FEB, suas histórias.

Assuntos em discussão: Exército Brasileiro e exércitos estrangeiros, armamentos, equipamentos de exércitos em geral.

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R.A.Barros
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FEB, suas histórias.

#1 Mensagem por R.A.Barros » Sex Out 02, 2009 8:19 pm

Bom, peço que contruibuam, tem muitas histórias da Força Expedicionária Brasileira na net, eu mesmo vou postando as que eu achar legal aqui.
Os últimos dias da campanha foram caracterizados pela orgia de prisioneiros. Naquela fase de desintegração dos exércitos alemães, em que a derrota se tornava clara até para o mais obcecado nazista, o sentimento predominante era salvar a pele, uma vez que tudo mais estava perdido. E para isso nada melhor do que se entregar prisioneiro. Fazer prisioneiro nessa época deixou de ser uma façanha sensacional, para se tornar um fato vulgar, de toda hora.

Até meu enfermeiro, destacado num posto avançado da companhia de Transmissões, fez um prisioneiro, coisa que positivamente não era de suas atribuições.

Um "jeep" que passasse por certas estradas menos transitadas, arriscava-se a ver surgir dalguma valeta um ou dois alemães, que desejavam ser aprisionados. Aquilo já nem tinha graça.

Era interessante a maneira diversa com que os norte-americanos e os brasileiros tratavam os alemães. O americano trazia um prisioneiro com formalidade, de baioneta calada, mantendo-o alguns passos à sua frente, sem maltratá-lo, mas com severidade. O brasileiro não era assim. Uma vez que o "tedesco" se entregava mesmo, era quase um amigo. O pracinha batia-lhe no ombro, dizendo: "Alemão heim?" E lhe oferecia um cigarro.

Uma vez chegou ao P.C. de Companhia, um pracinha desarmado, conduzindo um alemão que trazia dois fuzis.

Apresentou-se ao tenente.

_ Pronto, seu Tenente. Este é um alemão que eu prendi.

_ E onde está seu fuzil?

_ Está com ele. Eu estava cansado e lhe pedi para trazer o meu também .

Era assim, na camaradagem.

Naquela babel de brasileiros, americanos, alemães, italianos, etc., muita confusão havia de surgir.
Com uma patrulha, comandada por um sargento gaúcho se deu o seguinte fato:

Numa volta do caminho, nossa patrulha dá com um bolo de alemães e o sargento imediatamente cercou todo mundo com seus homens, desarmando-os. a questão era que os alemães já vinham sendo tocados por dois ou três americanos, que os haviam aprisionado.
Vendo nossos homens naquela atitude, os americanos gritaram: "Oh! Brazilian, friends!"

O sargento, porém, que não sabia bem o inglês, não quis saber de conversa e foi dizendo:

_ Não tem disso, não! É tudo gringo, vai tudo preso!

E só quando chegaram à Companhia é que se esclareceu quem era "gringo" e quem não era.




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R.A.Barros
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Re: FEB, suas histórias.

#2 Mensagem por R.A.Barros » Sex Out 02, 2009 8:39 pm

Essa é a mesma, mas contada em outro relato.
E FOI ASSIM… Que, certa feita, estava um general estadunidense com o General Zenóbio, planejando um ataque, e necessitavam de informes urgentes sobre determinada posição. Foi organizada uma patrulha. O general americano, através do Capitão Walter Vernon, procurou certificar se cada um dos membros do grupo era imbuído de sua responsabilidade. Foi perguntando de um a um a sua missão na patrulha, até que chegou a um soldado atarracado, pernas tortas, feio, e indagou-lhe: qual sua função?

- Eu sou o ISCA.

- O ISCA? Que quer dizer? O que é que você tem que fazer?

- É assim, meu general: quando a gente não tem certeza onde o tedesco esta, eu vou na frente, e se desconfio que esta por perto, eu pulo na frente deles, faço umas “visagens”, ai então atiram em mim; os companheiros vêem onde estão e atiram neles também.

