FAZENDAS MODULARES

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FAZENDAS MODULARES

#1 Mensagem por Túlio » Qui Jun 19, 2014 10:07 pm

A charla começou aqui:
FAZENDAS MODULARES - Resultaram de estudos encomendados à EMBRAPA pela Governança das Terras e Pastos (equivalente ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no Brasil) em meados da década de 90, com o intuito inicial de criar agrupamentos de pequenas fazendas familiares congregadas por cooperativas, tendo por finalidade a criação de uma classe média rural que substituiria as favelas, principalmente na capital. Os ditos estudos indicaram que o modelo inicial proposto seria economicamente inviável e propuseram uma alternativa, que se tornou o modelo das Fazendas Modulares da atualidade (quinze, ao sul e norte de Nova Olivença). Cada uma possui 500 módulos iguais, com 50 hectares e produção diversificada, ou seja, grãos, féculas, legumes, verduras e frutas, além de gado (bovino, ovino, suíno e aves). Parte é destinada à alimentação do gado (criado em confinamento), sendo enviada à fábrica de rações da própria cooperativa; outra é enviada ao setor de industrialização e beneficiamento da mesma. O departamento comercial se encarrega da compra de insumos e venda da produção. A administração é estritamente profissional, tendo desde o Gerente-Geral até o membro menos hierarquizado sido contratados com base em suas capacidades e mantidos (ou demitidos) por critérios puramente empresariais. Cada minifazenda é chamada Módulo de Produção. Como o modelo familiar é insustentável, dada a grande carga de trabalho, todos os módulos contratam empregados não-especializados por baixos salários para auxiliar na faina diária (em sua maioria residentes na favela Paço dos Enforcados), além de outros especializados que trabalham diretamente para a cooperativa, como agrônomos, técnicos variados e veterinários. Cada FM ocupa área entre 310 e 370 km², de acordo com a natureza do terreno. Em 2013 movimentaram, em conjunto, cerca de 7 bilhões de dólares, quase metade do PIB de Tapes.

viewtopic.php?p=5367826#p5367826
O nosso cupincha Leandro véio achou legal, mesmo após eu dizer isso:
Sobre as FMs, não sei não: há anos penso nisso, a ponto de charlar com uns figuras do ramo. Em suma, me foi dito que é uma idéia tão boa quão impraticável, só funcionando em ficção mesmo: o custo de UMA SÓ FM seria de bilhões, pois desapropriar entre 30 e 40 mil hectares ia dar o maior rabo político e custar uma nota (fora o risco de invasão pelo MST tão logo as obras começassem). Afora isso, treinar milhares de pessoas para tocar os 500 módulos, equipar tudo e ainda montar a Cooperativa e seu quadro de pessoal, bueno, só com verba federal. E aí é que a porca torce o rabo, pois o governo - seja de que sigla for - vai querer botar seus próprios gestores (com QI), ou seja, necas de PROs.
O que acham? Tem viabilidade? É factível?

EM DEBATE!




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Re: FAZENDAS MODULARES

#2 Mensagem por LeandroGCard » Qui Jun 19, 2014 10:24 pm

Trouxe meu comentário para cá, para o pessoal poder acompanhar a discussão:
Sobre as FMs, não sei não: há anos penso nisso, a ponto de charlar com uns figuras do ramo. Em suma, me foi dito que é uma idéia tão boa quão impraticável, só funcionando em ficção mesmo: o custo de UMA SÓ FM seria de bilhões, pois desapropriar entre 30 e 40 mil hectares ia dar o maior rabo político e custar uma nota (fora o risco de invasão pelo MST tão logo as obras começassem).
Isto se pensando em fazer tudo de uma vez, deixando a obra pronta, e só depois trazendo o pessoal. Mas e se for pensado como um programa gradual, iniciando pequeno e com poucas pessoas para montar uma infra-estrutura básica que permitisse começar a tirar os recursos da terra (principalmente para a construção), e fosse crescendo aos poucos atraindo empresas e investidores para aproveitar o fluxo crescente de bens produzidos, mas sempre dentro de um planejamento sério que siga o plano original com a visão do objetivo final? Ou seja, um real programa de colonização (interna), e não uma "obra" a ser inaugurada.

O custo das terras pode ser o menor dos problemas, a maior parte do território brasileiro é de propriedade do estado e principalmente da união, e as terras poderiam simplesmente ser trocadas por outras talvez até com maior extensão em outros locais, quem sabe nas novas fronteiras agrícolas onde as terras sejam adequadas à exploração intensiva por parte de quem pode reunir capital para investir? Assim se poderia até fazer dois programas de expansão das terras agrícolas em paralelo, um capital-intensive com grandes monoculturas nas fronteiras agrícolas (porque a expansão destas fronteiras deve ser deixada ao cargo de grileiros com é feito até hoje?) e outro labor-intensive em áreas mais próximas às regiões de grande densidade populacional, produzindo alimentos para consumo.
Afora isso, treinar milhares de pessoas para tocar os 500 módulos, equipar tudo e ainda montar a Cooperativa e seu quadro de pessoal, bueno, só com verba federal. E aí é que a porca torce o rabo, pois o governo - seja de que sigla for - vai querer botar seus próprios gestores (com QI), ou seja, necas de PROs.
Preparar o pessoal já foi feito antes, e os resultados foram surpreendentes. Pelo menos um estudo que conheci mostrou que os assentamentos do INCRA feitos com pessoal urbano (vindo de favelas no entorno de grandes cidades) mostraram ser mais eficientes e produtivos do que os com pessoal oriundo de regiões rurais, que teoricamente teria mais experiência de vida no campo.

