LAGER, o horror do nazismo.

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

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Re: LAGER, o horror do nazismo.

#61 Mensagem por Clermont » Dom Abr 19, 2015 10:26 am

Sonho, utopia e realidade.

Agora completo e digitalmente restaurado, ‘Memória dos campos’ está com exibição anunciada para 2015.

Dorrit Harazim - O Globo, 19.04.15.

O baú de novidades do festival de documentários É Tudo Verdade, cuja edição 2015 se encerra hoje, trouxe o oportuno “A noite cairá”, do inglês André Singer. Oportuno por narrar a feitura, posterior supressão e recente restauro digital do extraordinário “Memory of the Camps” (“Memória dos campos”), filmado 70 anos atrás.

“Memory of the Camps” fora planejado para se tornar o “filme oficial” do Comando Supremo das Forças Aliadas. A partir da primavera de 1945 equipes de câmeras dos exércitos russo, americano e britânico passaram a captar o momento da libertação dos campos de concentração e de extermínio nazistas que iam encontrando pelo caminho.

Era preciso, sobretudo, recolher provas irrefutáveis das atrocidades e aberrações encontradas para eliminar a possibilidade de contestações futuras. Para isso, nenhum detalhe podia ser poupado. Foram filmados desde o interior de fornos crematórios ainda fumegantes, com sobras de pedaços humanos, até a exposição propositalmente lenta e testemunhal de cadáveres. As pilhas de corpos nus, alvíssimos, dos quais todo sangue se esvaíra, vão sendo encontradas ora ao acaso, esparramadas pelo chão, ora em grupos que lembram bonecos desarticulados. Formam morrotes, quase montanhas, ou preenchem valas. Em pilhas carbonizadas de formas contorcidas, algumas cabeças despontam, erguidas — em busca, talvez, da lufada de ar que não veio.

“Jamais poderíamos associar o que víamos às nossas próprias vidas (...) Era outro mundo. Se nos envolvêssemos naquilo, teríamos enlouquecido”, testemunha um dos operadores de câmera instruído a filmar sem complacência.

Para a montagem do filme, o produtor Sidney Bernstein chegou a acionar Alfred Hitchcock, que atravessou o Atlântico e passou o mês de julho de 1945 supervisionando os trabalhos. Ao que se sabe, Hitch deu dois pitacos, ambos cruciais.

Primeiro, recomendou a inclusão de mapas para assinalar a localização geográfica dos campos, e de imagens do entorno para demonstrar que os abatedouros de seis milhões de pessoas não ficavam isolados no espaço. Não longe, havia cidades e vilarejos onde a vida ariana prosseguia o seu curso. Hitchcock também recomendou a inclusão de planos-sequência que mostrassem a guarda nazista para atestar que nada, nos campos, era montagem ou filmado a posteriori.

Mas o projeto de filme pedagógico descarrilhou no próprio ano de 1945, quando a Inglaterra optou por adiar o acerto de contas com a Alemanha diante da rápida mudança do cenário geopolítico. Com a Guerra Fria despontando no horizonte, Londres achou melhor priorizar a reconstrução do país derrotado do que apontar para a culpa coletiva dos alemães.

Acabou por arquivar nas prateleiras do Museu Imperial de Guerra britânico os rolos originais de “Memory of the Camps”, que ali permaneceram por mais de 30 anos. E talvez ainda ali estariam não fosse a sua descoberta por um pesquisador americano em 1984. A partir daí, o material foi montado, acrescido de um texto forte narrado pelo ator Trevor Howard e exibido no ano seguinte pelo canal público americano PBS.

Apesar do colossal impacto da transmissão, era uma obra inacabada, imperfeita e capenga. Faltava-lhe um lote crucial, tido com perdido: o registro da libertação de Auschwitz-Birkenau e Maidanek pelas tropas soviéticas. Foi somente após a implosão da URSS em 1991que as tratativas entre arquivistas russos e ocidentais retomaram o seu curso. E, mesmo assim, foi preciso esperar outro quarto de século para o filme planejado na primavera de 1945 estar concluído.

Agora completo e digitalmente restaurado, “Memória dos campos” está com exibição anunciada para 2015. Diante da recaída do mundo numa esquisita Guerra Fria pós-moderna, melhor que seja logo. No documentário “A noite cairá” que reconstitui e atualiza essa saga, o título deriva do depoimento de um dos sobreviventes entrevistados por Singer: “Se o mundo não aprender o que ensinam essas imagens, a noite cairá”.