O general ficou admiradíssimo com o sangue frio do nosso pracinha e principalmente com a forma quase displicente com que descrevia um ato de bravura daquele tipo; servis de isca para o inimigo.

Saiu a patrulha. O general estadunidense permaneceu no QG brasileiro até o retorno do grupo. Ao retornarem os patrulheiros, todos se puseram a estudar os informes trazidos, mas em determinado momento o general deu por falta do soldadinho que tanto o impressionara. Onde estava o ISCA? A resposta o deixou desolado. O ISCA não havia retornado. O general ficou muito penalizado e pediu ao Capitão Walter que anotasse no nome do rapaz para uma citação e continuaram a estudar os informes trazidos pelos patrulheiros.

Em dado momento, ouviu-se do lado de fora do P.C. um alarido, uma gritaria, uma discussão:

- Nada disso, quem vai levar este cabra da peste lá pra dentro sou eu. Eu trouxe ele inté aqui, não foi? Por que não posso levar ele inté lá? Vamo, anda, cabra da peste, pra que tu tem umas pernas tão cumpridas? Anda logo seu filho…

Os oficiais que se encontravam reunidos ficaram espantadíssimos ao verem entrar no recinto um enorme alemão, sargento da SS, com pavor estampado na cara, segurando frouxamente na mão esquerda, com o braço pendido um fuzil e atrás dele o atarracado ISCA com uma faca peixeira que a cada momento o cutucava nas costas. Essas “peixeiras”, caracteristicamente usadas pelos cangaceiros nordestinos, foram difundidas entre as tropas e tornou-se de grande utilidade, pois tanto o alemão como os próprios estadunidenses delas tinham verdadeiro pavor.
peixeira FEB O Sargento das SS Torcedor do Vasco

Peixeira - Típico facão

Esse soldado era da tropa de escol, a famosa SS, e portava orgulhoso a sua Cruz de Ferro, e foi ela que na realidade salvou a sua vida.

- Que negocio é este, soldado, como se atreve a entrar assim. Interrompendo nossa reunião e ainda por cima trazendo para o recinto um alemão armado! – esbravejou um coronel.

- Não, Coronel, o gringo não esta armado não! – Como não esta armado? E este fuzil que ele esta carregando?

- Ah! Bom, Coronel, este é meu fuzil que eu mandei ele carregar pois eu já estava cansado!

- Então você insiste em dizer que ele não esta armado?

- Ta não sinhô, o fuzil eu joguei fora. Mas num se assuste não, Coronel, ele não faz nada não, ele tem medo aqui da minha ‘lambedeira”

- Mas que negocio de trazer o prisioneiro até aqui, você não sabe que entregá-lo para a PM?

- Sei sim, meu Coronel, mas este aqui era muito “ispeciá”

- Especial por que? Como foi que você o pegou?

- O negocio foi assim: quando eu passei por um ataio, vi que este cabra estava bem escondidinho por trás de um moita pra da o bote em riba dos companheiros. Então eu vi logo que tinha mais tedesco pru perto. Sartei na frente deles, fiz as minhas visage pra chamar a atenção do gringo, me joguei no chão quando eles começaram a atirar, e fui chegando de mansinho por trás. A nossa turma passo pra vê mio os bijetivos. Eu fui devagarinho me arrastando e dando a vorta pra pegar ele pur trás pra não estragar a festa dus cumpanheiros. Quando alevantei a lambedeira pra fincar nele, foi que vi que num tava direito, que não podia.

- Não estava direito e podia por que? O que foi que você viu que salvou a vida deste alemão? – perguntaram quase em coro vários oficiais.

- Olha ali no peito dele, Coronel, ele é do nosso time! Apontava com um sorriso a Cruz de Ferro no peito do alemão. Olha Coronel, ele também é torcida do VASCO como o senhor e eu!

Fonte: E Foi Assim Que A Cobra Fumou – Elza Cansanção
Pag: 168-169




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Re: FEB, suas histórias.

