Israel e os israelenses.

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Israel e os israelenses.

#1 Mensagem por Clermont » Sáb Fev 11, 2012 5:18 pm

ISRAEL PRECISA DE GRANDES MOVIMENTOS.

Por Uri Avnery - 23 de janeiro de 2012.

"Israel não tem política externa, apenas uma política doméstica," observou, certa feita, Henry Kissinger.

Isto tem sido, mais ou menos, verdade para todo país desde o advento da democracia. Ainda assim, em Israel isto parece ainda mais autêntico. (Ironicamente, quase poderia ser dito que os Estados Unidos não tem política externa, apenas uma política doméstica israelense.)

De modo a entender nossa política externa, temos de nos olhar no espelho? Quem somos? Como é nossa sociedade?

Numa sátira clássica, bem conhecida de todo veterano israelense, dois árabes estão de pé, à beira mar, olhando um bote cheio de pioneiros judeus russos, remando na direção deles. "Que sua casa seja destruída!" Eles amaldiçoam.

A seguir, duas figuras, desta vez, pioneiros judeus russos, de pé, à beira mar, no mesmo ponto, lançam maldições russas contra um bote cheio de imigrantes judeus iemenitas.

A seguir, são dois judeus iemenitas amaldiçoando refugiados judeus alemães fugindo do nazismo. Então, dois judeus alemães amaldiçoando recém-chegados judeus marroquinos. Quando a sátira foi criada, esta era a última cena, mas agora, poderíamos acrescentar dois judeus marroquinos amaldiçoando judeus imigrantes da União Soviética, então, dois judeus russos amaldiçoando os últimos a chegar: judeus etíopes.

Isso pode valer para todo país de imigrantes, dos Estados Unidos até a Austrália. Cada nova onda de imigrantes é saudada com escárnio, desprezo e até mesmo hostilidade aberta daqueles que chegaram antes. Quando eu era criança no início dos anos 1930, eu freqüentemente ouvia gente gritando com meus pais, "Voltem para Hitler!"

Ainda assim, o mito dominante foi este do "caldeirão de culturas". Todos os imigrantes seriam jogados no mesmo caldeirão e limpos de todos os seus traços "estrangeiros", emergindo como uma nação uniforme sem quaisquer traços de suas origens.

Este mito morreu algumas décadas atrás. Israel é agora uma espécie de federação de vários grandes blocos demográfico-culturais que dominam nossa vida política e social.

Quem são eles?

(1) Os velhos Ashkenazim (judeus de origem européia);

(2) Os judeus orientais (ou Sefarditas);

(3) os religiosos (parte Ashkenazim; parte orientais);

(4) os "russos", imigrantes de todos os territórios da antiga União Soviética; e

(5) os cidadãos árabes-palestinos, que não vieram de lugar nenhum.

Isto, naturalmente, é uma esquematização. Nenhum destes blocos é completamente homogêneo. Cada bloco tem vários sub-blocos, alguns blocos se sobrepõem, há algum intercasamento, mas no todo, o quadro é acurado. Sexo não desempenha nenhum papel nesta divisão.

O cenário político quase exatamente espelha estas divisões. O Partido Trabalhista era, em seu apogeu, o principal instrumento do poder Ashkenazi. Seus remanescentes, hoje com o Kadima e o Meretz, ainda são Ashkenazi. O Yisrael Beiteinu de Avigdor Lieberman consiste principalmente de russos. Há três ou quatro partidos religiosos. Então, há dois partidos exclusivamente árabes, e o Partido Comunista, que é principalmente árabe, também. O Likud representa o grosso dos orientais, embora quase todos os seus líderes sejam Ashkenazim.

O relacionamento entre os blocos é, com freqüência, tenso. Bem agora, o país inteiro esteve em rebuliço porque, em Kiryat Malakhi, uma vila meridional com habitantes principalmente orientais, donos de casas assinaram um compromisso de não venderem apartamentos para etíopes, enquanto o rabino de Safed, uma vila setentrional de judeus principalmente ortodoxos, proibiu seu rebanho de alugar apartamentos para árabes.

Mas, além da rixa entre judeus e árabes, o problema principal é o ressentimento dos orientais, dos russos e dos religiosos contra o que eles chamam "a elite Ashkenazi".

Já que foram os primeiros a chegarem, muito antes do estabelecimento do estado, a os Ashkenazim controlam a maioria dos centros do poder - social, político, econômico, cultural, etc. Geralmente, eles pertencem à parte mais influente da sociedade, enquanto os orientais, os ortodoxos, os russos e os árabes, geralmente pertencem aos estratos sócio-econômicos mais baixos.

Os orientais tem profundos ressentimentos contra os Ashkenazim. Eles acreditam - não sem justificação - que tem sido humilhados e discriminados desde seu primeiro dia no país, e ainda são, embora um bom número deles tenham alcançado elevadas posições econômicas e políticas. Outro dia, um alto diretor de uma das mais importantes instituições financeiras causou um escândalo quando acusou os "brancos" (isto é, os Ashkenazim) de dominarem todos os bancos, as cortes e a mídia. Ele foi prontamente demitido, o que provocou outro escândalo.

O Likud chegou ao poder em 1977, destronando os Trabalhistas. Com curtas interrupções, ele tem estado no poder desde então. Ainda assim, a maioria dos membros do Likud ainda sente que o domínio dos Ashkenazim em Israel, os deixa para trás. Agora, 34 anos depois, a onda sombria da legislação antidemocrática pressionada pelos deputados do Likud está sendo justificada pelo lema, "Temos de começar a mandar!"

O cenário lembra-me um local edificado, envolvido por uma cerca de madeira. O sagaz construtor deixou alguns buracos na cerca, assim, os curiosos transeuntes podem dar uma olhada. Na nossa sociedade, todos os outros blocos sentem-se como transeuntes olhando pelos buracos, cheios de inveja pela elite Ashkenazi lá dentro, que tem todas as boas coisas. Eles odeiam tudo que eles ligam a esta "elite": a Suprema Corte, a mídia, as organizações de direitos humanos e, especialmente, o campo da paz. Todos estes são chamados de "esquerdistas", uma palavra, curiosamente o bastante, identificada com "elite".

Como a "paz" ficou associada com os dominantes e dominadores Ashkenazim?

Esta é uma das grandes tragédias de nosso país.

Judeus tem vivido por muitos séculos no mundo muçulmano. Aí eles nunca experimentaram as coisas terríveis cometidas na Europa pelo antisemitismo cristão. A animosidade judaico-muçulmana começou, apenas, há um século atrás, com o advento do sionismo, e por razões óbvias.

Quando os judeus dos países muçulmanos começaram a chegar em massa em Israel, eles estavam entranhados na cultura árabe. Mas aqui eles foram recebidos por uma sociedade que considerava tudo que fosse árabe com total desprezo. Sua cultura árabe era "primitiva", enquanto a verdadeira cultura era européia. E mais ainda, eles foram identificados com os mortíferos muçulmanos. Portanto, exigia-se que os imigrantes despissem suas próprias culturas e tradições, seus sotaques, suas memórias, suas músicas. De modo a demonstrar como totalmente israelenses eles tinham tornado-se, também tinham de odiar árabes.

Naturalmente, é um fenômeno mundial que em países multinacionais, a mais despossuída classe da nação dominante também seja a mais radical adversária nacionalista das nações minoritárias. O pertencimento à nação superior é, com freqüência, a única fonte de orgulho que resta a eles. O resultado é, com freqüência, racismo e xenofobia virulentos.

Esta é uma das razões por quê os orientais foram atraídos pelo Likud, para quem a rejeição da paz e o ódio aos árabes são virtudes supremas. Também, tendo estado na oposição por eras, o Likud foi visto como representando estes que estavam "de fora" enfrentando aqueles que estavam "por dentro." Este ainda é o caso.

O caso dos "russos" é diferente. Eles cresceram numa sociedade que desprezava a democracia, admirava líderes fortes. Os "brancos", russos e ucranianos, desprezavam e odiavam os povos "escuros" do sul - armênios, georgianos, tártaros, uzbeques e coisa e tal. (Eu, uma vez, inventei uma fórmula: "Bolchevismo menos Marxismo igual à Fascismo.")

Quando os judeus russos vieram se juntar a nós, eles trouxeram junto um virulento nacionalismo, um completo desinteresse em democracia, e um ódio automático por árabes. Eles não podem compreender por quê permitimos a estes ficarem aqui, afinal de contas. Quando, nesta semana, uma senhora deputada (embora "senhora" possa ser um eufemismo) de São Petersburgo, despejou uma jarra de água na cabeça de um deputado árabe do Partido Trabalhista, ninguém ficou muito surpreso. (Alguém brincou: "Um árabe bom é um árabe molhado"). Para os seguidores de Lieberman, "paz" é um palavrão, como também é "democracia".

Para a gente religiosa de todos os matizes - dos ultra-ortodoxos aos colonos nacional-religiosos, não há problema algum, afinal de contas. Desde o berço, eles aprendem que os judeus são o Povo Escolhido; que o Todo-Poderoso, pessoalmente, prometeu-nos esta terra; que os goyim - incluindo os árabes - são apenas, seres humanos inferiores.

Pode ser dito, muito justamente, que eu estou generalizando. Estou mesmo, apenas para simplificar o assunto. Há, na verdade, um bocado de orientais, em especial entre a geração mais jovem, que são repelidos pelo ultranacionalismo do Likud, e mais ainda pelo neoliberalismo de Benjamin Netanyahu (que Shimon Peres uma vez chamou de "capitalismo suíno") que está em direta contradição com os interesses básicos de suas comunidades. Há também um bocado de gente religiosa amante da paz, liberais e decentes. (Yeshayahu Leibovitz vem logo à mente.) Alguns russos estão, gradualmente, saindo de seu auto-imposto ghetto. Mas estas são pequenas minorias em suas comunidades. O grosso dos três blocos - oriental, russo e religioso - está unido em sua oposição à paz e, no melhor dos casos, sua indiferença para a democracia.

Todos estes juntos constituem a coalizão de direita, antipaz que agora está governando Israel. O problema não é apenas uma questão de política. Ele é muito mais profundo - e muito mais assustador.

Algumas pessoas culpam-nos, o movimento democrático pela paz, por não reconhecer o problema cedo o bastante e não fazer o bastante para atrair os membros dos vários blocos para os ideais da paz e democracia. Também, é dito, nós não demonstramos que a justiça social é inseparavelmente conectada com democracia e paz.

Eu devo aceitar minha parcela da culpa por este fracasso, embora eu possa apontar que tentei fazer a conexão desde o início. Eu solicitei aos meus amigos que concentrássemos nossos esforços na comunidade oriental, lembrando-a das glórias da "idade de ouro" judaico-muçulmana na Espanha e o enorme impacto mútuo de judeus e muçulmanos, cientistas, poetas e pensadores religiosos, através das eras.

Uns poucos dias atrás, fui convidado a dar uma palestra para os estudantes da Universidade Ben-Gurion em Beersheba. Eu descrevi a situação mais ou menos ao longa das mesmas linhas. A primeira questão da grande audiência, que consistia de judeus (tanto orientais quanto Ashkenazim) e árabes (especialmente beduínos), foi: "Então, qual a esperança resta aqui? Confrontados com esta realidade, como as forças da paz podem vencer?"

Eu disse a eles que coloco minha fé na nova geração. O movimento de protesto social do último verão, que irrompeu muito subitamente agrupando centenas de milhares, mostrou que, sim, isso pode acontecer aqui. O movimento unificou Ashkenazim e orientais. Cidades de lona surgiram em Tel Aviv e Beersheba, por toda a parte.

Nosso primeiro trabalho é romper as barreiras entre os blocos, mudar a realidade, criar uma nova sociedade israelense. Nós precisamos de grandes movimentações.

