista, mas produzem empregos nos distritos congressuais. Bons exemplos são o caça F-22, o F-35, o Laser Aeroterrestre, o V-22 e o ABM.

10) Insista que os militares americanos nunca perdem guerras. Ao invés, são traídos, apunhalados pelas costas, e derrubados à traição. Por exemplo, argumente furiosamente que os Estados Unidos não perderam no Vietnam, mas ganharam gloriosamente; a retirada se deveu à traição dos Democratas, judeus, hippies, a imprensa, muitos dos militares, e uma maioria da população em geral, todos os quais são traidores. Isso evita o desagradável aprendizado com a derrota. E mais, isso facilita a manter o foco em controlar a imprensa, que é o inimigo real, juntamente com os Democratas e a população em geral.

11) Evite memória institucional. Não ter perdido, é claro, significa que não há nada a lembrar. Em vez disso, leia novelas estimulantes e cultive uma triunfalista, atitude “podemos fazer” não intimidada por primitivos em países cheios de areia, que são, provavelmente, geneticamente estúpidos.

12) Faça tudo de novo, da próxima vez.




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#17 Mensagem por zela » Sex Fev 02, 2007 11:45 am

Bom texto, particularmente essa parte:

o alvo do inimigo não é você, mas a opinião pública em casa


Certeiro.




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#18 Mensagem por Sintra » Sex Fev 02, 2007 7:48 pm

Clermont escreveu:FRED: UM VERDADEIRO “SON” DE TZU. GUDERIAN ERA A MÃE. * (Traduzir sacanagenzinhas americanas, de modo que tenham um sentido sacana, também em português, é inglório. Que o diga a turma que traduz HQs).

Fred Reed – 23 de janeiro de 2007.

Sendo um pensador militar do tipo mais profundo, eu ofereço o seguinte manual de assuntos marciais para as nações desejosas de copiar o modo americano de guerrear. Leia cuidadosamente. Grande clareza resultará. Os passos delineados abaixo irão facilitar o desastre sem impor o ônus de reinventá-lo. O Pentágono podia imprimir cópias para distribuição.

1) Subestime o inimigo. Felizmente, isso é fácil quando uma potência tecnologicamente avançada se prepara para atacar uma nação subdesenvolvida. Seus cidadãos inimigos serão, prontamente, vistos como primitivos, sem ferramentas, provavelmente, geneticamente estúpidos e dificilmente dignos da atenção de forças armadas de verdade.

2) Evite aprender qualquer coisa sobre o inimigo – sua cultura, religião, linguagem, história, ou respostas a invasões passadas. Essas coisas não importam já que o inimigo não tem ferramentas, é primitivo e provavelmente, geneticamente estúpido. De qualquer forma, conhecimento apenas poderia deixar os praças nervosos, e confundir o corpo de oficiais.

Ignorância cega da linguagem é, especialmente, desejável (tanto quanto virtualmente garantida). Por um lado, isso irá permitir que suas tropas sejam vistas como invasores brutais nada tendo em comum com a população; isso ajuda a ganhar corações e mentes. Por outro, isso irá permitir que funcionários anglófonos do governo fantoche ventilem tantas informações sobre o país quanto eles quiserem que você tenha.

3) Explique a invasão ao público americano em termos morais simples, adequados para crianças do segundo-grau num acampamento de verão evangélico: nós estamos bombardeando cidades para ofertar o dom da democracia e dos valores americanos, ou para derrotar algum vago, mas assustador mal, talvez oculto debaixo da cama, ou para se ver livre de um ditador mau, não mais a nosso serviço, ou para trazer a liberdade e a prosperidade a quaisquer sobreviventes. (Isso não funciona na Europa, que é honestamente imperialista.) O público pode, então, perceber um sentido de virtude não apreciada quando os primitivos resistem. Moralismo formal deve sempre triunfar sobre a razão.

4) Uma incompreensão da realidade militar ajuda. Além do mais, compreensão poderia levar, somente, à depressão. Como disse Napoleão, ou pode ter dito, na guerra o moral está para o material como três para um, o que implica que fatos desagradáveis devem ser desconsiderados em favor de se cultivar uma atitude triunfalista. Em especial, não deve ser observado que umas poucas dezenas de milhares de primitivos, provavelmente, geneticamente estúpidos, determinados e com armas leves, pode paralisar uma força triunfalista, ainda que pesadamente armada.

Não preste atenção à táticas, que são tediosas. Nunca deve entrar na sua mente que, nesse tipo de guerra, se você não ganha, você perde; se o inimigo não perde, ele ganha. Pense em outra coisa qualquer. Acima de tudo, não compreenda que o alvo do inimigo não é você, mas a opinião pública em casa. Você não precisa se lembrar disso, já que o inimigo irá lembrar isso para você.

5) Não esqueça que a razão de existir dos militares é cerrar com o inimigo é destruí-lo. Qualquer exército não está no ramo dos serviços sociais. Não deixe que a missão seja obstruída por considerações sentimentais. Se você tiver que matar dezessete crianças para pegar um tocaieiro, assim seja. O inimigo precisa compreender que isso são negócios. Ignore traços culturais, que são da preocupação, apenas, de civis idealistas. Boline as mulheres do inimigo. Estupros generalizados são uma boa idéia, já que eles ensinam respeito. É melhor ser temido do que ser amado. Esteja certo de que a embaixada tenha um heliponto.

6) Insularidade intelectual deve ser um objetivo primário, já que evita distrações. Essa salubre condição pode ser obtida fazendo com que os oficiais leiam Tom Clancy em vez de história. No discurso militar isso também ajuda a encorajar o uso de frases como “multiplicador de força” e “guerra multi-dimensional”, pois isso aumenta a confiança sem significar coisa alguma.

Lembrem-se que doutrina e otimismo devem sempre pesar mais do que história e senso-comum. Desencoraje coronéis e acima de lerem a respeito de campanhas semelhantes travadas por outros exércitos, já que isso pode levar a dúvidas incômodas, e até mesmo a pensamentos. Encoraje a crença de que outros países perderam guerras por serem inferiores aos Estados Unidos. “Os franceses perderam no Vietnam? E o que mais você esperaria de franceses? Nunca acontecerá conosco”.

Alguns filósofos militares favorem, até, a remover das bibliotecas militares, livros sobre o que aconteceu aos franceses e aos americanos no Vietnam, aos russos no Afeganistão, aos americanos no Afeganistão (um trabalho ainda em progresso), aos franceses na Argélia, aos americanos no Iraque (também em progresso), aos israelenses no Líbano da primeira vez, aos israelenses no Líbano da última vez, aos americanos no Líbano em 1983, aos americanos na Somália da primeira vez, e por aí vai. Entretanto, os melhores pensadores sustentam que não importa quais livros estejam nas bibliotecas, somente aqueles com vitórias estimulantes irão mesmo ser checados.

7) Mantenha-se atualizado com as últimas panacéias e balas de prata. Organize suas forças armadas como uma força de alta-tecnologia, leve e enxuta, caracterizada pela mobilidade relâmpago, enorme poder de fogo, e extraordinária inadequação para o tipo de guerras que, realmente, terá de lutar. A turma das relações-públicas da Lockheed irá ajudar nisso. Reconheça que um avançado avião de caça custando duzentos milhões de dólares, invisível ao radar, empregando impressionantes contra-medidas eletrônicas, e capaz de viajar em cruzeiro à velocidade supersônica é, exatamente, a coisa certa para enfrentar um atirador num porão em Bagdá. Tais aeronaves são um multiplicador de força crucial em guerra multi-dimensional. De qualquer jeito, a al-Qaeda pode agrupar uma avançada força aérea, à qualquer momento. É bom estar pronto.

8) É uma boa idéia expor suas deficiências. Esteja pronto para as guerras do passado e do futuro, mas não do presente. O Pentágono faz isso muito bem. Observe que as atuais forças armadas, uma versão avançada da força da Segunda Guerra Mundial, estão prontas para o caso da Marinha Imperial japonesa retornar. Elas também tem armaria fenomenalmente avançada para lidar com inimigos da era espacial, talvez de Marte, caso apareça algum. É somente para o presente que os Estados Unidos não estão preparados.