#3 Mensagem por guilhermecn » Sex Out 02, 2009 8:39 pm

R.A.Barros escreveu:Bom, peço que contruibuam, tem muitas histórias da Força Expedicionária Brasileira na net, eu mesmo vou postando as que eu achar legal aqui.
Os últimos dias da campanha foram caracterizados pela orgia de prisioneiros. Naquela fase de desintegração dos exércitos alemães, em que a derrota se tornava clara até para o mais obcecado nazista, o sentimento predominante era salvar a pele, uma vez que tudo mais estava perdido. E para isso nada melhor do que se entregar prisioneiro. Fazer prisioneiro nessa época deixou de ser uma façanha sensacional, para se tornar um fato vulgar, de toda hora.

Até meu enfermeiro, destacado num posto avançado da companhia de Transmissões, fez um prisioneiro, coisa que positivamente não era de suas atribuições.

Um "jeep" que passasse por certas estradas menos transitadas, arriscava-se a ver surgir dalguma valeta um ou dois alemães, que desejavam ser aprisionados. Aquilo já nem tinha graça.

Era interessante a maneira diversa com que os norte-americanos e os brasileiros tratavam os alemães. O americano trazia um prisioneiro com formalidade, de baioneta calada, mantendo-o alguns passos à sua frente, sem maltratá-lo, mas com severidade. O brasileiro não era assim. Uma vez que o "tedesco" se entregava mesmo, era quase um amigo. O pracinha batia-lhe no ombro, dizendo: "Alemão heim?" E lhe oferecia um cigarro.

Uma vez chegou ao P.C. de Companhia, um pracinha desarmado, conduzindo um alemão que trazia dois fuzis.

Apresentou-se ao tenente.

_ Pronto, seu Tenente. Este é um alemão que eu prendi.

_ E onde está seu fuzil?

_ Está com ele. Eu estava cansado e lhe pedi para trazer o meu também .

Era assim, na camaradagem.

Naquela babel de brasileiros, americanos, alemães, italianos, etc., muita confusão havia de surgir.
Com uma patrulha, comandada por um sargento gaúcho se deu o seguinte fato:

Numa volta do caminho, nossa patrulha dá com um bolo de alemães e o sargento imediatamente cercou todo mundo com seus homens, desarmando-os. a questão era que os alemães já vinham sendo tocados por dois ou três americanos, que os haviam aprisionado.
Vendo nossos homens naquela atitude, os americanos gritaram: "Oh! Brazilian, friends!"

O sargento, porém, que não sabia bem o inglês, não quis saber de conversa e foi dizendo:

_ Não tem disso, não! É tudo gringo, vai tudo preso!

E só quando chegaram à Companhia é que se esclareceu quem era "gringo" e quem não era.


Dei muita risada na ultima história
rssss " È tudo gringo"

Não sei se é lenda ou verídico, li na internet ( youtube para ser mais preciso)

certa vez 3 pracinhas foram fazer uma patrulha perto das linhas inimigas(não lembor o lugar)
Chegando no local foram cercados por um batalhão alemão e então começou o combate
Após um tempo a munição dos pracinhas havia terminado e por rádio o superior deles exigia que estes se entregassem
Eles recusaram(os pracinhas) e partiram para o combate corpo a corpo e morreram
Os alemães ao ver a bravura dos soldados da feb, os enterraram e escreveram em sua lápide "Hier sind drei Helden von Brasilien" , Aqui estão três heróis brasileiros.

Não sei se a tradução está correta( o tradutor do google é meio suspeito :) )




"You have enemies? Good. That means you've stood up for something, sometime in your life."
Winston Churchill


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Re: FEB, suas histórias.

#4 Mensagem por R.A.Barros » Sex Out 02, 2009 9:01 pm

8 de março, 1945.

Na encosta do morro, naquela posição que os brasileiros haviam conquistado na véspera, encontrei um soldado que disse ter visto três cadáveres de alemães. Como eu trazia a péssima Karat que comprei em Pistóia, ele pensou que eu fosse fotógrafo, e perguntou se não queria ir até lá.

-É longe?

