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#1 Mensagem por Lord Nauta » Qua Out 19, 2011 10:54 am

Prezados Amigos,

Vejam no site da revista Tecnologia & Defesa (www.tecnodefesa.com.br) um filme de curta-metragem franco-inglês que homenageia as tropas brasileiras da FEB que lutaram e venceram em solo italiano.

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#2 Mensagem por gogogas » Qui Out 20, 2011 8:14 pm

Muito bom ...era bom se o nosso governo ao menos patrocinar um filme sobre nossos heróis da segunda guerra




Gogogas !
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#3 Mensagem por Lord Nauta » Ter Out 25, 2011 10:50 am

gogogas escreveu:Muito bom ...era bom se o nosso governo ao menos patrocinar um filme sobre nossos heróis da segunda guerra


Muito nobre o gesto dos produtores franco-inglêses deste curta metragem. Quanto a EMBRAFILME.....sem comentários.


Sds


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#4 Mensagem por Lord Nauta » Qua Out 26, 2011 12:10 pm

Seria muito bom que fossem produzidos filmes historicos no Brasil.


Sds


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#5 Mensagem por Boss » Qua Out 26, 2011 12:14 pm

Mas os patéticos cineastas brasileiros e a dita indústria cinematográfica só fazem filme sobre favelas, com 10 palavrões/s, mostrando o Brasil como uma extensão da África, ou então, uma comédia sem sal com riquinhos no Leblon.

E claro, o Brasil se resume ao Rio de Janeiro. Nem o Estado, apenas a cidade.




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#6 Mensagem por Bravo » Sáb Out 29, 2011 7:13 pm





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#7 Mensagem por rodrigo » Seg Nov 07, 2011 1:41 pm

É uma homenagem muito bonita. Só pra lembrar, o filme Senta a Pua também é fantástico, com depoimentos emocionantes.




"O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa,
sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem."

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#8 Mensagem por rodrigo » Seg Nov 07, 2011 1:44 pm

Um pedaço. Aos 9:00, um depoimento do Brig Miranda Corrêa muito bonito:





"O correr da vida embrulha tudo,
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Re: FEB

#9 Mensagem por Jorge Freire » Sáb Nov 19, 2011 12:17 pm

Aqui vai o link para o download do livro da Osprey sobre a FEB.
http://ebook30.com/history/history/4285 ... s-465.html




Não se queixe, não se explique, não se desculpe. Aja ou saia. Faça ou vá embora.
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#10 Mensagem por Paisano » Dom Abr 29, 2012 11:38 am





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Re: FEB

#11 Mensagem por binfa » Seg Abr 30, 2012 10:07 am

67 Anos do Ultimo Tiro da Artilharia Brasileira na II Guerra Mundial - 1945 – 2012

Imagem
O veterano LEAL, com 94 anos , dispara o tiro de saudação. Foto - Israel Blajberg

Israel Blajberg Ex-aluno CPOR/RJ Tu Mar Rondon Art 1965 iblaj@telecom.uff.br

No quartel de Barueri –SP, diante da tropa formada, muitas estórias são recordadas entre os veteranos no palanque ... A marcha batida interrompe as lembranças. O exórdio executado pela Banda de Música anuncia a chegada do General, antigo Comandante do histórico Grupo Bandeirante III Grupo 105 da FEB, atual 20º. G A C Leve Aeromóvel, os que marcham sempre à frente da vanguarda, arrojando-se do céu, fulminantes, no dizer da canção.

Antigos integrantes da unidade, velhos artilheiros, familiares, ex-combatentes veteranos da FEB com suas boinas e braçadeiras. Apenas uns poucos FEBianos ainda estão aqui entre nós, e orgulhosamente comparecem, todos em torno de 90 anos.

A tropa entoa a Canção da arma, no ritmo cadenciado e seguro da artilharia hipomovel, desfilando com garbo. Jovens com a fibra do soldado brasileiro que doravante serão para sempre, até o dia em que tiverem que deixar o quartel, do qual jamais se esquecerão.

O desfile é magnífico, os pavilhões nacional e da unidade, os estandartes das baterias tremulando ao vento que sopra na manhã de Barueri, a chuva tendo amainado justamente ao iniciar-se a cerimonia. Do seu nicho à entrada do quartel, Santa Bárbara protege os Artilheiros, e por seus desígnios a festa se desenvolverá em tempo seco.