Agora, a questão do governo é realmente o maior problema. Um programa assim não poderia ser implementado em uns poucos anos, a dinâmica de crescimento contínuo exigiria um trabalho talvez de décadas com competência e dedicação. E no Brasil eu realmente não vejo como isso poderia acontecer :? .


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Re: FAZENDAS MODULARES

#3 Mensagem por LeandroGCard » Qui Jun 19, 2014 11:11 pm

Faz tempo também que penso em soluções deste tipo para resolver não apenas um mas vários problemas de forma sinérgica.

A ideia seria ao mesmo tempo assentar e "pacificar" o pessoal conduzido pelo MST, criar uma opção para que o pessoal menos favorecido dos grandes centros pudesse abandonar as favelas e buscar uma vida melhor em outro lugar, aumentar a produção de alimentos próximo às cidades (até como forma de combate à inflação pelo lado da oferta), criar novos centros de desenvolvimento no interior com menor pressão sobre a infra-estrutura e por aí vai.

Mas como você já verificou, isso é mais fácil de falar do que de fazer, pois há muitos problemas a serem enfrentados ao mesmo tempo. Contudo, existe um enorme potencial nas terras praticamente devolutas que existem nos arredores mais ou menos próximos (entre 50 e 200 km) da maioria da cidades grandes e médias do país. Depois de pensar bastante e discutir sobre o assunto também com alguns especialistas meu conceito se voltou para áreas que seriam reservadas e teriam a ocupação planejada desde o início, mas cuja ocupação seria efetuada à longo prazo, iniciando-se não pelas atividades produtivas em si (agricultura e pecuária) mas sim pela implantação das facilidades básicas para o aproveitamento dos recursos locais e a construção da infra-estrutura necessária. Isso incluiria o desenvolvimento de conceitos arquitetônicos e de construção adaptados à realidade local (como o uso de tijolos de adobe), implantação de fábricas de tijolos, lajes e cerâmica, de argamassa, marcenaria e etc... . Isto serviria para a construção posterior das habitações, estradas e o que mais fosse necessário para a ocupação do local.

A implantação desta etapa inicial seria bancada pelo governo (em princípio imagino com a formação de uma cooperativa), e depois ela seria a fornecedora para as atividades seguintes de implantação das demais estruturas. Em seguida viria a construção de escolas, centros de treinamento e lazer, postos de saúde e coisas do tipo, tudo utilizando o máximo possível dos recursos e do pessoal local. Isso poderia inclusive servir como forma de atração de pessoal: Quem quisesse trocar uma favela por um núcleo de colonização como este poderia receber gratuitamente treinamento como marceneiro, eletricista, pedreiro, enfermeira, professora e etc..., e depois assinariam um contrato com o governo se comprometendo a ficar no local por pelo menos um determinado período (caso contrário teria que pagar pelo treinamento recebido).

Só após a infra-estrutura mínima estar pronta é que seria iniciada a montagem das unidades produtivas agro-pecuárias e agro-industriais, sempre dentro do planejamento inicial para a ocupação dos espaços e aproveitamento dos recursos locais (terras, água, etc...). Conforme as primeiras unidades começassem a produzir uma parte do lucro seria revertida para a implantação de novos módulos, até que a comunidade se tornasse auto-sustentável e lucrativa para seus moradores, como qualquer cidade próspera.

É claro que há muitos e muitos detalhes a definir, mas esta seria a ideia básica. Implementar primeiramente a infra-aestrutura aproveitando ao máximo os recursos locais, e com todo apoio ao pessoal inicial. E só depois iniciar a colonização mais "pesada", com a produção agrícola. Bem diferente do que tem sido feito até agora, que é levar o pessoal para longe do mundo e largá-los no meio do mato quase sem recursos e sem infra-estrutura alguma, esperando que sobrevivam basicamente por sua própria conta e depois atraiam a infra-estrutura que precisariam para ter uma vida minimamente digna (quem sabe esperando que o "deus mercado" cuidasse disso?).


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Re: FAZENDAS MODULARES

#4 Mensagem por Bourne » Sex Jun 20, 2014 12:46 am

Uma colega, esteve na Venezuela de 2005 à 2007, trabalhou no ministério da agricultura. Entre as atividades estavam fixar preços e desenvolver um programa de ocupação e desenvolvimento agrícola. Ela era mal paga e não tinha capacidade técnica de fazer as tarefas, mas era uma aventura. Os colegas dela estavam na mesma situação.

O ponto é que o programa de ocupação rural era mais o menos o modelo mencionado no tópico. Basicamente, trazer gente da cidade para interior e produzir, foco nos desempregados e menos favorecidos. O problema fundamental encontrado por essa colega é que esse pessoal não tinha perfil de produtor rural. Era gente urbana que foi por que ganharia alguma coisa. Não conseguiam produzir e era um desastre no manejo das terras. A maioria desistiu e voltou para cidade. É um programa que nasceu morto por ser desenhado em uma realidade que não correspondia aos anseios da sociedade e parcela da população supostamente beneficiada.