-Não Senhor. É pertinho. Só o que tem é que é meio perigoso…

Pouco antes caíra uma grande granada de morteiro ali por perto, e pensei que era a esse perigo que se referia o homem. Como estávamos em um lugar sob as vistas do alemão, o perigo era mais ou menos igual em qualquer parte, e resolvi ir. Andamos, eu atrás dele, uns 15 minutos. A certa altura, ele fez menção de atravessar uma cerca, mas se deteve.

-Esqueceu o caminho?

-Não senhor, mas eu acho que por aqui não se pode ir. Eu da outra vez vim de lá do alto do morro…

O homem olhava muito para o chão, e perguntei:

-Já tiraram minas aqui?

Ele achava que não. Os mineiros haviam apenas retirado minas em um trilho para que nossos infantes passassem. Além disso, haviam assinalado alguns trechos minados, à margem do caminho. Mas o caminho passava lá por cima e descia por outra encosta.

Havia, cortando a grama, duas ou três trilhas mal marcada, e podíamos ver, à esquerda, uma fita branca que talvez indicasse um campo minado, mas não delimitava nenhum terreno precisamente. Além disso, fitas brancas não usadas em algumas estradas ruins para que os carros não se precipitem em buracos no escuro, quando não podem acender os faróis.

Vários raciocínios desse tipo me acudiram à cabeça, mas nenhum deles levava a outra conclusão além desta: nós podíamos estar andando em um campo minado, ou estar na iminência de fazê-lo.

Voltar era quase igualmente tão perigoso quanto tocar para frente; o remédio era andar olhando para o chão.

Não sei o que se passou na alma do pracinha quando ele confessou que não sabia mesmo o caminho seguro, só sabia mesmo que os alemães mortos estavam entre um pequeno grupo de árvores e uma casinha mais no alto. Mas eu senti medo. É um tipo de medo assim: você ter de andar descalço num capinzal cheio de cobras venenosas. E sem esperança de contraveneno: e com a idéia de que se, no lugar de passar correndo, você passar bem devagarzinho, olhando bem, pisando com todo cuidado, tem uma vaga probabilidade, muito vaga, de não ser arrebentado por uma das minas maiores, ou ter o pé arrancado por uma das menores.

O soldado – caboclinho baixo – começou a caminhar assim, lentamente e eu ia pisando aproximadamente onde ele pisava. De repente voltou-se:

- Vamos voltar? A gente pega outro caminho…

Antes que eu respondesse, li nos seus olhos que ele próprio reagia contra o que acabara de dizer. Subitamente começou a andar mais depressa e eu o segui, também disposto a ir para o inferno, mas sair de qualquer modo daquela agonia.

Apesar dessa disposição, eu não pude de deixar de refletir que se ele pisasse em qualquer mina, eu também seria atingido pela explosão, tão perto estávamos.

Atravessamos um trecho de pasto onde havia espalhados, pedaços de cartucheiras, papéis, restos de equipamento, pisando no chão com força. Mas quando chegamos junto a uma valeta, o medo voltou de súbito, nele e em mim. Resolvemos, por vagos indícios, que o trecho em nossa frente era suspeito do outro lado da valeta havia um campo arado há muito tempo, e sob a camada superficial de terra julgávamos distinguir coisas que podiam ser minas.

Não chegamos a trocar idéias a respeito, dobramos à direita, outra vez lentamente, pisando com mil cuidados, procurando aqui e ali pequeno pedaço de terra que inspirasse confiança. Lembrei-me, então, de uma fotografia de Santos Dummont, publicada por ocasião de sua morte, em que ele aparecia com um par de asas mecânicas – um invento em que estava trabalhando. Vi nitidamente a fotografia, e me ocorreu que afinal de contas, com tanta coisa que inventam, não seria surpresa se inventassem um aparelho assim, leve, com o qual se pudesse voar ao menos baixinho, nem que fosse um centímetro acima do chão, já seria suficiente. Lembrei-me então de um sujeito que encontrei no dia em que houve aquele horrível desastre, quando Santos Dummont chegou ao Brasil, um sujeito chato, eu estava em Niterói. De súbito me desagradou essa classe de pensamentos, e meus olhos caíram num terreno próximo, onde vi alguma coisa que me interessou.