A noite caiu de forma diversa para dois homens que morreram esta semana e cujas vidas e obras se entrelaçam com a história dos campos. Um era alemão, estava com 87 anos e tinha 6 quando Hitler chegou ao poder. Aos 10, juntou-se à Juventude Hitlerista e aos 16, último ano da guerra, vestiu o uniforme das Waffen-SS, a temida tropa de elite nazista. Aos 17 viu-se prisioneiro de guerra dos Aliados.

Günter Grass tornou-se o escritor mais aclamado no pós-guerra de uma Alemanha em busca de compasso. Expressou como ninguém a má consciência do país decidido a exorcizar o passado e foi merecedor do Nobel de Literatura em 1999. Contudo, o admirável autor de “O tambor” e “Passo de caranguejo” levou 60 anos para se confrontar publicamente com o próprio passado nas SS. Polêmico e incompreendido a vida toda, o cidadão Grass não conseguiu alcançar a liberdade de sonhar.

François Maspéro era francês e viveu 83 anos. Tinha 12 quando os pais foram deportados e era adolescente quando perdeu o irmão de 19 em combate com os alemães. Morreu no último sábado, 11 de abril, exatos 70 anos após a libertação do campo de Buchenwald, de onde o pai não saiu com vida. Sua livraria parisiense La Joie de Lire, na Rua Saint-Séverin, foi um oásis de descolonização intelectual. Como editor de livros, apresentou o martinicano Frantz Fanon à Europa e transformou “Os condenados da terra” na bíblia do terceiro-mundismo. Escreveu romances, traduziu 80 obras de autores não europeus, publicou Saul Steinberg e Chase Adams.

Explicava assim a sua maneira de ser livre: “Faço uma diferença enorme entre sonho e utopia. Utopias sempre desembocam em exemplos negativos. Qualquer que sejam sua natureza ou origem, elas acabam em catástrofe. Já um indivíduo sem sonho para si ou para a sociedade em que vive não está à altura de sua vocação de ser humano. É preciso sonhar com algum futuro. Mesmo sabendo que o futuro é como a linha do horizonte: ela recua à medida que avançamos”.




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Re: LAGER, o horror do nazismo.

#62 Mensagem por akivrx78 » Sex Mai 01, 2015 6:31 pm

Grupo de neonazistas ataca manifestação sindical na Alemanha

REUTERS/Hannibal Hanschke
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"Próximos nazistas? Não, obrigado!", dizem as bandeiras em protestos anti-nazistas em Berlim, em 1º de maio de 2015

Protestos: também houve manifestações anti-nazistas em Berlim
Da EFE

Berlim - Um grupo de cerca de 40 neonazistas entrou nesta sexta-feira em uma concentração sindical do Primeiro de Maio na cidade alemã de Weimar (leste do país), para atacar em seguida sua tribuna, tirar o microfone do orador e provocar um tumulto em que pelo menos 15 pessoas ficaram feridas.

O ataque aconteceu enquanto o deputado social-democrata no Bundestag (parlamento federal), Carsten Schneider, falava aos presentes, sobre quem os radicais se lançaram gritando palavras de ordem ultradireitistas

Fontes da Polícia informaram que foram feitas 29 detenções, enquanto o próprio Schneider descreveu os neonazistas como "altamente agressivos", através de sua conta no Twitter.

Os incidentes ocorreram por volta das 6h (horário de Brasília), hora em que estava previsto o discurso do deputado, assim como as de outros políticos do partido A Esquerda e de representantes da Confederação de Sindicatos Alemães (DGB).

O Dia do Trabalho está sendo considerado como de alta de conflitos na Alemanha, por confluir nela tanto as tradicionais concentrações da DGB, como outras da esquerda radical e também de neonazistas.

Em Berlim, menos de 50 seguidores do ultradireitista Partido Nacional Democrático (NPD) participaram da manifestação convocada em um bairro afastado do leste da capital, onde também tinham se concentrado centenas de jovens de esquerda dispostos a segui-los.

A habitual concentração esquerdista da véspera, na chamada Noite de Wallpurgis, transcorreu pacificamente, com apenas um outro incidente isolado e no meio de um grande desdobramento policial, em previsão de distúrbios como os registrados em exercícios anteriores.

