Conflito no Mali

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Re: Conflito no Mali

#136 Mensagem por FoxTroop » Sáb Jan 26, 2013 7:05 pm

Meu caro, não quero ser, nem espero ser, entendido como ofensivo no meu comentário. A normal subserviência entende-se como o facto de não levantar a cabeça acima do parapeito estabelecido. E, no caldo que está a ser formado em toda a região que compreende o Norte de África até ao Índico passando pela Ásia Central, quando o mesmo entornar, o Brasil, assim como qualquer Nação da AS, não tem escolha. A não ser que queira desembarque de tropas americanas no seu território de novo.

Para isso muito contribuiu a atitude de um dos vossos ministros em uma certa cimeira. Se qualquer medida OTAN relativa ao Atlântico Sul tivesse de passar por Portugal, teriam uma certa "almofada". Assim, quem toca a "música" é que vai marcar o ritmo e os outros dançam e vão dançar, a bem ou a mal. Tal como no velho ditado luso.


PS: espero sinceramente estar errado na visão que tenho do que está a decorrer mas, infelizmente, não possuo nada que me indique o contrário. Esperemos.




Editado pela última vez por FoxTroop em Sáb Jan 26, 2013 7:07 pm, em um total de 1 vez.
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Re: Conflito no Mali

#137 Mensagem por Wingate » Sáb Jan 26, 2013 7:05 pm

Wingate escreveu:
Wingate escreveu: Foxtroop, para um melhor entendimento de seu comentário, poderia ser mais específico sobre a "normal subserviência" citada acima? ...fiquei curioso, desculpe, depois desse inusitado comentário de além-mar...

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Re: Conflito no Mali

#138 Mensagem por Clermont » Dom Jan 27, 2013 9:14 am

OH, NÃO! MAIS OUTRO OSAMA!.

Eric Margolis - 26.01.13.

PARIS - O sangrento ataque contra um gasoduto argelino e a invasão francesa do Mali resultam de problemas que estão fermentando há anos - simplesmente não estávamos prestando atenção.

O líder guerrilheiro jihadista, Mokhtar Belmokhtar, apresentado nas manchetes como o novo Grande Satã islâmico pela mídia francesa, vem criando problemas no Saara de há muito tempo, seqüestrando ocidentais, roubando caravanas, contrabandeando cigarros.

Belmokhtar era conhecido como um dos "homens de honra", um dos jihadistas financiados pelo Ocidente que foram combater os soviéticos e seus aliados comunistas no Afeganistão nos Anos 1980-90. Ele voltou para sua Argélia natal, com menos um olho, perdido em combate e, com seus companheiros "Afghani", tentou derrubar o regime militar da Argélia, que era apoiado pelo Ocidente, um grande fornecedor de gás e petróleo para a França.

Em 1991, a junta militar da Argélia, falida de idéias, permitiu uma eleição livre. Grande erro. Os islamistas argelinos ganharam o primeiro turno da eleição parlamentar. Os militares entraram em pânico. Apoiados pela França e os Estados Unidos, os militares argelinos esmagaram o movimento islâmico e prenderam seus líderes.

Como resultado, uma das mais sangrentas guerras civis de nossa era irrompeu, enquanto islamistas e outros insurgentes batalhavam contra os brutais militares e forças de inteligência argelinos, que chamavam a si próprios de "Os Erradicadores."

Durante uma década de selvageria, mais de 200 mil argelinos morreram. Aldeias inteiras foram massacradas. Ambos os lados cometeram atrocidades pavorosas. O governo de Argel utilizou forças especiais disfarçadas como rebeldes para encenar massacres em massa. Caminhonetes com guilhotinas eram utilizadas para cortar fora cabeças de adversários.

Após o levante ter sido esmagado, um grupo guerrilheiro islamista, particularmente violento, anteriormente conhecido como GIC, reestruturou-se como "Al-Qaida no Magrebe Islâmico" (AQMI). Isso provocou uma reação frenética no Ocidente. Mas a AQMI quase nada tem a ver com o grupo paquistanês-afegão de Osama bin Laden. Entretanto, o nome, "Al-Qaida", atraiu instantânea atenção da mídia - um objetivo primordial de grupos radicais.

Após os militares do Mali derrubarem seu débil governo, março último, o vasto norte desceu no caos. Nativos nômades tuaregues declararam a independência do estado do Azawad. Variados jihadistas, incluindo alguns dos homens de Belmokhtar, impuseram uma draconiana lei Sharia sobre o norte. Os sulistas do Mali pediram ajuda ao antigo mestre colonial, a França.

Dois meses antes, o presidente François Hollande havia declarado que a França não interviria mais na África. Desde a concessão da independência nominal, em 1960, aos estados que compreendiam a antiga África Ocidental Francesa, a França já interviu militarmente, cinqüenta vezes. Técnicos, banqueiros e agentes de inteligência controlam a maior parte da África Ocidental por detrás do palco. Há 60 mil franceses na Argélia e África Ocidental, vistas por Paris como esferas de influência.