9) Veja as coisas em um contexto mais amplo. Pessoas que tem pouca compreensão das forças armadas tendem ter o foco exclusivamente em ganhar guerras, perdendo a importância maior do Pentágono como roda de transmissão econômica. Empregos são mais importantes do que guerras travadas em países cheios de mato. Um militar americano tem de pensar nos americanos primeiro. Isso é simples patriotismo. É essencial dispender tanto dinheiro quanto possível em armas avançadas que não tem atualmente, uso algum, nem à vista, mas produzem empregos nos distritos congressuais. Bons exemplos são o caça F-22, o F-35, o Laser Aeroterrestre, o V-22 e o ABM.

10) Insista que os militares americanos nunca perdem guerras. Ao invés, são traídos, apunhalados pelas costas, e derrubados à traição. Por exemplo, argumente furiosamente que os Estados Unidos não perderam no Vietnam, mas ganharam gloriosamente; a retirada se deveu à traição dos Democratas, judeus, hippies, a imprensa, muitos dos militares, e uma maioria da população em geral, todos os quais são traidores. Isso evita o desagradável aprendizado com a derrota. E mais, isso facilita a manter o foco em controlar a imprensa, que é o inimigo real, juntamente com os Democratas e a população em geral.

11) Evite memória institucional. Não ter perdido, é claro, significa que não há nada a lembrar. Em vez disso, leia novelas estimulantes e cultive uma triunfalista, atitude “podemos fazer” não intimidada por primitivos em países cheios de areia, que são, provavelmente, geneticamente estúpidos.

12) Faça tudo de novo, da próxima vez.


:lol: :lol: :lol: :lol: :lol: :lol: :lol: :lol: :lol: :lol: :lol: :lol: :lol: :lol:
Mas que texto absolutamente fantástico.
Clermont, posso pedir-lhe um favor? Aonde é que está o original?- O texto é tão bom que gostaria imenso de o ler em inglês...

Cumprimentos :wink:




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#19 Mensagem por Clermont » Sex Fev 02, 2007 10:05 pm

Sintra escreveu:Mas que texto absolutamente fantástico.
Clermont, posso pedir-lhe um favor? Aonde é que está o original?- O texto é tão bom que gostaria imenso de o ler em inglês...


http://www.fredoneverything.net/Vegetius.shtml




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#20 Mensagem por Túlio » Sex Fev 02, 2007 10:09 pm

Sintra escreveu: Mas que texto absolutamente fantástico.
Clermont, posso pedir-lhe um favor? Aonde é que está o original?- O texto é tão bom que gostaria imenso de o ler em inglês...

Cumprimentos :wink:



Convenhamos, Sintra véio, elogiar post do Clermont é redundância e das brabas, parei faz tempo, prá quê ficar me arrepetindo, POWS!?




Carlos Mathias

#21 Mensagem por Carlos Mathias » Sex Fev 02, 2007 10:56 pm

Cara, simplesmente perfeito. [009]




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#22 Mensagem por César » Dom Fev 04, 2007 2:21 pm

Texto absolutamente incrível!

Muito legal mesmo. Parabéns, Clermont. :wink:

Abraços

César




"- Tú julgarás a ti mesmo- respondeu-lhe o rei - É o mais difícil. É bem mais difícil julgar a si mesmo que julgar os outros. Se consegues fazer um bom julgamento de ti, és um verdadeiro sábio."

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#23 Mensagem por 3rdMillhouse » Dom Fev 04, 2007 2:54 pm

8) É uma boa idéia expor suas deficiências. Esteja pronto para as guerras do passado e do futuro, mas não do presente. O Pentágono faz isso muito bem. Observe que as atuais forças armadas, uma versão avançada da força da Segunda Guerra Mundial, estão prontas para o caso da Marinha Imperial japonesa retornar. Elas também tem armaria fenomenalmente avançada para lidar com inimigos da era espacial, talvez de Marte, caso apareça algum. É somente para o presente que os Estados Unidos não estão preparados.


:lol: :lol: :lol: :lol: :lol:




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#24 Mensagem por Sintra » Dom Fev 04, 2007 8:01 pm

Clermont escreveu:
Sintra escreveu:Mas que texto absolutamente fantástico.
Clermont, posso pedir-lhe um favor? Aonde é que está o original?- O texto é tão bom que gostaria imenso de o ler em inglês...


http://www.fredoneverything.net/Vegetius.shtml


Obrigadissimo Clermont.
Verdadeiramente fantástico :wink:




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#25 Mensagem por Sintra » Dom Fev 04, 2007 8:02 pm

tulio escreveu:
Sintra escreveu: Mas que texto absolutamente fantástico.
Clermont, posso pedir-lhe um favor? Aonde é que está o original?- O texto é tão bom que gostaria imenso de o ler em inglês...

Cumprimentos :wink:



Convenhamos, Sintra véio, elogiar post do Clermont é redundância e das brabas, parei faz tempo, prá quê ficar me arrepetindo, POWS!?


Ainda não tinha lido nada Túlio, falta de tempo... :wink:




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#26 Mensagem por Clermont » Sáb Mai 19, 2007 7:54 pm

CRITICAR É PATRIÓTICO – Como nossos generais ficaram tão medíocres.

Por Fred Kaplan – 16 de maio de 2007.

Desde a partida de Donald Rumsfeld do Pentágono, os oficiais americanos estão começando a falar o que vai em suas mentes, de novo – e o que alguns estão dizendo é ainda mais sombrio do que se esperava.

A mais recente irrupção de franqueza veio em 12 de maio, quando o major-general Benjamin “Randy” Mixon, comandante das forças americanas no norte do Iraque, contou aos repórteres, via teleconferência, de Tikrit, que ele não tinha bastante tropa para conter a crescente violência na província de Diyala, a leste de Bagdá.

Sob o reino de Rumsfeld, comandantes estavam, com efeito, sob ordens para não requisitarem mais tropas em particular, muito menos na frente da imprensa.

Ainda no esquema das coisas, o gen. Mixon estava, simplesmente, preenchendo uma reclamação. Duas semanas antes, um oficial de patente mais baixa, o tenente-coronel Paul Yingling – sub-comandante do 3º Regimento de Cavalaria Blindada – emitiu uma jeremíada.

Em um ácido artigo na edição de maio do “Jornal das Forças Armadas”, publicado em 27 de abril, Yingling comparou o colapso no Iraque ao desastre no Vietnam e responsabilizou “uma crise numa instituição inteira, o corpo de oficiais-generais da América", por ambos.

O ensaio de Yingling é o mais estonteante – e talvez o mais ferozmente inteligente e patriótico – enunciado público que eu jamais tinha lido de um oficial da ativa.

Fosse Rumsfeld ainda secretário, Yingling, provavelmente, se veria recolocado em algum vulgar depósito logístico. Mesmo agora, suas perspectivas para ser promovido a general receberam um sério revés.

Os generais de amanhã são escolhidos pelos generais de hoje, e Yingling acusa a maioria desta geração de generais de “falta de caráter profissional”, “coragem moral” e “inteligência criativa”.

O autor não é nenhum desequilibrado. Aos 41 anos, um ex-combatente de ambas as guerras do Iraque e um graduado da Escola de Estudos Militares Avançados, em Fort Leavenworth, o centro de elite do Exército de pós-graduação estratégica, Yingling é amplamente considerado ser um dos mais brilhantes, mais dedicados e promissores oficiais. O 3º Regimento de Cavalaria Blindada foi a unidade que trouxe ordem para Tal Afar, por meio de métodos clássicos de contra-insurgência (pelo menos, até que a unidade se retirasse, momento em que as coisas começaram a sair dos eixos). O general David Petraeus, comandante das forças americanas no Iraque, tem citado a campanha de Tal Afar como o modelo do que ele está, agora, tentando fazer – com recursos menos adequados, sob condições mais desafiadoras – em Bagdá.