A atenção policial se centra além disso na marcha do Primeiro de Maio Revolucionário pelo distrito multiétnico berlinense de Kreuzberg, que desde os anos 80 costuma acabar em incidentes violentos.

http://exame.abril.com.br/mundo/noticia ... a-alemanha




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Re: LAGER, o horror do nazismo.

#63 Mensagem por Clermont » Seg Ago 17, 2015 11:52 am





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Re: LAGER, o horror do nazismo.

#64 Mensagem por Clermont » Dom Out 11, 2015 9:58 am

Digitalização dissemina imagens que o mundo não viu.

Por Sheila Sacks em 06/10/2015 - Observatório da Imprensa.

Para o jornalista Elio Gaspari, o mundo só começou a encarar o Holocausto a partir dos anos 1960, com o julgamento público de Adolf Eichmann em Israel. De fato, a captura do oficial nazista em Buenos Aires por um comando israelense, seu transporte clandestino para Tel Aviv e as audiências na Suprema Corte em Jerusalém renderam milhares de reportagens, centenas de livros e ensaios, questionamentos políticos, filmes e documentários.

Entretanto, essa revelação histórica – a do mais brutal massacre institucional de cidadãos promovido por um governo em solo europeu – poderia ter sido antecipada e exibida ao mundo 15 anos antes, ainda em 1945, caso as autoridades britânicas e americanas não tivessem arquivado em uma repartição pública militar os cinco cilindros de filme que registraram em tempo real o horror dos campos de concentração alemães.

Uma decisão jamais discutida, em qualquer tempo, pelos meios de comunicação, pesquisadores, intelectuais e organizações sociais a quem caberia, ao menos, uma palavra de indignação diante do ocorrido.

Cenário macabro.

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A filmagem feita por cinegrafistas do exército aliado acompanha a libertação de onze campos de concentração nazistas – de um total de 1.094 já documentados – a partir de abril de 1945. Entre eles os campos de Bergen-Belsen, com 70 mil mortos (onde Anne Frank morreu), Majdanek (80 mil), Dachau (30 mil) Buchenwald (56 mil), Ebensee (20 mil), Matthausen (150 mil) e Auschwitz-Birkenau (1,1 milhão).

As imagens aéreas mostram vastas planícies ocupadas por fileiras de barracões cercadas por arame farpado e guaritas. No solo, cadáveres sem roupa se misturam aos doentes e moribundos que agonizam sob a indiferença daqueles que ainda reúnem forças para disputar algum resto de comida. Um cenário macabro onde proliferam a imundície, as epidemias e a fome.

O filme também mostra as equipes nazistas – homens e mulheres – que atuavam nos campos da morte. Sob a ordem do exército aliado, esses soldados alemães cavam imensos buracos onde são jogados os milhares de cadáveres que jazem insepultos. Todos esquálidos e desnudos. O material, catalogado sob a inscrição F3080, permaneceu abandonado nas prateleiras de um departamento do antigo ministério da Guerra (hoje, ministério da Defesa) e em 1952 foi transferido para o “Imperial War Museum” – IWM que o registrou sob o título de “Memory of the Camps” (Memória dos Campos). Ali ficou enterrado e esquecido por décadas.

Culpa coletiva.

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Planejado para ser um documento histórico e didático que funcionaria como uma prova real da existência dos campos e das práticas abomináveis exercidas pelo regime nazista, o projeto do comando aliado ficou sob a responsabilidade de Sidney Bernstein (1899-1993), chefe da seção de cinema da divisão de Informação britânica, que chamou Richard Crossman para ajudá-lo no roteiro. Crossman foi um dos primeiros oficiais britânicos a pisarem no campo de Dachau e posteriormente entrou para a política, tornando-se líder do Partido Trabalhista e ministro do Trabalho. Com apoio dos colegas do serviço americano de informação, Bernstein recrutou ainda o diretor de cinema Alfred Hitchcock (1899-1980), que trabalhava em Hollywood, para supervisionar o documentário.