O Mali é um grande fornecedor de urânio para a indústria nuclear da França, que fornece 80 porcento da energia da nação. Os interesses mineradores franceses cobrem a África Ocidental, que também é um mercado-chave para a exportação de bens e armamentos franceses.

Depois de os jihadistas declararem que nacionalizariam as minas do Mali, Hollande transformou-se de pomba em falcão. Forças francesas entraram em ação por detrás de uma barragem de propaganda da mídia sobre as brutalidades cometidas pelos islamistas - justamente quando as forças francesas no Afeganistão estavam sendo rechaçadas pelos combatentes talibans.

Os índices de popularidade de Hollande, que haviam caído para 32 porcento, devido aos terríveis problemas econômicos, aumentos de impostos e fechamento de fábricas, subiram para mais de 80 porcento. Aventuras militares e o patriótico acenar de bandeiras sempre são remédios garantidos para políticos com problemas domésticos. Belmokhtar foi declarado o Osama bin Laden do Saara. O Mali transformou-se numa missão humanitária louvada no Ocidente. Os Estados Unidos começaram, sorrateiramente, a entrar no conflito.

Embora uma tempestade num copo d'água, envolvendo, somente uns poucos milhares de soldados franceses, a confusão no Mali ameaça os instáveis regimes apoiados pelos franco-americanos na África Ocidental, rica em recursos. Mais particularmente, na Costa do Marfim, Chade e República Centro-Africana, onde aviões e 5 mil soldados franceses estão sediados. Um levante islâmico na Nigéria, rica em petróleo, está se alastrando rapidamente, uma grande preocupação para Washington, cujos recursos regionais de energia estão sob ameaça.

Entrar em pequenas guerras sempre é fácil. Sair delas já não é, como o Afeganistão tem demonstrado. Até mesmo os generais franceses, agora estão dizendo que suas tropas ficarão no Mali, que não tem nenhum governo real, por um longo tempo.

A euforia patriótica na França já começou a arrefecer. Os beligerantes sindicatos franceses estão de volta na trilha da guerra contra o fechamento de fábricas. Esforços para cortar o enorme déficit da França dificilmente serão auxiliados por uma pequena cruzada no Mali.




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Re: Conflito no Mali

#139 Mensagem por Marechal-do-ar » Dom Jan 27, 2013 9:24 am

Clermont escreveu:Depois de os jihadistas declararem que nacionalizariam as minas do Mali, Hollande transformou-se de pomba em falcão.
Hum... Isso explica porque só entraram no conflito depois de 9 meses de guerra civil...
Clermont escreveu:Os índices de popularidade de Hollande, que haviam caído para 32 porcento, devido aos terríveis problemas econômicos, aumentos de impostos e fechamento de fábricas, subiram para mais de 80 porcento.
Minha teoria também estava correta... Quer dizer, não sei bem se é um dos motivos ou mero efeito colateral, mas veio em uma hora muito conveniente.




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Re: Conflito no Mali

#140 Mensagem por cabeça de martelo » Ter Jan 29, 2013 2:50 pm

2º REP (uma das melhores unidades Pára-quedistas no mundo) a saltar sobre o Mali:





"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

Portugal está morto e enterrado!!!

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Re: Conflito no Mali

#141 Mensagem por augustoviana75 » Ter Jan 29, 2013 9:11 pm

FoxTroop escreveu:Meu caro, não quero ser, nem espero ser, entendido como ofensivo no meu comentário. A normal subserviência entende-se como o facto de não levantar a cabeça acima do parapeito estabelecido. E, no caldo que está a ser formado em toda a região que compreende o Norte de África até ao Índico passando pela Ásia Central, quando o mesmo entornar, o Brasil, assim como qualquer Nação da AS, não tem escolha. A não ser que queira desembarque de tropas americanas no seu território de novo.

Para isso muito contribuiu a atitude de um dos vossos ministros em uma certa cimeira. Se qualquer medida OTAN relativa ao Atlântico Sul tivesse de passar por Portugal, teriam uma certa "almofada". Assim, quem toca a "música" é que vai marcar o ritmo e os outros dançam e vão dançar, a bem ou a mal. Tal como no velho ditado luso.


PS: espero sinceramente estar errado na visão que tenho do que está a decorrer mas, infelizmente, não possuo nada que me indique o contrário. Esperemos.

Concordo. O amplo tabuleiro do xadrez está ficando cada vez mais tenso, sem espaço de manobra.
Abraços.




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Re: Conflito no Mali

#142 Mensagem por P44 » Sex Fev 01, 2013 1:58 pm

Mali: uma guerra pode esconder uma outra

Posted: 31 Jan 2013 06:28 AM PST
.







