Russia e Ucrânia e uma intricada disputa

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

Moderador: Conselho de Moderação

Mensagem
Autor
Avatar do usuário
EDSON
Sênior
Sênior
Mensagens: 7303
Registrado em: Sex Fev 16, 2007 4:12 pm
Localização: CURITIBA/PR
Agradeceram: 335 vezes

Russia e Ucrânia e uma intricada disputa

#1 Mensagem por EDSON » Ter Out 09, 2007 6:59 pm

Identidade como
Fonte de Conflito:
Ucrânia e Rússia no
Pós-URSS

Com o fim da URSS, as ex-repúblicas socialistas adquirem o status
de países independentes e dão início à construção de uma nova ordem
no leste da Europa. A instabilidade é esperada, pois a falência
da autoridade central soviética introduz os novos países no reino da
anarquia. Nesse sentido, a emergência de Estados soberanos traz à
tona uma série de conflitos de interesses que permaneceram latentes
durante o regime comunista e nos quais a Rússia está envolvida por
causa de sua extensão territorial, o tamanho de sua população e sua
importância militar. Além disso, algumas disputas envolvem as aspirações
de autonomia das antigas repúblicas, as quais passam a enxergar
a Rússia como sucessora da União Soviética no papel de opressor. Por isso a postura russa em relação a seus vizinhos é crucial
para a viabilidade da nova ordem regional.
O presente artigo trata da relação entre Rússia e Ucrânia nesse contexto.
Mais especificamente, sugiro que os conflitos que emergem
entre os dois países têm origem no modo como suas identidades são
construídas a partir do fim da URSS.Otexto está dividido em quatro
partes. Na primeira, algumas contribuições teóricas sobre os conflitos
entre Ucrânia e Rússia são comentadas. Na segunda, um modelo
construtivista para ser aplicado no caso em questão é sugerido.A terceira
parte consiste na aplicação deste modelo, a partir da análise da
interação entre Ucrânia e Rússia no imediato pós-URSS.Na quarta, a
relação entre a Ucrânia, a Rússia e a Organização do Tratado do
Atlântico Norte (OTAN) é analisada tendo em vista o que é apresentado
nas seções anteriores. Algumas considerações finais concluem
o artigo.