Outro programa de realocação de população que desandou foi o "minha casa minha vida". Deram os imóveis subsidiados longe dos grandes centros, melhor do que morar na favela. Orientado por uma ideia de descentralização e crescimento horizontal da malha urbana como os norte-americanos fizeram pós-1945. O problema é que não tem cidade e infraestrutura urbana para viabilizar a manutenção dessa população nesses lugares, Eles não são classe média que podem ter um carro e dirigir 30, 40 e até 50 km até o trabalho. Ainda é possível resolver. Não é o fim do mundo.

Voltando as ideias do tópico, vejo três problemas básicos:

:arrow: A reforma agrária deixou de ser problema quando desemprego cai na década de 2000. Hoje o MST é um mero movimento político que não tem força nenhuma. A população rural que ficou sem terras migrou para as cidades e se adaptou á outras função. Não esperem que voltem depois de ter se adaptado à vida urbana. O que essas populações podem é evoluir para profissionais qualificados, empreendedores e trabalhar em serviços. Podem até se mudar para cidades menores com infraestrutura boa, como ocorreu na última década e ocorre, mas ainda trabalha com atividade urbanas.

:arrow: A infraestrutura brasileira e ocupação é interiorizada, proveniente de um projeto descarado desde idos da década de 1960s, com criação de zonas industriais, portos, estruturas de transporte e comunicações. Existem centenas de cidades pequenas e médias de ótima qualidade de vida no interior. O que determina a ocupação do espaço não é mais distribuição de terra, mas sim as atividades econômicas regionais e polos de produção, podendo ser industriais, agrícolas, serviços e tecnologia entre outros. Graças ao grande projeto de "estado de bem estar social" oriunda da constituição de 1988, essas cidades se destacaram com elevação do bem estar e novos centros dinâmicos da economia regional, comuns no interior do sul, sudeste, centro oeste e até nordeste.

:arrow: A produção de alimento não há muito tempo um entrave para país e um fator de inflação. Não estamos nos anos 1950s em que a urbanização não foi acompanhada de uma estrutura agrícola adequada para demanda. Isso foi resolvido nos anos 1960. O custo de transporte é irrelevante por que pressupõe construir uma estrutura capaz de integrar as diferentes regiões para os mais diversos fins, acentuados pelo ganho de produtividade da especialização e tecnologia.

Enfim, vocês estão vendo problemas dos anos 1950s, não o Brasil de 2014. Ignorando a forma de organização, distribuição regional e populações supostamente beneficiadas por programas que elas não querem. Os processos de migração, inchamento das cidades e desorganização foram completados. Gostem ou não, esse o país está aí. Os drivers da nova dinâmica que traz o fortalecimento do interior e cidades pequenas e médias está ocorrendo, esperados em um país urbano-industrial de dimensões continentais que conta uma política deliberada de incetivo à descentralização, oriunda de centros de dinâmicos de atividades econômicas modernas incluindo industria, serviços, transportes, agroindústria, agropecuária entre outros.




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Re: FAZENDAS MODULARES

#5 Mensagem por Bourne » Sex Jun 20, 2014 12:57 am

O tema em si não tem nada de novo. A discussão está presente no artigo de Rosenstein-Rodan de 1943 sobre como industrializar o leste europeu. Lançou as bases para como se investe, cria sinergias, ocupa espaço e criar uma sociedade moderna.



http://www.econ.nyu.edu/user/debraj/Cou ... nRodan.pdf

Nos anos 1940 e 1950, recebeu criticas e emergiu discussões profundas sobre o tema, especialmente na América Latina que virou o experimento para o processo. A discussão brasileira sobre como construir a nação foi bem mais rico do que parece. Em especial, o debate público Simonsen versus Gudin sobre industrialização e como se desenvolvimento, depois vindo celso furtado, roberto campos e outros.

O Brasil tinha um debate muito mais rico pré-1964, com intelectuais que se furtavam de um debate público de alto nível sobre os rumos do país. Os projetos de desenvolvimento regional, integração nacional e descentralização da dinâmica não sairá do nada. O Brasil atual é o resultado de longo debates e planos muito discutidos, talvez atabalhoados que de alguma forma deram certo em maior ou menor grau.

-------------

O resumo do debate entre Simonsen vs Gudin
Simonsen versus Gudin, a controvérsia pioneira do desenvolvimento

Entre agosto de 1944 e agosto de 1945, um debate ocorrido no interior do governo Vargas lançou as bases para uma disputa de concepções econômicas que atravessaria décadas. Trata-se da polêmica entre o líder industrial paulista Roberto Simonsen e o economista liberal carioca Eugênio Gudin. Na pauta, o papel do Estado e a necessidade ou não de se industrializar o país

Há pelo menos sete décadas, a disputa essencial nos rumos da economia brasileira se dá entre uma vertente liberal-mercadista e outra industrial-desenvolvimentista. Nem sempre a controvérsia apresenta contornos nítidos, pois as duas concepções compreendem enorme gama de variantes e algumas intersecções. Existe um desenvolvimentismo conservador e excludente e há partidários de um desenvolvimento com tinturas socializantes. Há também um liberalismo extremado, que defende a total retirada do poder público do jogo econômico, e um liberalismo de ocasião, que em momentos de turbulência corre atrás de financiamentos e socorro do Estado.