François Hollande com seis meses de antecedência, retractou a intervenção francesa no Mali como uma decisão de emergência em resposta aos acontecimentos dramáticos. Este esquema visa não apenas agarrar o ouro e urânio do Mali, mas também para abrir caminho à desestabilização da Argélia.


Diz-se que o apetite vem com o comer. Depois de ter recolonizado a Costa do Marfim e a Líbia, depois de ter tentado obter um porão na Síria, a França tem agora em mira o Mali, para atingir a Argélia pela retaguarda.


Durante o ataque à Líbia, os franceses e os britânicos fizeram amplo uso dos islâmicos para lutarem contra a estrutura do poder em Tripoli, uma vez que os separatistas de Cyrenaica
não tinham interesse em derrubar Muammar al-Gaddafi, assim que Benghazi
se tornasse independente.


Quando a Jamahiriya (Líbia) caiu, fui pessoalmente testemunhar a recepção dos líderes da AQMI (Al Qaeda do Mahgreb islâmico) pelos membros do Conselho Nacional de Transição no Hotel Corinthia, cuja segurança foi entregue a forças especiais britânicas que tinham vindo do Iraque para o efeito.





Ficou muito claro que o próximo alvo de colonialismo ocidental seria a Argélia, e que seria o AQMI a desempenhar o seu papel, mas na época eu não pude ver que o conflito poderia ser usado para justificar uma intervenção internacional. Paris imaginou um cenário em que a guerra entraria na Argélia através de Mali.


Pouco antes da captura de Tripoli pela NATO, os franceses conseguiram subornar os grupos tuaregues. Eles tiveram tempo de lhes fornecer recursos abundantes e armas, mas já era tarde demais para desempenharem um papel no campo. Quando a guerra acabou, eles voltaram para o deserto.


Os tuaregues são um povo nómada que vive no deserto do Sahara central e nas fronteiras do Sahel, vasta área partilhada entre a Líbia, a Argélia, Mali e Níger. Enquanto tiveram protecção dos dois primeiros estados, foram ignorados pelos dois últimos. Como resultado, desde 1960, eles têm sido um desafio à soberania do Mali e do Níger nas suas terras. Logicamente, esses grupos, armados pela França, decidiram usar as suas armas para impor as suas demandas ao Mali.


O MNLA (Movimento Nacional de Libertação do Azawad) tomou o controle sobre quase todo o norte do Mali, onde vivem. No entanto, um pequeno grupo de islamitas Tuareg, Ansar Dine, que está ligado à AQMI, aproveitou esta ocupação para impor a Lei sharia
em algumas áreas.


No dia 21 de Março de 2012, um estranho golpe de estado foi perpetrado no Mali. Um misterioso grupo chamado CNRDRE (Comité Nacional para a Recuperação da Democracia e da Restauração do Estado) derrubou o presidente Amadou Toumani Touré, e declarou a sua intenção de restaurar a autoridade do Mali, no norte do país. Isto resultou numa grande confusão, já que os golpistas eram incapazes de explicar como as suas acções iriam melhorar a situação.


O derrube do presidente foi ainda mais estranho, uma vez que a eleição presidencial seria realizada dentro de cinco semanas. O CNRDRE é composto de oficiais treinados nos Estados Unidos. Pararam o processo eleitoral e entregaram o poder a um dos seus candidatos, que passou a ser o francófilo Dioncounda Traore. Este truque de prestidigitação foi legalizado pela CEDEAO (Comunidade Económica dos Estados Africanos do Oeste), cujo presidente é Alassane Ouattara, colocado no poder na Costa do Marfim pelo exército francês um ano antes.


O golpe de Estado exacerbou divisões étnicas no país. Unidades de elite do exército do Mali (treinado nos Estados Unidos), cujo comandante é um tuaregue, juntou-se a rebelião, levando com eles as suas armas e os seus equipamentos.


No dia 10 de Janeiro, Ansar Dine - apoiado por outros grupos islâmicos – atacou a cidade de Konna. De seguida, sai do território Tuareg para espalhar a lei islâmica no sul de Mali. O Presidente da transição, Dioncounda Traore, declarou o estado de emergência e pediu à França ajuda. Paris interveio na hora para evitar a queda da capital, Bamako. Clarividente, o Elysée já tinha posicionado tropas Mali: a Primeira Infantaria de Pára-quedas (“colonos”), 13 regimentos de pára-quedistas Dragoon, helicópteros do COS (comando de operações especiais), três Mirage 2000D, dois Mirage F-1, três C135, um Hercules C130 e um Transall C160.


Na realidade, é altamente improvável que Ansar Dine representasse uma ameaça real, já que as verdadeiras forças de combate não são islamitas, mas os nacionalistas tuaregues, que não têm ambições no sul de Mali.
A fim de realizar a sua intervenção militar, a França virou-se para um certo número de países para pedir apoio, incluindo a Argélia. Arlgélia ficou encurralada – ou aceitava colaborar com o antigo poder colonial, ou corria o risco de um afluxo de islâmicos no seu território. Depois de alguma hesitação, concordou em abrir o espaço aéreo à aviação francesa.