Os Conflitos entre Ucrânia e
Rússia no Pós-URSS

No pós-URSS, a intensidade e a abrangência dos conflitos da Rússia
com as demais ex-repúblicas socialistas variam de acordo com os países
em questão. O conflito principal entre os três países do Báltico e
a Rússia diz respeito ao estatuto das minorias na região.A Rússia receia
que o resgate dos valores nacionais na Letônia, Lituânia e Estônia
resulte em discriminação contra as minorias russas. Por sua vez,
os três países temem que a situação dos russos em seus territórios seja
utilizada por Moscou como pretexto para justificar a ingerência da
Rússia nos seus assuntos internos (Lieven, 1999).
Já o conflito entre Rússia e Bielo-Rússia é econômico.A maior parte
do petróleo e do gás natural consumidos pela Bielo-Rússia é fornecida
pela Rússia. Porém, por causa das precárias condições econômicas
do país, o governo de Minsk tem dificuldades em pagar suas dívidas. Todavia, o problema é facilmente administrado e as divergências
econômicas não afetam a cooperação em outras áreas (Burant,
1995).
A indisposição entre Rússia e Moldávia é militar. Durante o processo
de dissolução da URSS é criada a Frente Popular da Moldávia, um
movimento político que busca a união do país com a Romênia. Com
medo das conseqüências de uma provável anexação à Romênia, a população
eslava que habita a região entre o rio Dniester e a fronteira
com a Ucrânia inicia uma guerra de secessão. Imediatamente, as forças
armadas russas localizadas na região rebelde apóiam abertamente
o movimento. Desde então, Moscou e Chisinau têm um relacionamento
pouco amistoso (Garnett e Lebenson, 1998).
A relação da Ucrânia com a Rússia é mais complexa. Quase todas as
disputas envolvendo os dois países no pós-URSS são tratadas em um
ambiente de conflito. Assim como os países bálticos, a Ucrânia também
teme que a preocupação com o status da minoria russa que vive
em seu território seja utilizada pela Rússia como pretexto para interferir
na política interna ucraniana. Porém, a presença russa na Ucrânia
tem um potencial de desestabilização muito maior. Dos 50 milhões
de habitantes do país, 25 milhões falam russo como primeiro
idioma e mais de 10 milhões são originários da Rússia. Essa “grande”
minoria russa se concentra nas regiões leste e sul da Ucrânia, exatamente
na parte que faz fronteira com a Rússia. Na Península da Criméia,
por exemplo, 70% da população é de origem russa. As manifestações
da Rússia sobre sua diáspora são consideradas pela Ucrânia
como uma estratégia para incentivar o início de uma guerra civil
entre russos e ucranianos. Desse modo, seria mais fácil para a Rússia
incorporar as regiões ucranianas habitadas por russos ao seu território
(Garnett, 1997).
Assim como ocorre com a Bielo-Rússia, a Ucrânia também enfrenta
problemas com a Rússia na esfera econômica. Aproximadamente 70% do petróleo e 90% do gás natural consumidos no país são fornecidos
pela Rússia. Em situação econômica frágil, a Ucrânia nem
sempre tem condições de efetuar os pagamentos em dia. A Rússia
utiliza sua condição de credora como trunfo nas negociações que envolvem
outras disputas com o país. Caso a Ucrânia não aceite suas
diretrizes, a Rússia ameaça cortar o fornecimento de energia – o que
é feito geralmente durante o inverno. Os ucranianos temem que a interrupção
do fornecimento mergulhe o país no caos econômico. Nesse
cenário, é difícil manter a lealdade da minoria russa à Ucrânia.Na
tentativa de dissuadir a Rússia, a Ucrânia lança mão do único recurso
que possui nesse âmbito: sua localização geográfica.O país aumenta
as taxas de passagem do petróleo e do gás russos, exportados para a
Europa pelos dutos localizados em território ucraniano. A medida
força o restabelecimento do diálogo, mas não soluciona o problema.
O círculo vicioso é reiniciado, e a cooperação torna-se ainda mais difícil
(Balmaceda, 1998a; Smolanski, 1995).
Ucrânia e Rússia também enfrentam problemas na esfera militar. A
participação russa na guerra da Moldávia – que ocorre na fronteira
ocidental da Ucrânia – demonstra a disposição da Rússia em garantir
pela força seus interesses no “estrangeiro próximo”. Com essa percepção,
a Ucrânia obstrui as negociações sobre seu desarmamento
nuclear com a Rússia, e exige a participação dos EUA como garantidor
dos Tratados (Papadiuk, 1996). No momento em que os acordos
são firmados, o país quer salvaguardas da comunidade internacional
sobre a sua integridade territorial após a desnuclearização. Além disso,
a Ucrânia procura integrar-se à OTAN, o que é visto pela Rússia
como um ato de provocação, uma vez que a Rússia não aceita a expansão da Aliança para os países do leste europeu. Mas os conflitos
mais intensos ocorrem por causa do estatuto de Sevastopol e da divisão
da Frota do Mar Negro (FMN). Depois de anos de difíceis negociações
e de algumas ameaças de uso da força, as partes aceitam uma
solução provisória. Conclui-se que o relacionamento entre a Ucrânia e a Rússia no pós-URSS beira uma conflagração geral, pois há divergência de interesses em quase todos os seus aspectos. Por isso, é difícil formular
uma hipótese que dê conta da permanência do conflito entre os dois
países. Mesmo assim, algumas delas são sugeridas.
Para Morrison (1993), o relacionamento entre Rússia e Ucrânia é
afetado pelo caráter inaudito da situação pós-URSS, dado que ambos
jamais haviam coexistido como Estados totalmente independentes.
Por isso, os países recorrem à própria história a fim de definir a maneira
como proceder na interação. Segundo o autor, é o Tratado de Pereyaslav
(1654) que melhor representa a utilização de mitos do passado
para orientar a ação dos Estados no presente. Os ucranianos o assinam como um acordo de responsabilidades mútuas, no qual receberiam
proteção contra os poloneses em troca da lealdade ao Czar.Na visão
russa, trata-se do início de mais uma anexação do império. Em
conseqüência, os sentimentos atuais sem relação a Pereyaslav variam.
Para os ucranianos, ele ensina que não se deve confiar na Rússia, porque
sua aparente boa vontade esconde o desejo de conquista. Para os
russos, o Tratado representa a união da Rússia com seus “irmãos menores,”e repara uma separação artificial ocorrida no século XIII,
quando os mongóis conquistam a região. Assim, no momento da independência, tanto a Ucrânia quanto a Rússia não se consideram interlocutores legítimos.O resultado são os conflitos entre os dois países
a partir de então.
Uma outra explicação é oferecida por Kuzio (2001). Os conflitos entre
Rússia e Ucrânia têm origem na crise de identidade que assola os
dois países com o fim da URSS. Definida em termos territoriais, étnicos
e culturais, a identidade é construída em um processo de disputa
entre as elites, internamente, e tem como ponto de referência um outro Estado. A elite da Rússia não aceita a identidade da Ucrânia como
país independente. Essa postura acirra a disputa entre a elite ucraniana,
que se divide entre os que apóiam a vinculação com a Rússia e os
que preferem o afastamento. De acordo com o autor, a inabilidade
das elites russas em aceitar a separação da Ucrânia é responsável pela
ênfase dada pela elite ucraniana no governo à diferenciação em relação
à Rússia. Esse processo origina os conflitos entre os dois países.
De acordo com Kincade e Melnyczuk (1994), os conflitos entre
Ucrânia e Rússia são conseqüência da crise de legitimidade que assola
a URSS durante seu fim, que acaba ficando como herança para as
repúblicas sucessoras. Al ógica de seu argumento é a seguinte: com a
legitimidade em baixa, os líderes políticos utilizam a estigmatização
do adversário como um recurso para aumentar o seu prestígio. Nesse
sentido, os problemas entre Ucrânia e Rússia são causados por
ex-comunistas recém convertidos aos ideais nacionais. Formados
por membros da antiga nomenklatura, esses políticos não avaliam os
riscos da prática agressiva empregada na defesa de seus interesses.A
“guerra fria” entre Ucrânia e Rússia que se segue após o final da
URSS decorre dessa situação. Em ambos os países, os líderes buscam
diminuir a contestação sobre sua legitimidade criando crises políticas
para distrair a atenção da população.
As três explicações contribuem muito para o entendimento das relações
entre Ucrânia e Rússia. A ênfase dada por Morrison (1993) ao
papel da história nas relações entre os dois países é válida, mas a história
é utilizada por ele de modo inadequado. Ao privilegiar um evento
ocorrido há 350 anos, o autor reifica o significado que o episódio
tem na época e o transporta para o final do século XX. Assim, as diferenças entre o contexto original de Pereyaslav e o contexto atual não
são respeitadas. Isso implica a menor capacidade de indicar alternativas
ao padrão de conflito existente pós-URSS. Uma abordagem
complementar deve privilegiar o papel da história respeitando a maneira
como ela é interpretada em perspectiva. Dessa maneira, a ênfase recai sobre o modo como o passado dá origem a novos significados
no presente. Para alcançar esse objetivo, é necessário priorizar o
estudo da interação entre Ucrânia e Rússia na atualidade.
A ênfase dada ao papel da identidade estatal é a maior contribuição
de Kuzio (2001), que indica o processo de construção das identidades
da Rússia e da Ucrânia como fonte do conflito entre os dois países.
Todavia, a identidade é entendida como um sentimento comum
compartilhado por setores da elite dentro da Ucrânia, os quais lutam
pelo poder estatal com o objetivo de impor a sua identidade sobre os
demais. Nesse processo, a percepção que se tem sobre a Rússia é fundamental.
Assim, a abordagem do autor não permite entender por
que a Ucrânia não se fragmenta em vários Estados, com limites estabelecidos em congruência com as diferentes identidades em disputa.
A partilha da Ucrânia seria muito mais cômoda e menos custosa do
que as disputas pelo governo de um Estado com várias identidades. O
problema sugere a existência de uma identidade mais ampla que
mantém unidos os diferentes setores da elite ucraniana. Uma abordagem
complementar deve considerar essa identidade na análise.
O mérito de Kincade e Melnyczuk (1994) está em ressaltar a importância
das representações a respeito do outro para o início e, posteriormente,
a manutenção dos conflitos entre Ucrânia e Rússia. Entretanto,
o modo como a representação é construída em sua abordagem
é problemático. É facultada aos políticos a capacidade de estigmatizar
um outro Estado para aumentar seu prestígio e desviar a atenção
sobre seu déficit de legitimidade. Assume-se que estão em jogo apenas
os interesses desses líderes, sendo difícil explicar por que os russos
que vivem na Ucrânia aceitam a representação negativa da Rússia
feita pela elite ucraniana. Essa falha pode ser superada por uma abordagem que privilegie os interesses do Estado, em vez dos interesses
de grupos que atuam dentro do Estado. Por um lado, seria possível
substituir a visão instrumental segundo a qual a elite da Ucrânia manobra
a política externa a fim de se manter no poder. Por outro, a abordagem permitiria entender por que a maior parte dos russos da
Ucrânia deseja a manutenção da soberania do país e aceita a representação da Rússia como uma ameaça.
No presente artigo, propõe-se que a origem dos conflitos entre Ucrânia
e Rússia no pós-URSS seja buscada a partir de uma abordagem
construtivista. Nela, a história da interação entre Rússia e Ucrânia
imediatamente após o final da União Soviética é crucial para a definição
da representação que um país tem do outro. A partir dessa interação,
são construídas as identidades estatais de ambos, que não podem
ser reduzidas às identidades das elites que disputam o poder político
dentro dos Estados. Essas identidades dão origem a interesses, que
também não podem ser reduzidos aos interesses das elites de Ucrânia
e Rússia. As identidades demonstram o que os Estados “são,” e os interesses indicam o que os Estados “querem”. Logicamente, não é
possível “querer” algo sem “ser” alguma coisa. Portanto, a abordagem
teórica pressupõe a determinação dos interesses pelas identidades
dos Estados.

A Identidade Social entre
Ucrânia e Rússia no
Pós-URSS

No caso em questão, as estratégias de interação adotadas a partir do
desmembramento da URSSs ão cruciais para a construção da relação
entre as ex-repúblicas socialistas, pois é de acordo com elas que a situação de interação é definida. A falta de reconhecimento da soberania
de um país afeta a sua auto-estima coletiva, na medida em que
esta depende de imagens positivas ou negativas que um outro país faz
dele. Assim, quando o reconhecimento ocorre de imediato, é provável
que as relações entre os países sejam mais cooperativas e menos
competitivas, pois as identidades não são constituídas em oposição
uma à outra (Wendt, 1999:237). Como será visto, não é isso que
ocorre na relação entre Ucrânia e Rússia.
Afim de facilitar a aplicação do modelo, a avaliação e a ação são reunidas em um único ato. Desse modo, é possível identificar quatro etapas
no processo de construção da identidade social na relação entre
Rússia e Ucrânia. Assume-se que a Rússia incorpora o papel de Eu e
a Ucrânia o papel do Outro.