Apesar disso, em vários momentos a contenda se radicalizou e colocou seus formuladores em campos opostos no tabuleiro político.

Há um marco definidor nessa sucessão de embates. Trata-se da histórica polêmica protagonizada pelo industrial paulista Roberto Simonsen (1889-1948) e pelo economista carioca Eugênio Gudin (1886-1986), entre 1944 e 1945.

Continua... (...)

Fonte: http://www.ipea.gov.br/desafios/index.p ... &Itemid=23




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Re: FAZENDAS MODULARES

#6 Mensagem por delmar » Sex Jun 20, 2014 11:58 am

Bourne escreveu:Uma colega, esteve na Venezuela de 2005 à 2007, trabalhou no ministério da agricultura. Entre as atividades estavam fixar preços e desenvolver um programa de ocupação e desenvolvimento agrícola. Ela era mal paga e não tinha capacidade técnica de fazer as tarefas, mas era uma aventura. Os colegas dela estavam na mesma situação.
.........
....
...
Enfim, vocês estão vendo problemas dos anos 1950s, não o Brasil de 2014. Ignorando a forma de organização, distribuição regional e populações supostamente beneficiadas por programas que elas não querem. Os processos de migração, inchamento das cidades e desorganização foram completados. Gostem ou não, esse o país está aí. Os drivers da nova dinâmica que traz o fortalecimento do interior e cidades pequenas e médias está ocorrendo, esperados em um país urbano-industrial de dimensões continentais que conta uma política deliberada de incetivo à descentralização, oriunda de centros de dinâmicos de atividades econômicas modernas incluindo industria, serviços, transportes, agroindústria, agropecuária entre outros.
Boa colocação companheiro, era o que eu estava pensando em dizer. Não há muitas pessoas interessadas em irem para o interior. A ideia de fazendas cooperativas, fazendas coletivas ou fazendas estatais vem da antiga União Soviética com suas Kolkhozes e Sovkhozes. Putin, o grande, pretende acabar com as Kolkhoses por serem ineficientes, conforme abaixo:
"Uma visão do fraco desempenho dos soviéticos fazendas coletivas é assegurada por dois historiadores, M. Heller e A. Nekich. Os autores relatam que, em 1979, 28% da produção agrícola da União Soviética foi a partir de pequenas parcelas de cidadãos privados, o que representou menos de 1% da terra cultivada. Assim, segundo eles, fazendas coletivas eram muito ineficientes."




Todas coisas que nós ouvimos são uma opinião, não um fato. Todas coisas que nós vemos são uma perspectiva, não a verdade. by Marco Aurélio, imperador romano.
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Re: FAZENDAS MODULARES

#7 Mensagem por Bourne » Sex Jun 20, 2014 1:37 pm

Tenho conhecidos e amigos que estão indo para o interior e fugindo dos grandes centros. A justificativa é o menor custo, melhor qualidade de vida e boas propostas de trabalho. Porém a atividade é urbana-industrial, dão preferências para boas cidades de 50, 100 ou 200 mil habitantes com todas as vantagens da vida moderna. As empresas fazem o mesmo e se afastam dos grandes centros, até capitais para rumo ao interior.

Isso é muito interessante para o futuro. Um dia poderemos ter um descentralização tão grande quando a norte-americana. Na maioria do país tu roda uns 50 km e acha uma cidade média ou pequenas com toda infraestrutura urbana e tecnologia de uma grande.

Outro aspecto é que a agricultura e pecuária hoje é escala e tecnologia. Não precisa ter gente na terra. As cooperativas que deram certo vieram de pequenos produtores, se transforam em agroindustriais e viraram empresários que cooperam e competem no mercado. Ou, se não o fazem, partir para produtos de alto valor agregado como frutas e verduras, típicos de pequena propriedade. Nas regiões metropolitana de Curitiba, fronteira com santa catariana, tem muito produtor de verduras que mandam até para o nordeste. Como nos modelos de sociedade dual, a tecnologia permite transferir gente de atividades de subsistência com baixa produtividade para atividades industriais e serviços, baseada nos centros de desenvolvimento regional.

Na URSS, essas fazenda coletivas eram formas de alocar população, oriunda dos perdidos do fim do sistema de servidão do século XIX, sem colocação nas cidades russas. Nos primeiros anos funcionou, mas depois desandou por que não tinha como mudar a estrutura técnica sem realocar o pessoal da fazenda. Por que chegou a conclusão que precisa "demitir" os beneficiários ou arranjar mais terra, mesma assim não reduziriam custos. A resposta posterior foi melhor a estrutura de cidades e tentar reorganizar a produção agrícolas. Percebam que as cidades e da ex-urss são planejadas e construídas para receber população. No fim das contas foi uma das coisas que parou no meio do caminho nos anos 1970 e 1980 na união soviética.