Mas, então, um grupo islâmico não-identificado atacou um terminal de gás da British Petroleum no sul da Argélia, acusando Argel de cumplicidade com Paris no caso Mali. Uma centena de pessoas foram levadas como reféns, os quais não eram só argelinos e franceses. O objectivo deste ataque é claramente o de internacionalizar o conflito, transportando-o para a Argélia.


A técnica de intervenção francesa é uma cópia da implantada pela administração Bush: usar os grupos islâmicos para gerar conflitos, a seguir intervir e ocupar a área, sob o pretexto de restaurar a ordem. É por isso que a retórica de François Hollande pega na “guerra contra o terrorismo”, frase que tem sido abandonada por Washington. O habitual elenco de actores pode ser encontrado neste jogo, o Qatar comprou acções das grandes empresas francesas instaladas no Mali, e o emir do Ansar Dine tem laços estreitos com a Arábia Saudita.


O bombeiro incendiário também é um aprendiz de feiticeiro. A França decidiu reforçar as suas medidas antiterroristas, o «plano Vigipirate”. Paris não tem medo das acções dos militantes islâmicos do Mali em solo francês, mas do afluxo de jihadistas da Síria. Na verdade, ao longo dos últimos dois anos, o DCRI (Central Direcção de Inteligência Interior) favoreceu o recrutamento de jovens muçulmanos franceses para lutarem com o Exército de Libertação da Síria contra o Estado sírio. Desde que o SLA (Exército de Libertação da Síria) está em queda, estes djihadists estão actualmente a regressar à sua terra natal, onde poderão ser tentados, por solidariedade com Ansar Dine, a usar as técnicas terroristas que lhes foram ensinadas na Síria.




Tradução artigo Mali: One war can hide another
de Thierry Meyssan


Publicado no blogue:
http://artedeomissao.wordpress.com/2013 ... mment-1120




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Re: Conflito no Mali

#143 Mensagem por cabeça de martelo » Sáb Fev 09, 2013 8:26 am





"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

Portugal está morto e enterrado!!!

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Re: Conflito no Mali

#144 Mensagem por Lirolfuti » Sex Fev 15, 2013 1:21 pm

'Guerra no Mali evidencia questões do novo imperialismo', diz historiador

A intervenção francesa no Mali tem origem na disputa por riquezas minerais--urânio para as usinas nucleares francesas, por exemplo-- e na herança colonial da região. Fronteiras artificiais impostas pelas potências no século 19 fraturaram povos, gerando insatisfações.

A análise é do historiador Elikia M'Bokolo, 68, diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais em Paris, e professor da Universidade de Kinshasa (Congo). Para ele, há "um novo imperialismo", no qual as velhas potências europeias precisam lidar com o apetite de emergentes como a China.

Bokolo, congolês especializado em temas do pan-africanismo, diz que a crise no Mali pode se reproduzir com a mesma violência nos países vizinhos, como Niger, Mauritânia e Chade. Isso porque, a guerra atual também é consequência "da estupidez do Ocidente" ao derrubar Muammar Gaddafi.

Nesta entrevista, concedida por telefone de Paris, o historiador fala da oposição à guerra na França, onde ainda paira a síndrome do Vietnã. E alerta para assassinatos de tuaregues em vilas: "Não se pode transformar essa guerra numa guerra cultural e religiosa", afirma.

Folha - Como o sr. analisa a situação no Mali?
Elikia M'Bokolo - É fluida e incerta. A ação francesa é uma intervenção de uma antiga potência colonial. Tem uma imagem negativa para os africanos e malianos.

Quais são as causas do conflito?
Há várias razões. A primeira é que essa grande região --que vai da Mauritânia ao Chade até a Etiópia-- é muito instável, com uma população nômade. Esta teve um papel histórico muito importante no passado, fazendo as trocas entre a África negra e a África árabe, mediterrânea. Com as fronteiras coloniais, a população se fracionou em muitos Estados. É um primeiro ponto de descontentamento. Essa população sonha em refazer uma junção territorial. Assim, haveria liberdade de movimento, sem as limitações de fronteiras impostas pela colonização.

Quais são as outras razões?
Depois da colonização e, sobretudo, depois dos anos 1960, o novo poder africano reteve a lógica territorial colonial. Toda essa população, considerada periférica e marginal pelas potências colonizadoras, hoje em dia reivindica uma situação melhor do ponto de vista político e social. A terceira razão é o apetite das potências capitalistas desenvolvidas por essa região desértica. É sabido já há algum tempo que ela tem petróleo, gás natural, urânio. E também o sol. Antes da intervenção francesa, a Alemanha tinha começado a desenvolver uma ideia de gerar eletricidade a partir da energia solar e transportá-la para a Europa.