Primeira etapa: a Ucrânia como
parte da Rússia

Após o fim da URSS, a Rússia não aceita a independência da Ucrânia,
pois considera que, juntocoma Bielo-Rússia, os três países compõem
uma mesma nação eslava (Rumer, 1994). Nesse sentido, a declaração
de independência da Ucrânia é respondida com uma nota
emitida pelo escritório de imprensa da Presidência da Rússia, segundo
a qual o país se reservava o direito de questionar as fronteiras com
os demais países da antiga URSS, menos com as Repúblicas do Báltico
(Tolz, 2002). A atuação russa no âmbito da Comunidade dos Estados Independentes (CEI) é reflexo dessa postura (D’Anieri et
alii, 1999).
Nesse sentido, a criação da Comunidade “[...] foi, indubitavelmente,
motivada pelo desejo da Rússia de defender seus interesses e influência
nas partes-chave da antiga União” (Rakowska-Harmstone,
1992:545). Sob pressão russa, o documento que dá origem à CEI prevê
a manutenção de um espaço econômico e militar unitário, englobando
as Repúblicas da antiga URSS, menos a Letônia, a Lituânia e a
Estônia. O acordo também prevê uma política exterior comum a todos
os países (Morrison, 1993:689). Todavia, é o princípio da transparência
das fronteiras dentro da Comunidade que afasta a Ucrânia
das estruturas da organização. Tal princípio significa, na prática, que
os países da CEI não têm direito ao reconhecimento de sua integridade
territorial pelos outros membros (Tolz, 2002).

Segunda etapa: a “doença
imperial” da Rússia

A intenção de se afastar da influência russa é anunciada logo no discurso
de posse de Kravchuk, no dia 5 de dezembro de 1991, no qual o
presidente ucraniano se refere ao seu país como o mais novo Estado
europeu, o que busca se integrar às estruturas européias (Solchanyk,
1991). Essa vontade se faz sentir ao longo do mês, por causa da postura
ucraniana em relação à CEI. A Comunidade é percebida pela
Ucrânia como instrumento capaz de proporcionar um “divórcio civilizado”
entre os antigos membros da URSS, no âmbito da qual apenas
as decisões referentes ao desarmamento nuclear devem ser consideradas
com zelo.
Algumas medidas ilustram essa posição. Uma semana após o encontro
de Minsk, o parlamento ucraniano ratifica a criação da CEI com
uma emenda que enfatiza o direito da Ucrânia de abandonar a estrutura
de defesa comum da Comunidade após o desarmamento nuclear do país (Mihalisko, 1991). No dia 17 de dezembro de 1991, o então
presidente da Comissão de Relações Exteriores do parlamento ucraniano
e conselheiro de Kravchuk, Dmitrii Pavlychko, reforça essa
postura ao definir a CEI como um sistema temporário que poderia ser
descartado após a destruição dos armamentos nucleares (Sheehy,
1991). O próprio presidente manifesta suas reservas quanto à CEI.
Às vésperas do encontro de Alma-Ata, realizado no dia 21 de dezembro,
Kravchuk reitera que a Ucrânia só faria parte da Comunidade se
ela não se transformasse em um Estado (Nahaylo, 1991). Nesse sentido,
além do ingresso das outras ex-repúblicas soviéticas, o encontro
de Alma-Ata traz resultados positivos apenas na questão do desarmamento nuclear. Ucrânia, Bielo-Rússia e Cazaquistão comprometem-se a entregar suas ogivas nucleares para que sejam desmontadas na Rússia, sob supervisão conjunta (Clarke, 1991).
Por considerar a CEI dessa forma, a Ucrânia trata de assegurar uma
postura independente em relação às suas próprias forças convencionais
de defesa. No dia 13 de dezembro de 1991, Kravchuk assina um
decreto criando as forças armadas do país a partir das instalações militares soviéticas, inclusive da FMN (Mihalisko, 1991). Tal medida,
porém, não é aceita pelos membros da CEI, pois a FMN é equipada
com armamentos estratégicos. Na polêmica acerca da FMN, três posições
se destacam: a Ucrânia defende sua legitimidade em reclamar
o controle da FMN, uma vez que esta está localizada em seu território;
a Rússia também alega ter direito à FMN, reafirmando a importância
histórica de Sevastopol para o passado russo; já o comando
militar da CEI afirma que a Frota deve ficar sob sua jurisdição, pois
os acordos militares firmados em Alma-Ata estabelecem que armamentos
estratégicos fiquem sob controle conjunto dos países-membros
da Comunidade.
Nesse contexto, no dia 8 de janeiro de 1992, a Agência Nacional de
Informação da Ucrânia divulga um protesto contra a tendência de alguns
membros da CEI a transformar a Ucrânia em bode expiatório
para os problemas existentes entre seus membros. De acordo com a nota, a Ucrânia estaria sendo acusada de violar os acordos da CEI na
esfera militar, especificamente no que se referia à FMN. Pela primeira
vez, líderes russos são acusados de tentar recriar estruturas militares
imperiais, ao exigirem que forças militares estacionadas em território
ucraniano não obedecessem ao comando de Kiev (Mihalisko,
1992a).
No dia 10 de janeiro, Kravchuk afirma que Boris Yeltsin e outros líderes
russos deveriam “abandonar o hábito de pensar imperialmente”,
referindo-se às pretensões russas sobre a FMN(Nahaylo, 1992a). Poucos
dias depois, em um comunicado veiculado pela TV e pelo rádio à
população ucraniana, o presidente avisa que os interesses imperiais
russos haviam chegado ao limite do desrespeito ao Estado ucraniano
(Solchanyk, 1992a). Quando as pretensões russas em relação à FMN
incluem a discussão sobre o estatuto da Criméia, Kravchuk refere-se à
postura da Rússia como “doença imperial” (Solchanyk, 1992b).

Terceira etapa: pretensões russas
sobre a Criméia

No momento em que a Ucrânia reafirma sua vontade de controlar a
FMN, o parlamento russo inicia o debate acerca da legitimidade da
transferência da Criméia da URSS para a Ucrânia, ocorridaem 1954.
Já em tramitação pelas comissões parlamentares, o assunto é reintroduzido na pauta de discussão como resposta às assertivas ucranianas.
Caso a Criméia não fosse considerada parte da Ucrânia, o argumento
ucraniano de que a FMN deveria ser controlada por ela por estar localizada em seu território perderia a validade. Assim, no dia 23 de janeiro de 1992, o parlamento russo instrui as comissões de relações exteriores e de legislação para que se manifestem sobre a legitimidade da
transferência até o início de fevereiro. Na mesma sessão, os deputados
russos pedem ao parlamento ucraniano que também se debruce
sobre o tema. Além disso, um outro pedido é feito: os russos queriam que o processo de negociação sobre a FMN fosse acelerado pelos colegas
da Ucrânia (Sheehy, 1992a).
A vinculação entre os dois temas não havia sido fruto do acaso. Conforme
relatado pelo Toronto Globe and Mail, uma carta secreta enviada
pelo presidente da comissão de relações exteriores do parlamento
russo, Vladimir Lukin, para o presidente da Casa, Ruslan Khasbulatov,
sugeria que os dois assuntos fossem tratados simultaneamente.
Assim, seria possível pressionar a Ucrânia a escolher entre o controle
da FMN ou a manutenção da Criméia como parte de seu território
(Sheehy, 1992b).
Não é apenas no parlamento russo que a discussão ganha destaque.A
importância dessas questões para a política externa fica evidente no
dia 30 de janeiro de 1992, quando o ministro das Relações Exteriores
da Rússia emite uma nota sobre o assunto. Esta afirma que a decisão
do parlamento de rever a transferência da Criméia para a Ucrânia não
tem a intenção de incentivar o confronto entre os dois países. Para o
chanceler russo, a atitude é construtiva, o que fica claro com a solicitação
para que o parlamento ucraniano também aprecie a questão.
Por fim, a nota afirma a disposição do governo russo em resolver as
questões bilaterais com a Ucrânia por meios pacíficos, citando que a
ausência de diálogo estaria atrasando a resolução das disputas sobre
a Criméia e a Frota do Mar Negro (Solchanyk, 1992c).
O tom apaziguador da declaração russa não surte o efeito esperado,
pois na Criméia (o pomo de discórdia entre os dois países) tem início
outra campanha de coleta de assinaturas para a realização de um referendo sobre a independência da região (Solchanyk, 1992d). Organizada pelo Movimento Republicano da Criméia (MRC), composto
majoritariamente por russos nacionalistas, a campanha obtém resultados
significativos em um curto espaço de tempo. Em dez dias, mais
de 20 mil assinaturas são coletadas (Solchan yk, 1992e). No parlamento
da Criméia, o MRC pressiona para que medidas afastando a
República do controle ucraniano sejam adotadas. Nesse sentido, o parlamento inicia a discussão de uma nova Constituição e altera o
nome da República, que passa a se chamar apenas República da Criméia.
A mudança implica a omissão da referência ao seu caráter de
república “autônoma” dentro da Ucrânia (Solchanyk, 1992f).