O argumento de Yingling é fortemente razoável. Políticos vão à guerra para obter objetivos políticos. Generais devem prover os políticos com uma estimativa do provável sucesso da guerra. “O general,” diz ele, “descreve tanto os meios necessários para a realização bem-sucedida de uma guerra, como os modos pelos quais a nação irá empregar aqueles meios. Se o político deseja fins para os quais os meios que ele fornece são insuficientes, o general é responsável por aconselhar o estadista de sua incongruência. ... Se o general permanece em silêncio, enquanto o estadista empenha a nação para a guerra com meios insuficientes, ele compartilha da culpabilidade pelos resultados.”

Parece familiar?

“Os generais da América,” continua, “tem repetido os erros do Vietnam no Iraque. Primeiro, por todos os anos 1990, nossos generais falharam em divisar as condições do combate futuro e preparar suas forças de acordo. Segundo, os generais da América falharam ao estimar corretamente, tanto os meios como os modos necessários para atingir os objetivos da política antes do início da guerra no Iraque.” Finalmente, “os militares nunca explicaram ao presidente, a magnitude dos desafios inerentes à estabilização do Iraque pós-guerra.”

Ele considera “quase surrealista” que “militares profissionais culpem o estilo intimidador de gerenciamento de seus superiores civis, por sua recente falta de franqueza.” O problema real, escreve, é uma carência de coragem moral – reforçada por incentivos institucionais.

A tendência do poder executivo [é] buscar jogadores de equipe de maneiras suaves para servirem como generais superiores,” escreve. Mas, ele acrescenta, as forças armadas “são igualmente culpadas. O sistema que produz nossos generais faz pouco para recompensar criatividade e coragem moral. .. Em um sistema no qual oficiais superiores selecionam para promoção aqueles semelhantes a si, há poderosos incentivos para o conformismo. Não é razoável esperar que um oficial que passa 25 anos se conformando à ... expectativas irá emergir como um inovador, no fim dos seus 40 anos de idade.”

Yingling propõe uma reformulação no sistema de promoções militares, permitindo que os generais sejam selecionados pelos oficiais subalternos, tanto quanto pelos superiores. Em combate, escreve, os oficiais subalternos “com freqüência, são os primeiros a se adaptarem, porque eles arcam, mais diretamente, com o peso das táticas fracassadas.” Portanto, eles também são mais aptos para reconhecerem – e recompensarem – comandantes inovadores e que se adaptam.

Ele também propõe medidas de responsabilização. Por exemplo, os generais que fracassam em suas responsabilidades deveriam ser rebaixados para que não recebam o pagamento total de seu posto na reforma. “Como as coisas estão agora,” escreve,” um praça que perde seu fuzil sofre conseqüências bem maiores do que um general que perde uma guerra.”

O ensaio de Yingling tem recebido pouca atenção na principal imprensa americana. (Vários jornais e revistas imprimiram um par de sentenças sobre ele, mas, tanto quanto eu posso dizer, apenas Thomas Ricks, no Washington Post, devotou todo um artigo para seu conteúdo e signficados.) Mas o ensaio tem sido vivamente discutido em blogs militares e, na sua maior parte, endossado. Uma típica mensagem de um soldado, em Fort Knox: “Ele está, apenas, botando no papel o que tem sido dito na maioria dos TOC (Tactical Operations Center) e salas de rancho nos últimos 4 anos.”

A questão-chave é se esse texto tem sido discutido nos refeitórios dos oficiais-generais, no Anel-E do Pentágono, ou entre os Chefes Conjuntos de Estado-Maior. Ninguém nesses reinos contatou Yingling, de qualquer modo.

Um fato pouco compreendido é que, embora o Presidente Bush continue dizendo que estamos em uma guerra em nome da civilização ocidental, os militares ainda estão operando sob seu normal, burocrático, sistema de promoções de tempo de paz. Não há modo algum pelo qual um comandante combatente possa, sumariamente, demitir um general incompetente; modo algum que ele possa fazer subir um tenente-coronel brilhante, quatro degraus acima para tenente-general.

Nos primórdios da Segunda Guerra Mundial, comandantes dos Estados Unidos demitiram 55 generais e 245 coronéis – e isso foi durante uma severa carência de oficiais superiores. (Os números são de Newt Gingrich, que é, além de seus atributos mais famosos, um sério historiador militar.)

Há, é claro, alguns táticos e estrategistas, extremamente talentosos entre o corpo de oficiais-generais de hoje em dia. O que nos leva de volta ao major-general Mixon, que disse, em público, o que muitos oficiais vem dizendo em particular desde há algum tempo: de que não há tropa o bastante para manter a ordem no Iraque, ou pelo menos, não em seu setor.

Mixon não é nenhum arauto do juízo final, simplesmente, um comandante prático. “Eu vou precisar de forças adicionais,” ele disse durante sua teleconferência, “para colocar [a violência] em um nível mais aceitável, para que as forças de segurança iraquianas sejam capazes, no futuro, de lidarem com isso.”

Ele tem, apenas, uma brigada de combate americana, cerca de 3500 soldados, na província de Diyala, comparada com quatro brigadas em Anbar e 10 em Bagdá.

E, como sem dúvida ele sabe, não há nenhum plano para enviar mais tropas à caminho – principalmente porque tais tropas não existem. Das cinco brigadas extras que o Presidente George Bush enviou para Bagdá, como parte de seu “reforço”, lá atrás, em fevereiro, apenas três já chegaram; a quinta não vai estar no terreno até o final do verão. Por quê não? Porque elas não vão estar prontas até lá; elas não estarão totalmente guarnecidas, treinadas ou equipadas. Quando críticos e oficiais reformados dizem que o Exército dos Estados Unidos está no fim de suas forças, não estão exagerando. Se uma crise, em outro ponto-quente irromper, e se o presidente quiser enviar tropas terrestres para lidar com ela, ele não vai poder sem transferir unidades do Iraque ou do Afeganistão. Não há nenhuma força à disposição.

E é aqui onde as mensagens do major-general Mixon e do tenente-coronel Yingling se cruzam. Yingling deixa claro que são os líderes políticos que decidem se vamos ou não à guerra. Uma vez que o criador da política receba o conselho militar de que não há tropas o bastante para conseguir os objetivos estratégicos da guerra, ele ou ela “precisa, então, escalar para baixo os fins da política ou mobilizar as paixões populares para fornecer meios ainda maiores.”

O Presidente Bush não fez nem uma coisa, nem outra. Ele tem se evadido deste cálculo desde o começo e continua a fazer isso, agora que todo mundo compreende, com clareza, que não há, e nunca haverá, bastante tropas. O próximo presidente terá de considerar as grandes questões: que espécie de ameaças vamos enfrentar? Que espécie de forças militares – e líderes militares – vamos precisar? O quanto esse esforço irá custar? Se não temos os recursos (em tropas, dinheiro ou vontade), devemos incitar as paixões para conseguir mais – ou reduzir na direção de uma política mais realista? O curso atual – perseguindo grandes visões globais com meios insuficientes – é o caminho certo rumo ao desastre.




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#27 Mensagem por Clermont » Sex Jan 25, 2008 9:30 pm

DEBI e LÓIDE – O Exército dos Estados Unidos rebaixa os padrões de recrutamento... de novo.

Por Fred Kaplan – 24 de janeiro de 2008 – slate.com.

O Exército está rebaixando os padrões de recrutamento para níveis jamais vistos pelo menos nas últimas duas décadas, e as implicações são severas – não apenas para o futuro do Exército, mas também para a direção da política externa dos Estados Unidos.

As mais recentes estatísticas – compiladas pelo Departamento de Defesa e obtidas através do Ato de Liberdade de Informação pelo National Priorities Project baseado em Boston são sombrias. Elas mostram que a porcentagem de novos recrutas do Exército com diplomas de segundo-grau mergulhou de 94 % em 2003 para 83,5 % em 2007 e para 70,7 % em 2007. (O objetivo de longo prazo do Pentágono é de 90 %.)