Qual a razão mais importante?
Os países ocidentais têm interesse em colocar ênfase sobre o lado étnico, religioso, de instabilidade. Nada falam sobre a economia, os recursos naturais. Esse é o lado importante. As grandes empresas francesas estão no Mali, no Niger. A maior parte da eletricidade produzida pelas centras nucleares francesas é feita com o urânio que vem da África. Todo mundo sabe que a região é um reservatório importante de minerais.

A França fala da ação de radicais, da Al Qaeda. É ficção?
Não é tudo ficção. É verdade que o Mali é um país muçulmano há dezenas de séculos. Mas lá o islã que sempre foi moderado. Há uma grande tolerância em relação àqueles que não praticam a religião. O consumo de álcool, por exemplo, é permitido. O islã não é uma razão importante [para o conflito], mesmo que exista um certo número de muçulmanos que têm um ponto de vista extremista, da Al Qaeda ou de outros grupos islâmicos. Não se pode transformar essa guerra numa guerra cultural e religiosa.

A França advoga que há uma ameaça.
A França tem uma posição ambígua em relação à África. Mesmo um presidente socialista como François Hollande adota esse discurso civilizatório, de que há risco, ameaça, violação de direitos humanos, despeito à constituição democrática. Tudo é discurso para a opinião pública. Na verdade as questões são mais complexas. O governo francês joga em duas linhas: a ideológica, quase moral, e a linha econômica e financeira em defesa de seus interesses.

A França tem o direito de intervir no Mali?
Não. Os países africanos começam agora a se apressar para organizar tropas.

É certo considerar que existe uma guerra imperialista em curso?
Sim. A África hoje é o continente que tem mais recursos naturais, alguns extremamente raros e os países europeus desenvolvidos querem essas riquezas.

E os chineses?
São recém-chegados. O grande medo do Ocidente é que coloquem as mãos sobre esses recursos. Para que a China não esteja lá, se multiplicam uma série de práticas. Uma delas são as intervenções chamadas de humanitárias. Também há o estímulo a guerras civis e a guerras separatistas, para que ocorram situações em que as empresas ocidentais possam utilizar esses recursos. A guerra econômica avança mascarada. Falamos todo o dia de guerras étnicas, humanitárias. Mas as questões são econômicas. É um novo imperialismo, no qual o velho imperialismo do mundo ocidental tem que lidar com o apetite dos países emergentes, sendo a China o principal exemplo.

Como é esse novo imperialismo em comparação com o do século 19?
No século 19 as potências coloniais não conheciam os recursos que estavam no subsolo. Hoje, conhecem. Sua estratégia é dizer que a África em geral pertence ao Ocidente. E que a China --e, depois de amanhã, a Índia, o Paquistão, Turquia, talvez o Brasil-- e esses outros países emergentes não têm nada a ver com a África. Isso, eventualmente, pode até desandar num conflito de caráter mundial entre a China e as velhas potências.

Isso seria possível?
Não creio que seja imediatamente possível, mas não estou convencido de que isso seja impossível. Todas essas potências que atuam no continente africano são superarmadas, têm arsenais importantes, bombas atômicas. Nós, africanos, não temos nada.

O que vai acontecer? A guerra será longa? Os EUA vão intervir?
É difícil a situação. A França conseguiu assegurar um número de pontos com cerca de 2.000 soldados. É preciso lembrar que a região é quase desértica. Apesar da experiência colonial da França nesse ambiente, os rebeldes conhecem melhor o lugar do que as tropas francesas. A opinião pública e parte da classe política francesa --à direita e a esquerda-- começaram a dizer que a guerra dura muito. Há o temor de um novo Vietnã. A síndrome do Vietnã está nas mentes. Há também os problemas propriamente franceses: a crise econômica, o desemprego, a inseguridade. Alguns dizem que o governo deveria cuidar desses problemas antes de qualquer coisa. Não estou certo de que os Estados Unidos irão intervir. A França é o único país que tem na região um número considerável de cidadãos. Não creio que os EUA e a União Europeia se envolvam numa guerra tão incerta. Não é normal que, depois de 50 anos depois da independência, as antigas potências coloniais façam ações pela ordem e pela lei na África Ocidental.

A pressão interna na França contra a guerra vai aumentar?
Sim. Porque o presidente socialista teve posições contra a Françafrique [ação neocolonial da França na África]. Se a guerra durar muito tempo, as pessoas vão começar a se interrogar sobre as suas razões. A esquerda radical, com Jean-Luc Mélenchon [candidato da Frente de Esquerda nas últimas eleições, ele obteve 11% dos votos], disse que essa intervenção se parece muito com a Françafrique. Não sei se pode dizer isso já. A ação no Mali pode isolar o governo atual em relação à esquerda. E também em relação aos ecologistas. Ao mesmo tempo, a direita e a extrema direita vão jogar para defender os interesses de certas empresas de urânio, de minerais etc. É uma situação muito difícil, e o governo francês vai querer fazer a operação militar o mais rapidamente possível.