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Re: FAZENDAS MODULARES

#8 Mensagem por Túlio » Sex Jun 20, 2014 3:03 pm

Esqueceste dos kibutzim de Israel, conterrâneo Delmar. É um modelo bem mais inspirador do que os citados, eis que pauta-se pela diversificação (a ponto de até equipamentos militares terem nascido lá, graças à criatividade da tigrada. Achas que admiro Israel à toa? Que sou sionista? Nem Judeu sou, POWS! Mas respeito demais a Livre Iniciativa bem orientada e os caras são CRAQUES nisso!) e é exatamente o que imagino para as Fazendas Modulares. Não que eu esteja falando em uma versão brazuca do Kibutz, proponho é um passo além. Antes de descrever minha idéia, o que vai resultar - no mínimo - em um longo e demorado post, descrevo os principais óbices (os que conheço) à sua execução. Notar que, sempre que falo em agribusiness, refiro-me ao que sei e se restringe ao RS.

:arrow: ÁGUA - Sem isso - muita água - não se pode fazer o que proponho. Aqui no RS a seca não é algo comum, embora aconteça de vez em quando, mas numa FM seria simplesmente desastroso. Bueno, temos muita água no subsolo mas VOSMEÇÊS nem imaginam o tempo e dinheiro que se desperdiça com uma burrocracia horrorosa para poder abrir um simples poço (ou conjunto de) que possa prover irrigação. É uma visão do inferno, como diria o grande filósofo Caco Antibes...

:arrow: TERRA - Seria necessária uma brigada inteira de Advogados, Agrônomos, Veterinários & quetales, reforçada por um batalhão de lobistas políticos, apenas para viabilizar o projeto. Falamos aqui de uma propriedade coletiva com entre 300 e 400 km² e isto, mesmo num Brasil de 8,5 milhões de km², é terra pra burro! Principalmente uma das três partes fulcrais, ou seja, os MPRs (Módulos de Produção Rural), representa - são 500 MPRs de 50 hectares cada, em princípio - uns 250 km² e a terra deve ser analisada (e, se e quando necessário, corrigida) amplamente, de modo a que todos tenham características semelhantes. Essa parte também custa uma nota preta!

:arrow: PROBLEMAS JURÍDICOS - É difícil que uma propriedade tão grande fique restrita à área rural de apenas um município. Aqui não é o Amazonas. Com prefeitos e vereadores de olho nos impostos e votos, haveria uma disputa dos diabos para definir a qual cidade pertenceria a FM. Há ainda a questão da compra ou desapropriação da terra a ser utilizada no projeto; no primeiro caso seria complicado, pois alguém poderia não querer vender (e provavelmente, quando falamos em 30 a 40 MIL hectares no RS, falamos em várias propriedades. A compra de UMA desencadeia uma bolha nas demais, que encarecem da noite para o dia, a ponto de o projeto se tornar inviável), no segundo seria complicado para o governo explicar que está desapropriando terras - com $$$ público - para repassar a um empreendimento privado, mesmo que de interesse público. A rigor, creio que nenhum empresário bancaria isso e o governo, como exposto, provavelmente não poderia. A meu ver, seria necessário criar uma ONG especificamente para este empreendimento, ou seja, a primeira! O problema é que não conheço ONG realmente interessada em criar algo inédito e que vá gerar lucros para outrem, e não simplesmente tirar alguém da mais negra pobreza para um grau acima, ou seja, simplesmente pobre! Pois, bem executado, o projeto seria o embrião de uma poderosa classe média rural.

:arrow: PROBLEMAS POLÍTICOS - Além dos já elencados, pode acontecer de tudo. Lembrem dos anos e anos de atraso nas obras de ampliação da KMW em Santa Maria, RS: todo mundo sabe que quem atrasou tudo foram agências ambientais do governo do RS e, sabendo-se ainda que o governador Tarso Genro (PT) é inimigo político do prefeito César Schirmer (PSDB), somamos os fatores e...

:arrow: QUESTÕES AMBIENTAIS - A legislação a respeito é complicada como o inferno e gera mais um monte de atrasos, gastos e burrocracia. Fazendas onde se planta e se cria animais geram toneladas de inspeções e consequentes relatórios, onde se analisa o impacto junto a alguma planta ou bicho, ao lençol freático, tem de tudo para complicar onde der.

Foi o que lembrei agora. Tem mais. O fato é que, ao contrário do que alguns colegas disseram, não tem comida sobrando nem no Brasil nem no resto do mundo. Alimentos, aliás, estão entre as mais rentáveis commodities deste século que recém iniciou. E com SELO VERDE, então... :wink: 8-]




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Re: FAZENDAS MODULARES

#9 Mensagem por Bourne » Sex Jun 20, 2014 3:36 pm

O problema de produção de alimento foi superada no século XIX. A questão da fome e preços é um problema de distribuição e renda de quem vai comprar.

É claro que é rentável no sentido de uma estrutura regional de produção que demanda insumos e gente especializada. Há muitas décadas à agricultura é uma industria que vive de tecnologia, especialização e escala. Sem isso não sobrevivem e não fazem frente a demanda. Porém muda em razão das mudanças técnicas da industria e infraestrutura. Não por acaso os maiores produtores agrícolas do mundo (EUA, Canadá e Brasil) são urbanos, uma industria razoavelmente avançada e infraestrutura de transporte. Apesar de uma país grande não se sustentar só com agricultura, fica muito sujeito a variações de preços e dificuldade em acomodar as mudanças no mercado internacional, mesmo de dar o suporte integrado ao setor.