29 de abril de 1945

Eram exatamente 0145 quando foi lançado contra o inimigo nazista o ultimo tiro disparado pela artilharia brasileira na Itália. Os comandos chegaram rápidos e concisos passados via rádio da Central de Tiro para a Peça Diretriz:

Bateria, Atenção, Concentração !!! Explosiva Carga 5 Espoleta Instantânea ! Centro por um bateria por meia dúzia ! Deriva 2800 elevação 357 ! Fogo !!!

A Vitória chegava para a democracia. Uma pesada barragem contra as tropas alemãs encerrou assim a resposta às agressões sofridas pelo Brasil, com a perda de mais de mil vidas nos torpedeamentos. Decorridos 67 anos, apenas 3 dos quase quatrocentos homens do glorioso Grupo Bandeirante da FEB ainda estão entre nós, recordando a operação. Era o 1º/2º Regimento de Obuses 105 Auto-rebocado (1º/2º RO 105 Au R "III Grupo da Força Expedicionária), herdeiro de antigas e tradicionais unidades, Regimento de Artilharia da Bahia, em 1749, e 7° Corpo de Artilharia de Posição, em 1824, hoje aquartelado em Barueri-SP, o 20º. G A C Leve – Aeromóvel, tropa de elite integrante da Força de Ação Rápida Estratégica do Exército.

No pátio, apresta-se a 2ª. Bateria. O Coronel Amerino Raposo, 90 anos, descendente remoto do Bandeirante Raposo Tavares comandou a Linha de Fogo em 1945, e com emoção transmite vibrante saudação aos jovens formados à sua frente.

Hoje, passados 67 anos as mesmas peças originais da bateria novamente disparam uma salva sob seu comando, ressoando pelos ares de Barueri para lembrar este momento de glória das armas nacionais, quando em apoio ao I Batalhão do 6° Regimento de Infantaria foi empregada contra a tropa alemã em movimento para o Norte, que entraria para a História Militar Brasileira como a manobra de Collecchio - Fornovo di Taro que culminou na captura da 148ª Divisão de Infantaria alemã, e da Divisão Bersaglieri Itália, fazendo mais de 16 mil prisioneiros, sendo 2 generais, Otto Freter Pico e Mario Carloni.

Além do Cel Amerino, apenas mais 2 velhos artilheiros que viveram aquele momento ainda estão em condições de participar da reconstituição acionando o disparador. Orgulhosamente os ex-combatentes Kodama e Leal guarnecem 2 peças.

A Poderosa Artilharia faz estremecer os ares. A fumaça branca se dispersa levada pelo vento. A tropa se prepara para o desfile. Os velhos artilheiros pensam nos irmãos de armas não mais aqui presentes e aqueles que não voltaram. Não existe consolo, mas suas almas se elevaram pela certeza de que um mundo melhor passaria a existir.

Ao final a guarnição da saudade desfila diante do palanque onde estavam altas autoridades militares, o Comandante Militar do SE, Comandante da 2ª. DE, Comandante da 12ª. Brigada de Infantaria Leve Aeromovel de Caçapava, ChEM do CMSE, Comandante do Grupo, Prefeito, ilustres personalidades.

Dos simples soldados aos coronéis e generais que comandaram o Grupo, e ao general de 4 estrelas, todos se irmanam na cadencia do bumbo no pé direito. Não fica bem para um velho soldado chorar, mas percebe-se que muitos estão emocionados, e não conseguem conter uma lágrima furtiva ... Há 30, 40, 50 anos eles eram um daqueles rapazes que estavam em forma, militares jovens e esbeltos, cabelos pretos aparados, coração cheio de esperança.

A solenidade vai terminando. Os convidados visitam o bem cuidado museu. Junto com outros troféus, a bandeira com a malfadada suástica. O belíssimo Monumento merece sempre grandes atenções, pela beleza singela e nobre significado, contendo os nomes dos nossos Heróis. A seu lado o nicho de Santa Barbara acolhe os fieis, artilheiros a quem a Santa protege.

Os Veteranos da FEB e da AGRUBAN vão retornar para casa, a esperança de no próximo ano estarem juntos mais uma vez. Despedidas já com saudades, a visita foi curta. Pensam nos irmãos de armas que não estão mais aqui. Não existe consolo, mas suas almas se elevaram na certeza de que um mundo melhor passaria a existir.

Os Veteranos se impressionam com a evolução da mancha urbana, eles que conheceram a região ainda quase virgens. O adensamento populacional estancou diante do quartel, mas é impressionante como aquelas chácaras se transformaram em alphavilles, hotéis, prédios imensos, apenas o gigantesco e querido quartel garantindo a preservação das matas, o ar puro em sua imensidão, que traz pássaros esvoaçantes alegrando a formatura com seus piares.