Quarta etapa: a questão nuclear

resposta ucraniana às pretensões imperiais russas é dramática. De
acordo com o estabelecido em Alma-Ata, as armas nucleares localizadas
na Ucrânia deveriam ser transportadas para a Rússia a fim de
que fossem desmanchadas. Esse processo tivera início em janeiro,
com encerramento previsto para julho de 1992. Porém, no dia 12 de
março, a Ucrânia anunciou que a transferência havia sido cancelada.
Segundo Kravchuk, uma vez em território russo, não existiam garantias
de que as armas seriam realmente destruídas, de que estariam sob
o controle adequado, ou mesmo de que não cairiam em mãos erradas
(Mihalisko, 1992b). A incerteza sobre esses pontos, bem como a
crescente instabilidade política na relação entre os dois países são os
aspectos citados pelo presidente ao justificar sua decisão.
A Ucrânia teme que a Rússia esteja estocando as armas nucleares ao
invés de desmanchá-las, o que enfraqueceria o país caso fosse necessário
recorrer ao “equilíbrio do terror” para se contrapor às pretensões
territoriais russas. Mykola Mykhalchenko, assessor presidencial
para assuntos de segurança, afirma que a transferência das armas
para a destruição só seria reiniciada caso o Ocidente pudesse monitorar
seu destino em território russo. De acordo com ele, a Ucrânia tem
“todos os motivos para não confiar nos líderes da Rússia” (Nahaylo,
1992b).
Os eventos ocorridos em abril ilustram bem esses motivos. No dia 4,
durante visita à Criméia, o vice-presidente da Rússia, Aleksandr
Rutskoi, afirma que a FMN havia sido e iria continuar sendo russa
(Clarke, 1992a). Dois dias depois, o presidium do Soviete Supremo ucraniano acusa o vice-presidente russo de interferência direta nos
assuntos internos da Ucrânia. No mesmo dia, Kravchuk emite um decreto
afirmando que todas as formações militares em território ucraniano
deveriam obedecer ao ministro de Defesa do país (Clarke,
1992b). No dia seguinte, um decreto assinado por Yeltsin transfere a
FMN para a jurisdição da Rússia. O ministro da Defesa russo argumenta
ao parlamento que o documento era uma resposta direta ao decreto
de Kravchuk do dia anterior (Mihalisko, 1992c), pois com ele a
Ucrânia passaria a controlar a FMN. O presidente da Ucrânia acusa a
Rússia de tratar o seu país como um inimigo e defende-se afirmando
que seu decreto havia sido necessário para garantir o controle sobre
as armas nucleares em território ucraniano (Mihalisko, 1992d).
No dia 8 de abril, o parlamento ucraniano emite um comunicado afirmando que o decreto de Yeltsin deveria ser entendido como “uma
verdadeira declaração de guerra contra a Ucrânia independente”
(Mihalisko, 1992e). Um dia depois, o Soviete Supremo da Ucrânia
ratifica a suspensão da transferência de armamentos nucleares da
Ucrânia para a Rússia (Mihalisko, 1992f).
A relação entre o comunicado do parlamento e a ratificação das medidas
de Kravchuk é evidente: a fim de proteger a sua integridade territorial,
a Ucrânia reforça sua posição para garantir que os armamentos
nucleares permanecessem sob seu controle. Desse modo, o fator
nuclear deveria ser levado em conta pelos russos antes que qualquer
ameaça contra o país pudesse ser concretizada.
Com a iminência de uma guerra, Kravchuk e Yeltsin concordam em
anular seus decretos sobre a FMN e em estabelecer uma comissão parlamentar
conjunta para resolver a disputa (Clarke, 1992c). Após o entendimento,
e em grande parte por causa da forte pressão internacional,
a Ucrânia reinicia a transferência das armas nucleares para o desmonte
na Rússia, no dia 17 de abril (Clarke, 1992d). Porém, a insegurança
quanto ao país vizinho permanece. No dia 28, Kravchuk pede ao Ocidente que garanta a integridade territorial ucraniana quando esta
não contar mais com as armas nucleares, pois o presidente temia que a
Ucrânia acabasse vítima de “chantagem nuclear” da Rússia. Segundo
ele, as pretensões da Rússia sobre o território ucraniano seriam motivos
suficientes para o receio (Mihalisko, 1992g).