Os kibutzim são modelos de ocupação do estado de israel que recebeu uma massa de imigrantes qualificados, com dinheiro vindos da Europa ocidental e oriental. Não se aplica aos países em desenvolvimento e com fartura de mão de obra. Na real, os israelenses criaram pequenos distritos industriais, agrícolas altamente produtivos e inovadores para se especializar no que tinham condições de competir. No caso tecnologias e produtos específicos de elevado valor agregado ou frutas. Aproveitando o capital humano dos imigrantes com uma política pública pesada do estado, canalizando a posição estratégica e suporte ocidental e americano.




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Re: FAZENDAS MODULARES

#10 Mensagem por Túlio » Sex Jun 20, 2014 4:15 pm

Bourne, continuas a:

:arrow: Desmerecer a importância do Agribusiness. Lembres que o crescimento de 2,3% do PIB do ano passado teve importante participação deste setor (+7%), enquanto a Indústria ficou em 1,3%, enquanto o setor de Serviços cresceu menos de 1%, tudo em relação a 2012.

:arrow: Se basear em modelos estrangeiros (para situações e necessidades estrangeiras). Citei os Kibutzim apenas como exemplo de iniciativa que dá certo, não como o modelo das FMs.

Ademais, esse lance de EUA é bem complicado, pois tanto lá quanto na Europa Ocidental (e creio que Canadá também) a agricultura vive de subsídios governamentais. Cortem isso e um monte de gente vai entrar pelo cano legal. Não é isso que proponho.

Por que ficas insistindo no "não vai dar certo" só porque em outros lugares coisas apenas PARECIDAS existem ou existiram e deram certo ou não? Simplesmente não consigo apreender esse teu argumento de que já tem e sempre vai ter comida sobrando no mundo e é tudo questão de preço, quem tem $$$ come e quem não tem que se f* e vá revirar lata de lixo e tomar sopão do Edir Macedo.

A população mundial não é uma grandeza finita, a terra agricultável é. Prestaste atenção ao termo que usei, SELO VERDE? Pois o aumento de produção agrícola sem aumentar a fronteira cultivada se baseia em transgênicos, esteróides & porcarias afins. Quem produz carne e vegetais naturais - e a EMBRAPA tem estudos excelentes a respeito - vende tudo e a maior preço.

Mas tá, sei, nos EUA e Israel e Canadá e França e... :roll: :roll: :roll: :roll:


EDIT - E o MST não desapareceu nem está essa fraqueza toda, vejam o que acabaram de fazer:

http://g1.globo.com/pa/para/noticia/201 ... araba.html




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Re: FAZENDAS MODULARES

#11 Mensagem por Bourne » Sex Jun 20, 2014 6:06 pm

Não disse que o agrobusiness é irrelevante. É sim um outro setor relacionado fortemente ao industrial. O que tu estás comparando é taxa de crescimento. Beja a participação total no produto e o que envolve o agronegócio. Boa parte são industrias de beneficiamento de alimentos e insumos. E cresce no brasil por que tem uma vantagem competitiva brutal, que suprime os custos de transporte e outros entraves, e suporte estatal técnico, financeiro e rompimento de barreiras protecionistas e outros problemas.

Você está errado!!!!!!!!!! Na média a agricultura e agro business americano é pouco subsidiado por que eles são muito competitivos e o maior produto do mundo. O Canadá ainda mais, principalmente em cereais. O que existe é trabalho de suporte e lobies em setores específicos, tal como cá. Por exemplo, os usineiros brasileiros são mestres em arranjar bondades, enquanto nos eua produtores de milho, ambos para fazer etanol. A Europa é outra situação. O subsídio à produção de alimento é parte da política de bem-estar social. Por isso não abrem mão e, se abrem, países param pelos protestos.

O segundo argumento não é válido. Não vivemos na Inglaterra do século XVIII de mathus em que as terras produtivas sumiras, e restaram as menos que não tinham a mesma produtividade, frente à uma crescente urbanização. No mundo malthusiano fazia sentido. Porém, na europa continental e oriental, terras ricas e produtivas, não. Com o novo mundo deixou ser factível desde século XIX. Inclusive gerou a discussão britânica logo no pós-guerras napoleônicas de liberar ou não importação de grãos da Europa continental, acabou sendo liberado por reduzir o preço dos alimentos e beneficiar os trabalhadores industriais.

Hoje não. Por que não se expande com mais terra a produção, mas sim tecnologia e produtividade com mesma terra. É a influencia da industria na agricultura. Isso que diferencia um país pobre com grande população rural que vive em atividade de subsistência em relação à um país moderno, urbano e industrial. O brasil, argentina, leste europeu passaram para segundo grupo Há algumas décadas.

A solução verde é nicho. Não serve para produção em massa. Por que é cara e trabalhosa em relação à agricultura tradicional, comprometendo rendimento e limitando o mercado consumidor. É um agrado para os hipsters que a vida moderna criou. Nunca serão a massa da produção e demanda, se foram muda a regulamentação dos mercados e altera a estrutura de produção, tal como tarefa do estado em proteger a saúde da sociedade. Por exemplo, nas últimas décadas foram proibidos técnicas e agrotóxicos.