Imersos em pensamentos, retornam ao mundo do dia-a-dia deixando as recordações do passado... Velhos Artilheiros, cumpriram seu dever, honrando a memória da nossa gente. Simplesmente foram Soldados - do Exercito de Caxias - da Artilharia de Mallet, a bradar o eterno e sagrado comando, que ecoou em Tuiuti, Fornovo di Taro, e agora em Barueri:

Peça, Fogo ! ! !
“ Peça Atirou !!! “

" Ma Force d’en Haut “
Minha Força vem do Alto
Brasão d’Armas do Marechal Mallet
Patrono da Artilharia Brasileira

Nota DefesaNet - Israel Blajberg é o autor do livro "Soldados que vieram de longe", que retrata a participação de soldados judeus na Força Expedicionária Brasileira (FEB)

http://www.defesanet.com.br/ecos/notici ... ra-Mundial




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#12 Mensagem por binfa » Ter Ago 28, 2012 12:52 pm





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#13 Mensagem por Wingate » Qua Set 19, 2012 6:57 pm





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#14 Mensagem por hancelo » Qua Set 19, 2012 9:17 pm

Bravo escreveu:

caramba




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#15 Mensagem por Túlio » Sáb Dez 08, 2012 7:15 pm

CHICO PARAÍBA



-Tenente Ithamar! A Polícia do Exército americana veio aqui e prendeu o Chico Paraíba. Dizem que vai ser julgado pela corte marcial. Quem falava era o sargento Arlindo, encarregado do alojamento de uma companhia do 11º Regimento de Infantaria da FEB-Força Expedicionária Brasileira.

Estavam próximos à cordilheira dos Apeninos e era o inverno italiano, no começo de 1945. O Tenente Ithamar, com seu grupo de reconhecimento, estava chegando de uma missão noturna junto às linhas alemãs. Não tinham havido baixas, felizmente. Mas nem por isso o humor do tenente era dos melhores. Para a perigosa missão, em terreno desconhecido, e à noite, só contava com um guia italiano, em quem, aliás, não confiara muito, desde o início. Soldados em combate desenvolvem um sexto sentido, e o seu não falhara. O italiano era um covarde, que os abandonara na escuridão de uma encosta, em meio a restos de neve, quando uma sentinela alemã, percebendo os ruídos do grupo, rolara uma granada morro abaixo; que felizmente não explodira muito perto. Escafedera-se o carcamano, e os brasileiros não mais haveriam de ouvir falar nele. Também pudera... Se o encontrassem depois daquilo, iriam moê-lo de pancada, no mínimo.

O tenente, quando pensava nele, praguejava entre dentes. Sem orientação, tivera que arriscar uma retirada que só era segura morro abaixo. No sopé, sem direção, poderia cair numa trincheira inimiga e seria um desastre. O jeito fora esperar o inicio da manhã e se guiar, mal e mal, pela bússola. Foi o que fez, e conseguiram retornar, embora os alemães, como todos os combatentes veteranos, tendo desenvolvido uma visão mais acurada, os tivessem percebido, e disparado algumas rajadas de metralhadora quando se deslocavam. Mas nessa altura já estavam fora de alcance.

Era, pois, um tenente Ithamar tenso, sujo, com frio, fome e cansaço quem recebia a má notícia.
- O que o Chico fez para ser preso?

- Disse que estava cansado dessa ração americana e queria fazer uma sopa. Deu um tiro de fuzil numa galinha e fez a sopa. O italiano dono da galinha foi no quartel dos americanos e deu queixa. Eles vieram aqui e levaram o Chico. Tentei discutir com eles, mas não adiantou. Disseram que é crime e está previsto nos regulamentos.

- Mas também está nos regulamentos que quem julga nossos soldados somos nós mesmos. Você não disse isso a eles?

-Sim, disse, mas não quiseram ouvir. Eu não sabia o que fazer, eram muitos. Achei melhor esperar o Sr. chegar.

-Você, Arlindo, que fala inglês, venha comigo. Chame o Gaúcho, e pegue o jipe.

-Vamos só nós?

-Não é preciso mais ninguém.

- Vamos desarmados?

-Não, armamento completo.

No trajeto, Ithamar, também paraibano, ia pensando no seu subordinado e conterrâneo. Chico era um cidadão muito popular na tropa. Sem muita instrução, era, contudo um ás na música nordestina, cantor, tocador de sanfona, dançarino, contador de causos e piadas. Seu sotaque carregado ajudava. Desinibido e folgazão. Sei que conhecem o tipo. Faz sucesso também em política. Chico era, além disso, bom soldado. Fazia-se respeitar no momento do combate.