Mas, em 9 de julho de 1945, menos de três meses após o início efetivo do projeto, os americanos retiram a sua participação no filme. Em setembro de 1945, com o documentário inacabado, as autoridades britânicas resolvem interromper o trabalho. O comando militar, àquela altura, estava empenhado em melhorar as relações anglo-germânicas, conter uma possível expansão soviética e não dar publicidade à vitimização dos judeus que lutavam por uma pátria na terra de Israel sob mandato britânico. A exibição do filme iria incutir uma culpa coletiva sobre a população alemã, o que segundo as autoridades aliadas aumentaria ainda mais o caos e a desmoralização de uma nação derrotada.

Nas imagens engavetadas, moradores das cidades e vilas próximas aos campos, convocados pelo exército aliado, visitam esses locais em plena efervescência de uma indescritível e absurda tragédia humana. As câmeras registram o constrangimento e a aparente vergonha dos alemães diante daquela multidão de seres desfigurados, reduzidos ao nível mais baixo de miséria e humilhação. Um pesadelo inimaginável que se sucedia a poucos quilômetros de suas casas, sem que ninguém soltasse um suspiro de misericórdia. Vizinhos das indústrias da morte, os moradores são forçados a encarar, naquela primavera de 1945, a máquina genocida que amparada na indiferença e pouco caso de seus cidadãos exterminou milhões de crianças, idosos e cidadãos civis inocentes.

O historiador Geoffrey Megargee, do Museu do Holocausto de Washington, afirma que de 1933 a 1945 o regime nazista implantou uma rede de trabalho escravo que funcionou em 42.500 locais na Alemanha e nos países ocupados. Foram 1.094 campos de concentração e 1.150 guetos, além de milhares de fábricas e outros centros de trabalho forçado, de tortura e de morte.

O mapeamento e o censo completo desses locais irão compor uma enciclopédia que deverá estar concluída nos próximos anos. “A existência de campos de concentração não era segredo e dada a dimensão dos números é quase impossível acreditar que os alemães não tinham conhecimento do sistema de matança de Hitler”, avalia o pesquisador. “Quando você tem dezenas de milhares de acampamentos e milhões de trabalhadores forçados, prisioneiros de guerra e prisioneiros de campos de concentração em todos os lugares, todos fazendo todo o tipo de trabalho que se possa imaginar, é muito difícil dizer que você não sabia de nada desse sistema”, completa.

Exibição na TV.

Em 7 de maio de 1985, após 40 anos de um esquecimento premeditado e moralmente injustificável, o documentário em estado bruto é apresentado na TV americana. Pesquisadores do premiado programa de jornalismo investigativo Frontline – focado em temas políticos e internacionais – haviam encontrado em um cofre do IWM, em Londres, os cinco cilindros de filme e mais um rolo sem data, com imagens não editadas, um roteiro datilografado para narração e uma lista de termos que corresponderia às imagens editadas (um sexto carretel de filme que mostrava a libertação dos campos de Auschwitz e Majdanek teria sido levado para Moscou por cinegrafistas soviéticos).

O ator britânico Trevor Howard (1913-1988) é escalado para a narração das imagens que se mantém fiel ao roteiro original. Com o mesmo título registrado pelo museu, Memory of the Camps é exibido pelo canal aberto PBS (Public Broadcasting Service), dos Estados Unidos, uma emissora pública voltada para programas culturais e educativos.

Acerca do filme, um dos cinegrafistas responsáveis pelas imagens chocantes registradas no campo de Bergen-Belsen foi o sargento do exército britânico Mike Lewis, que não tinha ideia do que iria encontrar naquela tarde de 15 de abril de 1945 ao cruzar os portões do campo recém-libertado. Tinham dito que ele iria filmar um acampamento de prisioneiros, de criminosos. Anos depois, sua filha, Helen, conta a saga do pai: “Ele entrou pelos portões de arame farpado e deparou com um terreno baldio cheio de corpos de pessoas mortas, em sua maioria despidas, ao lado de outras morrendo de fome. Eram em torno de 10 mil pessoas que jaziam insepultas e outras 13 mil que morriam de desnutrição e doenças.”

Helen Lewis diz que seu pai permaneceu por 10 dias filmando no campo de Belsen, apesar da epidemia de tifo que assustava a todos. “Foi um trabalho de registro histórico que inclusive foi usado em um dos primeiros julgamentos de crimes de guerra.” De fato, cenas do documentário foram apresentadas como prova documental no julgamento de Josef Kramer, o chefe do campo de Bergen-Belsen, cuja imagem está presente no filme. Conhecido como “a besta de Belsen”, Kramer também foi responsável pelo controle das câmaras de gás de Auschwitz. Ele foi condenado por uma corte militar britânica e enforcado em 13 de dezembro de 1945.