Sim, é um trabalho assustador. Mas eu creio que pode ser feito.




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Re: Israel e os israelenses.

#2 Mensagem por Clermont » Sex Fev 24, 2012 9:15 am

TU NÃO MATARÁS (A TI MESMO.)

Por Uri Avnery - 20.02.12.
Após a fundação de Israel, Deus apareceu para David Ben-Gurion e disse-lhe: "Você criou um estado para meu Povo Escolhido em minha Terra Santa. Isso merece uma grande recompensa. Diga-me o que deseja, e Eu o concederei."

Ben-Gurion respondeu: "Deus Todo-Poderoso, eu desejo que toda pessoa em Israel seja sábia, honesta e membro do Partido Trabalhista."

"Filho querido, disse Deus. "Isto é demais até mesmo para o Todo-Poderoso. Mas Eu decreto que todo israelense será dois destes três."

Desde então, se um israelense sábio é membro do Partido Trabalhista, ele não é honesto. Se um israelense honesto é membro do Partido Trabalhista, ele não é sábio. Se um israelense é sábio e honesto, ele não é membro do Partido Trabalhista.


Esta piada era popular nos Anos 1950. Depois de 1967, outra fórmula muito menos engraçada tomou o seu lugar.

Ela diz assim: Muitos israelenses pediram a Deus que seu estado fosse judaico e democrático, e que incluísse o território inteiro entre o Mar Mediterrâneo e o rio Jordão. Isso era demais até para o Todo-Poderoso. Então, Ele pediu que escolhessem entre um estado que fosse judaico e democrático, mas somente numa parte do território; ou um estado em todo o território que fosse judaico mas não fosse democrático; ou um estado em todo o território, que fosse democrático, mas não fosse judaico. Ao qual eu acrescentaria uma quarta opção: um estado judaico e democrático em todo o território, mas só depois de expulsar todos os árabes - cerca de 5,5 milhões, e crescendo rápido.

Esta é a escolha confrontando-nos hoje, como fez quase 45 anos atrás. Ela apenas tornou-se mais agudamente definida.

Por qualquer futuro previsível, a quarta alternativa pode ser excluída. As circunstâncias que levaram, em 1948, a expulsão de mais da metade do povo palestino do território que tornou-se Israel foram únicas, sendo improvável que reapareçam nas próximas décadas. Portanto, nós precisamos lidar com a atual realidade demográfica.

O atual governo está determinado a impedir qualquer paz que imponha a cessão de qualquer parte dos territórios ocupados (22 % da Palestina pré-1948). Não há ninguém por aí que o obrigue a fazer isto.

O que resta?

Um estado que ou é não-democrático ou não-judaico.

Como as coisas estão, a primeira possibilidade é certa de ser concretizada, ou, antes, de realizar-se por si mesma. Isto não necessita de nenhuma decisão consciente, já que a situação automática já existe de fato.

Isto significa, para usar o jargão popular, um estado de apartheid: um estado no qual todo instrumento de poder estará nas mãos da maioria judaico-israelense (cerca de 6,5 milhão de pessoas), com direitos limitados para os 1,5 milhão de palestinos com cidadania israelense. Os palestinos nas ocupadas Margem Ocidental, Jerusalém Oriental e Faixa de Gaza, cerca de 4 milhões, não terão direitos quaisquer que sejam - nacionais, humanos ou civis.

O presente estado de ocupação "temporária" pode durar para sempre e é, portanto, ideal para este propósito. Entretanto, um futuro governo israelense, um ainda mais nacionalista, poderá mudar a situação formal ao anexar estes territórios à Israel. Isto faria, na prática, nenhuma diferença.

Como vêem muitos israelenses, esta situação pode perdurar para sempre. O lema oficial é: "Nós não temos nenhum parceiro para a paz."

Mas, pode realmente perdurar? A população palestina em todo o país está crescendo rapidamente; em breve ela constituirá a maioria. Os idealistas que abraçam esta "Solução de Um Estado" acreditam que o estado de apartheid lentamente se tornará um "estado de todos seus cidadãos."

Se, depois de décadas de opressão, guerra civil, atrocidades e outras pragas, isto realmente passar a existir, ele rapidamente se transformaria num estado palestino, cum uma minoria judia, como os brancos na atual África do Sul. Isto seria uma negação de todo o empreendimento sionista, cujo própósito em seu núcleo era ter um lugar onde os judeus fossem a maioria. A maioria dos judeus israelenses provavelmente emigrariam.

Para um israelense, isto significaria um suicídio nacional. Ainda assim, este é o resultado inevitável se o estado continuar em seu atual curso.

Se uma pessoa quer se matar, como é de seu direito, ela tem muitas maneiras de o fazer: veneno, tiro, enforcamento, pulando de um telhado, etc. Como um estado, Israel também tem várias opções.

Além da bomba de tempo externa (a "Solução Um Estado"), Israel também tem uma bomba de tempo interna, que pode ser ainda mais perigosa. Semelhante à primeira opção, a segunda também já está bem avançada. Se a primeira opção depende, ao menos parcialmente sobre fatores externos, a segunda é totamente de fabricação própria.

Quando Israel passou a existir, os judeus ortodoxos eram uma pequena minoria. Já que Ben-Gurion precisava deles em sua coalizão, deu-lhes alguns privilégios que pareciam baratos para ele. Os ortodoxos conseguiram seu próprio sistema educacional, financiado pelo estado, e foram isentos do serviço militar.

Cerca de sessenta anos depois, estes privilégios cresceram para proporções gigantescas. Para compensar as vidas perdidas no Holocausto, e para aumentar a população judia, o governo israelense encorajou o crescimento natural através de generosos subsídios à infância. Já que os religiosos de todos os matizes tem reproduzido muito mais do que quaisquer outros israelenses (exceto os muçulmanos árabes), sua parte na população tem crescido a passos largos.

Famílias ortodoxas, geralmente tem 8 a 10 filhos. Todos estes vão para escolas religiosas, onde estudam, exclusivamente, textos religiosos e não adquirem quaisquer habilidades úteis para o trabalho numa sociedade moderna. Eles não precisam, já que não trabalham de qualquer modo, devotando suas vidas inteiras ao estudo do Talmude. Eles não precisam interromper seus estudos de textos mortos, porque não servem ao exército.

Se isto era um fenômeno marginal nos primeiros dias do estado, agora está rapidamente levando a uma emergência nacional. Desde o começo, quase todas as coalizões governistas tem contado com os partidos religiosos porque nenhum partido jamais ganhou a maioria absoluta no Knesset. Quase todos os partidos governantes tiveram de subornar seus parceiros religiosos com ainda maiores subsídios para crianças e adultos, assim encorajando o crescimento de uma população que nem serve ao exército e nem faz qualquer trabalho.

A ausência dos ortodoxos da força de trabalho tem vários efeitos severos sobre a economia, atestados por instituições financeiras mundiais. A ausência deles do exército - tanto quanto a ausência dos cidadãos árabes, que não são recrutados por razões óbvias - significa que, em breve, quase metade da população masculina não irá servir. Isso obriga todos os outros a servir três anos integrais e então cumprir serviço de reserva por muitos mais anos.

Também, logo em breve, metade dos estudantes de primeiro-grau, em Israel, serão filhos de religiosos, destinados a uma vida sem trabalho, sem pagar impostos ou servir ao exército - tudo isto pago pelos impostos dos números em diminuição de não-ortodoxos.

Recentemente, após o aprofundamento da agitação entre religiosos e não-religiosos em Bet Shemesh, 30 quilômetros de Jerusalém, os secularistas exigiram que a vila fosse dividida em duas, uma das metades para os ortodoxos e a outra para os seculares. O ministro do interior, ele próprio um líder de um partido ortodoxo, rejeitou isto de pronto. Como explicou, com franqueza, já que os ortodoxos não trabalham e não podem pagar impostos municipais, eles não podem sustentar uma vila por sua própria conta. Eles precisam que os seculares trabalhem para pagar.

Esta situação grotesca existe através de todo o estado. Alguém pode calcular quando o edifício inteiro desmoronará. As instituições financeiras internacionais tanto como especialistas israelenses prevêem o desastre. Ainda assim, nosso sistema político não torna possível qualquer mudança. O controle dos partidos religiosos é tão forte como sempre.

Outro método para o suicídio.

Um terceiro método é menos dramático. Israel rapidamente está tornando-se um estado no qual pessoas normais, simplesmente podem não querer morar.

Em sua obra monumental sobre as cruzadas, o finado historiador britânico, Steven Runciman, sustentava que o estado cruzado não entrou em colapso devido à sua derrota militar mas porque um número demasiado de seus habitantes apenas empacotou as coisas e voltou para a Europa. Embora muitos deles pertencessem à quarta e até mesmo oitava geração de cruzados, o estado cruzado perdeu sua atração para eles. A situação de guerra perpétua e estagnação interna os repelia. O estado entrou em colapso quando muitos mais foram embora do que aqueles que chegavam.

Os cruzados possuíam um sentimento muito mais forte de pertencimento à cristandade do que ao local Reino de Jerusalém. Hoje, muitos israelenses sentem-se, primeiro de tudo, judeus, pertencendo a um povo mundial, e apenas em segundo lugar, israelenses.

Isto torna a emigração mais fácil.

Um estado sem democracia, sem igualdade, condenado por si mesmo à guerra sem fim, dominado por fanáticos religiosos, com a brecha entre os abjetamente pobres e um punhado de imensamente ricos, crescendo de ano para ano - um tal estado parecerá, menos e menos, atrativo para jovens brilhantes, que podem facilmente encontrar uma vida melhor alhures enquanto mantém suas identidades judaicas.

Isto, também, é um tipo de suicídio nacional.

Eu não sou, por natureza, um profeta do destino final. Muito pelo contrário.

Nós podemos, facilmente, reverter todos estes perigos. Mas, primeiro do que tudo, precisamos reconhecê-los e ver para onde eles estão nos levando.

Eu acredito que o povo de Israel - a nação israelense - tem a vontade de sobreviver. Mas de forma a sobreviver, ele tem de despertar de seu apático estupor e mudar o curso - voltando-se para a paz baseada numa solução de dois estados, separando estado de religião e construindo uma nova ordem social.

Na religião judaica, o suicído é um pecado. Seria irônico se os futuros historiadores concluíssem que o "estado judaico" suicidou-se.




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Re: Israel e os israelenses.

#3 Mensagem por Hermes » Seg Fev 27, 2012 11:45 pm

Olá Clermont, você teria as referências desses artigos? Adoraria usá-los em um trabalho da faculdade.




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Re: Israel e os israelenses.

#4 Mensagem por Hermes » Seg Fev 27, 2012 11:47 pm

Os sefarditas em Israel: o sionismo do ponto de vista das vítimas judaicas.