Ucrânia, Rússia e OTAN

A expansão da OTAN é vista com receio por alguns analistas. Segundo
eles, o maior perigo é a divisão entre países-membros e países
não-membros, e as implicações que tal diferenciação pode ter para a
segurança do continente (Garnett, 1997). A suposta linha divisória
cria duas categorias de Estados. Os outsiders são os Estados que não
fazem parte da organização e os insiders são os seus membros efetivos.
O risco está nos efeitos que o sentimento de exclusão pode exercer
sobre a percepção que os outsiders têm a respeito de sua segurança
(Light et alii, 2000).
Nesse contexto, a oposição da Rússia à expansão da Aliança é fundamental.
Em decorrência da postura russa, Estados localizados entre a
OTAN e a Rússia receiam os efeitos que as medidas adotadas pelo
país para contrabalançar o avanço da organização possam ter sobre
eles. Por isso, o ingresso da Polônia, da Hungria e da República
Tcheca, em 1999, e dos países do Báltico, da Romênia, da Eslováquia
e da Bulgária, em 2004, afeta diretamente as percepções de segurança
da Bielo-Rússia e da Ucrânia. Diante desse quadro, esses países
podem optar por uma política externa orientada para o ingresso
na OTAN, ou por uma política externa voltada para o estreitamento
dos laços militares com a Rússia no âmbito da CEI. Dada sua importância
regional, a opção por uma dessas alternativas reflete o modo
como a identidade social desses Estados é construída na relação com
a Rússia. Duas posturas são esperadas. Os Estados que não percebem sua identidade corporativa ameaçada pela Rússia tendem a desenvolver relações amistosas com o país. A partir destas, consolida-se uma identidade social regida pelo princípio da amizade. Como as identidades
determinam os interesses, as relações entre amigos envolvem interesses
comuns. Desse modo, a percepção de ameaça à identidade
corporativa por parte da Rússia é compartilhada por um Estado amigo
e ambos tomam precauções para se proteger do perigo. O Estado
amigo alinha-se à Rússia e busca fortalecer os interesses comuns no
âmbito da CEI. Por sua vez, os Estados que enxergam a Rússia como
uma ameaça interagem com ela a partir do princípio da inimizade.
Nesses casos, a identidade social construída na interação é a de inimigo.
Identidades conflitantes originam interesses divergentes, o
que explica por que a opção dos países que temem a Rússia é a busca
de laços mais estreitos com a OTAN.
A relação entre Ucrânia e Rússia enquadra-se no segundo caso, pois
a identidade social construída entre os países no pós-URSS é regida
pelo princípio da inimizade. Por isso a aproximação da Ucrânia com
a OTAN é paulatina. Ao declarar sua independência, o país anuncia
sua adesão ao princípio da neutralidade em questões militares. Por
um lado, o princípio é utilizado para não despertar maiores temores
na Rússia em relação a um possível ingresso imediato da Ucrânia na
organização. Por outro lado, a posição de neutralidade impede um
acordo militar no âmbito da CEI, o que resguarda o país da influência
russa (Balmaceda, 1998b). Desse modo, a Ucrânia supera um momento
delicado, protegendo-se da Rússia, ao mesmo tempo que fortalece
seus laços com a Aliança sem aderir formalmente a ela. Na
época da independência, os custos de uma adesão imediata à OTAN
poderiam superar os benefícios, uma vez que os países ocidentais reagem
com apreensão ao fim da URSS (Arel, 1999).
A Ucrânia é o primeiro país da CEI a integrar o projeto Parceria para
Paz (PfP, em inglês)4. Esse feito ilustra bem sua estratégia. Ingressar no PfP é ter a garantia de que ameaças ao país são discutidas na Aliança
por intermédio de consultas com seus membros. Embora os
membros que ingressaram no projeto não façam parte formalmente
de um mecanismo de segurança coletiva, o envolvimento das partes
dá origem a umcompromisso moral. De fato,um ano após o ingresso
da Ucrânia no PfP, o Conselho do Atlântico Norte (NAC, em inglês)
manifesta o apoio a sua soberania, a sua independência política e a
sua integridade territorial. Ao mesmo tempo, o Conselho pressiona o
país para estabelecer relações harmoniosas com seus vizinhos. A
ameaça da Rússia de se retirar do Tratado sobre Forças Convencionais
na Europa (CFE, em inglês) e de não ratificar o Tratado para Redução
de Armamentos Estratégicos (START II, em inglês) é uma reação
a esse tipo de relacionamento. Com sutileza, os participantes do
PfP estabelecem vínculos com a OTAN que superam a pretensa neutralidade dos chamados “mecanismos de consulta”.
No começo de 1997, o “Conceito de Segurança Nacional” é aprovado
pelo parlamento ucraniano. O documento indica o abandono do
princípio da neutralidade e avontade do país de pertencer a estruturas
de segurança internacional (Balmaceda, 1998b). Em vez de represálias
russas, a Ucrânia é brindada com um tratado em que ambos os países
reconhecem a integridade de seus territórios. A reação inesperada
ocorre porque as negociações sobre o Ato Fundador das Relações
Mútuas com a Rússia e a Parceria Distinta com a Ucrânia estão em
curso com a OTAN. Para que estes acordos bilaterais sejam concluídos,
é necessário que Rússia e Ucrânia reconheçam a inviolabilidade
de suas fronteiras, pois a organização não se compromete com países
envolvidos em disputas territoriais (Arel, 1999). Assim, a Aliança
acaba sendo um fator-chave para a assinatura do tratado. No ano em
que a Ucrânia abandona a neutralidade, a Rússia reconhece sua integridade territorial.
À proporção que os laços entre OTAN e Ucrânia se fortalecem, o
comprometimento moral consolida-se. Com o tempo, a relação tende a institucionalizar-se. Um exemplo desta institucionalização é a
Carta sobre Parceria Distinta. Nela, a garantia buscada pela Ucrânia
é enunciada em um de seus princípios. De acordo com ele, Ucrânia e
OTAN concordam que é inaceitável a existência de esferas de influência
no continente. A defesa desse princípio é uma maneira de a
Ucrânia se opor aos interesses russos na Europa do Leste. Portanto, a
Carta representa um avanço em direção ao que a Ucrânia espera da
OTAN: proteção contra a ameaça russa. Por isso, após sua assinatura,
as relações com a organização deslancham. Outros exemplos de
institucionalização compreendem o I Programa Nacional de Cooperação
da Ucrâniacoma Aliança (em 1998), a designação da Área Militar
de Yaroviv como Centro de Treinamento do PfP (em 1999) etc.
O contraste com a relação entre a OTAN e a Rússia é nítido. O país
aproxima-se da Aliança para tentar interferir nas decisões que afetam
seus interesses, e não para se proteger de algum perigo. De fato, o Ato
Fundador das Relações Mútuas indica que a maior ameaça às partes
são elas próprias. Nele, em um dos princípios que regem suas relações,
Rússia e OTAN comprometem-se a não utilizar a força contra
elas mesmas. Em outro, ambas aceitam que haja transparência na criação
e implementação de doutrinas militares e políticas de segurança.
Por se basear na desconfiança mútua, a estrutura criada a partir do
Ato Fundador torna-se ineficaz em momentos de crise, conforme demonstrado nas operações militares da organização no Kosovo.
Em 2001, o terrorismo global surge como uma ameaça capaz de estreitar
os laços entre a Rússia e a Aliança. Nesse sentido, os atentados
de setembro dão impulso para a cooperação. Com a nova situação, a
estrutura obsoleta do Conselho de Parceria Conjunta (JPC, em inglês)
é substituída pelo Conselho OTAN-Rússia (NRC, em inglês).
Porém, as ressalvas da Rússia quanto à organização persistem. A
condição de que os países do Báltico devem aderir ao CFE antes do
ingresso na OTAN é um sinal de que a velha percepção russa sobre a
expansão da Aliança ainda persiste. Em resumo, a identidade social na relação entre Ucrânia e Rússia é a de inimigo. Nesse sentido, as percepções sobre seus interesses divergem: ambas vêem a expansão da OTAN de modo diferente. No caso da Ucrânia, a percepção da Rússia como ameaça leva o país a estreitar os laços com aOTANe a apoiar sua expansão, em busca de proteção à sua identidade corporativa. Implementada de modo gradual, a estratégia de aproximação dá resultados na medida em que o compromisso
moral entre a Ucrânia e a organização se fortalece. Aos poucos, o comprometimento moral institucionaliza-se em atos de cooperação.
Por outro lado, a Rússia percebe a expansão da OTAN
como uma ameaça, pois a organização é capaz de garantir a identidade
corporativa dos antigos membros da URSS. Isso vai de encontro
aos interesses russos, principalmente em relação aos países com os
quais a Rússia não tem bom relacionamento. Sua desconfiança sobre
as intenções da Aliança determina a fragilidade dos vínculos com a
organização.