A porcentagem do que o Exército chama de recrutas de “alta-qualidade” – aqueles que tem diplomas de segundo-grau e que atingem os primeiros 50 % nos testes de aptidão das Forças Armadas – tem declinado de 56,2 % em 2005 para 44,6 % em 2007.

De modo a satisfazer as metas de recrutamento, o Exército teve mesmo de raspar o fundo do barril. Havia um regulamento de que não mais do que 2 % de todos os recrutas podiam ser “Categoria IV” – definido como candidatos que atingissem a marca de 10 a 30 %¨nos testes de aptidão. Em 2004, apenas 0,6 % dos novos soldados atingiam tão baixo. Em 2005, como o Exército teve dificuldades para recrutar, a marca foi elevada para 4 %. E em 2007, de acordo com novos dados, o Exército excedeu até mesmo esse limite – 4,1 % dos novos recrutas no último ano eram Cats IVs.

Essas tendências são preocupantes de pelo menos quatro formas.

Primeiro, e mais amplamente, não é uma boa idéia – por uma multidão de razões sociais, políticas e morais – colocar o ônus da defesa nacional tão desproporcionalmente sobre os mais desprivilegiados cidadãos.

Segundo, e mais praticamente, evadidos do segundo-grau tendem a se evadirem das forças armadas, também. O National Priorities Project cita estudos do Exército descobrindo que 80 % dos graduados do segundo-grau completam seus primeiros termos de alistamento no Exército – comparado com apenas metade destes com um Grau de Equivalência Geral ou sem nenhum diploma. Em outras palavras, pegar mais evadidos escolares é um método míope de reforçar os números do recrutamento. O Exército irá ter apenas de recrutar mais moços e moças no próximo par de anos, porque um bocado destes que ele recrutou no último ano precisarão ser substituídos.

Terceiro, um exército mais burro é um exército mais fraco. Um estudo pela Rand Corporation, comissionado pelo Pentágono e publicado em 2005, avaliou vários fatores que afetam o desempenho militar – experiência, treinamento, aptidão, e por aí vai – e descobriram que aptidão é chave. Isso foi verdadeiro mesmo para habilidades básicas de combate, tais como atirar direito. Substituir um atirador de tanque que atingiu Categoria IV com um que atingiu Categoria IIIA (entre o 50 % e 60 %) melhorava as chances de atingir um alvo por 34 %.

O Exército de hoje, é claro, é muito mais high-tech, de cima a baixo. O problema é que à medida que as tarefas se tornam mais técnicas, aptidão faz uma diferença maior ainda. Num estudo do Exército citado no relatório da Rand, esquadras de três homens dos batalhões de comunicações da ativa do Exército foram instruídos a montarem um sistema de comunicações operacional. Esquadras consistindo de elementos Categoria IIIA tinham 67 % de chance de terem sucesso. Esquadras com soldados Categoria IIIB (que se enquadravam nos 31 % a 49 %) tinham 47 % de chance. Aquelas com Categoria IV tinham, apenas 29 % de chance. O estudo também mostrava que adicionando um soldado de índice elevado a uma esquadra de três homens aumentava suas chances de sucesso por 8 %. (Isso também significava que adicionando um soldado de índice baixo a uma esquadra reduz suas chances por margem similar.)

Quarto, o Exército de hoje precisa de soldados particularmente brilhantes – e ele precisa, ainda mais, se descartar dos opacos – dada a direção que, pelo menos alguns oficiais superiores querem tomar. Quando o Exército foi preparado para travar batalhas em larga escala contra inimigos de força comparável, pensamento imaginativo não era muito exigido exceto ao nível do comando. No entanto, agora que se está focalizando em “guerra assimétrica”, especialmente campanhas de contra-insurgência, tais como estas do Iraque e Afeganistão, as exigências são diferentes. Os engajamentos cruciais – de muitas maneiras, as decisões cruciais – tem lugar em ruas, de porta-em-porta, não por divisões ou brigadas blindadas mas por companhias e grupos de combate de infantaria. E quando os alvos incluem corações e mentes, o julgamento e as ações de cada soldado tem um impacto.

O manual de campanha do Exército de 2006 sobre contra-insurgência, que foi supervisionado pelo general David Petraeus (que está agora tentando colocar seus princípios em ação como comandante dos Estados Unidos no Iraque), enfatiza que operações de contra-insurgência bem-sucedidas “exigem que soldados e fuzileiros navais em cada escalão possuam o seguinte – e então os autores recitam uma assustadora lista de pré-requisitos, incluindo “uma clara, nuançada e empática apreciação da natureza essencial do conflito”, uma “compreensão da motivação, forças e fraquezas do insurgente,” conhecimento rudimentar da cultura local e várias outras qualidades admiráveis.

Alguns dos oficiais e especialistas de fora que ajudaram Petraeus a escrever o manual de campanha expressaram suas preocupações para mim, na época, de que o Exército – que estava apenas começando a rebaixar seus padrões – poderia não estar à altura das exigências desse tipo de guerra. Dado que os padrões mergulharam bem dramaticamente desde então – e somando-se a isso os problemas que o Exército tem tido em reter seus mais talentosos oficiais subalternos – as preocupações agora devem ser mais sérias.

É bem-conhecido que o Exército pode não ter bastante tropas de combate para conduzir campanhas sustentadas de contra-insurgência. Agora parece que o problema, em breve poderá ser sobre qualidade, tanto como quantidade (miolos tanto quanto coturnos).

A principal razão para o declínio dos padrões é a guerra no Iraque e seu oneroso “tempo de operações” – soldados voltando para as terceiras e quartas temporadas de dever, sem nenhum fim à vista. Isso é bem compreendido entre os oficiais superiores, e é a principal razão porque vários generais do Exército favorecem um cadência mais acelerada de retirada. Eles se preocupam de que menos moços e moças – e agora parecem menos moços e moças inteligentes – irão se alistar se fazer isso significar uma designação garantida para o Iraque. Eles se preocupam de que, se essas tendências continuarem, o próprio Exército possa começar a desabar.

Portanto, há uma espiral dupla em efeito. A guerra impede mais bons soldados de se alistarem. A falta de bons candidatos obriga o Exército a recrutar mais maus candidatos. O inchamento das fileiras por soldados inadequados torna mais difícil travar tais tipos de guerras efetivamente.

Petraeus e oficiais que pensam como ele estão certos: nós, provavelmente não iremos lutar no terreno, mano-a-mano e tanque-a-tanque, com os exércitos russos, chineses ou norte-coreanos num futuro previsível. Mesmo assim, se tais tendências continuarem, nosso Exército poderá ficar cada vez menos habilitado para as “pequenas guerras” que somos mais prováveis de lutar.

Portanto, estamos confrontando duas escolhas. Ou mudamos o modo como recrutamos soldados (e, à propósito, os prêmios em dinheiro já são tão generosos quanto poderiam ser), ou nós mudamos o modo como conduzimos a política externa – isso é, nos engajamos mais ativamente em diplomacia ou, se a guerra é inevitável, nós formamos coalizões genuínas para ajudar a travá-la. De outro modo, a não ser que nossos mais prementes e diretos interesses estejam em jogo, nós devemos esquecer sobre lutar afinal de contas.




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#28 Mensagem por Clermont » Ter Fev 26, 2008 7:37 pm

A CONQUISTA DE CAMAIORE: DOIS DEPOIMENTOS DIFERENTES.

Poucos daqueles que não estiveram com a FEB, na Itália, recordar-se-ão dessa palavra – CAMAIORE. No entanto, em setembro de 1944, não houve, por certo, jornal do Brasil que deixasse de estampar, em títulos garrafais, esse nome, pois foi a primeira cidade italiana a ser conquistada pelas tropas brasileiras. Antes dela, apenas pequenas aldeias, vilas ou localidades haviam sido ultrapassadas; foi, portanto, natural e merecido o destaque dado pela imprensa ao feito. Justifica-se assim, também, o fato de mais de um periódico das tropas brasileiras, em luta, se terem ocupado do assunto.