Chamei a atenção do soldado, e ele também me olhou. O terreno. Não sei se algum autor já descreveu o prazer verdadeiramente grande e solene que um homem sente em andar sobre a terra, pisando a terra com suas botas, a boa terra feita para o homem andar para um lado e outro, andar para procurar comida para comer, água para beber, mulher, casa, árvore, sol e até cadáveres alemães.

Chegamos logo a um caminho, e um pouco à direita estava o primeiro corpo.

O homem tombara provavelmente vítima de uma granada, dentro de sua posição, um foxhole raso. O corpo não apodrecera, certamente graças ao frio, e é provável que tenha estado muito tempo coberto pela neve.

O capacete de aço cobria uma parte de sua cabeça, e a cara estava voltada para um lado, já meio descarnada. Pelo seu culote, parecia ser um oficial ou um sargento. E ali, sozinho, jogado na terra, dava a impressão estranha de que tinha encolhido depois de morto.

Mais adiante, num buraco que parecia uma posição de morteiro, estavam dois cadáveres de soldados. Um deles tinha a mão descarnada, e a brancura dos ossos ressaltava sobre o seu uniforme, cuja cor se confundia com a terra. O outro, cuja caveira começava a ser visível, tinha o dólmã rasgado, e havia sinais de alguém começara a lhe aplicar uma atadura no braço. Bati umas fotografias – e voltamos pelo caminho que o soldado conhecia.

A esta hora os homens já devem estar enterrados no Cemitério Militar Brasileiro. Deve estar lá, cada um dentro de um saco, no fundo do chão, esperando o momento em que serão removidos para a Alemanha.

Muitos corpos enterrados em muitos campos da Europa e do Oriente.

Milhões de corpos enterrados em monótonos cemitérios russos, alemães, franceses, chineses, americanos, húngaros, ingleses, brasileiros, búlgaros, italianos, japoneses etc., etc., etc. Milhões de corpos de todas as raças humanas enfileirados nos cemitérios do mundo.

E cadáveres de mulheres e crianças, juízes e lavadeiras, gente de toda espécie, que a guerra foi matar dentro de seus lares, no lugar onde trabalhavam, ou na rua quando estavam cantarolando, ou chorando, ou rezando, ou comendo…

São milhões de criaturas humanas e todas estão debaixo da terra. Cuidado, caminhantes do futuro. Pisai com muito cuidado, esses corpos são minas, são terríveis minas de tempo. Pisai devagar, olhai o chão, olhai com toda humildade o chão.

É preciso olhar o chão, o chão da terra, o chão dos homens. Traçam demasiadas fronteiras no chão, dividem o chão entre poucos homens, torturam o chão, conspurcam o chão. Libertem o chão!

Os homens precisam de chão livre, para andar. E é uma grande e solene coisa: andar.
Fonte: Crônicas de Guerra – Rubem Braga




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Re: FEB, suas histórias.

#5 Mensagem por R.A.Barros » Sex Out 02, 2009 9:16 pm

Essa é ESPETACULAR!
Natural de Cruzeiro, Estado de São Paulo, Filho do Sr. José Caputo. Pascoal tinha lá uma casa de comercio, lidava com ferro velho, fábrica de banha e muitos outros negócios.

Prisioneiros fáceis

Dezembro, 1944

O TERCEIRO-SARGENTO, Pascoal Caputo, nº3. 294 é um rapaz forte e bem apessoado, filho de Cruzeiro, Estado de São Paulo, onde vive (Rua Dr. Carlos Varela, 384) seu pai, Sr. José Caputo. Pascoal tinha lá uma casa de comercio, lidava com ferro velho, fábrica de banha e muitos outros negócios. Mas há dois anos deixou todos os negócios, vestiu uma farda- e hoje é um homem que já fez 23 prisioneiros nesta guerra.