Em Berlim.

Um ano antes, em 1984, por ocasião do 34º Festival de Cinema de Berlim, as imagens de Memory of the Camps foram mostradas à parte da competição oficial. O documentário sem som foi precedido pela leitura do texto dos editores originais. Após os 60 minutos de filme houve um debate acompanhado pela rede americana de TV NBC (National Broadcasting Company). O tema abordava a possibilidade de exibição do documentário em toda a Alemanha Ocidental (o muro de Berlim que separava as duas Alemanhas – a Oriental sob o governo soviético e a Ocidental, alinhada com os Estados Unidos – só foi derrubado em novembro de 1989). Porém, o assunto não foi adiante em termos práticos e os debatedores e a plateia se mostraram evasivos.

O crítico de cinema Harlan Kennedy, que escrevia para a revista americana Film Comment e estava presente ao encontro, comentou que o único traço de realidade sobre o que acontecia no país na época em relação ao Holocausto veio através da observação de um estudante. “Ele disse que nunca se falava sobre essas atrocidades na escola. E que havia participado de uma visita com seus colegas a Bergen-Belsen, mas a história e o horror do lugar foram apresentados de forma bem abreviada. Disse ainda que nunca tinha visto nada parecido com as imagens do filme, o que fez o mediador local pular da cadeira e justificar que não havia esse tipo de material disponível na Alemanha.”

Imagens digitalizadas.

Em 2015, três décadas após essas apresentações que tiveram divulgação restrita, o governo britânico resolve marcar os 70 anos da libertação dos campos nazistas e o fim da II Grande Guerra (1939-1945) com o documentário recuperado sob o título original: German Concentrations Camps Factual Survey (Inspeção local dos campos de concentração alemães, em tradução livre). Pesquisadores do IWM, onde o filme esteve abandonado por mais de 60 anos, se empenharam no processo de digitalização das imagens e de outros acabamentos, como a inclusão de som e áudio e a reabilitação do rolo dado como perdido.

Contudo, permanece a estranheza sobre a decisão das forças aliadas de desistirem de concluir o documentário, em 1945, e deixá-lo enterrado por tanto tempo, longe do olhar e da consciência do mundo. A filha de Sidney Bernstein, o idealizador do filme, revelou em entrevista ao jornal israelense Haaretz, que não tinha conhecimento da existência do material até 1984, quando as imagens foram liberadas em estado bruto. Cineasta e autora de dezenas de curtas-metragens, Jane Wells confessou que foi uma surpresa completa saber que o pai esteve em Bergen-Belsen. Realmente, Bernstein, impressionado com o pavoroso relato do correspondente britânico da rádio BBC Richard Dimbleby, sobre o campo de Belsen, foi ao local e decidiu retratar os crimes dos nazistas de tal maneira que seria impossível alguém negar que aquilo existiu.

Em 1984, aos 85 anos, Bernstein lamentou que o documentário não se concluísse. “Minhas instruções eram para filmar tudo, o que provaria que realmente aquilo aconteceu. Eu queria provar que tinha visto porque a maioria das pessoas iria negar.” Sobre a presença de Hitchcock no filme, acredita-se que foi importante para delinear o roteiro, enfatizando quão perto estavam os campos de concentração das aldeias e cidades, onde civis alemães viveram durante a guerra. O cineasta queria planos longos, sem cortes, para que o documentário transmitisse credibilidade e assim se tornar irrefutável a possíveis controvérsias quanto ao extermínio sistemático de milhões de pessoas naquelas fábricas de mortes.

Memory é tema de filme.

Ressuscitado da censura e do ostracismo, o documentário de 1945 agora está sendo apresentado em museus e centros de cultura a uma geração que na maioria das vezes dá de ombros para o que aconteceu porque não houve um processo sistemático de conscientização coletiva sobre o tema que ficou restrito às teias literárias, memoriais e artísticas. Mas, ainda assim suas imagens surpreendem pelo extremo nível de desumanidade e a brutalidade que registram.