“O discurso crítico alternativo sobre Israel e o sionismo tem se voltado, até hoje, para o conflito entre árabes e judeus, e considerado Israel um Estado constituído, aliado ao Ocidente contra o Oriente, e cuja fundação em si teve como premissa a rejeição do Oriente e dos direitos legítimos do povo palestino. Eu gostaria de estender os termos do debate para além das dicotomias mais iniciais (Oriente contra Ocidente, árabes contra judeus, palestinos contra israelenses) e incorporar uma questão suprimida pelas formulações anteriores, qual seja, a presença de uma entidade intermediária: os judeus árabes e orientais, os sefarditas, oriundos em grande parte de países árabes e muçulmanos. Uma análise mais completa, segundo o meu argumento, deve incluir as conseqüências negativas do sionismo não apenas para o povo palestino, mas também para os judeus sefarditas, que, atualmente, constituem a maioria da população judaica em Israel. O sionismo não apenas assume a posição de porta-voz da Palestina e dos palestinos, "bloqueando", assim, toda possibilidade de auto-representação palestina, como também pressupõe falar em nome dos judeus orientais. Logo, a rejeição sionista do Oriente palestino e árabe-muçulmano tem por ilação a rejeição dos mizrahim (os "orientais"), os quais, assim como os palestinos, embora por meio de mecanismos mais sutis e de brutalidade menos óbvia, também tiveram o direito de auto-representação extirpado. Em Israel, e no cenário mundial, a voz hegemônica é aquela dos judeus ocidentais, os asquenazes, ao passo que a dos sefarditas tem sido em grande escala abafada ou silenciada.
O sionismo alega ser um movimento de libertação de todos os judeus, e os ideólogos sionistas não pouparam esforços para tornar os termos "judeu" e "sionista" quase sinônimos. Contudo, o sionismo foi na verdade um movimento de libertação (como sabemos, problemático) dos judeus europeus e, de forma mais específica, de uma pequena parcela estabelecida em Israel. Embora o sionismo alegue oferecer uma pátria a todos os judeus, essa pátria não está aberta a todos com a mesma largueza. Os judeus sefarditas foram levados pela primeira vez a Israel por motivos sionista-europeus específicos, e, desde que chegaram lá, foram sistematicamente discriminados por um sionismo que destinava desigualmente esforços e recursos materiais, sempre favorecendo os judeus europeus e preterindo os orientais. Neste ensaio, gostaria de delinear a situação de opressão estrutural sofrida pelos judeus sefarditas em Israel, remontar brevemente às origens históricas dessa opressão e sugerir uma análise sintomática dos discursos (historiográfico, sociológico, político e jornalístico) que sublimam, mascaram e perpetuam essa opressão.
Superposta à problemática entre Oriente e Ocidente está associada uma outra questão, diferente em vários aspectos, que é a da relação entre o "Primeiro" e o "Terceiro" Mundos. Apesar de não ser um país terceiro-mundista, qualquer que seja o critério empregado, simples ou convencional, Israel tem afinidades e analogias estruturais com o Terceiro Mundo, semelhanças que muitas vezes passam despercebidas até mesmo, e talvez sobretudo, em Israel. Assim, em que sentido Israel, malgrado as visões de seus porta-vozes oficiais, pode ser considerado portador de atributos comuns ao Terceiro Mundo? Em primeiro lugar, em termos puramente demográficos, a maioria da população israelense define-se como terceiro-mundista ou, pelo menos, oriunda do Terceiro Mundo. Os palestinos perfazem cerca de 20% da população, ao passo que os sefarditas, cuja maioria provém, em um passado muito recente, de países como Marrocos, Argélia, Egito, Iraque, Irã e Índia, comumente classificados como de Terceiro Mundo, constituem mais de 50% da população, ou seja, 70% da população são do Terceiro Mundo ou dele provenientes (cifra que chega a quase 90% se Cisjordânia e Gaza forem incluídos). A hegemonia européia no país, nesse sentido, é fruto de uma minoria numérica distinta, interessada em minimizar os traços distintivos do Oriente e do Terceiro Mundo de Israel.
Em Israel, os judeus europeus formam uma elite de Primeiro Mundo que domina não somente os palestinos, mas também os judeus orientais. Os sefarditas, porque são um povo judaico de Terceiro Mundo, formam uma nação semicolonizada dentro de outra nação.
A minha análise é, de forma geral, tributária do discurso anticolonialista (Frantz Fanon, Aimé Césaire) e, de forma específica, da contribuição indispensável de Edward Said, da sua crítica genealógica do orientalismo como formação discursiva pela qual a cultura européia pôde administrar (e até mesmo produzir) o Oriente durante o período pós-Iluminismo2.
A postura orientalista pressupõe o Oriente como uma constelação de atributos, conferindo valores generalizados a diferenças reais ou imaginárias que na maioria das vezes beneficiam o Ocidente em detrimento do Oriente, para justificar as prerrogativas e agressões daquele sobre este. O orientalismo tende a manter o que Said chama de "superioridade posicional flexível", que coloca o ocidental em uma gama completa de relações possíveis com o oriental, nas quais o ocidental, todavia, nunca perde a sua posição de supremacia. Este ensaio, portanto, aborda o processo pelo qual uma das extremidades da dicotomia Ocidente-Oriente é produzida e reproduzida como racional, desenvolvida, superior e humana, enquanto a outra é aberrante, subdesenvolvida e inferior, porém, neste caso, também em que medida isso afeta os judeus orientais.

A NARRATIVA-MESTRE SIONISTA
Considerar os sefarditas uma população de Terceiro Mundo oprimida contrapõe-se frontalmente ao núcleo do discurso dominante em Israel e repercutido pela mídia ocidental fora do país. Segundo tal discurso, o sionismo europeu "salvou" os judeus sefarditas do jugo implacável dos seus "captores" árabes. Eles teriam sido retirados de "condições primitivas" de pobreza e superstição, e conduzidos gentilmente para uma sociedade ocidental moderna, caracterizada pela tolerância, democracia e "valores humanos", com os quais tinham apenas uma vaga familiaridade involuntária, pois originavam-se de "ambientes levantinos". Uma vez em Israel, claro, os sefarditas tiveram de defrontar-se com o problema da "lacuna", não apenas a que existia entre o seu padrão de vida e o dos judeus europeus, como também a evidenciada pela sua "integração defasada" ao liberalismo e à prosperidade israelenses, deficientes que eram pela formação recebida nas terras de origem: oriental, inculta, despótica, sexista e pré-moderna em termos gerais, sem contar a propensão à constituição de famílias numerosas. Felizmente, contudo, o sistema político, as instituições para o bem-estar e o sistema educacional envidaram todos os esforços possíveis para "reduzir esta lacuna", iniciando os judeus orientais nos caminhos de uma sociedade moderna e civilizada. Também felizmente, os intercasamentos estão acontecendo em ritmo acelerado e os sefarditas passaram a ser percebidos de forma positiva graças aos seus "valores culturais tradicionais", música folclórica, rica cozinha e hospitalidade acolhedora. No entanto, um problema grave persiste. Por causa da educação inadequada e da "falta de experiência com a democracia", os judeus da Ásia e da África tendem a ser muito conservadores, reacionários até, além de religiosos fanáticos, em contraste com os judeus europeus, que são liberais, seculares e cultos. Anti-socialistas, os sefarditas formam a base do apoio a partidos de direita. Além disso, em razão da "experiência cruel em terras árabes", eles tendem a ter "ódio aos árabes" e, nesse sentido, são um "obstáculo à paz", pois impossibilitam os esforços do "campo de paz" para o estabelecimento de um "acordo razoável" com os árabes.
Em breve discutirei a falsidade fundamental desse discurso, mas antes gostaria de comentar a sua ampla difusão, pois trata-se de um discurso partilhado pela direita e pela "esquerda", e que tem versões iniciais e tardias, religiosas e seculares. A elite israelense preparou uma ideologia para culpar os sefarditas (e os seus países de origem do Terceiro Mundo) que é difundida por políticos, cientistas sociais, educadores, escritores e a grande mídia. Essa ideologia rege uma série de discursos preconceituosos articulados, de claras conotações colonialistas. Não é surpresa, portanto, que nesse contexto a elite compare os sefarditas a outras populações colonizadas "inferiores". Referindo-se aos sefarditas em um artigo de 1949, durante a imigração em massa de países árabes e muçulmanos, o jornalista Arye Gelblum escreveu:
Esta é uma imigração racial sem precedentes no país [...] Estamos lidando com gente cujo primitivismo chegou ao ápice, cujo grau de conhecimento é praticamente a ignorância absoluta, e, pior, com pouco talento para compreender qualquer coisa que seja intelectual. Em termos gerais, eles são ligeiramente superiores à média dos árabes, negros e berberes das mesmas regiões. De qualquer forma, são inferiores até mesmo ao que percebemos dos primeiros árabes da Eretz Israel [...] A esses judeus também faltam raízes no judaísmo, uma vez que estão totalmente sujeitados aos arbítrios de instintos selvagens e primitivos [...] Assim como os africanos, jogam cartas a dinheiro, bebem e prostituem-se. A maioria deles tem graves doenças oculares, sexuais e de pele, sem mencionar os roubos e furtos. Indolência crônica e aversão ao trabalho, nada se salva neste elemento associal [...] A "Aliyat HaNaar" [a organização oficial responsável por imigrantes jovens] recusa-se a receber crianças marroquinas e os kibutzim não querem nem ouvir falar em recebê-los3.
O artigo é concluído com a citação do conselho de amigo de um diplomata e sociólogo francês, que evidencia o paralelo colonial presente nas atitudes asquenazes direcionadas aos sefarditas. O diplomata, baseando-se na experiência francesa com as colônias africanas, adverte:
Vocês estão cometendo, em Israel, o mesmo erro fatal cometido por nós, franceses. [...] Estão abrindo demais as portas para a África [...] a imigração de um certo tipo de material humano irá degradá-los e transformá-los em um Estado levantino, e então o seu destino estará selado. Vocês se deteriorarão e se perderão4.
Para que não se pense que esse discurso seja produto do delírio de um jornalista isolado e retrógrado, basta citar o primeiro-ministro David Ben Gurion, que descreveu os imigrantes sefarditas como privados "dos conhecimentos mais elementares" e "sem traço algum de educação judaica ou humana"5. Ben Gurion várias vezes expressou desprezo pela cultura dos judeus orientais: "Não queremos que os israelenses tornem-se árabes. Temos o dever de lutar contra o espírito do Levante, que corrompe indivíduos e sociedades, e preservar os valores judaicos autênticos, da forma como foram cristalizados na Diáspora"6. Durante os anos subseqüentes, os líderes israelenses constantemente reforçaram e legitimaram esses preconceitos, que englobavam árabes e judeus orientais.Para Abba Eban, o "objetivo deve ser infundir [nos sefarditas] o espírito ocidental, e não permitir que eles nos arrastem para um orientalismo não natural"7. Ou, mais uma vez: "Um dos grandes temores que nos afligem [...] é o perigo de a predominância dos imigrantes de origem oriental forçar Israel a igualar o seu nível cultural ao do mundo vizinho"8. Golda Meir projetou os sefarditas, aos moldes colonialistas típicos, como oriundos de um outro tempo, menos desenvolvido, que, para ela, equivalia ao século XVI (e, para outros, a uma "Idade Média" vagamente determinada): "Seremos capazes", perguntou ela, "de elevar esses imigrantes até um nível adequado de civilização?"9. Ben Gurion, que se referiu aos judeus marroquinos como "selvagens" durante uma sessão do Knesset10, e que comparou os sefarditas, de forma pejorativa (e reveladora), aos negros levados para os Estados Unidos como escravos, às vezes chega até a questionar a capacidade espiritual e mesmo a judaicidade dos sefarditas11. Em um artigo intitulado "A glória de Israel", publicado no Anuário do Governo, o primeiro-ministro lamentou que "a presença divina havia desaparecido dos grupos étnicos de judeus orientais", ao passo que louvava os judeus europeus por terem "liderado o nosso povo em termos qualitativos e quantitativos"12. Os escritos e discursos sionistas freqüentemente expressam a idéia (questionável do ponto de vista historiográfico) de que os judeus do Oriente, antes do seu "retorno" a Israel, estavam de algum modo "fora da" história, portanto, ecoando de forma irônica avaliações do século XIX, como as de Hegel, de que os judeus, como os negros, viviam à margem da civilização ocidental. Os sionistas europeus, nesse sentido, assemelham-se ao colonizador de Fanon, que sempre "faz a história", e cuja vida é "uma época", "uma odisséia" na qual os nativos compõem um "pano de fundo quase inorgânico".
Mais uma vez, no início dos anos 1950, alguns dos mais celebrados intelectuais israelenses, da Universidade Hebraica de Jerusalém, escreveram ensaios que abordavam o "problema étnico"."Temos de reconhecer", escreveu Karl Frankenstein, "a mentalidade primitiva de muitos desses imigrantes de países retrógrados", sugerindo que essa mentalidade poderia ser comparada, de forma produtiva, "à expressão primitiva de crianças, e de indivíduos com atraso ou distúrbios mentais." Outro acadêmico, Yosef Gross, considerava que os imigrantes sofriam de "regressão mental" e "falta de desenvolvimento do ego". O abrangente simpósio sobre o "problema sefardita" foi delineado na forma de um debate acerca da "essência do primitivismo". Apenas uma intensa instilação de valores culturais europeus, concluíram os acadêmicos, poderia resgatar os judeus árabes de seu "estado de atraso"13. E, em 1964, Kalman Katznelson publicou seu livro racista The Ashkenazi revolution, no qual protesta contra os perigos representados pela admissão em Israel de um grande número de judeus orientais, utiliza como argumento a inferioridade genética, fundamental e irreversível dos sefarditas, expressa o receio da contaminação da raça asquenaze por casamentos mistos e exorta os asquenazes a protegerem os próprios interesses de uma maioria sefardita em expansão.
Essas atitudes não desapareceram, ao contrário, ainda vigoram e são expressas por judeus europeus das mais diversas orientações políticas. A "liberal" Shulamit Aloni, líder do partido do Movimento pelos Direitos Civis e membro do Knesset, acusou, em 1983, manifestantes sefarditas de serem "forças tribais bárbaras", "conduzidas como um rebanho ao som de tambores" e que cantavam como "uma tribo selvagem"14. As imagens implícitas que comparam os sefarditas a africanos negros retomam, ironicamente, um dos tópicos favoritos do anti-semitismo europeu, o do "judeu negro" (nas conversas entre judeus europeus, os sefarditas são às vezes chamados de "schwartze-chaies" ou "animais negros"). Por sua vez, Amnon Dankner, colunista do diário "liberal" HaAretz, favorito entre os intelectuais asquenazes e reconhecido pelos seus supostamente altos padrões jornalísticos, vilipendiou os atributos sefarditas, associando-os a uma cultura islâmica, claramente inferior à cultura ocidental que "estamos tentando adotar aqui". Apresentando-se como vítima angustiada de uma alegada "tolerância" oficial, o jornalista lamuria a convivência forçada com subumanos orientais:
Esta guerra [entre os asquenazes e os sefarditas] não será entre irmãos, não porque não haverá guerra, mas porque não há irmãos. Porque, se eu tiver de fazer parte dessa guerra, que está sendo imposta a mim, recuso-me a chamar o outro lado de irmão. Eles não são meus irmãos, não são minhas irmãs, deixem-me em paz, eu não tenho irmã [...] Eles colocam o manto pegajoso do amor a Israel sobre a minha cabeça e pedem para eu ser condescendente quanto às deficiências culturais dos sentimentos legítimos de discriminação [...] eles me colocam em uma jaula com um babuíno histérico e dizem: "Pronto, agora vocês estão juntos, podem começar o diálogo". E eu não tenho escolha. O babuíno está contra mim, o guarda está contra mim, e os profetas do amor de Israel ficam de lado e dão uma piscadela perspicaz para mim, que significa: "Fale direito com ele. Jogue uma banana para ele.Afinal de contas, vocês são irmãos [...]"15.
Mais uma vez nos vem à mente o colonizador de Fanon, incapaz de falar sobre o colonizado sem recorrer ao bestiário, o colonizador que utiliza termos zoológicos.
Contudo, o discurso racista a respeito dos judeus orientais nem sempre é tão desvairado ou violento. Em outras instâncias, assume uma forma "humana" e relativamente "benigna". Peguemos, por exemplo, One people: the story of the eastern Jews, da doutora Dvora e do rabino Menachem Hacohen, um texto "afetuoso", e impregnado de preconceitos eurocêntricos16. Na introdução, Abba Eban fala da "qualidade exótica" das comunidades judaicas "das margens externas do mundo judaico". O texto em si, e as fotografias que o acompanham, trazem uma clara agenda ideológica. A ênfase é sempre colocada na "vestimenta tradicional", nos "modos populares cativantes", nos "ofícios" pré-modernos de sapateiros e artesãos de objetos de cobre, e nas mulheres que "tecem com teares primitivos". Somos informados de que há uma "falta de livros didáticos no Iêmen" e os registros fotográficos mostram apenas escritos em ketubahs17 ou em estojos de Torá, mas nenhuma literatura secular. Somos lembrados, repetidamente, de que alguns judeus norte-africanos viviam em cavernas (intelectuais como Albert Memmi e Jacques Derrida aparentemente escaparam dessa condição) e um capítulo inteiro é dedicado aos "judeus que moravam em cavernas".
O registro histórico verdadeiro, todavia, revela que a maioria absoluta dos judeus orientais era urbana. Não há, é óbvio, nenhum mérito intrínseco em ser urbano ou falha implícita em optar por viver "em cavernas". O que surpreende, no comentador, é uma espécie de "desejo por primitivismo", um miserabilismo que o compele a pintar os judeus sefarditas como inocentes em termos de tecnologia e modernidade. Em seguida, as imagens da miséria oriental são contrastadas com as faces luminosas dos orientais em Israel, aprendendo a ler e a dominar a tecnologia moderna de tratores e colheitadeiras. O livro faz parte de um amplo setor de exportação nacional do "folclore" sefardita, um mercado que faz circular artigos muitas vezes expropriados (como vestidos, jóias, objetos litúrgicos, livros, fotos e filmes) entre as instituições judaicas ocidentais, ávidas pelo exoticismo judaico. Nesse sentido, os asquenazes israelenses glosam o enigma dos judeus orientais para os ocidentais (um padrão comum também nos estudos acadêmicos). The Israeli film: social and cultural influences, 1912-1973, de Ora Gloria Jacob Arzooni, por exemplo, descreve a "exótica" comunidade sefardita de Israel como infestada por "doenças tropicais quase desconhecidas" (o dado geográfico aqui é um tanto imaginativo) e "praticamente indigente". Os judeus norte-africanos, segundo somos informados por meio de uma linguagem que surpreende, dada a distância da queda do Terceiro Reich, dificilmente eram "puros em termos raciais" e, entre eles, encontravam-se "bruxarias e outras superstições abolidas há muito tempo em qualquer lei judaica"18. Lembremo-nos do relato irônico que Fanon faz das descrições colonialistas dos nativos: "criaturas torpes, consumidas por febres, obcecadas por costumes ancestrais".

