Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

Assuntos em discussão: Exército Brasileiro e exércitos estrangeiros, armamentos, equipamentos de exércitos em geral.

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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#61 Mensagem por Clermont » Qua Mar 11, 2009 9:00 pm

A GUERRA BLINDADA Parte 2.

James Dunnigan & Albert Nofi – Dirty Little Secrets of World War II.

AS PRIMEIRAS DIVISÕES BLINDADAS.

A divisão, uma grande (4 mil a 20 mil homens) força combatente auto-suficiente de todas as armas (infantaria, artilharia, cavalaria, etc.), capaz de um considerável grau de operação independente, foi introduzida no final do século XVIII e, desde então, tem permanecido como a principal formação tática para o combate terrestre prolongado, de larga escala. Embora a criação das primeiras divisões blindadas fosse proposta, tão cedo quanto 1918, nenhuma unidade maior do que brigadas foi, realmente, ativada, até os anos 1930, quando as tensões internacionais começaram a crescer. Nesta década, vários países criaram divisões blindadas experimentais, testando uma variedade de planos organizacionais e de equipamento, conhecidos como tabelas de organização e equipamento (TO&E). Todas estas divisões blindadas eram, essencialmente, experimentais, já que ninguém sabia ao certo como elas funcionariam em combate real.

No final das contas, o mais importante fator organizacional sobre divisões blindadas, não é o número de tanques à mão; na verdade, uma divisão pode ter tanques em demasia. De modo a operar com máxima eficácia, os tanques tem de ser apoiados pelas outras armas como infantaria, artilharia, engenharia etc. A experiência demonstrou que os fatores críticos na organização mecanizada eram:

Uma paridade aproximada entre número de batalhões de tanques, infantaria e artilharia, na proporção de 1:1:1, e que todos os elementos fossem, igualmente, móveis. Isso reforçava, grandemente, a flexibilidade tática e permitia a divisão manter o terreno conquistado, uma tarefa que os tanques não podem cumprir sem infantaria, já que os tanques são mais eficazes atacando, não defendendo.

Para reforçar, ainda mais, a capacidade de uma divisão blindada desempenhar suas missões, ela deve ter um forte elemento de reconhecimento, capaz de buscar e assegurar informação. Idealmente, um batalhão de reconhecimento deve ser algo como uma divisão blindada em miniatura, com elementos de tanques, artilharia e infantaria para permitir-lhe lutar pela informação quando necessário. Similarmente, uma divisão blindada exige considerável apoio de tropas de engenharia e de comunicações, as primeiras para facilitar a transposição de obstáculos naturais e artificiais, e as últimas para manter os elementos de movimento rápido da divisão em constante ligação. Nesta base, pode-se ver que a maioria divisões formadas nos anos pré-guerra era deficiente de uma forma ou de outra.

Surpreendentemente, foram os franceses e os soviéticos, não os alemães, que criaram as primeiras divisões blindadas. No entanto, enquanto no papel a Division Legere Mechanique francesa era, notavelmente, sólida, a doutrina tática e estratégica para seu emprego era pobre, limitada a noção de operar como uma espécie de reserva móvel para rápidos contra-ataques. A divisão soviética era menos tecnicamente equilibrada, mas sua doutrina tática e estratégica era bem boa, com os soviéticos tendo alcançado a idéia de emassar blindados para ataques de penetração. Infelizmente, a experiência soviética em operações mecanizadas não iria sobreviver aos Grandes Expurgos do final dos anos 1930, quando Stalin massacrou a maioria da liderança superior do Exército Vermelho. Assim, foram os alemães que desenvolveram as bem-equilibradas divisões blindadas com doutrina comparável. Isto produziu a blitzkrieg (unidades de movimento rápido de tanques e infantaria motorizada, esmagando e avassalando unidades inimigas). Entre as outras grandes potências, somente a Itália tinha uma idéia, razoavelmente sólida, de como as operações mecanizadas deveriam proceder e, realmente, tiveram alguns sucessos com operações tipo blitzkrieg na parte final da Guerra Civil Espanhola, embora fossem obstaculizados por uma inadequada base industrial, equipamento pobre, treinamento inferior e um, geralmente, desastroso sistema militar. Nenhuma das outras grandes potências chegou perto de ter uma boa idéia de como organizar e empregar forças blindadas.

Foi a divisão panzer (blindada) padrão 1938 alemã que abriu Segunda Guerra Mundial tão impressionantemente, na Polônia, em setembro de 1939, e agüentou a carga da ainda mais espetacular campanha francesa, em maio e junho de 1940. Apesar disto, as divisões panzer alemãs não foram as primeiras a ver combate. Esta distinção pertence às duas Divisiones de Tanques y Blindados republicanas espanholas. Estas, entretanto, eram formações administrativas antes do que operacionais, e não viram ação alguma como divisões, com seus elementos sendo empenhados aos bocados em apoio de operações, essencialmente, de infantaria. A primeira divisão, totalmente blindada, a entrar em combate, foi a 131ª “Centauro” italiana, que entrou em ação, durante a breve campanha albanesa de inícios de 1939.