Dos 23 prisioneiros de Caputo, 22 são italianos e um alemão. Mas vamos contar uma historia que aconteceu uma noite com ele. Foi na primeira quinzena de novembro. Assim pelas nove e meia da noite, sua companhia teve ordem de ir ocupar uma posição de onde iam sair soldados sul-africanos. Pascoal ficou comandando uns 17 homens de sua Seção de Morteiros. Quando chegaram à posição, os sul-africanos ainda estavam saindo, e demoraram um pouco a carregar suas coisas. Os soldados de Pascoal ficaram sentados numa calçada, fumando, enquanto o sargento resolvia o lugar exato onde devia passar a noite.

No meio dos soldados brasileiros apareceu um sul-africano que a toda força queria conversar com nossos homens. Como ele não falava português, os pracinhas acharam que lê estava bêbado.

-Non capisco niente,anda lá , lá.

E um pracinha apontava para o grupo de sul-africanos que ia se retirando.O homem, porem, insistia com sua língua arrevesada. Afinal um pracinha disse:

-Esse camarada está de “cara cheia” e é capaz de ficar ai com a gente.

E segurou no braço do homem, empurrando-o para o lado dos sul-africanos e dizendo:

- Cui niente parlare inglese. Ven cua…

O homem foi então para onde estavam os sul-africanos e ficou por lá. O sargento Pascoal indagou para um lado e outro, e acabou resolvendo passar a noite numa casinha que havia ali. Mandou que os homens fossem para lá e se arrumassem para passar a noite, recomendando que não fizesse muito barulho porque a linha alemã era muito próxima. Foi na escuridão até um lugar perto fazer ligação com o tenente. Quando voltou, encontrou o soldado Roberto Rauch, de sua seção que lhe disse:

- Sargento, eu acho que amanhã nos vamos ter que cavar uns foxholes. Os alemães estão deste lado. Num morro que tem aqui à esquerda está um pessoal nosso, mas os alemães têm uma metralhadora que não deixa ninguém passar ali…

O pracinha continuo a dar informes, e o sargento ficou admirado dele saber tanta coisa sobre a posição que acabavam de ocupar.

- Como é que você sabe disso?

- Foi um sul-africano que me explicou. Ele está ai dentro.

- Uai, você fala inglês?

- Não, mas ele fala alemão, e eu também. Ele me contou em alemão.

O sargento resolveu então ir ver o tal sul-africano para arranjar mais informações, levando o soldado Roberto como intérprete. Encontrou seus homens já instalados na casinha, e, sentado no meio deles, fumando um cigarro, o mesmo sujeito que antes estava na calçada. O sargento começou a interrogá-lo, e a certa altura, acendendo sua lanterna, achou alguma coisa esquisita no uniforme do homem.
- Do you speak inglish?

O homem respondeu que não.

- É um tedesco!

Era mesmo. O tedesco estava a três ou quatros horas querendo explicar que era tedesco e vinha se entregar e os sul-africanos achavam que ele era brasileiro, e os brasileiros achavam que ele era sul-africano, coisa muito natural naquele escuro.

Quando eu vi que ele tinha uma águia no bibico – me conta o sargento – gritei que ele era tedesco. O homem continuou calmo. Botei um soldado tomando conta dele, porque estava muito tarde para mandar levar o homem. Isso já devia ser meia-noite. Tratamos de arrumar um jeito de dormir. Eu me arrumei embaixo da mesa. O alemão estendeu o capote num canto e deitou-se. Era um sujeito enorme, já meio velho e muito calmo. Disse que tinha vindo se entregar porque estava cansado da guerra. Imagina que tinha pegado a batalha de Stanligrado e de Kiev…

O sargento conta que ficou com pena vendo o homenzarrão com a cabeça no tijolo, e deu um capote para ele fazer de travesseiro. Alguns soldados deram-lhe pedaços de chocolate e cigarros.

- Baiano, você fica acordado e toma conta desse alemão.

Baiano – Florivaldo Alves do Nascimento, nº 1.326 – ficou acordado e os outros, inclusive o alemão, começaram a dormir.

De madrugada, o sargento acordou com um grito e um ruído de alguém que destravava a arma. Acendeu a lanterna e viu que o alemão estava em pé, e Baiano também se levantara, e apontava o fuzil para o tedesco, que estava perto da porta.