O conflito está relacionado com a derrubada de Gaddafi?
A questão não é étnica, dos tuaregues. É verdade que, quando a França e os outros países decidiram eliminar Gaddafi e o assassinaram, não puderam conter todas as consequências dessa intervenção. O regime de Gaddafi representava um ponto de estabilidade na África do Norte, mas também era a passagem entre a África subsaariana e a mediterrânea. Derrubando Gaddafi e improvisando essa situação supostamente democrática --mas que não representa ninguém--, eles destruíram o Estado da Líbia. Destruíram o controle sobre as armas, a circulação de pessoas, os serviços de segurança etc. As armas reativamente sofisticadas, os veículos militares estão nas mãos de grupos armados, que sabem que ninguém controla essa região há muito tempo. A guerra do Mali é uma consequência do afundamento do regime de Gaddafi. É uma consequência da estupidez do Ocidente. Estão perto de tombar sobre os próprios pés. O que se passa no Mali hoje pode se reproduzir amanhã com a mesma violência no Niger, na Mauritânia, no Chade, e ninguém tem o poder de controlar isso.

Como reage a população do Mali?
A população é muçulmana e pratica um islamismo muito moderado há muito tempo. A presença importante dos tuaregues nesse conflito --e eles não estão sozinhos-- representa um risco extremamente grave. Há tuaregues que não tem nada a ver com isso, são livres, independentes. Isso pode levar até a um tipo de racismo. É particularmente sério o que já começou a ser visto em um certo número de vilas. Há mortes, assassinatos de tuaregues. Isso pode se enraizar na região e durar dez, 20, 30 anos, pois é uma região muito difícil de controlar. E a solução das armas não é a verdadeira solução. A solução é política, democrática, com uma nova forma de Estado, descentralizado, dando possibilidade para a população dividida pelas fronteiras coloniais se organizar e tornar possível uma integração. A crise atual no Mali mostra que os africanos precisam superar as divisões. São mais de 50 Estados. Não é possível. No Mali é necessário ouvir o que sindicatos, ONGs, intelectuais têm a dizer. Uma parte desses líderes se opõe à intervenção francesa e prefere uma solução africana. Não é normal que um estrangeiro entre na nossa casa, que ataque o nosso próprio irmão.

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Re: Conflito no Mali

#145 Mensagem por Sávio Ricardo » Sáb Fev 16, 2013 11:45 am

:shock:




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Re: Conflito no Mali

#146 Mensagem por pt » Sáb Fev 16, 2013 2:42 pm

A intervenção francesa no Mali tem origem na disputa por riquezas minerais--urânio para as usinas nucleares francesas, por exemplo-- e na herança colonial da região. Fronteiras artificiais impostas pelas potências no século 19 fraturaram povos, gerando insatisfações.

É claro ...
O que haveria de ser mais, que não uma conspiração dos malvados europeus colonialistas ?

E que tal lembrar como eram as coisas antes de os europeus se meterem na região ?
Porque razão a gigantesca universidade de Toumboctou praticamente desapareceu na baixa idade média ?
Porque razão os fundamentalistas islâmicos odeiam mais os islâmicos cultos e que defendem a cultura que os cristãos ?

Porque é que a guerra no Mali implicou a separação entre grupos étnicos ?
Em poucos lugares como o deserto, as divisões do tempo da corrida para África são tão pouco significativos.
Os conflitos que já existiam e as tensões que sempre existiram entre a África sahariana e a África sub-sahariana são antigos como a História ..

Ou já esquecemos quem eram os principais comerciantes de escravos?
É muito facil para as mentes «esclarecidas» acusar os portugueses de comerciantes de escravos, esquecendo que os portugueses quando chegaram ao golfo da Guiné não iam para comerciar escravos, e depararam-se com sociedades em que os escravos eram a base da economia.

Onde é que os comerciantes africanos de escravos iam buscar os escravos ?
Imaginem: Subiam o rio Niger, que por acaso chega a Toubuctou.

E porque é que ninguém faz contas quando se trata do suposto urânio do Mali ?
Já alguém perguntou a si próprio quanto urânio a França precisa para sustentar as suas centrais atómicas e quanto urânio existe no Mali ?

As reservas de urânio mundiais estão estimadas em 5.300.000 toneladas. As projeções mais otimistas para o urânio do Mali, atingem 5.200 toneladas, ou 0.098% do total das reservas.
Todo o urânio que pode ser extraido do Mali representa a produção mundial de 35 dias (trinta e cinco dias de produção).

A França consome 10.500 toneladas de urânio por ano. Todo o urânio que poderia ser extraido do Mali, podia sustentar a França por 181 dias.

Os países que têm mais urânio são a Austrália (31%), o Kazaquistão (12%), a Russia (9%), o Canadá (9%), o Niger (8%), África do Sul, Brasil e Namíbia (5% cada), China (3%), Ucrânia e Uzbequistão (2% cada) e a Jordânia (1%). Os restantes 3% estão espalhados pelo mundo.