Ciente e sensibilizado pelo trabalho de restauração do documentário, o antropólogo e documentarista inglês Andre Singer partiu para a realização de um filme tendo como base o Memory of the Camps. Autor de documentários premiados de TV e ex-diretor do Discovery Channel na Europa, Singer revive a história de alguns sobreviventes, apresentando imagens do filme original, depoimentos de soldados e cinegrafistas que estiveram nos campos, e a visão de Bernstein e Hitchcock. Apresentado no Festival de Berlim em 2014, o filme Night Will Fall (em alusão à citação do roteiro original: “A menos que o mundo aprenda a lição que essas imagens ensinam, a noite vai cair”) foi exibido na TV, no início de 2015, em mais de 15 países, durante a semana de celebração do Dia Internacional do Holocausto (27 de janeiro).

Na Alemanha, onde o filme teve estreia mundial, o historiador Heinrich August Winkler admitiu que “o Holocausto é o fato central da história alemã do século 20”. Também afirmou que a população da Alemanha levou muitas décadas para reconhecer o Holocausto e que não se pode colocar um ponto final diante desses acontecimentos. Professor emérito da Universidade Humboldt, de Berlim, ele discursou no parlamento alemão na cerimônia dos 70 anos do fim da Segunda Grande Guerra, em sessão especial realizada em 8 de maio de 2015. Falando para uma plateia de autoridades, o historiador lembrou que a ascensão política de Hitler foi o triunfo do mito sobre a razão e advertiu que a xenofobia e o antissemitismo atuais presentes na vida das sociedades alimentam e nutrem esses mitos, que na verdade nunca desapareceram. Continuam à espreita, esperando a sua hora para agir.




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Re: LAGER, o horror do nazismo.

#65 Mensagem por Hermes » Dom Out 11, 2015 2:49 pm

Não sei, mas acho que houveram alguns enganos no texto. As imagens aéreas citadas no começo seriam as de voos de reconhecimento Aliados onde se vê até filas de prisioneiros para as câmaras de gás e que hoje são usadas para acusar os Aliados de conivência? Se forem, creio que elas não tem nada a ver com o filme. Mas podem ter sido imagens feitas depois da libertação também, aí sim. O texto minimiza muito a participação soviética no filme. Já li que Stalin não liberou as filmagens de seus cinegrafistas e que o filme só pôde ser realizado em sua forma completa recentemente com a liberação pelos russos dos antigos arquivos soviéticos.




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Re: LAGER, o horror do nazismo.

#66 Mensagem por Clermont » Qui Ago 17, 2017 8:31 pm

Hitler não era de esquerda nem de direita: era a 'terceira via'.

Leandro Narloch - Folha de São Paulo, 17 de agosto de 2017.

Não sei muito bem como, mas a maluquice de neonazistas em Charlottesville suscitou no Brasil a discussão se o nazismo é de esquerda ou direita. A polêmica é típica das torcidas organizadas que vivem brigando na internet, mas não deixa de ser interessante. Como saber qual o lugar de Hitler na política se ele era ao mesmo tempo anticomunista, antiliberal e anticonservador?

É verdade que algumas propostas do nazismo, principalmente do início do movimento, têm toda a cara da esquerda. A primeira plataforma do Partido Nazista, publicada em 1920, defendia reforma agrária, divisão dos lucros de indústrias pesadas, estatização de grandes lojas de departamento, proteção social na velhice e proibição do rentismo e do trabalho infantil.

Mas não, Hitler não era de esquerda. Tinha os comunistas como seus principais inimigos e, mais importante, não ligava para a igualdade, o principal valor da esquerda. Pelo contrário, a teoria dos nazistas se baseava na desigualdade - os mais fortes (para eles, os arianos) deveriam vencer e dominar povos inferiores.

Hitler tampouco era um conservador. Conservadores pregam a prudência na política, a ordem e a preservação das conquistas da sociedade. O melhor político, para um conservador, é aquele que inspira tédio - e Hitler inspirou muitas emoções, menos tédio. Estava muito mais para um jacobino, alguém disposto a cortar cabeças e arriscar tudo em nome de uma sociedade perfeita.

Seria Hitler um liberal? Nem de longe. A ascensão do fascismo na Europa também é conhecida por historiadores como "a segunda morte de Adam Smith". As ideias liberais, que contagiaram o mundo do fim do século XIX até a Primeira Guerra, não infectavam mais ninguém. À esquerda e à direita, o planejamento central foi a grande ideia que acometeu o mundo até a chegada do neoliberalismo, em 1970.