- Não sai não, que eu passo fogo!

Mas apesar da ameaça de Baiano, o alemão ia saindo. O sargento saiu de baixo da mesa e pulou para a porta, barrando a retirada do prisioneiro.

- Ele me pôs a mão no peito – conta o sargento – e eu pensei assim:

“Estou roubado com esse homem.” O senhor compreende, era um bruto homem, e se o soldado atorasse podia me pegar… Agarrei-o pela gola, e ele agarrou minhas mãos e fez soltar. O senhor precisava ver que mãos tinham aquele desgraçado: cada uma dava duas das minhas…

O sargento empurrou o alemão, e o soldado mudou de posição, encostando o fuzil no peito do homem.

Aí outros soldados haviam acordado com o rumor, todo mundo nervoso – menos o alemão. Depois de falar várias coisas que ninguém entendeu, fez um gesto que todos compreenderam. O tedesco queria ir lá fora – com licença da expressão – para fazer uma necessidade…

22 italianos presos

Esse tedesco foi o 23º prisioneiro do sargento.

- Os outros 22 foi naquele desgraçado lá em San Chirico… Foi quando nossos homens ainda estavam no vale do Serchio. O tenente Almenor Guimarães, de um pelotão de petrechos, mandou o sargento Caputo com quatro soldados procurar ligação com o capitão Aldenor Mais, comandante da companhia. O sargento saiu, mas voltou sem poder sem poder falar com o capitão, porque o caminho para o PC estava batido por duas metralhadoras nazistas. O sargento viu-se em situação apertada com seus homens, e quando quis voltar ao ponto de partida, viu que não podia. Resolveu então recuar pro outro lado, até duas casas que havia ali. Chegando lá, encontrou vários soldados que tinham descido da montanha. Eram uns 12 ou 15 homens.

O sargento dispôs seus homens trás de uma casa enquanto resolvia o que fazer. Um dos soldados apareceu então, dizendo que vinham muitos alemães descendo o morro pelo lado da casa. O sargento mandou que seus homens esperassem o inimigo ali e foi sozinho pelo outro lado, com a intenção de ficar por trás dos alemães:

- Eu pensei assim: estamos desgraçados. Dei ordem aos homens de agüentarem ali. Eu ia passar pelo meio das duas casas, e quando os alemães viessem, eu ficaria atrás deles. Mesmo sendo eu sozinho, eles podiam pensar que era mais gente e tratariam de recuar, pensando que estavam cercados. Mas quando eu entrei no corredorzinho entre as duas casas, dei de cara com um soldado. Levei um susto desgraçado e na mesma hora apontei minha arma para atirar. Atrás dele tinha outro, também com o braço levantado, e trás mais outro – era uma fila que até o fim daquele corredor.

O sargento espiou e viu que os homens que estavam mais atrás não tinham levantado o braço, e receou que algum deles lhe desse um tiro lá de trás. Gritou que todos levantassem os braços, mas muitos continuaram como estavam.

- Então dei um tiro no chão, perto do pé de um italiano, e todos levantaram os braços e começaram a gritar que eu não atirasse. Aí eu gritei para os meus homens que estavam esperando o inimigo do outro lado de casa, e eles vieram. Saiu aquela fila de italianos, e eu fui contando: eram 22. Quando eles viram os soldados chegar correndo com fuzil na mão, ficaram com tanto medo que chegavam a tremer. E eu, para falar a verdade, também estava com medo, com aquela italianada na minha frente. Qual? Aqueles não queriam nada com a guerra…

Crônicas Da Guerra na Itália (Rubem Braga)




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Re: FEB, suas histórias.

#6 Mensagem por alexmabastos » Seg Out 12, 2009 8:13 pm

Meu avô foi pracinha na Itália...mas nunca chegamos a conversar sobre o assunto. Lembro quando eu era pequeno e eclodiu a Tespestade no deserto....eu era bem pequeno mas lembro da feição dele. Uma mistura de ansiedade e preocupação...
Guardo hoje sua boina e algumas coisas mais. Inclusive uma carta do gen. Mascarenhas.
Ele pertencia à um grupo de obuseiros rebocados...alguém saberia mais sobre esta cia?