Estes números são ignorados e substituidos por números inventados (ou por números nenhuns) e a partir de mentiras criam-se todas as histórias de imperialismos.

Eu pessoalmente estou facto de historiadores africanos, que tentam distorcer a História, como se as sociedades africanas não existissem antes da chegada dos europeus.




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augustoviana75
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Re: Conflito no Mali

#147 Mensagem por augustoviana75 » Sáb Fev 16, 2013 4:00 pm

Lirolfuti escreveu:'Guerra no Mali evidencia questões do novo imperialismo', diz historiador


E os chineses?
São recém-chegados. O grande medo do Ocidente é que coloquem as mãos sobre esses recursos. Para que a China não esteja lá, se multiplicam uma série de práticas. Uma delas são as intervenções chamadas de humanitárias. Também há o estímulo a guerras civis e a guerras separatistas, para que ocorram situações em que as empresas ocidentais possam utilizar esses recursos. A guerra econômica avança mascarada. Falamos todo o dia de guerras étnicas, humanitárias. Mas as questões são econômicas. É um novo imperialismo, no qual o velho imperialismo do mundo ocidental tem que lidar com o apetite dos países emergentes, sendo a China o principal exemplo.

Como é esse novo imperialismo em comparação com o do século 19?
No século 19 as potências coloniais não conheciam os recursos que estavam no subsolo. Hoje, conhecem. Sua estratégia é dizer que a África em geral pertence ao Ocidente. E que a China --e, depois de amanhã, a Índia, o Paquistão, Turquia, talvez o Brasil-- e esses outros países emergentes não têm nada a ver com a África. Isso, eventualmente, pode até desandar num conflito de caráter mundial entre a China e as velhas potências.

Isso seria possível?
Não creio que seja imediatamente possível, mas não estou convencido de que isso seja impossível. Todas essas potências que atuam no continente africano são superarmadas, têm arsenais importantes, bombas atômicas. Nós, africanos, não temos nada.


http://codinomeinformante.blogspot.com. ... es-do.html

Essa parte supracitada é preocupante. =/




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Re: Conflito no Mali

#148 Mensagem por pt » Sáb Fev 16, 2013 8:53 pm

Como é esse novo imperialismo em comparação com o do século 19?
No século 19 as potências coloniais não conheciam os recursos que estavam no subsolo. Hoje, conhecem. Sua estratégia é dizer que a África em geral pertence ao Ocidente. E que a China --e, depois de amanhã, a Índia, o Paquistão, Turquia, talvez o Brasil-- e esses outros países emergentes não têm nada a ver com a África. Isso, eventualmente, pode até desandar num conflito de caráter mundial entre a China e as velhas potências.
Trapalhada completa.

É engraçado ver escrito um disparate tão patético como «conflito entre a China e as velhas potências».

Não há potência mais antiga e mais velha que a China. A China é uma potencia imperial por natureza. A China é a UNICA potência imperial que existe presentemente. A figura do imperador foi substituida pelo comitê central. De resto está lá tudo o que esteve numa nação imperial milenar.

A China dominou o mundo durante séculos. O Império não quer parcerias, não quer colaboração nem joint-ventures com ninguém. O império quer clientes para os seus produtos industriais (cuja qualidade dentro de uma ou duas décadas será equivalente à japonesa) e quando os clientes não quiserem comprar, o império enviará navios e esquadras para convencer os clientes relutantes.

Já foi assim no passado. Nesta fase há apenas uma nova carta no baralho. Essa carta chama-se América. E com a América o império nunca cruzou argumentos.

A ideia de que a África pertence ao Ocidente, é outros disparate abstruso de quem nunca pos os pés em África. Os chineses mandam em grande parte da África. Nos países sub-saharianos, os chineses controlam grande parte do comércio. Em países como Angola controlam grande parte da construção civil. Nos países com governos ditatoriais, é o Império que manda e é o império que decide.
O Sudão separou-se, apenas porque a separação teve a benção imperial.




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Re: Conflito no Mali

#149 Mensagem por Lirolfuti » Ter Fev 19, 2013 2:34 pm

Rebeldes fogem de cidades do norte do Mali praticamente sem combaterem

Por um instante, a paisagem de beleza ofuscante, entre o rio e o deserto, parece ter se transformado em um mapa animado. Nesse mapa é representada uma demonstração de tática, como poderia ser ensinado em uma escola militar tão grande quanto o Mali, com flechas gigantes e contínuas para indicar as movimentações do exército da França, do Mali e de Níger que avançaram em segredo a partir de Gao, e pontilhados entrecortados de pontos de interrogação para representar o trajeto daqueles que eram seu alvo: os rebeldes islamitas. Ao longo das últimas semanas, estes se esconderam atrás de tamareiras silvestres que crescem à beira do rio. Onde eles estão agora? Escondidos em outro lugar, fugindo do avanço das tropas inimigas.