É nosso objetivo, no presente capítulo, reproduzir dois artigos de valor documentário, publicados em dois jornais diferentes dos combatentes, um, no jornal oficial da Divisão Brasileira, refletindo a opinião do Estado-Maior e, outro, no jornal dos pracinhas, refletindo a opinião dos combatentes fuzileiros de primeira linha e publicados “incidentalmente” em época aproximada. Abster-no-emos de maiores considerações após a sua transcrição, deixando ao leitor a tarefa de tirar conclusões. Todavia, não podemos deixar de assinalar descreverem ambos os observadores um mesmo acontecimento, naturalmente do ângulo pelo qual os viram, como ouviram, como imaginaram ter ocorrido, ou mesmo de acordo com certas conveniências. Uma coisa é certa: os feitos militares só são “vistos”, realmente, por poucos, exatamente aqueles empenhados na ação, ou muito próximos do local onde ela se desenrola. E só esses poucos estão em condições de dar um depoimento mais ponderado.

O valor principal dos dois depoimento a seguir está, principalmente, no contraste de mentalidade que oferece que é digno de atenção.

O primeiro testemunho apareceu no órgão oficial da Divisão Expedicionária Brasileira, o jornal “Cruzeiro do Sul” nº 16, de 25 de fevereiro de 1945, assinado pelo Chefe de Estado-Maior do Destacamento da FEB, grupamento inicial que operou sob o comando do General Zenóbio da Costa, mais tarde, Comandante da Infantaria Divisionária, e vinha sob o título:

*

“A MANOBRA DE CAMAIORE.

Ten-Cel J. Almeira Freitas.

Camaiore é uma pequena cidade de cinco mil almas, situada ao pé dos Apeninos, no fundo de uma bacia, a dez quilômetros da costa.

É circundada de montes altos, que a dominam completamente, salvo do lado do mar, isto é, de Viareggio e Pietra Santa, que formam com ela o trio mais importante de faixa costeira, nesta altura do Tirrênio.

A parte plana é cortada por diversos canais que saneiam e evita a transformação da região em pântano na estação chuvosa.

Para ela convergem todos os montanheses, como ponto de primeiro destino e de reunião e, é nela, que os camponeses se abastecem, dando-lhe vida e movimento muito maior que realmente deveria ter, se não fosse sua situação privilegiada de principal centro populoso mais próximo dos Montes Apeninos, que se estende para o norte por dezenas de quilômetros.

Mas, para nós brasileiros, que viemos combater na Itália por um ideal, Camaiore não representa um pequeno empório comercial.

Seu valor avulta, cresceu imenso e foi projetar-se na história militar do Brasil e, quiçá dos Exércitos da Itália, como um lugar onde se desenvolveu uma das mais belas manobras do Exército (Grifos do original).

Na marcha sobre Camaiore vimos mais uma vez, que nem sempre a grande expressão de uma tropa está no poderio material que ela representa, e sim no valor do homem que a dirige, aferido pelos resultados colhidos pela manobra executada. A Força brasileira, um “combat-team”, comandada pelo General Zenóbio da Costa, havia entrado em linha há poucos dias, no setor do IV Corpo do Exército Americano.

O V Exército atacava a fundo na direção de Bolonha. O inimigo, acossado pela pressão dos exércitos aliados, no centro do seu dispositivo na Itália, batido na França pelas hostes de Patton, em retirada no Oriente desde a fragorosa derrota de Stalingrado e ainda perturbado nos Bálcãs pelas guerrilhas de Tito, encontrava-se em apuros para fazer face à investida do V Exército sobre Bolonha.

O avanço sobre esta cidade, que quase foi libertada, estava condicionado a uma fixação de todas as tropas germânicas no teatro de operações, impedindo que houvesse uma rocada para apoiar o centro desbaratado pelas baionetas do General Clark. Os brasileiros haviam entrado em linha no dia 15 de setembro, substituindo os americanos na região de Vechiano, ao norte do Rio Serchio. Não tinham ainda experiência de guerra, mas sobrava-lhes denodo, desprendimento, patriotismo, e o desejo de mostrarem-se iguais a seus aliados. Queriam corresponder à confiança neles depositada pelos aliados e mostrar que o Brasil é nação livre, cujos filhos não titubeiam em sacrificar-se para erguer bem alto seu nome. Entraram na lide nervosos e preocupados.

Não por temerem fracassar, mas porque não eram conhecidos, e se a sorte lhes fosse adversa, talvez, não tivessem outra oportunidade, e o Brasil – o querido Brasil – seria relegado e seus filhos desmoralizados, para gáudio dos seus inimigos.

Tinham um chefe, em quem depositavam ilimitada confiança. Sabiam que com ele teriam a vitória ou a morte gloriosa – bastava segui-lo.

Por sua vez, o chefe confiava na tropa, cujo êxito, ele sabia, dependia agora, como acontecera a Osório na travessia do Paraná, exclusivamente de indicar-lhe o caminho a seguir.

Os alemães, após a derrota do Rio Arno, haviam-se retirado para o Norte, possivelmente para a linha Gótica. Tomar contato, precisar seu valor ou determinar o contorno dessa linha, impunha-se. Ordens foram dadas, as patrulhas seguiam e os soldados rumaram em busca do inimigo.

No dia 16, foi reajustado o dispositivo e ocupadas as localidades de Bozzano, Chiesa e Massarosa, que acabavam de ser evacuadas pelos alemães. Nenhum contato até esse momento. Os brasileiros não se haviam avistado com seu terrível adversário.

Foi decidido, então, aumentar a pressão por meio de um movimento rápido, enérgico e bastante profundo.

E na manhã de 18, a infantaria do 6º RI, em cujas veias corre sangue bandeirante, diretamente, impulsionada por seu General-Comandante, foi lançada em direção a Camaiore. Tudo era favorável aos adversários, exímios conhecedores do terreno. Seus observatórios dominavam todo o vale.

Sua artilharia e morteiros cobriam a cidade com tremendo bombardeio. As estradas e pontes estavam destruídas. Tanques e uma nossa companhia de infantaria ficaram imobilizados na margem sul do rio Camaiore, junto à cidade.

Mas o General Zenóbio, dirigindo pessoalmente as operações de uma elevação que dominava a cidade pelo sul, lançou arrojadamente, em jeeps, a 7ª Cia de Infantaria, comandada pelo Capitão Félix e um pelotão da 2ª, com morteiros e metralhadoras para dentro da cidade.

Enquanto os brasileiros entravam pelo sul, vindos da estrada de Massarosa, os alemães fugiam rumo ao Norte, para os contrafortes dos Apeninos, que dominavam a cidade à distância. Os soldados estavam eletrizados com a presença de seu General no posto avançado. A cidade foi tomada, e o inimigo que sempre contra-ataca não o fez graças talvez à ousadia e ímpeto brutal da operação. Teve esse feito das armas brasileiras, imensa repercussão. Firmou um alto conceito para a nossa gente e impediu que o inimigo rocasse algumas das suas divisões para outras frentes, que estavam comprometidas pela ofensiva do V Exército. O General Crittenberg, Comandante do IV Corpo do qual o “combat-team” fazia parte, apresentou felicitações ao General Zenóbio, “não só pela modelar atuação de nossa tropa, senão também pela captura da cidade de Camaiore”. Também ao General Mark Clark, então comandante do V Exército, não passou despercebida a ação brilhante das armas brasileiras. Referindo-se ao primeiro objetivo conquistado, a cidade de Massarosa, início da manobra que culminou em Camaiore, em expressivo telegrama dirigido ao General Mascarenhas, Comandante da FEB, assim termina: “Confio que este seja o primeiro dos muitos objetivos que de futuro surgirão sob a legenda – capturados pela Força Expedicionária Brasileira.”