O ROUBO DA HISTÓRIA
Um característica essencial do colonialismo é a distorção e até mesmo a negação da história do colonizado. A projeção dos sefarditas como provenientes de sociedades rurais retrógradas, sem nenhum contato com a civilização tecnológica, é, na melhor das hipóteses, uma caricatura simplista e, na pior, uma fraude completa. Metrópoles como Alexandria, Bagdá e Istambul, à época da emigração sefardita, estavam longe de ser áreas isoladas e abandonadas, sem eletricidade e automóveis, como indicam os relatos sionistas oficiais; tampouco essas terras foram, por alguma razão inexplicável, excluídas da dinâmica universal dos processos históricos. Mesmo assim, as crianças sefarditas e palestinas, nas escolas israelenses, são obrigadas a estudar uma história do mundo que a um só tempo privilegia as realizações ocidentais e apaga as civilizações do Oriente. Além disso, as dinâmicas das políticas do Oriente Médio são apresentadas apenas em relação à influência fecundante do sionismo no que anteriormente era um deserto. Na narrativa mestre sionista há pouco espaço para palestinos e sefarditas, mas, enquanto os palestinos possuem uma contranarrativa clara, a história sefardita é fraturada e embutida na história de ambos os grupos. Ao distinguir o Oriente "diabólico" (árabe-muçulmano) do Oriente "angelical" (árabe-judaico), Israel assumiu a tarefa de "purgar" a "arabidade" dos sefarditas e redimi-los do "pecado original" de pertencer ao Oriente. A historiografia israelense dispersa os judeus asiáticos e africanos nos judeus europeus da memória oficial monolítica. Os estudantes sefarditas não aprendem quase nada sobre o valor da sua história específica como judeus do Oriente. Assim como as crianças senegalesas e vietnamitas aprenderam que os seus "ancestrais, os gauleses, eram loiros de olhos azuis", as crianças sefarditas são inoculadas com a memória histórica dos "nossos ancestrais, os residentes dos shtetls19 da Polônia e da Rússia", bem como com o orgulho dos Pais Fundadores sionistas pelo assentamento de postos avançados pioneiros em uma região selvagem. A história judaica é concebida como primordialmente européia, e o silêncio dos textos históricos a respeito dos sefarditas constitui uma forma polida de ocultar a presença desconcertante de um "outro" oriental, subordinado a um "nós" judaico-europeu.
Da perspectiva do sionismo oficial, os judeus de países árabes e muçulmanos aparecem na cena mundial apenas quando são vistos no mapa do Estado Hebreu, da mesma forma que a história moderna da Palestina é vista como tendo começado com a renovação sionista do mandato bíblico. Presume-se, portanto, que a história sefardita moderna tenha início com a chegada dos judeus sefarditas a Israel e, mais precisamente, com as operações "tapete mágico" e "Ali Babá" (a primeira refere-se à transferência dos judeus iemenitas para Israel, em 1949-50, e a segunda, dos judeus iraquianos, em 1950-51). Os nomes em si, retirados de As mil e uma noites, já evocam atitudes orientalistas por colocar em primeiro plano a religiosidade ingênua e o atraso tecnológico dos sefarditas, para quem os aviões modernos eram "tapetes mágicos" que os transportavam até a Terra Prometida. A glosa sionista para a alegoria do Êxodo, então, enfatizou a escravidão "egípcia" (e Egito, aqui, é uma sinédoque de todo o território árabe) e a morte benéfica da "geração do deserto" (os sefarditas). O sionismo europeu assumiu o papel de patriarca na tradição oral judaica da passagem da experiência de seus povos de pais para filhos ("vehigadeta lebincha bayom hahu"20). E as histórias do pai sionista asfixiou os pais sefarditas, cujas histórias ficaram inacessíveis aos seus filhos.
Filtrado por uma rede eurocêntrica, o discurso sionista apresenta a cultura como monopólio do Ocidente, destituindo os povos da Ásia e da África, incluindo os judaicos, de toda e qualquer expressão cultural. A rica cultura dos judeus de países árabes e muçulmanos é parcamente estudada nas escolas e instituições acadêmicas israelenses. Enquanto o iídiche é valorizado e recebe subsídios oficiais, o ladino e outros dialetos sefarditas são negligenciados: "Aqueles que não falam iídiche", disse uma vez Golda Meir, "não são judeus". O iídiche, por uma ironia da história, tornou-se, para os sefarditas, o idioma do opressor, um discurso codificado associado ao privilégio21. Enquanto os trabalhos de Sholem Aleicham, Y. D. Berkowitz e Mendele Mocher Sfarim são analisados em detalhe, as obras de Anwar Shaul, Murad Michael e Salim Darwish são ignoradas, e, quando os personagens sefarditas são discutidos, seus atributos árabes são detraídos. Maimônides, Yehuda HaLevi e Iben Gabirol são vistos como frutos de uma tradição judaica descontextualizada, da Espanha (ou seja, da Europa), em vez de, como até mesmo reconhece o orientalista Bernard Lewis, uma "simbiose judaico-islâmica". Tudo conspira para cultivar a impressão de que a cultura sefardita anterior ao sionismo era estática e passiva, e, como a terra de pousio da Palestina, descansava à espera da inoculação impregnante do dinamismo europeu22. Muito embora, para ajudar a montar uma imagem de opressão e humilhação incessantes, a historiografia sionista acerca dos sefarditas consista em uma mórbida seleção que segue uma linha tracejada de um pogroma outro (muitas vezes separados por séculos), a verdade é que os sefarditas, como um todo, viveram com bastante conforto na sociedade árabe-muçulmana. A história deles simplesmente não pode ser discutida com a terminologia judaico-européia. Até mesmo a palavra "pogrom" deriva dessa terminologia e ecoa as especificidades da experiência judaico-européia. Ao mesmo tempo, não devemos idealizar o relacionamento entre judeus e muçulmanos como idílico. É verdade que a propaganda sionista exagerou nos aspectos negativos da situação judaica nos países muçulmanos, bem como é verdade que a situação desses judeus durante quinze séculos foi inquestionavelmente melhor que a dos judeus nos países cristãos. Contudo, é fato que o status de dhimmi23 concedido a judeus e cristãos, ou seja, de minorias "toleradas" e "protegidas", era intrinsecamente desigual. Porém, esse fato, como observa Maxime Rodinson, era bastante justificável pelas condições históricas e sociológicas da época, e não produto de um anti-semitismo patológico de estilo europeu. As comunidades sefarditas, apesar de preservarem uma forte identidade coletiva, eram em geral bem integradas e autóctones em seus países de origem, eram partes inseparáveis da sua vida social e cultural. Com tradições totalmente influenciadas pela cultura árabe, os judeus iraquianos, por exemplo, usavam o árabe em seus cânticos e cerimônias religiosas. As tendências liberais e seculares do século XX engendraram uma associação ainda mais forte entre os judeus iraquianos e a cultura árabe, e permitiram que os judeus alcançassem postos de destaque nas esferas pública e cultural. Escritores, poetas e acadêmicos judeus desempenharam papéis vitais na cultura árabe, por exemplo, traduzindo livros de outros idiomas. Os judeus distinguiram-se no teatro iraquiano de língua árabe, e também na música, como cantores, compositores e músicos de instrumentos tradicionais. No Egito, na Síria, no Líbano, no Iraque e na Tunísia, tornaram-se membros do legislativo, de conselhos municipais, do judiciário, e chegaram a ocupar posições financeiras de destaque. O ministro da Fazenda do Iraque, na década de 1940, era Ishak Sasson, e, no Egito, Jamas Sanua — ironicamente, posições mais altas do que as alcançadas pelos sefarditas no Estado judeu.”