Considerações Finais

Quando ocorre a declaração de independência da Ucrânia, a Rússia
nega a existência autônoma desta. A postura russa fundamenta-se na
existência de uma suposta “nação eslava”, constituída pela Rússia, a
Ucrânia e a Bielo-Rússia. Em virtude disso, a Ucrânia é considerada
como uma parte da Rússia, sem direito à independência. O fato de
25% da população ucraniana ser de etnia russa e de 50% da população
do país falar russo como primeira língua contribui para essa percepção.
A Ucrânia denuncia a “mentalidade imperial” russa e boicota
os acordos da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), considerada
um instrumento para a promoção dos desígnios da Rússia.
Os documentos que dão origem à Comunidade prevêem a manutenção
de um espaço econômico e militar unitário, bem como a elaboração
de uma política exterior comum. Para a Ucrânia, aceitar essas
condições é abandonar o desejo de independência. Em resposta à postura ucraniana, a Rússia inicia o processo de revisão da transferência
da Criméia para a Ucrânia. Na região, cuja população russa
chega a 70%, russos nacionalistas coletam assinaturas visando à realização de um referendo sobre sua independência. A Rússia também
expressa sua decisão de manter a posse da FMN. Com medo das pretensões russas, a Ucrânia assegura temporariamente a posse de seu
arsenal nuclear para se defender, o que implica romper com os acordos
sobre a remoção das armas nucleares da Ucrânia para a Rússia a
fim de que fossem desmanchadas. Esta decisão é ratificada pelo parlamento ucraniano em meio a uma “guerra de decretos” entre os dois
países sobre a posse da FMN. Na iminência de uma guerra real, a
Ucrânia reforça sua posição para garantir que os armamentos nucleares
permaneceriam sob seu controle.
Definida nesse processo, a identidade social construída na interação
entre Ucrânia e Rússia é de inimigo. A afirmação é ainda mais relevante
quando a segurança de ambos está em jogo. Esse é o motivo
pelo qual a reação dos dois países à expansão da OTAN é utilizada
para ilustrar o argumento central do artigo. Todavia, a aplicação do
modelo não deve se restringir a essa análise. Estudar as relações entre
Ucrânia e Rússia a partir da perspectiva proposta implica localizar as
causas dos conflitos das áreas militar, econômica, social e política no
modo como as identidades são construídas. Algumas considerações
sobre um episódio recente entre Ucrânia e Rússia ilustram as possibilidades aceitas pelo modelo.
De setembro de 2003 a janeiro de 2004, Ucrânia e Rússia enfrentam
uma de suas piores crises após a tumultuada década de 1990. Nesse
período, a Rússia inicia a construção de uma represa entre a costa
russa de Krasnodar e a Ilha de Tuzla, pertencente à Ucrânia. Para a
Rússia, a construção da represa é justificada para evitar a erosão da
costa no lado russo. A Ucrânia envia tropas à Ilha, pois a represa afetaria
a navegação no Estreito de Kerch, que liga o Mar Negro ao Mar
de Azov, de onde o país retira algumas receitas ao cobrar taxas de passagem dos navios russos. Apenas em janeiro de 2004 a Rússia ordena
que a construção da represa seja paralisada. Isso ocorre depois
que um incidente entre navios russos e ucranianos obriga o presidente
da Ucrânia a interromper uma viagem que fazia pelo Brasil e o força
a voltar imediatamente para Kiev a fim de se encontrar com o presidente
russo. Na época, é cogitada a possibilidade de um conflito
militar localizado entre os dois países. Felizmente, este é contornado.
Porém, as causas do incidente em Tuzla revelam que as relações
entre Ucrânia e Rússia continuam marcadas pela desconfiança.Moscou
utiliza a construção da represa como pretexto para controlar o
Estreito de Kerch, pois os russos temem que a Ucrânia aprove uma
lei conferindo ao Mar de Azov o mesmo status conferido ao Mar Negro,
no que diz respeito às fronteiras da Ucrânia com a Rússia. No
Mar Negro, a fronteira marítima entre os dois países é separada por
uma zona neutra de águas internacionais. Isso permite que qualquer
tipo de embarcação, inclusive navios de guerra da OTAN, naveguem
pela região. A possibilidade de navios da OTAN em águas tão próximas
faz a Rússia tomar medidas para controlar o Estreito de Kerch,
na expectativa de que o governo da Ucrânia aceite um acordo fronteiriço
favorável aos interesses russos. Aparentemente, os princípios de
uma cordo político alcançado após o incidente favorecem os dois países.
A vantagem da Ucrânia é que as fronteiras do Mar de Azov serão
finalmente demarcadas, após anos de protelação russa. Para satisfação
russa, não haverá uma zona neutra de águas internacionais, e
o Estreito de Kerch ficará sob o controle conjunto dos dois países.
Assim, a Rússia pode vetar a passagem de navios de guerra da OTAN
pelos canais de navegação (Krushelnicky, 2004).
O incidente demonstra que o princípio de inimizade ainda rege as relações
entre os dois países, pois nas formas de negociação convencional
a pressão militar não é usada para forçar o outro a fazer concessões.
Recorrendo a esses expedientes, os dois países reconhecem que
sua relação é diferente daquelas envolvendo países amigos ou rivais.Desse modo, acabam reproduzindo o padrão de inimizade característico de seu relacionamento. Romper com esse ciclo implica introduzir novas práticas entre os dois países, o que, por sua vez, depende dos novos significados que algumas práticas sociais adquirem ao
longo da interação. Só assim será possível transformar a identidade
social da relação entre eles. Só assim Ucrânia e Rússia deixarão de
ser inimigas para se tornarem rivais e, talvez algum dia, amigas.




Editado pela última vez por EDSON em Qua Out 10, 2007 4:09 pm, em um total de 1 vez.
Avatar do usuário
suntsé
Sênior
Sênior
Mensagens: 3167
Registrado em: Sáb Mar 27, 2004 9:58 pm
Agradeceram: 154 vezes

#2 Mensagem por suntsé » Qua Out 10, 2007 12:55 pm

Tem algumas partes do texto que são repetidas, mas pésso aos amigos fóristas que tenham paciência, por que o texto é muito bom!




Sniper
Sênior
Sênior
Mensagens: 9654
Registrado em: Dom Fev 15, 2004 9:28 pm
Localização: Contagem - MG
Agradeceram: 7 vezes
Contato:

#3 Mensagem por Sniper » Qua Out 10, 2007 1:38 pm

suntsé escreveu:Tem algumas partes do texto que são repetidas, mas pésso aos amigos fóristas que tenham paciência, por que o texto é muito bom!


Quando eu entrar de férias eu leio esse texto! :lol: :twisted: :oops:

Parece-me muito bom, mas no trabalho fica meio difícil pra lêr... :(




Imagem
Avatar do usuário
Morcego
Sênior
Sênior
Mensagens: 9018
Registrado em: Sáb Mai 01, 2004 12:27 pm
Localização: Santos/SP
Agradeceram: 9 vezes
Contato:

#4 Mensagem por Morcego » Qua Out 10, 2007 2:19 pm

de todos os problemas internacionais que temos por ai, este pode virar ZICA.




Sniper
Sênior
Sênior
Mensagens: 9654
Registrado em: Dom Fev 15, 2004 9:28 pm
Localização: Contagem - MG
Agradeceram: 7 vezes
Contato:

#5 Mensagem por Sniper » Qua Out 10, 2007 3:58 pm

Morcego, reduza o tamanho de sua assinatura pois está atrapalhando o Layout da página.




Imagem
Avatar do usuário
Morcego
Sênior
Sênior
Mensagens: 9018
Registrado em: Sáb Mai 01, 2004 12:27 pm
Localização: Santos/SP
Agradeceram: 9 vezes
Contato:

#6 Mensagem por Morcego » Qua Out 10, 2007 4:13 pm

Sniper escreveu:Morcego, reduza o tamanho de sua assinatura pois está atrapalhando o Layout da página.


tem RAZÃO AGORA QUE ME TOQUEI. SÓ UNS MINUTOS E JÁ ESTARA MUDADO.




Sniper
Sênior
Sênior
Mensagens: 9654
Registrado em: Dom Fev 15, 2004 9:28 pm
Localização: Contagem - MG
Agradeceram: 7 vezes
Contato:

#7 Mensagem por Sniper » Qua Out 10, 2007 4:21 pm

morcego escreveu:
Sniper escreveu:Morcego, reduza o tamanho de sua assinatura pois está atrapalhando o Layout da página.


tem RAZÃO AGORA QUE ME TOQUEI. SÓ UNS MINUTOS E JÁ ESTARA MUDADO.

Obrigado! :wink:




Imagem
PRick

#8 Mensagem por PRick » Qua Out 10, 2007 5:03 pm

morcego escreveu:
Sniper escreveu:Morcego, reduza o tamanho de sua assinatura pois está atrapalhando o Layout da página.


tem RAZÃO AGORA QUE ME TOQUEI. SÓ UNS MINUTOS E JÁ ESTARA MUDADO.


O que o amor não faz, ele quer colocar a foto bem grande de seu amado e idolotrado ídolo! :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:

[]´s




Avatar do usuário
Plinio Jr
Sênior
Sênior
Mensagens: 5278
Registrado em: Qui Fev 20, 2003 10:08 pm
Localização: São Paulo - SP
Agradeceram: 1 vez

#9 Mensagem por Plinio Jr » Qui Out 11, 2007 9:28 am

morcego escreveu:de todos os problemas internacionais que temos por ai, este pode virar ZICA.


E poe ZICA nisto....parece que virou moda, fazer as velhas rivalidades virem á tona....




¨Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão ¨- Eça de Queiroz
Avatar do usuário
P44
Sênior
Sênior
Mensagens: 54775
Registrado em: Ter Dez 07, 2004 6:34 am
Localização: O raio que vos parta
Agradeceram: 2312 vezes

#10 Mensagem por P44 » Qui Out 11, 2007 9:48 am

tb relacionado com este "atrito"

Nações do Leste constroem conduta entre mares Negro e Báltico


Ministros de cinco países do leste europeu assinaram hoje um acordo para a construção de uma conduta petrolífera ligando os mares Negro e Báltico, que visa aumentar a segurança energética regional e reduzir a dependência das ramas russas.