Não vai aumentar a fronteira por que existe desmatamento e destruição de ecossistemas. Ações que criam mais problemas e custos ambientais do que aumenta em cima de tecnologia, que não quer dizer que não presta. É uma ampla gama de opções que vão de maquinização à novas técnicas. Um exemplo que revolucionou a humanidade foi o arado que permitiu explodir a produtividade, renascendo a manufatura, comércio e relações internacionais na idade média. Além de fornecer à Europa alimento suficiente para sobrevir e reduzir a fome por falta de alimento.

Outra que tu acaba de afirma que o problema é distribuição de renda e não falta da produção de alimento. Países ricos como Brasil tem condições de fazer políticas sociais que não permitir que parcelas da população passem fome, tal como os eua tem desde idos dos anos 1930. Não tem a ver com restrições na produção.

Se o MST é tão forte, por que o PT os ignora. A política de reforma agrária e assentamento está morta. O próprio MST tem a gênese na expropriação de propriedades pelo estado na construção de barragens, concertação e modernização agrária nos anos 1970 e 1980s. Porém a grosso se adaptou a vida urbana e não volta mais.

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Não vai dar certo por que o país que vocês veem não existe mais há meio século. Os problemas não existem mais e foram substituídos por outros que demandam outras soluções. O interior do país e estrutura agrária foi consolidada com migração europeia da segunda metade do século XIX e até anos 1920, depois migrações internas e avanço para o leste durante a ditadura militar. A colonização do interior foi completada com surgimento de cidades médias que tem ótimo nível de vida. Boa parte do sul e são paulo tinha uma estrutura consolida e inadequada para vocês querem fazer em idos dos anos 1920, quando a segunda geração de imigrantes começou a se abrasileirar. Os que tinham vocação par aterra ficaram e se consolidaram. Os que fortaleceram as cidades e foram para atividades urbanas. Só por ter filhos e alta taxa de natalidade é esperado que o movimento ocorra. Por exemplo, granças ao café e imigração, tinha interior bem estruturado e moderno nos pré-1930. O que se tem são regiões isoladas como centro do Paraná, nas fronteiras com amazônia pelo centro-oeste e nordeste que ainda tem tensões, mas é outras história e dinâmica será muito diferente.

Por isso que citei a experiência da colega no programa da Venezuela. O governo chaves quis dar uma solução para uma população que não á queria ou se adequava. Agrava por um plano de implantar um modelo de ocupação de terra que não serve para a Venezuela. Era um problema criado na cabeça do chaves e cúpula de cúpula de governo, mas deu uma solução ainda mais maluca.




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Re: FAZENDAS MODULARES

#12 Mensagem por delmar » Sex Jun 20, 2014 7:17 pm

Primeiro vou responder ao companheiro Bourne. Tem sim pessoas indo para o interior, mas para CIDADES MÉDIAS do interior e não para viverem no campo. Como exemplo cito a minha cidade natal, Ijuí no interior do RS. Ela tem crescido bastante absorvendo a população de cidades menores e das zonas rurais ao redor. Agora as pequenas vilas e povoados que ficavam pelo interior sumiram. Quem viaja pela zona rural encontra apenas plantações, vez em quando tu passa por uma capelinha e um cemitério lembrando que, menos de 40 anos atras, ali havia um povoado. E onde estão os agricultores que fazem o cultivo destas terras, poderá alguém perguntar. Estão com a família morando na cidade e na propriedade rural tem apenas um galpão para guarda de ferramentas, máquinas e um alojamento singelo. Algumas ainda conservam as casas antigas. Usam um carro e vão até a lavoura trabalhar. A mulher fica com os filhos na cidade para eles frequentarem à escola.




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Re: FAZENDAS MODULARES

#13 Mensagem por delmar » Sex Jun 20, 2014 7:39 pm

Túlio escreveu:Esqueceste dos kibutzim de Israel, conterrâneo Delmar.
....
:arrow: ÁGUA - Sem isso - muita água - não se pode fazer o que proponho. Aqui no RS a seca não é algo comum, embora aconteça de vez em quando, mas numa FM seria simplesmente desastroso.
..

:arrow: PROBLEMAS JURÍDICOS - É difícil que uma propriedade tão grande pobre! Pois, bem executado, o projeto seria o embrião de uma poderosa classe média rural.

:arrow: PROBLEMAS POLÍTICOS - Além dos já elencados, pode acontecer de tudo.
.
Companheiro Túlio, pelo que sei e posso estar equivocado, os Kibutz eram (e ainda devem ser) fortemente subsidiados pelo governo de Israel e por organizações judaicas, especialmente americanas. O dinheiro vindo de judeus do mundo inteiro é que mantinha tais instituições. Num país pobre isto não seria possível.
Já com referência a água a burocracia é realmente assustadora. Construir um simples açude numa propriedade rural exige uma tal série de documentos que sai mais caro o projeto que a obra. O IBAMA entra junto nesta burocracia.
Na parte jurídica não colocaste ainda a nossa legislação trabalhista. Todo participante do empreendimento que resolvesse sair iria até a justiça do trabalho pedir hora extra, depósito do FGTS, adicional de insalubridade, férias, 13º salário, vale alimentação, vale transporte, etc..
Quanto aos problemas políticos, as obras para a copa atrasaram, e muitas não saíram, por brigas entre o governador (PT) e o prefeito (PDT). A briga vem desde o tempo em que ambos eram companheiros de partido.




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Re: FAZENDAS MODULARES

#14 Mensagem por Túlio » Sex Jun 20, 2014 8:39 pm

ALELUIA!!!