O fasci, feixe de varas que deu nome ao fascismo, representa a ideia de que "juntos somos mais fortes". Assim como o comunismo, o fascismo e o nazismo eram ideologias coletivistas. Rejeitavam a ideia de que o indivíduo é um fim em si mesmo (ou que "o indivíduo vale mais do que toda a Via Láctea", como dizia Nelson Rodrigues). O oposto do fascismo não é o comunismo, mas o individualismo.

A ambiente político do começo do século XX se dividia entre democratas liberais e revolucionários anarquistas ou socialistas. O fascismo e seu correspondente alemão surgiram como uma novidade que transcendia ideologias tradicionais e reavivava a crença na política principalmente entre os jovens. Não eram comunistas nem liberais: admitiam o capitalismo, mas um capitalismo submetido aos interesses do Estado, do coletivo.

Os nazistas não eram nem de esquerda nem de direita: era a terceira via dos anos 1920. Os políticos que rejeitavam rótulos e pregavam "contra tudo isso que está aí".




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Re: LAGER, o horror do nazismo.

#67 Mensagem por prp » Qui Ago 17, 2017 11:41 pm

Eram os bolsominions da época kkkk




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J.Ricardo
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Re: LAGER, o horror do nazismo.

#68 Mensagem por J.Ricardo » Sex Ago 18, 2017 11:44 am

prp escreveu:Eram os bolsominions da época kkkk
Bem infeliz sua comparação.




Não temais ímpias falanges,
Que apresentam face hostil,
Vossos peitos, vossos braços,
São muralhas do Brasil!
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Bolovo
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Re: LAGER, o horror do nazismo.

#69 Mensagem por Bolovo » Sex Ago 18, 2017 2:03 pm

Clermont escreveu:É verdade que algumas propostas do nazismo, principalmente do início do movimento, têm toda a cara da esquerda. A primeira plataforma do Partido Nazista, publicada em 1920, defendia reforma agrária, divisão dos lucros de indústrias pesadas, estatização de grandes lojas de departamento, proteção social na velhice e proibição do rentismo e do trabalho infantil.

Mas não, Hitler não era de esquerda. Tinha os comunistas como seus principais inimigos e, mais importante, não ligava para a igualdade, o principal valor da esquerda. Pelo contrário, a teoria dos nazistas se baseava na desigualdade - os mais fortes (para eles, os arianos) deveriam vencer e dominar povos inferiores.

Hitler tampouco era um conservador. Conservadores pregam a prudência na política, a ordem e a preservação das conquistas da sociedade. O melhor político, para um conservador, é aquele que inspira tédio - e Hitler inspirou muitas emoções, menos tédio. Estava muito mais para um jacobino, alguém disposto a cortar cabeças e arriscar tudo em nome de uma sociedade perfeita.

Seria Hitler um liberal? Nem de longe. A ascensão do fascismo na Europa também é conhecida por historiadores como "a segunda morte de Adam Smith". As ideias liberais, que contagiaram o mundo do fim do século XIX até a Primeira Guerra, não infectavam mais ninguém. À esquerda e à direita, o planejamento central foi a grande ideia que acometeu o mundo até a chegada do neoliberalismo, em 1970.
Esse trecho do texto do Narloch prova que o nazismo é uma ideologia de direita (de extrema-direita no caso). Explico melhor. Como ele mesmo disse, o conceito chave que difere esquerda de direita, de maneira bem simplista, é que o primeiro prega a igualdade e o segundo a desigualdade. Há um "degrade" de níveis de esquerda e de direita. Nem todo esquerdista é revolucionário, quer tomar o poder pela força, como por exemplo, os reformistas, os sociais-democratas que acham que as mudanças rumo a uma maior igualdade social tem que ser de maneira gradual, através de reformas, porém todos no fim tem o mesmo objetivo: a igualdade. Do mesmo modo, nem todo direitista é necessariamente conservador, liberal, ou nazista, mas no fim todos acreditam na mesma ideia de que as pessoas são diferentes, portanto é até natural e desejável uma desigualdade. Entra aí o conceito de meritocracia que a direita tanto defende: os melhores merecem mais - a diferença com o nazismo é que esse tira o componente do mérito e coloca o componente raça (os arianos são superiores).