O General Mascarenhas, em notável e longa ordem do dia, declara que as operações realizadas são “motivo de justo orgulho que mantém bem alto o renome do Exército Brasileiro”. Faz, ainda uma citação ao General Zenóbio da Costa, pela captura da cidade de Camaiore, “pela realização perseverança e destemor com que enfrentou e venceu todas as dificuldades dando aos seus comandados uma exemplar demonstração de amor à responsabilidade, espírito ofensivo e confiança na sua tropa, animando-a com sua presença nas circunstâncias mais difíceis”. Finalmente, ele classifica a tomada de Camaiore como o “resultado de hábil e bem conduzida manobra”.

E, assim, em páginas de ouro, as armas brasileiras irão escrevendo sua nova história militar em campos da Itália.

Os heróis de outras guerras serão revividos pelos novos feitos, que servirão de marcos a balizar a rota de um Brasil grande e poderoso.”

*

O segundo testemunho sobre a tomada de Camaiore apareceu num jornalzinho de campanha, “...E a cobra fumou”, órgão do I Batalhão do 6º RI, em seu número II, de 31 de março de 1945.

Seu autor foi o Tenente José Álfio Piason, diretor do jornal e oficial de informações, S/2 do Batalhão, de onde saíram os elementos participantes da tomada de Camaiore. Vejamos, agora, como se processou, realmente, a “Manobra de Camaiore”, manobra essa, que na palavra do antigo Chefe de Estado-Maior do Destacamento da FEB, “impediu que o inimigo rocasse algumas de suas divisões para outras frentes”, e “foi projetar-se na história militar do Brasil, quiçá dos Exércitos da Itália, como um lugar onde se desenvolveu uma das mais belas manobras do Exército”. (sic).

Vejamos o que anotou o Diretor do Jornal dos pracinhas “E a cobra fumou:

*

“A CONQUISTA DE CAMAIORE.

Escolhido o 6º RI para constituir a infantaria do primeiro Escalão da FEB, desembarcava na Itália, em meados de 1944, recebendo, após dois meses exatos de estada e alguns dias de treinamento, ordem para substituir uma unidade americana, na região de Filetole, ao Norte do Rio Serchio, próximo da costa.

Foi, assim, que, na noite de 15 para 16 de setembro, o nosso I Batalhão e a 6º Companhia do II entravam em linha, efetuando-se, já nessa mesma noite, uma “operação de guerra”, após a substituição, a primeira depois que éramos “donos” de uma porção do terreno, frente a outra do inimigo, entre as duas havendo ainda uma terceira – a terra de ninguém – e... uma enorme interrogação!

Mas, assim como a substituição se desenvolveu sem o menor incidente, como se fôssemos tropa antiga, assim, também, a patrulha de ligação (lembra-se do Sul do Lago Massacciucoli, Tenente Inácio?) encontrava realmente, em noite escura, os ingleses que estavam no nosso flanco; era o mais veterano dos países em luta, saudando o mais novo deles; depois, a um good-bye, se respondeu com um até logo e... por aí fomos!

Logo no dia seguinte, assim à queima-buxa, desencadeou-se o ataque; com muitas faltas, fruto unicamente da inexperiência da guerra verdadeira, a primeira linha foi alcançada, desse modo ficando claro que, diante do desconhecido ou do que quer que fosse, a nossa tropa corresponderia à confiança nela depositada; coragem e determinação não faltaram então, como não mais faltariam... apesar de tudo. A linha Massarosa-Chiesa (duas aldeias) tinha sido atingida e consolidada; algumas pequenas localidades ultrapassadas, entre as primeiras palmas, alguns copos de vinho e viva i liberatori; todavia, isso era apenas um degrau para salto muito mais longo!

É que, logo a 17, recebia o Comandante da 2º Companhia, - Capitão Airosa – ordem para comandar um “Destacamento Especial”, com a missão de ocupar Camaiore. Tal destacamento compor-se-ia de um pelotão de fuzileiros da 2º Cia, uma seção de metralhadoras pesadas, uma seção de morteiros e um conjunto de bazookas, da CPP I (Companhia de Petrechos Pesados do I Batalhão); uma esquadra de mineiros e equipe de Saúde, da CC I (Companhia de Comando do I Batalhão); senão da 3ª Companhia de Engenharia; Pelotão de Reconhecimento da Infantaria Divisionária, e cerca de nove tanques americanos, tudo apoiado por uma bateria de artilharia inglesa.

A 18, assume o Capitão Airosa o comando de tropa tão heterogênea e a partida de nossos homens, para uma grande incógnita, situada perto de 16 quilômetros à frente da nossa linha avançada, sem apoio direto algum, é qualquer coisa digna de ser recordada pela serenidade com que se processou. E todavia, tratava-se de neófitos!

Após muita demora, dada a necessidade de reconstrução de partes destruídas da estrada, sai de Luciano a tropa, sorridente ante a novidade: viajavam os “pé-de-poeira” nos bordos dos tanques e estes lhes davam grande segurança; não haveria dificuldades assim, a empresa seria “sopa”! Andava-se muito, consertam-se pontes, fazem-se “by-passes” e ultrapassava-se a serra; Camaiore, muito longe, pequena e pitoresca, aparecia à vista, na baixada; a seu redor, montes altíssimos, onde o inimigo certamente estaria, desfazendo-se, portanto, em parte, aquela impressão de facilidade. Eis que caem, porém, nas proximidades, os primeiros tiros artilharia inimiga, os primeiros com que nossos homens tiveram de se haver; era o “batismo de fogo” da FEB e não havia mais dúvida: o inimigo observava e... estava presente à entrevista marcada à sua revelia. Os amigos, entretanto, já lá estavam muito à retaguarda!

O Capitão Airosa é informado, então, que, ante o “88” – só depois poderíamos calcular bem o valor desse canhão alemão – os tanques e os carros do Pelotão de Reconhecimento não poderiam prosseguir. A noite se aproximava e urgia tomar uma decisão; o comandante não vacila, ordena à sua tropa e o abandono dos puleiros em que vinha – os seguros tanques – e a dispõe nos jeeps com que contava e que reunira; não há o mínimo sinal de abatimento em homens passando a enfrentar com o peito o que era para ser enfrentado com chapas de aço. Indagado por autoridade presente sobre qual conduta iria tomar, com tal comboio, às vistas do inimigo, responde o Capitão: “cumprir a missão que me foi dada: ocupar Camaiore.”

E partiu, indo ele mesmo à direção do jeep “Eliana-Maria-Dulce”, cônscio de mais valer o exemplo do chefe que toda demagogia.

Com intervalo de 100 metros, entre um e outro, lá vão eles, serpenteando, serra abaixo; era, ainda uma vez, a “cobra” simbólica do 6º em ação! Nas proximidades de Nochi, a maior das destruições encontradas impedia a passagem dos jeeps, (lembram-se da ponte CARIOCA, a primeira ponte construída posteriormente pela Engenharia brasileira na Itália?); desembarcou-se a tropa transportada e nova viagem dos jjeeps, trouxe, até aí, o resto do pessoal que deveria chegar à cidade. Já se fazia sentir bem pronunciado o negror da noite; Camaiore ainda estava a 3 ou 4 quilômetros e era mister ser o resto do percurso feito a pé; à frente, vão os “mineiros” da CC I, seguidos de perto pelo pelotão de fuzileiros da 2ª Cia, comandado pelo Tenente Cabral; logo mais, o Comandante do destacamento “Reduzido”, Capitão Airosa, com a Seção de Metralhadoras Leves de sua companhia (Sargento Andrade); a Seção de Metralhadoras Pesadas (Tenente Tavares) e o Pelotão de Morteiros (Tenente Gross) e a Seção de bazookas da CPP I, além da equipe de Saúde do Batalhão (Tenente Bicalho).