O acordo - assinado pelo Azerbaijão, Geórgia, Ucrânia, Polónia e Lituânia - prevê a construção de uma extensão de 490 quilómetros de uma conduta existente no oeste da Ucrânia em direcção a norte, até ao porto polaco de Gdansk, no Báltico, assegurando os abastecimentos de petróleo do Azerbaijão a partir do Cáspio.

A conduta, avaliada em 500 milhões de euros, é considerada uma vitória dos governos do leste europeu, que mostram receios crescentes da política energética nacionalista russa e procuram, tanto fontes de energia, como rotas de abastecimento alternativas.

Há três anos que a Rússia usa os seus recursos energéticos como uma arma diplomática, punindo antigos Estados satélites soviéticos por não seguirem a linha do Kremlin.

A Rússia cortou temporariamente os abastecimentos de gás natural à Ucrânia e à Bielorússia e terminou permanentemente os fornecimentos de petróleo à Lituânia e Letónia.


A Europa recebe 25 por cento do seu gás natural e um terço do seu petróleo da Rússia, segundo o Eurostat, e a dependência tem aumentado nos últimos anos.

Vários Estados do leste europeu, particularmente os Bálticos, recebem quase todos os seus hidrocarbonetos da Rússia.

O Presidente da Lituânia, Valdis Adamkus, afirmou recentemente que pretende ver debatido, na Cimeira de Lisboa, o conflito energético entre o seu país e a Rússia, segundo a imprensa russa de terça-feira.

O diário Nezavissimaia Gazeta cita uma entrevista de Adamkus a um canal de televisão de Vilnius, na qual o Presidente da Lituânia afirma que, na cimeira da UE a realizar em Portugal a 18 e 19 de Outubro, os membros da União Europeia terão de se definir, de uma vez por todas, no que respeita à política comum face à Rússia.

«Ou decidimos falar com a Rússia sobre esta questão a uma só voz, ou a União Europeia é um 'tigre de papel' ou uma espécie de ficção», declarou o Presidente lituano.

Entre outras questões, Valdis Adamkus tem em vista a suspensão de fornecimento de petróleo de Moscovo à Lituânia através do oleoduto Drujba, ocorrida a partir de Julho de 2006.

O oleoduto Drujba fornecia petróleo à refinaria lituana Mazeikiu Nafta, a maior da região do Báltico, e a «torneira fechou-se» quando Vilnius preferiu vender a refinaria aos polacos, deixando de fora empresas russas.

Diário Digital / Lusa

10-10-2007 16:59:00




Triste sina ter nascido português 👎
Avatar do usuário
Plinio Jr
Sênior
Sênior
Mensagens: 5278
Registrado em: Qui Fev 20, 2003 10:08 pm
Localização: São Paulo - SP
Agradeceram: 1 vez

#11 Mensagem por Plinio Jr » Qui Out 11, 2007 5:53 pm

Não é de hoje que russos e ucranianos vem se estranhando, cheguei a postar isto aqui e acharam um absurdo...

Do jeito que as coisas andam, tem toda uma tendência disto não acabar bem....




¨Os políticos e as fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão ¨- Eça de Queiroz
Avatar do usuário
EDSON
Sênior
Sênior
Mensagens: 7303
Registrado em: Sex Fev 16, 2007 4:12 pm
Localização: CURITIBA/PR
Agradeceram: 335 vezes

#12 Mensagem por EDSON » Sáb Out 27, 2007 11:28 pm

NÃO HAVERÁ REVOLUÇÃO NO CAZAQUISTÃO


Tatiana Stanovaia, perita do Centro de Tecnologias Políticas, para a RIA "Novosti"

As eleições presidenciais no Cazaquistão estão marcadas para 4 de Dezembro. Os "mass media" já estão a debater a possibilidade de uma outra "revolução colorida" no espaço pós-soviético. Porém, este tipo de discussões é a única coisa que o país tem em comum com a Ucrânia, a Geórgia ou o Quirguistão. Não há nenhuma força política no Cazaquistão que possa concorrer com o actual presidente.

Quando se coloca a questão de uma "revolução colorida", pensa-se logo na oposição. A viabilidade da oposição tem por base três factores, i.e., a limitação dos poderes da elite governante, a consolidação da oposição e a indicação de um único líder, bem como a existência de uma ideia "nacional" competitiva. Parece que a oposição cazaque não tem nenhuma destas características, nem dispõe, o que é mais importante, do seu "Yuschenko" ou "Saakachvili". Entretanto, as eleições estão a aproximar-se.

No início, havia muitas expectativas. O facto de o presidente do Parlamento cazaque, Zharmakhan Tuiakbai, ter passado, em Outubro de 2004, para o lado da oposição foi um acontecimento simbólico. O acontecimento foi uma surpresa para os observadores, pois o político ocupara, até 2000, o cargo do procurador-geral do Cazaquistão, para posteriormente participar nas legislativas e ser eleito presidente do Parlamento, contando com o apoio do chefe de Estado. No Verão de 2004, o nome de Tuiakbai foi colocado à cabeça da lista do partido "Otan", fiel ao Presidente, para as legislativas a 19 de Setembro. Contudo, apurados os resultados das eleições, Tuiakbai demitiu-se do seu posto, abandonou as funções de deputado e saiu do partido. A brusca decisão de uma figura política tão influente tem uma explicação banal. Sendo indefinido na altura o destino de Nursultan Nazarbaiev (ainda não estava claro se ele iria ou não concorrer às eleições) a luta pelo poder nos círculos da elite governante tornou-se mais renhida. As ambições políticas de Tuiakbai passaram a predominar, e o papel de "locomotiva" do "partido do poder", sem vantagens visíveis depois das eleições, parou de satisfazer o político. Nazarbaiev já não imaginava Tuiakbai na qualidade de presidente do novo Parlamento, tornando-se o futuro líder da oposição num político "ofendido", dispensável nas novas condições.

Tuiakbai passou a lançar críticas violentas ao poder, apresentando assim a sua candidatura à oposição. Houve uma circunstância que influenciou a decisão de Tuiakbai. Na altura, nos finais de 2004, a "revolução laranja" dominava a Ucrânia. O ex-presidente do parlamento cazaque viu-se numa situação muito semelhante à do ex-primeiro-ministro ucraniano, Viktor Yuschenko. A campanha eleitoral de Tuiakbai foi igualmente marcada pelos "slogans" de honestidade, necessidade de um sistema político mais democrático, condições iguais para todas as forças políticas, etc.

Pelos vistos, os destinos políticos da Ucrânia e do Cazaquistão assemelhavam-se naquela altura. Houve até uma ideia brilhante de plantar castanheiros ucranianos no país como símbolo da "revolução castanha" à cazaque.

Porém, rapidamente se viu a incapacidade da oposição cazaque de levar pela frente uma "revolução de veludo". O Bloco de Forças Democráticas "Pelo Cazaquistão Justo" pelo qual Tuiakbai se candidatou à Presidência não chegou a formar uma oposição forte. Primeiramente, o maior crítico do poder, o partido "Ak Zhol", aderiu ao bloco, mas tal causou uma cisão no próprio partido. Alguns activistas do partido, chefiados pelo líder da oposição Alikhan Baimenov, decidiram concorrer independentemente às eleições presidenciais, contando o bloco com o clone do partido, "Nastoiaschi Ak Zhol" (Verdadeiro Ak Zhol). Mais do que isso, os comunistas aderiram ao bloco no início, mas depois apresentaram a sua própria candidatura.

Os restantes candidatos à Presidência não representam nenhum partido e não podem competir com Nazarbaiev.

O resultado é uma oposição desunida, com base nas ambições de políticos que não se integraram, na altura, na elite governante. Nestas condições, torna-se difícil encontrar uma opinião comum, levando-se em conta o facto de a oposição não ter uma ideia competitiva, capaz de oferecer à sociedade um outro caminho de desenvolvimento do país. No caso da Ucrânia foi a ideia de integração na União Europeia, proposta por Viktor Yuschenko.