Abs!!

Alex




Bender

Re: FEB, suas histórias.

#7 Mensagem por Bender » Seg Out 12, 2009 8:50 pm

Essa história não está na internet, eu ouvi da própria boca do protagonista lá pelos idos dos anos 80,um amigo de meu pai.

"Ele tinha dezenove anos de idade,estava na Itália já a bastante tempo,já havia visto vários companheiros tombarem,era véspera de ano novo,acho que era 1945,e ele e um colega,estavam entrincheirados,aos pés de Monte Castelo,o frio era intenso,a umidade nos pés,que as vezes parecia que já tinha se estabelecido nos ossos também,o silêncio era total,e a escuridão também,durante longos períodos,não se ouvia um tiro sequer,só o barulho do vento,e a chuva fina tilintando no capacete.

Nesses momentos, o pensamento se voltava para a família no Brasil, para os companheiros mortos, se voltaria a vêr os amigos na sua terra,se ele não seria o próximo,a solidão,o medo,tudo contribuía para que os sentimentos mais íntimos se fizessem presentes na sua mente.

Seu companheiro permanecia calado ,e ele também,eram cerca de 11 horas da noite,as 3 da madrugada seriam rendidos.

Começaram a ouvir,barulho de passos, amassando o barro,o barulho se intensificava,vinha na direção deles,engatilharam as armas,seu colega mandou um "quem vem lá!,uma vós conhecida em inglês respondeu,com um nome americano,era um sargento conhecido dos dois.

Ao se aproximar,mesmo na escuridão reparam que ele tem algo nas mãos,parecem várias embalagens de pizza,como as conhecemos hoje,só que escuras,ele se aproxima e chega junto deles,se agacha e entrega uma daquelas embalagens para cada um,e fala:

-Feliz ano Novo!Com os cumprimentos do presidente dos Estados Unidos da América, Franklin Delano Roosevelt!E se vai.

Ele abre a embalagem,e lá dentro ele vê,pêssegos em calda,pão,carne de Peru,tudo perfeitamente elaborado e arrumado,uma ceia de ano novo,no front italiano,sobre a comida uma carta timbrada com o símbolo do Governo americano,onde se lia o agradecimento a todos aqueles que se sacrificavam para lutar em pról da liberdade,com o nome de Roosevelt na assinatura final."

Segundo ele,esta carta veio com ele da Itália,e se encontra em seu poder.

Eu soube a semana passada através de meu pai,que ele conta ainda com boa saúde e continua morando em São Paulo.

Minha pequena homenagem ao pracinha “Lascalèia”,se fui impreciso,me perdoe,e que Deus lhe guarde.

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Sds.




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R.A.Barros
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Re: FEB, suas histórias.

#8 Mensagem por R.A.Barros » Ter Out 13, 2009 12:28 am

A segunda guerra foi mesmo espetacular, eu posso sentir o frio e a alegria que esses pracinhas passaram em suas trincheiras. Eles não dormiam? se revezavam?

Abraços




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arcanjo
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Re: FEB, suas histórias.

#9 Mensagem por arcanjo » Ter Mar 25, 2014 6:17 pm

25/03/2014
Deslocamento da "Coluna da Vitória - Coluna Frei Orlando"

Deslocamento da "Coluna da Vitória - Coluna Frei Orlando" no itinerário de São João Del Rei/MG até Rio de Janeiro/RJ. A Coluna da Vitória homenageou os 70 anos do embarque da Força Expedicionária Brasileira para a Itália durante a 2ª Guerra Mundial, realizando o mesmo percurso feito na época.

Imagem
Foto: Subtenente Brandi - 17º B Log

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abçs

arcanjo




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Re: FEB, suas histórias.

#10 Mensagem por cabeça de martelo » Sex Mar 06, 2015 1:30 pm





"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

Portugal está morto e enterrado!!!

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