O resto da distância é vencido cautelosamente mas sem hesitação; e, cerca de 19:30 horas, Camaiore é atingida, debaixo do fogo dos morteiros inimigos que, assestados principalmente no terrível Monte Prano (1.220 metros), de tudo dominador, haveriam de ser o tormento de nossos homens, daí por diante, até a ocupação daquele Monte.

Entra-se na cidade; alguns partigiani locais juntam-se à tropa, auxiliando-a em sua instalação e barragem das vias de acesso; aos primeiros feridos e estropiados prestam-se os socorros de urgência.

Durante a noite, outros bombardeios de morteiros se seguem e só ao descer do dia a população remanescente toma conhecimento da grande nova, da chegada dos “brasiliani”, prestando-lhes manifestações; nas ruas, por baixo dos beirais desenfiados, trocam-se beijos e abraços; a dedicatória “simpatico liberatore”, escrita mais tarde em fotografia oferecida por uma das mais lídimas e belas representantes locais a um dos nossos, explica muito bem o porquê daquela efusão de sentimentos!

Assim estava Camaiore ocupada; instala-se o Capitão Airosa, o “primeiro oficial brasileiro a conquistar uma cidade italiana”, no “Palacio” local, aquele casarão enorme anteriormente sede do Núcleo Fascista, ali bem debaixo das vistas e fogos inimigos, cujos morteiros não sossegam; nesse mesmo dia, cerra para o local o restante da 2ª Cia, cuja exploração de êxito até Casoli iria fazer os primeiros prisioneiros e tornar possível avanços ulteriores. Em todo caso, essa é já uma segunda fase, uma outra longa história. A primeira havia terminado brilhantemente com a “conquista de Camaiore”, pelo I Batalhão, e essa história descrita atrás, foi como ... tal qual se deu.

Pela conduta de sua tropa e pela sua própria em todo o desenrolar da ação, recebeu o Capitão Airosa (Ernani Airosa da Silva), a condecoração americana “Medalha Estrela de Bronze”, além da citação da qual destacamos os seguintes trechos:

“Durante esta ação, distinguiu-se pessoalmente pela sua coragem e frieza, conduzindo seu grupo através de fogos hostis de artilharia, morteiros e pequenas armas, para capturar o objetivo”.

“Sua conduta, reflete as altas tradições do Exército Brasileiro.


_____________________________________________


Extraído de “Depoimento dos Oficiais da Reserva Sobre a FEB”, 16 autores, São Paulo, 1949.




Editado pela última vez por Clermont em Ter Abr 15, 2008 6:24 pm, em um total de 1 vez.
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Re: Reflexões sobre a Guerra e os Militares

#29 Mensagem por Clermont » Ter Abr 15, 2008 6:24 pm

DIE PANZERWAFFE

William Lind – 1º de abril de 2008.

Bruce Gudmundsson, autor do melhor livro sobre o desenvolvimento das modernas táticas pelo Exército alemão na Grande Guerra de 1914, Stormtroops Tactics, lançou um novo livro. Seu título é On Armor, mas, ainda bem que não é outro livro sobre tanques. A maioria dos livros sobre tanques, como a maioria dos livros sobre navios e aviões de combate, cai na categoria de literatura infantil. Seu tema invariável é “Olha, o tanque/cruzador/caça grandão ir lá e fazer bang/buum/splash.”

Em contraste, o que On Armor oferece são tanques e outras viaturas blindadas de combate em múltiplos contextos. Os contextos, não os tanques, fazem esse livro valioso e importante.

Um contexto são armas combinadas. Que os tanques lutam como um elemento de armas combinadas pode parecer óbvio, hoje em dia, mas como Gudmundsson observa, isso não foi óbvio para muitos dos primeiros teoristas de tanques. Muito de On Armor é devotado a discutir a evolução das unidades blindadas e os muitos tipos de viaturas que as outras armas exigem se elas precisam trabalhar com tanques. Transportes blindados de pessoal, artilharia Sturm (de assalto) e anti-tanque, e carros blindados, todos compartilham o palco aqui com os tanques. Mais importante que as viaturas são as funções que as outras armas compartilham quando trabalhando com tanques. Gudmundsson, corretamente, escreve que na Segunda Guerra Mundial, os alemães sempre executaram uma ruptura inicial com infantaria, economizando os tanques para a exploração. Além do mais, quando eles tentaram irromper com tanques, fracassaram.

Particularmente bom é a discussão em On Armor da evolução dos Sturmgeschutz (canhões de assalto) e Panzerjäger (caça-tanques) na Segunda Guerra Mundial. Nos anos 1970, num pequeno grupo de discussão com o general Hermann Balck, alguém perguntou-lhe como, na Frente Russa, ele tinha utilizado esses dois tipos de viaturas comparado ao modo como utilizou tanques. Ele respondeu, “eu os utilizei todos, da mesma maneira.” Quando foi perguntado sobre a utilidade de motocicletas, outro tipo de viatura coberta em On Armor, ele disse, “o único problema delas, é que nunca pude conseguir o bastante.”

Outro contexto que permeia através de On Armor é a tensão entre duas características que as viaturas blindadas exigem, se elas devem ser efetivas, mobilidade operacional e poder de combate tático. Gudmundsson estabelece esse contexto desde o início, na primeira página do livro:

On Armor não é apenas mais outro livro sobre tanques. Antes, é uma tentativa para dar sentido a quase uma centena de anos de interrelacionamento entre as duas características definitivas das viaturas blindadas de combate – utilidade tática e mobilidade operacional. (A primeira é a habilidade para lutar. A última é a habilidade para viajar, rapidamente, através de longas distâncias na ausência de forças inimigas significativas.


O Exército dos Estados Unidos, que possui, apenas, a mais rudimentar compreensão da arte operacional, tem desenhado seus tanques, em especial o M-1 “Abrams”, para utilidade tática, com pouco pensamento para a mobilidade operacional. Isso é típico de exércitos de modelo francês de Segunda Geração. O “Abrams” é, essencialmente, a mais recente versão do Char B francês.

Em contraste, os tanques alemães e soviéticos foram desenhados para servir a uma doutrina de mobilidade operacional. Não muitos anos atrás, um tanque “Leopard II” alemão estava sendo exibido a um amigo meu, por um oficial alemão, que ficava salientando as lagartas largas do tanque. Admirado, o americano, finalmente, perguntou, “Para que irão servir lagartas largas?” O oficial alemão respondeu, “Os pântanos do Pripet!”

On Armor conclui com uma, especialmente meticulosa, discussão sobre o futuro dos blindados. Gudmundsson escreve, “No começo da história, estas duas características (mobilidade operacional e poder de combate) estão incorporadas em classes muito diferentes de viaturas. Viaturas blindadas leves (inicialmente, carros blindados e caminhões) tem mobilidade operacional, enquanto tanques tem poder de combate... No meio da história, que também coincide com o meio do séc. XX, as duas principais virtudes das viaturas blindadas estão incorporadas numa única classe de viaturas: um tanque de propósito geral, tal como o Panzer III alemão, o T-34 soviético, ou o “Sherman” americano. Não demorou muito, no entanto, antes que as duas linhas, de novo, começassem a divergir. Pelo fim do século XX, já não era mais possível combinar ambos, a mobilidade operacional e poder de combate de primeira classe, numa única viatura.”

Eu não estou certo de que não seja mais possível, e eu, provavelmente, utilizaria o Panzer IV alemão, com o canhão longo de 75 mm, antes do que o Panzer III como o exemplo alemão, mas Gudmundsson está correto sobre a divergência. A Viatura Blindada Leve sobre rodas (LAV) do Corpo de Fuzileiros Navais foi, originalmente, concebida como forma de dar, a algumas unidades dos Fuzileiros Navais, mobilidade operacional, num momento quando o M-1 “Abrams” estava retirando isso dos batalhões de tanques. On Armor é um excelente livro, um que é essencial para a compreensão de muito do desenvolvimento em guerra terrestre no século XX. A Guerra de Quarta Geração torna muito disso história e nada mais; em conflitos de 4GW, todos os tanques, com efeito, tornam-se Sturmgeschutze (canhões de assalto).

