Um salto para a vida - Pára-quedismo mitologia e saúde

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cabeça de martelo
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Um salto para a vida - Pára-quedismo mitologia e saúde

#1 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Ago 02, 2007 4:27 pm

A porta aberta do avião exibe o solo recortado, mais de quatro mil metros abaixo. O coração pulsa excitado, misto de medo e ansiedade. A adrenalina corre solta. Mas ele salta. E corta o ar em queda livre por 55 segundos, alcançando uma velocidade de 220km/h, até que, enfim, o pára-quedas se abre e tudo volta a ser calmo. A queda torna-se então um sobrevôo lento, até o chão.

Ao atirar-se para o que seu inconsciente interpreta como morte certa, o pára-quedista passa por uma experiência intensa, da qual ele emerge como outra pessoa. A sobrecarga sensorial que ele vivencia no breve tempo provoca mudanças neuroquímicas em seu cérebro, durante e após a experiência.

O psiquiatra com mestrado em psicologia, Dr. José Paulo de Oliveira Filho, percebeu o potencial terapêutico desses saltos há alguns anos. Ele indicou o pára-quedismo sem muita pretensão a um paciente deprimido, potencialmente suicida, que gostou da idéia e resolveu experimentar. “Ele readquiriu uma autoconfiança que lhe faltava antes. Seu humor melhorou significativamente depois de alguns saltos”, constatou o médico.

Assim nasceu o “Projeto Phoenix”, que já apresenta resultados positivos com os saltos de 28 pacientes. Segundo Dr. José Paulo, “O projeto utiliza o pára-quedismo como instrumento de terapia para a análise e tratamento de estados alterados de consciência, como transtornos emocionais e dependência química”.

O dependente químico usa a droga buscando algo como esses estados alterados de consciência, onde ele possa se distanciar de tudo. “Mas ele suspenderá o consumo quando tiver ampliando seu campo de consciência e criado uma personalidade mais organizada”, afirma o psiquiatra.

O paciente Thiago Braga, ex-viciado em cocaína, atesta a eficácia desta teoria. Para ele, o pára-quedismo “é uma sensação de liberdade total. Percebi como meus problemas eram pequenos ao ver um prédio de 30 andares do tamanho de uma formiga. Me senti, livre, desconectado de tudo”.

Esse tipo de terapia é indicado a pacientes que apresentam transtornos de origem externa, cultural, os chamados transtornos psicogênicos. Tais problemas podem ser um luto patológico, uma depressão reativa a uma determinada situação estressante ou uma depressão existencial em face de um momento que se vive, entre muitos outros fatores possíveis. São alterações episódicas, diferentes dos transtornos mentais de fato, que são doenças causadas por disfunções neuroquímicos no cérebro.


Pára-quedismo e mitologia

No pára-quedismo você vive em cada salto uma experiência de morrer e renascer. “Sair pela porta de um avião a 12, 14 mil pés de altitude, faz você passar por um ritual de morte”, afirma o psiquiatra. Ao cruzar essa idéia com seus conhecimentos de culturas xamânicas, o Dr. José Paulo aponta um ponto comum. “Quando o jovem vira guerreiro, quando o casal vai casar eles são separados da tribo, em rituais de passagem, que não deixam de ser um ritual de morte e de renascimento. E o pára-quedismo propicia claramente isso, um renascimento a cada salto”. Mesmo sabendo que a morte é muito improvável, não é isto que o corpo percebe. Ao saltar de um avião alguns quilômetros acima do solo, a sensação é a de um pulo para a morte.

Além disso, durante a queda livre ele experimenta uma espécie de desejo ancestral, comum a quase todas as pessoas. Por um breve período de tempo ele voa, assim como Ícaro. Personagem da mitologia grega, Ícaro foge de um labirinto voando com asas artificiais. Porém, fascinado com a situação, ignora os conselhos de seu pai e voa alto demais. O calor do sol derrete a cera que unia as penas à asa e Ícaro despenca para a morte.

Diferente do mito, o pára-quedista chega ao solo e renasce das cinzas, como a igualmente mitológica ave Fênix, que empresta seu nome ao projeto.

Dentre todos os esportes radicais, é o pára-quedismo é que propicia essa experiência mais claramente. “Apesar de saber que é um esporte seguro, que tem um pára-quedas reserva, que tem um dispositivo eletrônico que aciona automaticamente seu pára-quedas, apesar de você saber tudo isso, seu inconsciente não sabe”.

Mas o recurso ao pára-quedismo como meio de atenuar os efeitos da depressão não serve para todos os casos. “A rigor, o tratamento de depressão é feito com antidepressivos e psicoterapia”, afirma o Dr. Rodrigo da Silva Dias, psiquiatra e colaborador do grupo de doenças afetivas (GRUDA) do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Esse tipo de atividade serve como tratamento paralelo, mas nunca deve ser visto como um remédio”, afirma. Para ele, o pára-quedismo é uma atividade lúdica e, como muitas outras, pode ter um efeito positivo em alguns casos psicogênicos leves, que também responderiam bem a outros tratamentos, como yoga, psicodramas ou até mesmo a própria psicoterapia.

Rodrigo ainda alerta para a necessidade de acompanhamento médico responsável no uso do pára-quedismo como terapia. “Meu medo é que o sujeito que brigar com a namorada e ficar deprimido vir a saltar de pára-quedas buscando uma cura fácil. Ele só vai afundar na própria angústia”, afirma.

A psicóloga clínica Dolores Lemos tem um posicionamento mais otimista em relação à prática. Para ela, o pára-quedismo pode, sim, funcionar como meio de controle de uma crise do paciente, já que o coloca em contato com seus medos e o faz enfrentá-los.

Porém, sem resolver a causa primeira do problema, o paciente fica sujeito a outras crises em algum momento de grande tensão. “Todo distúrbio psíquico tem uma causa, algo na historia do indivíduo que desencadeou o problema. O pára-quedismo trata apenas o sintoma e não atinge a causa”, diz.

Dolores concorda com Rodrigo ao defender tratamento profundo, mas discorda sobre o método. “O pára-quedismo é igual a remédio psiquiátrico. Você pode tomar o remédio para cuidar do sintoma, mas se não for buscar a causa vai ficar dependente do remédio toda a vida”, afirma.


Texto: Breno de Castro Alves




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

Portugal está morto e enterrado!!!

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