Há esse conceito errado de que "mais Estado = esquerda" e "menos Estado = direita", o que é uma completa bobagem, não é isso o que define o espectro político. Se fosse assim, o anarquismo seria uma ideologia de direita. Ou mesmo o próprio comunismo, que tem por objetivo final a extinção do Estado. Vejam que o regime cívico-militar que pendurou de 1964 até 1985 aqui no Brasil perseguiu os que eram de esquerda, ao mesmo tempo que interferiram bastante na economia, criaram um monte de empresas estatais (por exemplo, a Embraer em 1968) e etc. O Narloch acredita que ser de direita é ser contra o politicamente correto, a favor de uma economia mais liberal e etc, mas isso não tem nada a ver. Um posição política de Hitler que seria mais ou menos a correta é essa:

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Re: LAGER, o horror do nazismo.

#70 Mensagem por P44 » Sáb Ago 19, 2017 7:17 am

Estou a ler "As Benevolentes" do Jonathan Littel, é a autobiografia de um oficial das SS que relembra a sua experiência da guerra, e relata entre outras coisas as reuniões que eram efectuadas durante a ocupação do Cáucaso para "decidir" se uma "etnia" (e no cáucaso há-as a pontapé), era judia, ou tinha antecedentes judeus, e se tal, o quão remotos eram esses antecedentes. Esses "estudos" que implicavam dezenas de pessoas e de reuniões, eram efectuadas até se chegar a uma conclusão se essa "étnia" devia ser deixada existir ou pura e simplesmente devia ser eliminada. Mas é de facto impressionante ao detalhe a que iam, envolvendo "Universidades" dedicadas ao "Estudo Racial", pesquisas minuciosas de livros e documentos oficiais da URSS e da Rússia Czarista, de "cientistas", "filósofos", "historiadores", "especialistas linguisticos" e sei lá que mais, iam a estudos que remontavam ao séc. X e por aí fora!!!!




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Re: LAGER, o horror do nazismo.

#71 Mensagem por cabeça de martelo » Sáb Ago 19, 2017 8:16 am

Eu estava lixado, sou 1/4 Terceirense ou seja, sangue flamengo (o meu pai é louro), Português (óbvio) e talvez algum judeu...




"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

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Re: LAGER, o horror do nazismo.

#72 Mensagem por Ilya Ehrenburg » Ter Ago 29, 2017 6:37 pm

Clermont escreveu:
FOXTROT escreveu:Sobre o tópico em si, o autor recebeu quanto do povo eleito?
Nada.

O governo israelense nunca me pagou nada pelos textos.

Eu posto porque gosto. De livre e espontânea vontade.

Se alguém não gosta, não precisa sequer abrir o tópico. Ou então, pode ir reclamar com a moderação se acredita que há algo errado.
O autor do texto é Laurence Rees.




Não se tem razão quando se diz que o tempo cura tudo: de repente, as velhas dores tornam-se lancinantes e só morrem com o homem.
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Re: LAGER, o horror do nazismo.

#73 Mensagem por prp » Ter Ago 29, 2017 11:01 pm

J.Ricardo escreveu:
prp escreveu:Eram os bolsominions da época kkkk
Bem infeliz sua comparação.
Não tem nada de infeliz. Encaixa direitinho.




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Re: LAGER, o horror do nazismo.

#74 Mensagem por Clermont » Qua Ago 30, 2017 9:47 am

O governo israelense nunca me pagou nada pelos textos.
Eu sou uma besta.

Devia ter aproveitado e cobrado do Bibi Netanyahu uma contribuição. Só que não em dinheiro.

Devia ter exigido um fim de semana romântico com uma soldado israelense...

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:mrgreen:




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Re: LAGER, o horror do nazismo.

#75 Mensagem por J.Ricardo » Qua Ago 30, 2017 10:10 am

prp escreveu:
J.Ricardo escreveu: Bem infeliz sua comparação.
Não tem nada de infeliz. Encaixa direitinho.
Não encaixa não, mesmo não sendo um fã do coronel, acho que os "paredons" do Fidel não tem muita diferença das câmaras de gás do Hitler. Da mesma forma que os vôos da morte argentinos são cruéis da mesma forma.

A diferença é que até hoje tem gente defendendo os paredons, mas falar do bigodinho alemão é crime.




Não temais ímpias falanges,
Que apresentam face hostil,
Vossos peitos, vossos braços,
São muralhas do Brasil!
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