Finalmente alguém resolveu comentar os ARGUMENTOS, ao invés de ficar simplesmente torpedeando a idéia-chave que, aliás, ainda nem expus.

MY CONGRATZ, conterrâneo!!! :D :D :D :D




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Re: FAZENDAS MODULARES

#15 Mensagem por LeandroGCard » Sáb Jun 21, 2014 10:25 am

Acredito que a visão do Bourne esteja muito influenciada pela realidade que ele percebe no entorno de sua própria região, ali pelas áreas das principais cidades do Paraná e de Santa Catarina, mas esta não é a realidade que se vê em outras áreas do país. No Rio (onde nasci e cresci e onde vivem a minha família e a da minha esposa) e em São Paulo (onde moro e trabalho) a população que vive em condições muito abaixo do mínimo razoável em favelas é enorme. Em outras cidades que visitei como Belo Horizonte, Salvador e mesmo Brasília onde morei por cinco anos a situação não é muito melhor. Em todo o país esta população já era de mais de 11 milhões de pessoas em 2010, segundo pesquisa feita em 2013.

http://brasil.estadao.com.br/noticias/g ... ge,1093773

Considerando que esta é uma população com alta taxa de crescimento tanto por nascimento quanto por migração, a situação hoje deve ser ainda pior. E eu simplesmente não consigo imaginar a maioria dos membros das próximas gerações deste pessoal com nível de escolaridade baixo e sem experiência de viver de uma forma decente simplesmente arranjando empregos razoáveis nas indústrias avançadas que o país deveria estar criando (mas duvido muitíssimo que venha a criar) ou em um setor de serviços cada dia mais sofisticado e indo morar em um lugar melhor. Muito pelo contrário, o que visualizo é este pessoal e seus filhos cada dia mais marginalizados e engrossando as estatísticas de tráfico de drogas, assaltos e outros crimes com os quais os moradores da maioria dos grandes centros brasileiros já está acostumada. E os problemas agora já extrapolam para as cidades menores no entorno das capitais, pois elas também cresceram sem um planejamento que incluísse receber esta massa de desfavorecidos que tem poucas condições de se integrar à vida moderna.

E além destes milhões de habitantes urbanos existem ainda uma quantidade razoável de trabalhadores rurais sem terra no país, segundo o Incra de 4,8 milhões de famílias (o que dá pelo menos outros 10 ou 12 milhões de pessoas). O que somado ao grupo anterior dá uma população maior que a de países como Chile, Holanda, Equador ou mesmo Austrália. E ambas as populações estão entre as de maior crescimento no país. Dizer que isso não é um problema ou que já foi resolvido pela queda do desemprego em minha opinião é no mínimo uma leviandade.

http://noticias.terra.com.br/brasil/not ... terra.html

Observe-se no mesmo artigo que a capacidade produtiva total e de geração de empregos destas pequenas propriedades que de fato não são as que mais se adequam ao perfil do agro-negócio internacional é bem maior do que a das grandes propriedades que são a menina dos olhos dos grandes investidores. Isso significa que somando-se esta população desempregada ou sub-empregada com a enorme quantidade de terras disponíveis em um país imenso como o nosso existe um potencial excelente de alavancagem do crescimento e da melhoria de vida de milhões de pessoas. E isso inclui não apenas dos próprios beneficiados com algum programa de assentamento deste pessoal no interior, mas também dos habitantes urbanos que deixariam de sofrer a pressão destas populações encravadas em suas cidades com infra-estrutura já por demais pressionada.

A questão então não é se, e sim como fazer para que um programa destes desse certo. Concordo que a realidade não é mais como a da década de 1950, quando se acreditava que dando alguns alqueires de terra, meia dúzia de pás, picaretas ou serrotes e um saco de sementes de feijão e de milho já seria o suficiente para fixar as famílias no campo a centenas de km da cidade mais próxima, em áreas sem estradas, sem energia elétrica, sem saneamento, sem hospitais, sem nada. E também não acredito que contar exclusivamente com a produção de alimentação de subsistência seria o suficiente para manter comunidades interioranas que pudessem sobreviver por muito tempo. Por isso coloquei como primeira tarefa montar não as unidades produtivas em si, mas sim a infra-estrutura para permitir que as pessoas que fossem chegando depois se pudessem de fato construir uma vida melhor e se sentissem motivadas a permanecer no local e a melhorá-lo continuamente.

Mas esta é apenas uma ideia, e os desafios realmente seriam muitos e de muitos tipos diferentes. O que não acredito é que programas como os que o INCRA historicamente tem implementado ou como pede o MST tenham chances de dar certo no longo prazo. Acho que algumas (ou mais provavelmente muitas) ideias precisariam ser testadas e aprovadas antes de que um programa maciço de transferência de população para novos centros no campo pudesse ser implementado. Mas o que acredito é que um planejamento de longo prazo seria indispensável para que iniciativas assim dessem certo (por isso não acho ser muito viável contar com as cidades menores já existentes, que não foram pensadas para receber esta população). E a descrição do Túlio das Fazendas Modulares de Tapes me pareceu uma bela oportunidade para discutir um pouco mais as possíveis soluções que poderiam viabilizar este tipo de programa.


Leandro G. Card




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