SHOHAT, Ella. Os sefarditas em Israel: o sionismo do ponto de vista das vítimas judaicas.Novos estudos- CEBRAP, São Paulo, n. 79, Nov. 2007.
tradução do inglês: Hélio Mello Filho




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Re: Israel e os israelenses.

#5 Mensagem por Clermont » Ter Fev 28, 2012 7:14 am

hmundongo escreveu:Olá Clermont, você teria as referências desses artigos? Adoraria usá-los em um trabalho da faculdade.
http://original.antiwar.com/avnery/2012 ... l-thyself/

http://original.antiwar.com/avnery/2012 ... ckbusters/




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Re: Israel e os israelenses.

#6 Mensagem por Hermes » Ter Fev 28, 2012 8:34 am

Valeu :D




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Re: Israel e os israelenses.

#7 Mensagem por FOXTROT » Dom Abr 29, 2012 11:10 am

Agora entendo porque essa corrente gosta tanto de guerra...com o sangue dos outros fica fácil!
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terra.com.br

Nova lei em Israel obrigará árabes a prestarem serviços comunitários
29 de abril de 2012 • 08h14 • atualizado às 10h13


Os jovens árabe-israelenses terão que realizar algum tipo de trabalho comunitário ao invés de cumprirem serviço militar como faz a maioria judaica, segundo uma nova lei que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, apresentará ao Parlamento.

Os debates sobre a lei estão previstos para começar em 9 de maio. O objetivo é dividir de maneira mais equitativa o serviço militar no país. Atualmente, os judeus ultra-ortodoxos e a minoria palestina são dispensados da obrigação.

"A divisão desta obrigação deve ser alterada. A lei atual será modificada para se tornar mais equitativa e justa", reconheceu neste domingo o primeiro-ministro em um encontro com militares reservistas.

Os homens judeus devem servir obrigatoriamente o exército por 36 meses, e as mulheres, por 24. "A nova lei incluirá também a prestação de serviços comunitários por parte dos árabes", afirmou Netanyahu, segundo um comunicado de seu gabinete.

Os árabes-israelenses nunca serviram, pois o exército sempre duvidou da lealdade desse segmento da população. Além disso, os próprios palestinos se negam a ingressar na corporação de um Estado que não julgam como seu e que ocupa a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

O governo ainda precisa elaborar os detalhes da medida, mas propostas anteriores sugeriam que os árabes-israelenses prestem serviços para sua própria comunidade, composta por mais de um milhão de pessoas em Israel.

A mudança na lei sobre o serviço militar foi exigida pela Suprema Corte, que em fevereiro negou o direito dos judeus ultra-ortodoxos a não servirem no exército. O juízes determinaram que o governo israelense crie uma lei mais equitativa antes de agosto.

Em sua reunião de hoje com os reservistas, o primeiro-ministro não mencionou a questão dos jovens ultra-ortodoxos, que são isentos do serviço obrigatório para estudar em instituições religiosas.

Ontem, o ministra das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, do partido Israel Beitenu, disse que a data das próximas eleições no país depende da nova lei e afirmou que sua formação apoia o alistamento para todos.

Os dois partidos ultra-ortodoxos da coalizão governamental ameaçaram abandonar o governo caso a lei obrigue os jovens religiosos a servirem.




"Só os mortos conhecem o fim da guerra" Platão.
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Re: Israel e os israelenses.

#8 Mensagem por Clermont » Qui Mai 10, 2012 11:56 am

UM PONTO CRÍTICO PARA ISRAEL.

Por Philipi Girald - 10.05.12.

Um ponto crítico é onde o momento físico, a inclinação numa direção, reverte seu curso, estabiliza-se e, então, começa a mover-se para a direção oposta. Aqueles de nós que tem argumentado por uma política externa americana sã no Oriente Médio compreendiam bem que as probabilidades de mudar a narrativa dominante estavam fortemente contra nós, graças aos avassaladores recursos possuídos por um poderoso lobby doméstico. Dez anos atrás na América, era impossível publicar até mesmo uma carta num jornal ou revista da grande mídia que fosse, de alguma forma, crítica à Israel. Além de Pat Buchanan, ninguém na televisão criticava Israel ou suas políticas. Na mídia americana, Israel era sempre a pequena democracia sitiada por árabes selvagens.

Mas então, de repenee, a conspiração do silência começou a se partir. Isso teve início com a revisão histórica dos antecedentes da Guerra do Iraque enquanto o conlfito continuava a se arrastar. Muitos começaram a atribiur o início da luta por Washington, ao menos em parte, aos interesses israelenses. Philip Zelikou, principal conselheiro para o Relatório da Comissão do 11 de Setembro, famosamente observou em março de 2004 que a guerra era "para proteger Israel", certamente um exagero mas contendo mais do que um grão de verdade. Muitos também começaram a perceber que a agitação por uma nova guerra com o Irã seguia os mesmos padrões, com apoiadores de Israel liderando a carga.

Em 2006, o ex-presidente Jimmy Carter publicou "Palestine: Peace Not Apartheid". Ele provocou considerável ultraje e renúncias altamente divulgadas da comissão da Fundação Carter, junto com acusações de que Carter estava apoiando o terrorismo palestino. Mas a grande ruptura veio com a publicação de "The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy" no ano seguinte. Ele tornou-se um dos mais vendidos do New York Times e, repentinamente, tornou-se aceitável falar sobre Israel sema a adulação usual. Pela primeira vez, pessoas na América estavam percebendo o poder do lobby de Israel e o inerente rebaixamento para os interesses nacionais dos Estados Unidos.

Impulsionados pela perspectiva de infindáveis guerras numa tentativa de remoldar o mundo muçulmano pela força, cartas e editorias críticos à Israel e suas políticas começaram a aparecer na grande mídia. Não eram muitas, é verdade, e sempre foram "compensadas' por comentários contrários mais numerosos, porém eram o bastante para demonstrar que uma mudança estava tendo lugar. As grande organizações judaicas, sempre vigilantes na defesa do que percebiam como os interesses de Israel, recorreram cada vez mais, para desacreditarem os críticos, a chamá-los de "anti-semitas". Na verdade, elas obtiveram sucesso em igualar quaisquer críticas à Israel com anti-semitismo e até mesmo conseguiram a aprovação de leis no Canadá e várias nações européias que tornam quaisquer críticas à Israel ipso facto um crime de ódio.

Alguns judeus americanos sempre tem estado incomodados pelo lado sombrio da história de Israel, começando com a nakba, a expulsão dos palestinos de suas cadas e incluindo a mais recente política de assentamentos, muros de "segurança" e a negação de direitos civis e humanos aos árabes vivendo em Israel e nos territórios ocupados. Eles estão convencidos, acertadamente, de que Israel não tem intenção alguma de permitir a criação de um estado palestino viável. Muitos começaram a protestar, embora suas vozes estivessem, de início, confinadas à mídia alternativa e eles tivessem de trabalhar por meio de muitos grupos progressistas que estavam levando à frente uma agenda de paz muito mais ampla, em resposta à horrenda "guerra global ao terrorismo" de George W. Bush.

Mas agora, nós americanos, finalmente alcançamos nosso ponto crítico. Recentemente, Peter Beinart, um sionista e defensor de Israel de muitos anos, lançou "The Crisis of Zionism", que explica como Israel transformou-se num campo armado dedicado a reprimir e mesmo expelir seus hilotas palestinos. Como um judeu liberal, ele rejeita os valores militantes que impulsionam o Israel do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e chega tão longe ao ponto de apoiar um boicote econômico de Israel, similar à pressão que foi imposta sobre o apartheid sul-africano. O livro, previsivelmente, provocou uma tempestade de fogo de críticismo do estabelecimento pró-Israel, mas Beinart não está sozinho. Tom Friedman e Paul Krugman do New York Times, ambos judeus e amigos de longa data de Israel, tem vocalizado as mesmas preocupações, principamente, de que Israel não mais representa os valores liberais e humanistas que eles próprios acalentam. Tem sido notado, de passagem, que os jovens judeus americanos não vêem Israel em termos positivos, um sinal, se algum fosse necessário, de que a geração mais velha, que acredita que Israel sempre tem razão, não importa o que faça, está entrando para a história.

E isto não termina aí. Mesmo a grande mídia está, agora, talvez relutantemente, entrando à bordo. Em 22 de abril, 60 Minutes, o mais assistido programa de comentários e notícias da televisão nos Estados Unidos, transmitiu um segmento sobre a perseguição israelense aos cristãos. O programa foi um choque real para muitos fundamentalistas cristãos que viam Israel com óculos cor-de-rosas. Muitos evangélicos tem promovido o mito de que Israel é, realmente, um protetor dos cristãos, o que enfaticamente, ele não é; ele busca, ao invés, marginalizá-los e forçá-los a emigrar, como demonstrou o programa do 60 Minutes. O embaixador israelense, Michael Oren, que tentou matar a história e chamou-a uma "difamação", foi entrevistado como parte dele. Seu desempenho foi alternativamente presunçoso e rancoroso, e foi amplamente considerado como um desastre de relações públicas. Ele até mesmo disse que as grandes igrejas cristãs são "conhecidas por seu anti-semitismo".