No Cazaquistão não há cisões geográficas, iguais a ocidente-oriente na Ucrânia ou norte-sul no Quirguistão. Sendo representante do Sul, Nursultan Nazarbaiev consegue respeitar os interesses do Oriente e do Ocidente do país, criando um equilíbrio estável.

Mas o maior choque para as perspectivas da "revolução colorida" no Cazaquistão foi a crise de poder na Ucrânia. O sucesso das revoluções na Geórgia e na Ucrânia serviu de um forte efeito psicológico que levava a crer que era possível chegar ao poder através da pressão sobre os órgãos de poder através de manifestações. Os "frutos" desta pressão ecoaram no Quirguistão, onde o poder está no limiar da cisão, bem como na Ucrânia, onde tal divisão já aconteceu.

.




Avatar do usuário
EDSON
Sênior
Sênior
Mensagens: 7303
Registrado em: Sex Fev 16, 2007 4:12 pm
Localização: CURITIBA/PR
Agradeceram: 335 vezes

Re: Russia e Ucrânia e uma intricada disputa

#13 Mensagem por EDSON » Sex Mai 16, 2008 9:56 pm

Terça-feira, Maio 13, 2008
Nova crise política aproxima-se da Ucrânia






O Presidente da Ucrânia, Victor Iuschenko, foi impedido, na terça-feira, de discursar perante a Rada Suprema (Parlamento) pelo grupo parlamentar Bloco Iúlia Timochenko, dirigido pela primeira-ministra Iúlia Timochenko e que, com o bloco pró-presidencial Nossa Ucrânia, constitui a coligação governamental.
Este incidente é mais um sinal claro de que a coligação governamental pró-ocidental deixou de existir e que a queda do Governo e a realização de eleições antecipadas poderão ocorrer ainda este ano.
Victor Iuschenko deveria pronunciar um discurso sobre o estado da nação, mas os deputados do Bloco Iúlia Timochenko bloquearam os acessos à tribuna do Parlamento para exigir que na ordem de trabalhos da sessão parlamentar fossem incluídas as questões da chefia do Fundo de Propriedade Pública e do combate à inflação.
No passado dia 06 de Fevereiro, o Conselho de Ministros da Ucrânia demitiu Valentina Semeniuk da direcção do Fundo de Propriedade Pública, acusando-a de envolvimento em casos de corrupção, mas, no dia seguinte, Iuschenko reconduziu-a ao cargo.
Além disso, o Bloco Iúlia Timochenko acusa o Presidente Iuschenko de travar a aprovação pela Rada de um pacote de medidas anti-inflacionárias. Nos quatro primeiros meses deste ano, a inflação na Ucrânia atingiu os 13,1 por cento.
Iuschenko acusa o Governo de Timochenko de ser o responsável por essa subida, enquanto que a primeira-ministra diz que a subida da inflação é um fenómeno mundial e promete travar o aumento dos preços em alguns meses.
Impedido de discursar da tribuna, Iuschenko optou por dar uma conferência de imprensa.
“A força que não vela pela estabilização política no país é a força que se manifesta contra os interesses nacionais” – começou ele, sem citar o nome da primeira-ministra ou do seu bloco, embora todos tenham entendido para onde eram dirigidas as farpas.
Porém, Iuschenko sublinhou que não pretende convocar eleições antecipadas, nem rever o formato da coligação governamental existente. “Não embarcarei em quaisquer aventuras relativamente à reformatação da coligação e não reconheço quaisquer apelos a eleições parlamentares antecipadas” – frisou.
Nos últimos meses, as relações entre Iuschenko e Timochenko, bem como entre as forças políticas que dirigem: Nossa Ucrânia-Autodefesa Popular e Bloco Iúlia Timochenko respectivamente, têm-se deteriorado seriamente e alguns analistas consideram que a ruptura total poderá ocorrer no Outono.
“A ruptura ainda não se deu porque Iuschenko não tem praticamente base de apoio político para concorrer com a cada vez mais popular primeira-ministra. A realização de eleições antecipadas, nos tempos mais próximos, será um verdadeiro desastre para o Presidente” – declarou por telefone à Lusa Vladimir Dolin, jornalista do canal televisivo ucraniano Inter.
Após o termo da conferência de imprensa de Iuschenko, Iúlia Timochenko veio prometer responder com decisão às tentativas de dificultar o trabalho do seu Executivo.
“Há quatro meses que se observa o bloqueamento total do trabalho do Governo, que se desprezam totalmente as medidas para combater a inflação que foram apresentadas na Rada. Eu vou começar a agir de forma bem dura” – preveniu.
Timochenko acusa a Admistração de Iuschenko de estar a sabotar as actividades dos seus ministros. “Todos os dias, o trabalho do secretariado do Presidente visa mostrar que é impossível controlar a situação” – declarou.
A primeira-ministra ucraniana veio reafirmar hoje também que não deu início à campanha para as eleições presidenciais, marcadas para 2009. “Hoje, não me estou a preparar para as eleições seguintes” – frisou ela.
“Claro que ela irá ser um dos sérios concorrentes de Iuschenko nas presidenciais, daí esta luta cada vez mais aberta. No fundo, trata-se de uma luta com vista a neutralizar um dos mais sérios adversários” – considera Vladimir Dolin.
Actualmente, as sondagens mostram que Iúlia Timochenko é um dos políticos ucranianos mais populares.
O processo de revisão constitucional é mais um motivo de confronto entre Iuschenko e Timochenko. O Presidente da Ucrânia pretende que o novo projecto da Constituição da Ucrânia seja elaborado pelo Conselho Constitucional Nacional, órgão criado e dirigido por ele. Esse órgão foi formado em Fevereiro passado e pretende fazer alterações à Constituição da Ucrânia com vista ao reforço dos poderes presidenciais.
O Bloco Iúlia Timochenko, bem como os partidos da oposição ao Presidente Iuschenko, defendem a criação de uma Comissão Constitucional Parlamentar, mas o dirigente ucraniano considera inconstitucional a criação desse órgão.
“Em jogo está a futuro estrutura do poder na Ucrânia. Iuschenko pretende, com a revisão constitucional, reforçar as suas prerrogativas, fazendo do país uma república presidencial-parlamentar, enquanto que as restantes forças políticas defendem o reforço do Parlamento e do Governo, ou seja, pretende que o país se transforme numa república parlamentar-presidencial” – acrescenta Vladimir Dolin.
“Hoje, somos testemunhas de mais uma agudização da crise política no país” – constatou Arseni Itzeniuk, dirigente da Rada Suprema, depois das declarações feitas hoje pelo Presidente e a primeira-ministra.
É importante assinalar que esta crise tem lugar num momento em que dirigentes russos voltam a pôr em causa a integridade territorial. Iúri Lujkov, Presidente da Câmara de Moscovo e marido da mulher mais rica da Rússia, considera que a entrega da cidade de Sebastopol, importante porto militar no Mar Negro, à Ucrânia é ilegitima e exige a revisão das fronteiras estabelecidas após a queda da Uniao Soviética.
Neste momento, segundo os analistas ucranianos, não há razões para temer a desintegração do país, mas as coisas poderão alterar-se se a crise política se aprofundar.




Quiron
Sênior
Sênior
Mensagens: 1375
Registrado em: Sáb Abr 01, 2006 9:41 pm
Localização: Brasília-DF.
Agradeceram: 76 vezes

Re: Russia e Ucrânia e uma intricada disputa

#14 Mensagem por Quiron » Sex Mai 16, 2008 10:41 pm

Assistam esse vídeo e vejam o começo do romance entre os ucranianos e russos:





Avatar do usuário
Bolovo
Sênior
Sênior
Mensagens: 28560
Registrado em: Ter Jul 12, 2005 11:31 pm
Agradeceram: 442 vezes

Re: Russia e Ucrânia e uma intricada disputa

#15 Mensagem por Bolovo » Sex Mai 16, 2008 10:53 pm

Só falta a Ucrânia entrar na OTAN.

Os russos não gostariam nadinha de ter uma base naval da OTAN em Sevastopol.




"Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."
Darcy Ribeiro (1922 - 1997)
Responder