A arte operacional é praticada nos níveis mental e moral de guerra, já que as grandes varreduras de formações blindadas, bem no fundo da retaguarda do inimigo, se tornaram, militarmente, sem significação.

Mas a história permanece importante como história de como as pessoas pensaram os problemas através dos tempos passados. On Armor oferece essa história da guerra blindada melhor do que qualquer outro livro sobre o assunto.




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Re: Reflexões sobre a Guerra e os Militares

#30 Mensagem por Clermont » Sex Abr 18, 2008 12:00 am

SOBRE GENERAIS TESTEMUNHANDO PERANTE O CONGRESSO – Um momento M.A.S.H..

Por Fred Reed – 14 de abril de 2008.

Toda vez que vejo que algum general inepto irá testemunhar ao Congresso, no que concerne a guerra contra o Iraque, eu imagino o primeiro parágrafo de apresentação de Power Point:

“Todos os gráficos demonstram uma queda na violência no Iraque, e uma contínua melhoria nos indicadores da produção de uma vida melhor. Próximo slide. Os iranianos estão ajudando os inimigos da América, e tem de ser bombardeados. Isto é uma gravação.”

Mas que solene, fraudulenta, nauseante pantomima. Os congressistas irão perguntar questões inconseqüentes, após o que farão qualquer coisa que o presidente lhes disser para fazer. Eu não posso criticar isso. Esse é o modo americano. Ainda assim, posso sugerir umas poucas questões que gostaria de ver o general, qualquer general, responder?

1) General, cinco anos atrás o comandante-chefe disse que as operações de combate no Iraque tinham findado. Já que isso não é verdade, o comandante-chefe estava mentindo, se iludindo, ou simplesmente sendo tolo. O que o senhor acredita ser o caso?

2) O senhor disse, em várias ocasiões, que o Irã está se intrometendo no Iraque, que está fornecendo armas, combatentes e treinando as facções em guerra. Outros tem acusado os Estados Unidos de estarem se intrometendo no Iraque, de estar fornecendo armas, soldados e treinamento no Iraque. Quais dessas afirmativas o senhor acredita ser mais precisa? O senhor viu alguma evidência de envolvimento americano?

3) O senhor tem expressado recomendável admiração por nossos soldados, dizendo que eles são os mais notáveis jovens de nossa nação. Iria o senhor permitir que sua filha namorasse um praça de primeira-classe negro, com um GED? (uma espécie de certificação para pessoas que não terminaram a high school americana) Um garoto chamado Gonzáles, com tatuagens?

4) Permita-me uma questão pessoal, general. Alguma vez o senhor disse outra coisa, além de “sim”, para alguém que podia afetar suas chances de promoção? Pode nos dar exemplos?

Eu recebi uma carta de um líder de GC em Bagdá que sugere que sempre dizer “sim” qualifica o senhor como uma puta de rua, mas não como um soldado. Estou certo que isso não é verdade. Isto é, estou certo de que o senhor pode ser um soldado, também. Irá o senhor nos explicar por quê o sargento está errado? Pode o senhor dar ao Congresso uma razão para acreditar que, outra coisa qualquer, além da sua carreira, importa para o senhor?

5) Desculpe-me, mas tenho uma questão concernente a sua saúde. Eu sei que o sol brilha muito em Bagdá. Será que, ao pôr o protetor solar no rosto, o senhor, de algum modo, esqueceu do nariz? Ele parece muito escuro. O país não pode se permitir câncer de pele em seus oficiais.

6) General, daqui há alguns anos, quando repousar em algum clima ensolarado, escrevendo suas memórias, talvez tendo servido como um belo e modelar Presidente dos Chefes Combinados, dezenas de milhares de praças estarão vivendo com sacos de colostomia ou bengalas brancas, ou sem pernas ou com os rostos arruinados. Será que isso, de alguma forma, irá incomodar o senhor?

Pensando melhor, eu retiro a questão como irrelevante. Perdoe minha tolice, general.

7) Eu presumo que o senhor tenha muitas qualificações para administrar uma operação de contra-insurgência no Oriente Médio. Nisso quero dizer outras coisas além de ser fotogênico e um mago com o Power Point. Por exemplo, estou certo que o senhor fala bem o árabe, como o faz o comandante-chefe, o presidente Cheney e Condo Rice. Para o registro, irá o senhor confirmar isso?

8) Deixe-me, por um momento, voltar-me para os detalhes secos de ser soldado. Sem dúvida, isso será uma monótona conversa de botequim para muitos nesta câmara, mas creio que podemos poupar um momento.

Um constituinte, que serviu no Viet Nam, escreveu-me com o seguinte relato sobre alguém que “foi atingido por um projétil” (isso é a frase militar, creio eu?) bem no rosto. Ele diz que os dentes se destroçam, a mandíbula pende da cabeça com negócios brancos mostrando onde ela estava presa, sangue esguicha das artérias no topo da boca, um olho se esbugalha pra fora, devido à concussão, e o homem contorce seus braços, estranhamente, e diz “Gu-gu-gu" até que ele morre, ao se afogar em sangue. Isso leva uns poucos minutos, disse o sargento.

O senhor acredita que o Departamento de Assuntos Públicos do Pentágono está certo ao instruir os grupos de combate que carreguem sacos plásticos para cobrir o rosto do homem? Para que os repórteres não tirem fotos e dêem ao público uma idéia errônea da guerra?

9) Críticos dos militares dizem coisas ásperas e, tenho certeza, injustificáveis, tais como que os generais são, simplesmente, matadores contratados e não tem mais honra ou moralidade do que os pistoleiros da Máfia. Eu quero que o senhor compreenda que eu, nem por um momento, acredito nisso. Estou certo que o senhor não iria matar milhares de pessoas, que o senhor não conhece, sob as ordens de alguma nulidade, e, então, aceitar medalhas de aparência estranha por fazer isso. Para contraditar tais vozes que dizem essas coisas feias, o senhor nos daria um exemplo de um país que o senhor não iria atacar se fosse ordenado? Nomear alguma coisa que o senhor não iria fazer por outra estrela?

10) Iria o senhor nos explicar o uso cirúrgico de bombas de 500 libras, num subúrbio densamente povoado?

11) General, se um exército iraquiano atacasse seu estado natal, num empreendimento para impor a democracia aos Estados Unidos, matasse milhares de seus compatriotas e deixasse sua filha de 7 anos, gritando enquanto morre de queimaduras, o que iria o senhor fazer? Iria o senhor aceitar o Islã, com gratidão e abraçar a democracia? Ou iria enfrentar os invasores? Iria o senhor passar o resto de sua vida tentando matar tantos deles quanto pudesse, de qualquer modo que pudesse? Apenas curiosidade.

12) Alguns dos seus críticos, senhor – mal-informados, estou certo – dizem que o senhor manda garotos de pequenas localidades sulistas para morrerem, enquanto o senhor trabalha em suas apresentações de Power Point. Para por as coisas em pratos limpos, poderia o senhor nos dizer quanto tempo passou em combate, comparado com um fuzileiro em sua quinta temporada?

13) Finalmente, general, o senhor pode estimar o número de ex-combatentes em cadeiras de rodas, cegos, desventrados, sem genitália, em muletas, tendo pesadelos de quando Jim Dog foi atingido por um projétil, através dos pulmões, ao norte de Vung Tau – caras desse tipo, nos Ex-Combatentes Incapacitados da América, expatriados em bares em volta do mundo, nos elevados da Tailândia e no meio do México – que odeiam homens como o senhor com uma intensidade sombria que os fazem puxar os braços das cadeiras de rodas, quando pensam sobre isso, tanto que até mesmo seus amigos recuam, um ódio que tornaria muito pouco inteligente para o senhor chegar perto?

Apenas, perguntas. E muito obrigado. Pelo seu testemunho, quero dizer.




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