O escritório de Benjamin Netanyahu apoiou a declaração de Oren de que a transmissão era uma "ameaça à Israel". Esta foi a segunda incursão de Netanyahu em relações pública em pouco tempo, tendo anteriormente denunciado o Prêmio Nobel da Paz - o autor premiado Gunter Grass. Netanyahu baniu Grass de viajar para Israel e disse que seus escritos tinham "ferido profundamente Israel". Netanyahu estava respondendo à, de fato suave, declaração de que o programa nuclear do estado judaico era uma ameaça à "já frágil paz mundial."

Netanyahu sabe que a maré esta virando contra ele e tudo o que ele representa, particularmente enquanto o criticismo de antigas autoridades superioras de seu próprio país continua a crescer, mas ele é inflexível demais para fazer o que precisa ser feito. Um dos mais sombrios segredos de Israel é a extensão na qual jovens judeus cultos estão abandonando o país. Eles estão saindo e deixando para trás os recentes imigrantes russos - muitos dos quais não são realmente, religiosa ou etnicamente, judeus -, e os racistas islamófobos que constituem o núcleo da extrema-direita em Israel. Os israelenses não publicam nenhuma estatística sobre este dreno cerebral, que tem intensificado o problema demográfico do país e diminuído sua competitividade.

Portanto, alcançamos o ponto onde o gato saiu do saco. Todo mundo, com a possível exceção do Congresso dos Estados Unidos, tomou consciência de que há algo de terrivelmente errado com Israel. No próprio Israel, onde há freqüentes debates ferozes sobre as políticas do país, já é tempo de para encarar a realidade. Israel quer tornar-se um estado normal com relacionamentos corretos com seus vizinhos, incluindo uma Palestina independente, ou quer continuar descendo a estrada que está trilhando, o que é tolice e levará à ruína? A escolha, no final, pertence à Israel, mas pela primeira vez, os americanos estão realmente começando a falar e escrever livre e abertamente sobre o problema.




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Re: Israel e os israelenses.

#9 Mensagem por Hermes » Sex Mai 11, 2012 9:15 pm

Peretz Kidron fala dos Refuseniks israelenses*
06/03/2008

Renato Pompeu, Cylene Dworzak Dalbon e Gershon Knispel

Renato Pompeu - O que é um refusenik?

É um soldado que utiliza as táticas e estratégias de desobediência civil, como Gandhi e Martin Luther King, porém no âmbito militar. É alguém que, como parte do seu serviço militar, recebe uma ordem e a considera inaceitável, imoral ou ilegal, ruim para seu próprio país ou para outros, e se recusa a cumpri-la. Não somos pacifistas, nem contra o exército, somos contra o uso da força militar para a execução de uma determinada ordem. É uma recusa seletiva.
Renato Pompeu - Quais são as ordens que um refusenik israelense se recusa a cumprir?
Principalmente nas questões da ocupação e nas guerras do Líbano. Nos dois casos, o refusenik é contrário à manutenção de um regime de ocupação, que é uma tirania, uma ditadura militar, e não tem nada a ver com a defesa do Estado de Israel. O mesmo vale para o Líbano, as guerras e invasões. A organização Yesh Gvul (que quer dizer “Basta” em hebraico) foi que alavancou esse questionamento.

Cylene Dworzak - Qual a relação do movimento Yesh Gvul com os refuseniks?

A organização fornece suporte a essas pessoas, que correm grande risco de perder trabalho, de ir presas, de ser um peso na família. Alguns membros da organização vão às cadeias, em solidariedade a elas; escrevem cartas ao comando do exército, fazem manifestações, tornam público aquele caso específico. Os refuseniks não se diferenciam muito dos não-refuseniks. Temos refuseniks anti-sionistas, sionistas, da esquerda, da direita, ou pessoas que não se definem em nenhuma corrente política, trabalhadores da indústria, de todos os jeitos. Posso dar o exemplo do meu caso. Até 1967, eu era um soldado e, depois que servi meu período militar obrigatório, todo ano eu era chamado para prestar o serviço militar, que para mim era ok, pois envolvia as questões de defesa do país. Na época em que eu patrulhava as fronteiras, tudo bem. Mas, em determinado momento, estava na região de Sinai quando fui chamado para tomar conta de uma máquina que estava derrubando árvores para abrir espaço para um assentamento judaico. O povo judeu é conhecido pela sua habilidade de transformar o deserto em um jardim cheio de vida. Para alguém transformar uma amendoeira numa árvore (e sei disso, pois trabalhava com plantio de árvores) é necessário muito esforço e muito tempo. Isso não acontece de uma semana para a outra. Horas depois tive outro choque ao saber que o comando do exército havia anunciado uma tentativa de beduínos de se apossarem de terras que não pertenciam a eles. E plantaram pequenas árvores com o intuito de reclamar a sua parte. Isso era mentira! O exército divulgou essa nota para cobrir sua barbárie. Para mim, isso foi o basta! A expressão Yesh Gvul descreve a forma psicológica dessa insatisfação.

Renato Pompeu - Você disse “yesh gvul!”, “basta!”, quando você viu árvores sendo derrubadas. Se não houvesse barbárie na ocupação, você acredita que ainda assim existiria o movimento?

Você está me fazendo uma pergunta completamente hipotética. Não existe e nunca existiu ocupação sem barbárie. Uma ocupação é um ato de violência. Talvez, uma violência em potencial. Quando o exército estaciona um tanque em frente à sua casa, ele não precisa atirar. A sua presença já é uma violência. Qual é a função do tanque senão ameaçar, senão a violência?

Cylene Dworzak - E como as mídias internacional e israelense recebem esse movimento dos refuseniks?

A mídia defende o exército. O governo defende o exército. O sistema judiciário defende o exército em 98 por cento dos casos. A mídia diz que estão ocupando os territórios para nos defender, que eles são bons, bravos e heróicos soldados. Quando um soldado mata uma criança de 14 anos, ele será acusado de uso ilegal de uma arma e passará no máximo três meses numa prisão. Esse é o sistema judiciário que privilegia o exército.

Gershon Knispel - Existem outros grupos que fazem trabalhos semelhantes ao de vocês, antiocupação?

Existem grupos de médicos, mulheres, de direitos civis, de árabes e judeus. Existe uma organização de mulheres que observam os bloqueios militares nas estradas e ficam sentadas com seus caderninhos anotando tudo o que vêem. Elas levam essas anotações a público e aos comandos do exército.

Renato Pompeu - Quantos soldados existem no exército de Israel e quantos deles são refuseniks?

Não sei. O número de soldados é um segredo militar. É muito difícil precisar e, se houvesse um número, se essa estatística existisse, não seria interessante para o exército divulgá-la, pois haveria o reconhecimento ou a oficialização do movimento. Existe a nossa estatística, que é incompleta, mas creio que houve até o momento aproximadamente 4.000 casos de refuseniks em trinta anos. Desses 4.000, aproximadamente 1.000 foram presos, mas esses números podem não representar a realidade. Somos um movimento que tem efeito direto no governo, influenciando suas regras. Foi o que aconteceu em 1984, quando o exército disse que deveríamos recuar, o que não era a vontade dos políticos. Anos depois, o comandante do exército foi questionado quanto a essa decisão e deu várias razões para tal. Entre elas é que havia um grande número de recusas por parte dos soldados e ele temia que esse número se avolumasse aos milhares.

Gershon Knispel - Existem movimentos contra a humilhação, contra a ocupação e existe um que é contra a demolição de casas.

É verdade! Esse é um grupo que esqueci de mencionar. O governo tem uma regra, que é demolir casas, pois às vezes elas são construídas sem permissão. Particularmente em Jerusalém. Ou senão são demolidas por punição, por pertencerem a pessoas ligadas a um movimento de resistência. Então o exército vem, derruba a casa, desabrigando a família toda. Aí os participantes desse movimento começaram a protestar, tentam parar as escavadeiras, e quando não podem impedir a demolição vêm no dia seguinte e reconstroem as casas. Destruídas de novo, eles reconstroem, e assim por diante.

Cylene Dworzak - Há um trecho no livro no qual você diz que a mídia israelense faz uma grande divulgação de que soldados refuseniks não são patriotas. Isso colabora para que os mais jovens não queiram participar do movimento?

Claro! Isso faz parte da agenda do governo. Um processo de lavagem cerebral, mas também existe a resistência. Houve um grande progresso, pois até recentemente 100 por cento dos refuseniks faziam parte da reserva, pessoas na faixa dos 20, 30 anos. Agora existe um movimento forte de jovens recém-ingressados assinando manifestos e cartas, se recusando a participar do exército de ocupação, e o exército não soube lidar com isso, ficou tão preocupado que determinou que, para cada escola, haveria um coronel responsável por trazer esses jovens para o serviço militar.

Renato Pompeu - E pensar que, 25 ou trinta anos atrás, não se podia falar da questão palestina, do direito palestino a um Estado. É um progresso.

Nós vimos a opinião pública mudar. Antes, o governo incentivava a ocupação. Isso foi muito enfatizado por Ariel Sharon. Depois, com a pressão dos movimentos, não só o Refusenik começou a mudar a opinião pública. Colaboramos com a mudança da opinião pública empurrando-a contra os assentados e os assentamentos, anulando o discurso anterior, no qual os assentados eram os heróis de Israel. Hoje, a maioria dos israelenses quer o fim das ocupações.
Gershon Knispel - É hora de começar um diálogo com o Hamas, mas é o tipo da coisa que não se podia falar a respeito porque o governo fabricou o Hamas.
A sociedade israelense é uma sociedade religiosa. Mas a maioria das pessoas na sociedade israelense não é. O que existe é que certas coisas são sagradas e não se ataca o sagrado. Atacar o exército é sacrilégio e é o que fazemos. Atacamos o que o exército faz, por isso as pessoas não entendem. Como é possível alguém fazer isso? Amos Oz (escritor israelita e co-fundador do movimento pacifista Paz Agora) é muito menos radical do que somos. Imagine, afirmamos que é necessário conversar com o Hamas! É como questionar os milagres da fé católica. Não se deveria questionar isso. Mas questionamos, pois as pessoas estão no campo, têm armas na mão e têm poder. O que interessa nisso tudo é haver o diálogo.

Renato Pompeu - Você disse que o movimento refusenik tem um ponto positivo na cultura israelense, mas tudo indica que na próxima eleição deverá ser eleito um governo belicista. Como você explica essa contradição?

É realmente uma contradição porque, ao mesmo tempo que as pessoas acreditam que as ocupações devem acabar, elas são pessimistas, com uma visão de pouca esperança para o futuro. E, também, o governo de Israel demonstra sua indisposição para conversar a respeito do assunto. Queremos diálogo com os sírios, com os palestinos. Yasser Arafat morreu, Abu Mazen é fraco, com quem então podemos falar? As pessoas podem até votar na direita, mas, com essa divisão de personalidade do Estado de Israel, uma eleição pode significar muito pouco. Quer dizer, significa muito, como exercício democrático, mas muito pouco como agente de mudança. Então, o que é mais importante? São as ações e as pressões que movimentos como o nosso exercem sobre a opinião pública, que a conduz a uma certa direção. Não somos filiados a um partido político, bem como a maioria dos movimentos também não é. Age-se livremente e, assim, esperamos que nossas idéias e ações funcionem.

Cylene Dworzak - Na sua opinião, qual seria a melhor maneira de acabar com a ocupação?

É muito difícil dizer como serão as coisas no futuro. Sabemos que o movimento Refusenik tem uma influência, com base no caso dos pilotos, por exemplo. Sharon havia tomado uma decisão em uma semana e, após o caso da carta dos pilotos se recusando a atacar fora de Israel, a decisão mudou completamente, com a retirada das tropas de Gaza. E ele disse: “Essa é minha posição agora”. Ele sempre esteve muito atento às forças armadas. Como a força aérea, que é a elite das forças armadas, se contrapôs a ele, ele percebeu que deveria fazer algo. Então veja só: até um homem como Sharon pôde mudar de posição em algumas circunstâncias, então fica muito difícil prever. Não existe fórmula. Nós, do movimento, continuaremos com a pressão, que é o nosso trabalho.