-Arlindo, por que você não impediu o Chico de fazer essa besteira? Perguntou Ithamar.

-Quando vi, já tinha feito. Disse a ele que ia ter problema, mas ele disse que estávamos numa guerra de matar homens, e que problema ia ter matar uma galinha?

-Bem próprio da simplicidade do Chico, pensou Ithamar, quando já estavam chegando no quartel americano.

- Arlindo, quero que você traduza exatamente o que eu disser, seja lá o que for. Entendido?

- Entendido, meu tenente.

O sentinela americano relutou em levar até o oficial de dia aquele tenente com o fardamento sujo e seus dois acompanhantes, mas não podia fazer diferente. Foram recebidos por um capitão americano com quase dois metros de altura, bem fardado, saudável, acompanhado de quatro outros ianques, que os olhou com certo enfado.

- Diga a ele que lamento aqui comparecer sem estar devidamente fardado, mas que acabo de chegar de missão recebida do comando conjunto e não tive tempo de me trocar.

Arlindo traduziu, e o capitão mudou um pouco sua postura, ao notar o olhar cansado do tenente.

- Ele pergunta em que pode ajudar, meu tenente.
- Venho buscar um soldado meu comandado, indevidamente preso pela Polícia do Exército americana que, segundo ela, cometeu transgressão disciplinar, e a parte correspondente, para que possamos julgá-lo e puni-lo, se for o caso, em corte brasileira, como manda o regulamento.

- Ele diz que o soldado preso já tem processo em andamento, e pode ser julgado pelos americanos, pois o chefe do comando conjunto é americano. Assim, não pode entregá-lo. -traduziu Arlindo a resposta.

- Diga a ele que não sairemos daqui sem meu soldado, pois não aceito a interpretação dele e sou inteiramente responsável por cada um dos meus.

O americano ouviu, esboçou um sorriso, olhou para os outros americanos e perguntou, logo traduzido por Arlindo:
- Só vocês três? E como vocês pensam em levá-lo?
- Arlindo, traduza exatamente, repetiu Ithamar: - Eu não disse que iremos levá-lo. Disse que não sairemos daqui sem ele. Isso significa que, se preciso for, combateremos para levá-lo, embora sejamos minoria e provavelmente morramos aqui.

O americano ouvia com espanto crescente a tradução. Já se preparava para o pior, quando olhou bem no fundo dos olhos do atarracado tenente brasileiro. O que viu lá não foi do seu agrado. Também não foi o que não viu. Não viu medo. Não viu raiva nem hesitação. Viu uma calma determinação que não deixava margem a dúvidas. Viu que a afirmação que ouvira com espanto era a pura expressão da verdade. Prova é que o tenente estava aferrado à sua Thompson, e por certo faria um estrago antes de morrer, se um tiroteio começasse ali. E ele estava diretamente na frente, enquadrado na linha de tiro. Ou então – quem sabe? – sentiu admiração por aquele tenente exaustoque, como ele, lutava longe de casa pela liberdade e não abandonava um dos seus nas mãos de estrangeiros, ainda que aliados.

O silêncio era gritante. Dizia muitas coisas. Mas não durou muito, embora parecesse não acabar mais. Um minuto? Menos. O americano virou-se para um subordinado:

- Busque aquele caipira e entregue a eles!

Ninguém falou mais nada. Nem quando Chico Paraíba, risonho, sem saber da tragédia que quase tinha provocado, entrou na sala. Ithamar fez a continência de praxe, voltou-se e saiu, com seus soldados e um Chico já tagarelando de alegria. Ouviu o americano falar algo para seus companheiros. Mas nem perguntou a Arlindo o que era. Já não interessava mais. Se tivesse pedido a tradução, seria: "Esses brasileiros são loucos. Morreram às dúzias para tomar o Monte Castelo. Verdadeiros suicidas."

Irapuan Costa Junior


(Esta crônica é uma homenagem a Ithamar Viana da Silva, que recebeu várias condecorações por bravura na Itália. Na volta da guerra, fez o curso de engenheiro no IME- Instituto Militar de Engenharia. Reformou-se como coronel, casou-se com uma goiana e constituiu família. Foi professor universitário em Brasília e ocupou, com dedicação e honestidade exemplares, vários cargos públicos em Goiás. Faleceu em 1999).


Fonte: Jornal DIÁRIO DA MANHÃ, de Goiânia




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