Estas não tardarão a retomar sua movimentação. Na saída norte de Bourem, pequena cidade de 30 mil habitantes entre o rio Níger e a grande estepe desértica que leva ao Saara, dezenas de veículos militares franceses fazem uma parada breve, no domingo (17). As picapes do exército chadiano também estão lá, assim como do outro lado da cidade 200 soldados nigerinos da Misma, a Missão Internacional de Apoio ao Mali. No total, quase mil homens participaram da ação, cujo objetivo era surpreender os rebeldes do Movimento pela Unidade e da Jihad na África Ocidental (Mujao) e seus aliados.

Grande contorno
A coluna de soldados franceses, malineses e nigerinos saiu de Gao e avançou na direção de Bourem. Dois dias de estrada, um grande contorno pelo norte, para chegar de surpresa pelo lado oposto do eixo onde os rebeldes poderiam imaginar que eles fossem surgir. A manobra era boa, encurralando os rebeldes entre seu fogo e o rio. Mas estes desapareceram antes que a coluna chegasse. Não houve um único disparo, fora a destruição de um comboio blindado de tropas no sábado por um ataque aéreo. Depois o exército malinês, como todos lembram com insistência, "foi o primeiro a entrar" em Bourem. O futuro dirá se ali ele permaneceu.

Para um exército convencional, a geografia do norte do Mali é inclemente. Superiores militares franceses falam em "distensão" das linhas logísticas. Um eufemismo. Alguns elementos da coluna percorreram 2.500 quilômetros desde que desembarcaram em Dacar, antes de entrar diretamente nas operações. Já os rebeldes islamitas que partiram das principais cidades do norte do país, praticamente sem combate, atualmente se encontram dispersos em vários "bolsões". Um deles se situa na região de Gao, em uma vasta área oval de uma centena de quilômetros ao noroeste da cidade.

Bourem era meio que sua cabeça de ponte. A cidade, local de comércio entre os tuaregues das zonas áridas do norte e as populações próximas da água, também é um ponto de cruzamento de várias rotas, sendo que uma delas segue na direção do Adrar des Ifoghas, maciço montanhoso que se espalha ao redor de Kidal e poderia servir de refúgio para boa parte dos rebeldes.

O objetivo da manobra conjunta do dia é impedir que se constitua um refúgio da AQMI (Al Qaeda do Magreb Islâmico) a uma distância operacional de Gao. "Eles [os rebeldes] vão de ponto de camuflagem em ponto de camuflagem", explica o coronel Bert, comandante da força entre-exércitos que realiza a operação. Outras cidades estão no caminho do retorno da coluna. "Houve a fase da tomada das cidades, agora é a fase de varredura", resume o general Barrera, que comanda as forças terrestres da operação "Serval".

Era preciso "tocar" os rebeldes da região. Foi dessa zona cinzenta que várias operações foram montadas na região de Gao: tiros de foguetes, dois atentados suicidas e uma operação de infiltração que terminou com ataques de helicóptero Tigre no centro da cidade contra a posição de cinco combatentes, um deles tendo explodido com seu colete-bomba.

Em breve a coluna retomará sua movimentação. Um grupo de crianças se aproximou de uma duna, gritando o nome do Mali, ao mesmo tempo em que brandiam bandeiras francesas e malinesas. No centro, uma pequena manifestação parecida aconteceu no mesmo momento. Há um pouco de júbilo, uma dose de curiosidade e muita cautela. O prefeito e figurões da cidade dizem estar aliviados de verem que a operação militar provocou a fuga dos carros dos rebeldes. Amadou Mahamine Touré, o prefeito, acredita ter detectado uma vontade de "reorganização" dos rebeldes nos arredores.

As pessoas ao seu redor explicam que os rebeldes "não fizeram mal à população", como se os ouvidos dos combatentes islamitas ainda estivessem pela cidade. Mas o alívio é verdadeiro. "Havia malineses, mas também estrangeiros. Há alguns dias eles vieram a Bourem e pararam em um açougue. Eles estavam com muita fome, comeram carne e foram embora sem pagar", observa Al-Mahamine Maiga, cidadão proeminente da cidade.

O coronel Dicko, que comanda as operações do exército malinês, calcula em "aproximadamente vinte" o número das picapes da Mujao e de seus aliados presentes nos arredores com a chegada da coluna. E nos outros vilarejos na região de Gao? Um mistério. Mas a operação deve no mínimo atrapalhar seus ataques. "Vamos salvar Gao", comemora o general Barrera.

http://codinomeinformante.blogspot.com. ... te-do.html




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Re: Conflito no Mali

#150 Mensagem por FOXTROT » Ter Fev 19, 2013 9:13 pm

1º Baixa francesa no mali!

http://noticias.terra.com.br/mundo/conf ... aRCRD.html


Saudações




"Só os mortos conhecem o fim da guerra" Platão.
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