*Tradução do inglês: Marcello De Paschoal.
http://www.icarabe.org/clipping/peretz- ... sraelenses




...
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Re: Israel e os israelenses.

#10 Mensagem por Rodrigoiano » Qui Mai 24, 2012 2:15 am

Ameaça põe em alerta Consulado de Israel em SP

Governo israelense recebeu informações sobre um possível atentado do Hezbollah na capital paulista

23 de maio de 2012 | 21h 37

(...)

Fonte: Estadão

http://www.estadao.com.br/noticias/inte ... 6960,0.htm




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Re: Israel e os israelenses.

#11 Mensagem por Clermont » Seg Jun 11, 2012 12:40 pm

A GUERRA DAS MENTIRAS.


Por Uri Avnery - 11.06.12.

Trinta anos atrás, nesta semana, o exército israelense entrou no Líbano e deu início a mais estúpida das guerras na história de Israel. Ela durou dezoito anos. Cerca de 1.500 soldados israelenses e incontáveis números de libaneses e palestinos foram mortos.

Quase todas as guerras são baseadas em mentiras. Estas são consideradas instrumentos legítimos de guerra. A Primeira Guerra do Líbano (como foi mais tarde chamada) foi um exemplo glorioso.

Do começo ao fim (se já teve fim) ela foi uma guerra de enganação e dissimulação, falsidades e invencionices.

As mentiras começaram com o nome oficial: "Operação PAZ NA GALILÉIA."

Se alguém perguntar aos israelenses agora, 99,99 % deles dirá com toda a sinceridade: "Não tínhamos escolha. Eles lançavam Katyushas contra a Galiléia a partir do Líbano todo dia. Nós tínhamos de detê-los." Âncoras de TV, tanto como antigos ministros do gabinete, tem repetido isto durante toda a semana. Muito sinceramente. Até mesmo gente que já era adulta na época.

O fato simples é que, durante onze meses, antes da guerra, nem um só tiro foi disparado através da fronteira israelense-libanesa. Um cessar fogo estava em vigor, e os palestinos do outro lado da fronteira o mantinham escrupulosamente. Para surpresa de todo mundo, Yasser Arafat teve sucesso em impô-lo sobre todas as facções radicais também.

No fim de maio, o ministro da defesa Ariel Sharon encontrou-se com o secretário de estado Alexander Haig em Washington, D.C. Ele pediu pela concordância americana para a invasão do Líbano. Haig disse que os EUA não podiam permitir isso, a não ser que houvesse uma provocação clara e internacionalmente reconhecida.

E, de um passe, a provocação foi fornecida. Abu Nidal, o mestre terrorista anti-Arafat e anti-OLP, enviou seu próprio primo para assassinar o embaixador israelense em Londres, que foi seriamente ferido. *

Em retaliação, Israel bombardeou Beirute e os palestinos atiraram de volta, como esperado. O primeiro-ministro, Menachem Begin, permitiu a Sharon invadir o território libanês até 50 km "para colocar os assentamentos da Galiléia fora do alcance dos Katyushas."

Quando um de seus chefes de inteligência disse a Begin, num encontro de gabinete que a organização de Abu Nidal não era integrante da OLP, Begin, famosamente, respondeu: "Eles são todos da OLP."

O general Matti Peled, meu associado político na época, firmemente acreditava que Abu Nidal tinha atuado como um agente de Sharon. Assim como todos os palestinos que eu conheço.

A mentira "eles atiravam em nós todo dia" pegou tanto na mente do público que é inútil contestá-la. Ela é um exemplo esclarecedor de como um mito pode se apossar da mentalidade pública, incluindo até mesmo pessoas que viram com seus próprios olhos que o contrário era verdadeiro.

Nove meses antes da guerra, Sharon contou-me sobre seu plano para um Novo Oriente Médio.

Eu estava escrevendo um longo artigo biográfico sobre ele com sua cooperação. Ele confiava na minha integridade jornalística, assim contou-me sobre seu plano, "longe do microfone" e permitiu-me publicá-lo - mas sem citar o nome dele. E assim eu fiz.

Sharon tinha uma mistura mental perigosa: um cérebro primitivo livre de qualquer conhecimento de história (não-judaica), e uma ânsia fatídica por "grandes desígnios". Ele desprezava todos os políticos - incluindo Begin - como gente pequena, privada de visão e imaginação.

Seu desígnio para a região, como ele contou-me (e que eu publiquei nove meses antes da guerra), era:

1. Atacar o Líbano e instalar um ditador cristão que serviria à Israel.

2. Expulsar os sírios do Líbano.

3. Expulsar os palestinos do Líbano para a Síria, onde eles seriam empurrados pelos sírios para a Jordânia.

4. Conseguir que os palestinos levassem à cabo uma revolução na Jordânia, chutando o rei Hussein, e transformando a Jordânia num estado palestino.

5. Estabelecer um arranjo funcional sob o qual o estado palestino (na Jordânia) compartilhasse o poder na Margem Ocidental com Israel.

Sendo um operador obstinado, Sharon convenceu Begin a começar a guerra, contando-lhe que seu único objetivo era empurrar a OLP cinqüenta quilômetros para trás. Ele então instalou Bashir Gemayel como ditador do Líbano. Então permitiu que os falangistas cristãos executassem o massacre de Sabra e Shatila de forma a aterrorizar os palestinos, fazendo-os fugir para a Síria.

Os resultados da guerra foram o oposto das suas expectativas. Bashir foi morto pelos sírios e seu irmão, que foi então eleito pelas armas israelenses, era um fracote ineficaz. Os sírios reforçaram seu controle sobre o Líbano. O horrível massacre não induziu os palestinos a fugirem. Eles ficaram. Hussein permaneceu no trono. A Jordânia não virou Palestina. Arafat e seus homens de armas foram evacuados para Túnis, onde ganharam impressionantes vitórias políticas, foram reconhecidos como "os únicos representantes do povo palestino," e eventualmente voltaram à Palestina.

O planejamento militar deu errado desde o começo, não menos do que o político. Já que a guerra foi celebrada em Israel como uma gloriosa vitória, nenhuma lição militar foi tirada dela - desta forma, a Segunda Guerra do Líbano, cerca de 24 anos depois, foi um desastre militar ainda maior.

O simples fato é que em 1982, nenhuma unidade do exército alcançou seu objetivo afinal, ou certamente não em tempo. Valorosa resistência palestina em Sídon (Saida) conteve o exército, e Beirute ainda estava fora do alcance quando um cessar-fogo foi declarado. Sharon simplesmente o quebrou, e apenas então suas tropas tiveram sucesso em cercar a cidade e entrar em sua parte oriental.

Contrário a sua promessa a Begin (repetida para mim na época por um parceiro muito importante da coalizão), Sharon atacou o exército sírio de forma a alcançar e cortar a estrada Beirute-Damasco. As unidades israelenses nesta frente nunca alcançaram a vital estrada, e ao invés, sofreram uma retumbante derrota em Sultan Yacoub.

Nada para espantar. O chefe do estado-maior era Rafael Eitan, chamado Raful. Ele foi nomeado pelo antecessor de Sharon, Ezer Weizman. Na época, eu perguntei a Weizman por quê ele tinha nomeado um tão completo idiota. Sua típica resposta: "Eu tenho Q.I. suficiente para dividir por nós dois. Ele executará minhas ordens." Mas Weizman renunciou e Raful permaneceu.

Um dos mais significativos e duradouros resultados da Primeira Guerra do Líbano diz respeito aos xiitas.

De 1949 até 1970, a fronteira libanesa foi a mais calma de todas as nossas fronteiras. As pessoas a cruzavam por engano e eram devolvidas para casa. Era comum se dizer que o "Líbano será o segundo estado árabe a fazer a paz com Israel," não ousando ser o primeiro.

A maioria da população xiita do outro lado da fronteira era então a mais oprimida e indefesa das diversas comunidades étnico-religiosas do Líbano. Quando o rei Hussein, com a ajuda de Israel, empurrou as forças da OLP para fora da Jordânia no "Setembro Negro" de 1970, os palestinos estabeleceram-se no Sul do Líbano e tornaram-se os governantes da região de fronteira, que logo ficou conhecida como "Fatahlândia".

A população xiita não gostou de seus arrogantes novos senhores palestinos, que eram sunitas. Quando as tropas de Sharon entraram na área, elas foram recebidas com arroz e doces. (Eu vi isto com meus próprios olhos). Os xiitas, não conhecendo Israel, acreditaram que seus libertadores botariam os palestinos para fora e voltariam para casa.

Não levou muito tempo para perceberem seu equívoco. Eles então começaram uma guerra de guerrilhas, para a qual o exército israelense estava bem despreparado. Os ratos xiitas transformaram-se em leões xiitas. Confrontados com suas guerrilhas, o governo israelense decidiu deixar Beirute e muito do Sul do Líbano, mantendo-se numa "zona de segurança", que prontamente transformou-se num campo de batalha guerrilheiro. Os xiitas moderados foram substituídos por um novo e muito mais radical Hezbollah ("Partido de Deus"), que eventualmente tornou-se a principal força política e militar em todo o Líbano.

Para detê-los, Israel assassinou o seu líder, Abbas al-Musawi, que foi prontamente substituído por um assistente, vastamente mais talentoso - Hassan Nasrallah. Ao mesmo tempo, os clones de Sharon em Washington deram início a uma guerra que destruiu o Iraque, o histórico baluarte árabe contra o Irã. Um novo eixo do Iraque xiita, o Hezbollah e a Síria Alauíta tornou-se um fato dominante. (Os alauítas, que governam a Síria de Assad, são um tipo de xiitas. Seu nome deriva de Ali, o genro do Profeta, cujos descendentes são rejeitados pelos sunitas e aceitos pelos xiitas.)

Se Sharon acordasse do coma que foi sua sina por seis anos, ele ficaria chocado por este resultado - o único prático - de sua Guerra do Líbano.

Uma das vítimas da guerra foi Menachem Begin. Muitas lendas tem sido costuradas em volta de sua memória, saindo completamente de proporção.

Begin tinha muitas excelentes qualidades. Ele era um homem de princípios, honestidade e coragem pessoal. Ele também era um grande orador na tradição européia, capaz de inflamar as emoções de sua audiência.

Mas Begin era um pensador muito medíocre, completamente privado de pensamento original. Seu mentor, Vladimir Ze'ev Jabotinsky, o tratava com desdém. A seu modo, ele era bem ingênuo. Ele se deixou ser facilmente ludibriado por Sharon. Sendo obstinadamente devotado a derrotar os palestinos e estender o estado "judaico" a toda a Palestina histórica, ele não se importava com Líbano, Sinai ou Golan.

Seu comportamento durante a Guerra do Líbano beirou o ridículo. Ele visitava as tropas e fazia perguntas que viravam motivo de piada entre os soldados. Em retrospecto, pode-se perguntar se ele já estava, na época, mentalmente afetado. Logo após o massacre de Sabra e Shatila, que o chocou até o fundo, ele caiu numa profunda depressão, que durou até sua morte, dez anos depois.

O moral da história, relevante hoje como sempre: Qualquer tolo pode dar início a uma guerra; apenas uma pessoa muito sábia pode impedir uma.


_____________________________________________

* Pequeno acréscimo do Clermont:
Shlomo Argov - o embaixador israelense ferido no Líbano, que nunca se recuperou das seqüelas, morrendo numa cama de hospital, vinte anos depois - ficou profundamente amargurado que o ataque contra ele tivesse provocado a guerra libanesa. Em 1983, ele ditou para um amigo a seguinte declaração de sua cama no Hospital Hadassah. A declaração foi mais tarde repassada para o jornal Haaretz:

"Se aqueles que planejaram a guerra tivessem previsto o alcance desta aventura, eles teriam poupado as vidas de centenas de nossos melhores filhos... Eles não trouxeram nenhuma salvação... Israel só deve ir à guerra quando não há alternativa. Nossos soldados nunca devem ir à guerra a não ser que ela seja vital para a sobrevivência. Nós estamos cansados de guerras. A nação quer paz."




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Re: Israel e os israelenses.

#12 Mensagem por NettoBR » Ter Jun 12, 2012 11:33 am

Israel expulsou 240.000 de Gaza e Cisjordânia em 27 anos
12/06/2012 - 09h44

DA EFE, EM JERUSALÉM - Israel obrigou 240.000 palestinos a se retirarem de Gaza e da Cisjordânia desde que ocupou estes territórios em 1967 até a assinatura dos acordos de paz de Oslo (1993), segundo informações até agora secretas e que o Ministério da Defesa foi obrigado a divulgar para uma ONG após uma determinação judicial.

"Cerca de 140.000 moradores da Cisjordânia e 108.000 da Faixa de Gaza perderam suas permissões de residência, por motivos burocráticos e administrativos. É uma violação clara da lei internacional e que pode ser considerado uma forma de deportação, absolutamente ilegal", disse à Agência Efe Ido Blum, um dos diretores da ONG israelense Hamoked: Centro para a Defesa do Indivíduo.

A estes números é preciso se somar mais 14.000 palestinos residentes em Jerusalém Oriental que perderam suas permissões de residência israelenses desde que se iniciou a ocupação.

"Estes números foram secretos durante muito tempo", explicou Blum, que acrescentou que sua organização obteve a informação após reivindicar este direito na justiça com base em leis de liberdade de informação.

Em Gaza, as autoridades militares israelenses retiraram a permissão de residência de cerca de 45.000 palestinos por estarem fora do território durante mais de sete anos, de outros 55.000 por não estarem presentes durante o censo de 1981 e a mais de 7.000 por não participarem desta mesma sondagem, sete anos mais tarde.

Na Cisjordânia, moradores que permaneceram ausentes por mais de três anos perderam o direito de residência, o que prejudicou estudantes e trabalhadores que viajaram ao exterior.
"Em 1994, após Oslo, foi estabelecido um comitê misto palestino-israelense para tratar a devolução das permissões de residência, mas não se fez nada" explicou Blum.

Nessa data, terminaram as revogações de permissões em Gaza e Cisjordânia, apesar de continuarem até hoje em Jerusalém Oriental.
"São um quarto de milhão de pessoas em menos de três décadas, é um ritmo muito alto. Representa a revogação das permissões de pelo menos 15% da população palestina, que não tem agora nenhuma forma de recuperar suas permissões e voltar para sua terra" acrescentou Blum.

A Efe tentou sem sucesso contactar os ministérios israelenses de Defesa e Relações Exteriores para obter uma resposta para estas informações.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1103 ... anos.shtml




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Re: Israel e os israelenses.

#13 Mensagem por FoxHound » Qua Jun 13, 2012 5:57 pm

Estado israelense tenta impor limites para jornalismo investigativo.
http://1.bp.blogspot.com/-XpWkocKPPaE/T ... i+Blau.jpg
Manifestações de jornalistas raramente obtêm grande adesão popular, e o movimento de apoio que tem se organizado nos últimos dias a favor de Uri Blau, jornalista do diário "Haaretz", permanece limitado à corporação. Entretanto, o envolvido no caso está prestes a se tornar uma "causa célebre" na imprensa israelense, o que não quer dizer que esta última seja inteiramente solidária com um jornalista que o procurador-geral, Yehuda Weinstein, indiciou por "espionagem grave".

Uma coisa parece clara: o Estado e sua Justiça querem dar uma lição a esse repórter de 35 anos e, através dele, ao jornalismo investigativo, lembrando que tudo que tem relação com o Exército, ou seja, a segurança nacional, constitui um limite a não ser ultrapassado.

Recapitulando: em dezembro de 2009, uma jovem soldado, Anat Kamm, foi presa pelo Shin Beth, serviço de inteligência interna, por ter copiado milhares de documentos confidenciais do computador de seu superior, um importante oficial do Exército israelense.

Um ano antes, em novembro de 2008, Uri Blau havia publicado um artigo no "Haaretz" explicando que o Exército havia desprezado cientemente uma decisão do Supremo Tribunal que limitava os casos em que os assassinatos direcionados de combatentes palestinos podiam ser autorizados. Descobriu-se que o jornalista dispunha então de aproximadamente 2 mil documentos... fornecidos por Anat Kamm.

Ao processá-lo por posse ilegal de documentos "confidenciais" e "ultraconfidenciais", mas "sem intenção de prejudicar a segurança do Estado" (mas ele pode ser condenado a até sete anos de prisão), a Justiça israelense parece estar desconfortável. Ela reconhece que Uri Blau não é um espião, ao mesmo tempo em que o processa por "espionagem", mas não no sentido tradicional do termo, ela explica.

O terror do julgamento
Vários jornais denunciaram "um precedente perigoso para a liberdade de imprensa". "Não há nenhum meio de dar informações sobre o gabinete do primeiro-ministro, os ministérios da Defesa e das Relações Exteriores, o Exército e os serviços de inteligência, sem obter documentos que sejam mais ou menos 'confidenciais'", afirma um editorial do "Haaretz", que lembra que os jornalistas israelenses de qualquer maneira são sujeitos à censura militar.

De forma geral, as associações de jornalistas apoiam a linha do "Haaretz" e alertam sobre uma ameaça à liberdade de informação. Se surgem vozes dissonantes, é porque a ocasião é propícia para acertar contas com um jornal decididamente engajado do "lado da paz" (com os palestinos) e que, por causa disso, não poupa nem o governo nem o exército israelense.

No jornal popular "Maariv", Ben-Dror Yemini ressalta que Uri Blau mentiu (ao guardar documentos, contrariando um acordo feito com as autoridades) e afirma: "Blau e seu jornal tentaram pegar em uma armadilha os chefes do Exército, e hoje eles continuam a se esconder por trás da liberdade de expressão". A polêmica não está perto de acabar, pelo menos até o julgamento.

Embora o veredicto continue incerto, o objetivo de dissuasão buscado pelo Shin Beth pode já ter sido atingido: "Os jovens jornalistas israelenses", observa Gideon Levy, editorialista do "Haaretz", "vão viver aterrorizados por esse julgamento. Em uma democracia deficiente, os mensageiros são enviados à prisão e os verdadeiros culpados – aqueles que ordenaram essas execuções sumárias – são promovidos", ele diz.
http://codinomeinformante.blogspot.com. ... mites.html




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Re: Israel e os israelenses.

#14 Mensagem por FoxHound » Sex Jun 15, 2012 2:06 pm

Parece que Obama realmente não gosta de Bibi

Que o atual governo dos EUA não gosta do atual governo de Israel, e vice-versa, não é segredo para ninguém. Basta lembrar que, após o primeiro encontro entre o presidente Barack Obama e o premiê Binyamin Netanyahu, o israelense confidenciou a amigos que não ficou particularmente impressionado pelo intelecto do colega americano. Depois, ficou furioso com a insistência de Washington de exigir o congelamento dos assentamentos israelenses na Cisjordânia, dizendo que “Jerusalém não é um assentamento, é nossa capital”. No ano passado, Bibi e a secretária de Estado Hillary Clinton trocaram um violento telefonema, no qual o premiê se queixou do plano americano de endossar um Estado palestino nas “fronteiras anteriores a 1967”.

Mas os sinais de distanciamento parecem mais evidentes, apesar das tradicionais juras de amor e dos panos quentes. Primeiro, Obama já está terminando seu primeiro mandato e, embora já tenha ido a vários países do Oriente Médio e cortejado o mundo árabe e islâmico, ainda não visitou Israel. Agora, os EUA lançaram o Fórum Global de Contraterrorismo, um espaço para que países atingidos por terrorismo possam discutir estratégias conjuntas de combate, e não convidaram Israel – um dos países que mais sofreram com o terror árabe e que só conseguiram interromper a espiral de violência graças a uma combinação de inteligência, reforço de vigilância e a construção de uma barreira para dificultar a entrada de terroristas.

A desculpa da Casa Branca é que os EUA já mantêm contato com Israel a respeito do tema e que outros países que são alvo do terror também não foram convidados. Mas o que se sabe é que a Turquia, que integra o Fórum, não quis a presença de Israel, e a exigência foi atendida pelos EUA.
http://blogs.estadao.com.br/marcos-gute ... a-de-bibi/




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Re: Israel e os israelenses.

#15 Mensagem por NettoBR » Seg Jun 18, 2012 11:25 pm

:shock: :twisted:

Pacote turístico em assentamento israelense oferece treino para 'matar terrorista'
Por BBC, BBC Brasil, Atualizado: 18/6/2012 15:13

BBC Brasil
Imagem
"Turista em curso de tiro em Israel | Foto: Sharon Gat"

Um campo de treinamento de tiro ao alvo localizado em um assentamento israelense tem provocado polêmica ao oferecer aos visitantes um pacote de 'turismo radical' que inclui treinamento para 'matar terroristas'.
O campo Caliber 3, no assentamento de Gush Etzion, no território palestino da Cisjordânia, usa como alvo de tiros figuras em tamanho real portando tradicionais turbantes árabes.

O local, com mais de 10 mil metros quadrados, é usado em treinamentos do Exército e da polícia de Israel. O proprietário, o empresário Sharon Gat, contou à BBC Brasil que resolveu aproveitar as instalações já existentes para dar início ao 'projeto turístico'.
'Queremos que os judeus do mundo inteiro possam ver com seus próprios olhos que no Estado de Israel há organizações e pessoas que sabem ensinar auto-defesa no mais alto nível', disse o empresário.

'Também queremos que os judeus do mundo vejam que aqui existe orgulho judaico, pois os judeus, que foram massacrados há 70 anos (em referência ao Holocausto), hoje têm um Estado, um Exército e as melhores instalações de treinamento', acrescentou.

De acordo com Gat, cerca de 5 mil turistas já passaram pelo curso, entre eles centenas de crianças, que são admitidas nos treinamentos após cinco anos de idade.
Os adultos atiram com armas e munição de verdade, em alvos de papelão ilustrados com o esteriótipo do 'terrorista'. As crianças utilizam armas de paintball.

O preço do curso, de duração de duas horas, é 440 shekels (cerca de R$ 220) para adultos e 200 shekels (R$ 100) para crianças.

'Projeto sionista'

Sharon Gat, de 40 anos, um oficial da reserva do Exército israelense, disse que o projeto Caliber 3 foi criado em memória de seu cunhado, Hagai Haim Lev, que morreu em combate na Faixa de Gaza.

'É um projeto sionista, positivo e importante, que proporciona muito emoção para muita gente', disse.
'O curso serve para turistas de todas as idades, que tenham interesse em aprender táticas antiterroristas', afirmou o empresário.

O projeto também inclui programas especiais para aniversários, encontros de amigos e luta de paintball e oferece aos turistas 'experiências emocionantes que não poderão ter em lugar algum, exceto no campo de batalha'.
O prefeito do assentamento de Gush Etzion, David Perl, afirmou que o novo projeto turístico proporciona 'um incentivo a mais' para o turismo na região.

O assentamento, que fica ao sul de Jerusalém e foi construído em terras do distrito palestino de Belém, 'recebe cerca de 400 mil turistas por ano', de acordo com Perl.
O prefeito também disse à BBC Brasil que, além do Caliber 3, o Gush Etzion oferece como atividades turísticas visitas a um museu local e a ruínas antigas.


Fonte: http://noticias.br.msn.com/mundo/pacote ... terrorista




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Liev Tolstói
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