Apesar de seu relativo atraso na organização das divisões blindadas, e em colocá-las em ação, os alemães saíram-se muito melhores com as novas formações do qualquer outro. Isto se deveu a diligência deles ao testarem as divisões panzer. Entre 1935 e 1938, eles conduziram extensivas manobras que apontaram algumas deficiências na organização e doutrina delas. A ocupação da Áustria, na primavera de 1938, foi conduzida em preparação de combate, e revelou ainda mais problemas. Como um oficial alemão, expôs, caritativamente, “Apenas 30 porcento dos tanques enguiçaram” durante a marcha de estrada para Viena. Os alemães, também, foram forçados a obter combustível de postos de gasolina locais, quando seus próprios suprimentos não conseguiram alcançar os sedentos tanques. Então, veio a ocupação dos Sudetos, no outono de 1938, e do resto da Tchecoslováquia, na primavera seguinte. Portanto, pelo final do verão de 1939, enquanto as divisões panzer se concentravam para a invasão da Polônia, elas tinham acumulado uma extraordinária quantidade de treinamento e experiência. Isto renderia dividendos nas grandes vitórias blitzkrieg de 1939-1941.




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#62 Mensagem por Túlio » Qui Mar 12, 2009 2:05 am

Estou impressionado: BAITA TÓPICO, POWS!!! :shock: :shock: :shock: :shock:

Congratz!!!

Detalhe: Marcolima, és médico?

E Clermont, só para variar, IMPECÁVEL!!!

Nem falar no Guerra, Piffer e Jauro: grande prazer em fazer parte de tale grupo, MAGISTRAIS!!!

Continuem, por favor, só lendo e aprendendo!!!




"The two most powerful warriors are patience and time." - Leon Tolstoy
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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#63 Mensagem por Clermont » Ter Mar 17, 2009 10:02 pm

A GUERRA BLINDADA Parte 3..

James Dunnigan & Albert Nofi – Dirty Little Secrets of World War II.

MOTORIZAÇÃO SOCIETÁRIA, 1939.

Numa observação, extremamente perspicaz, feita durante os anos 1930, Benito Mussolini declarou que a Itália não poderia se permitir possuir um exército motorizado. Seu raciocínio era de que a Itália carecia, não só da base industrial para produzir uma tal força, mas, também, de uma população “motorizada”, gente familiarizada e habilitada a utilizar viaturas à motor. Ele estava correto, até certo ponto. O padrão geral da guerra que se seguiu, demonstrou, significativamente, que em qualquer conflito sustentado, a sociedade mais tecnicamente sofisticada tinha enorme vantagem.

Existiam cerca de quarenta milhões de viaturas à motor no mundo, em 1939. Os Estados Unidos, sozinhos, tinham quase 75 porcento, que era, também, sua fatia das instalações de produção de automotivos. Observe que, enfocando-se determinado ponto de vista, a conclusão de Mussolini, concernente à relação entre exército motorizado e sociedade motorizada é enganosa. Afinal de contas, a Alemanha era muito menos motorizada do que a França, mesmo assim, produziu os exércitos blitzkrieg que avassalariam os franceses em um mês. Entretanto, embora o Exército francês de 1940 fosse, realmente, mais completamente motorizado do que o Exército alemão, os sucessos deste basearam-se no fato de que ele concentrou seus recursos motorizados (tanques tanto quanto caminhões) num número, relativamente pequeno de divisões, permitindo que cerca de 15 a 20 porcento do exército fosse, completamente, motorizado. O Exército britânico era ainda mais motorizado que o francês (as tropas britânicas enviadas para a França em 1939-40, foram as primeiras forças, totalmente motorizadas na história, os únicos cavalos que foram levados, destinavam-se a exercícios e a prática do pólo) mas, também, dispersou seus elementos motorizados. Foi a doutrina de concentrar recursos motorizados, a par com seu considerável estoque pré-guerra de viaturas motorizadas, que sustentou o esforço de guerra alemão, até que o atrito, em particular, na Frente Russa, começou a destruir viaturas, mais rápido do que sua base industrial poderia substituí-las.

A experiência dos Estados Unidos na guerra, entretanto, confirmou a observação de Mussolini. Os soldados americanos exigiam, de longe, menos treinamento para se tornarem motoristas e mecânicos proficientes, do que aqueles de qualquer outra nação, normalmente, já estando familiarizados com viaturas à motor, muito antes de terem sido recrutados. De fato, os soldados americanos tinham tanta mentalidade de motor que, rapidamente, concluíram que, por meio de cuidadosa organização de todas as viaturas motorizadas, ninguém precisaria caminhar, mesmo numa divisão de infantaria. Esta foi uma questão de considerável conseqüência estratégica, quando o 3º Exército disparou através da França em agosto e setembro de 1944.

A experiência automotiva americana teve outros interessante resultados. A unidade mediana americana, na Europa, realmente, tendia a acumular viaturas motorizadas durante a campanha. Enquanto os homens avançavam, viaturas inimigas capturadas, e até mesmo viaturas americanas abandonadas, eram, rapidamente, reparadas e colocadas em serviço. Algumas divisões, eventualmente, estavam muito acima de suas forças em transporte motorizado, pelo fim da guerra na Europa: o recorde, aparentemente, foi mantido pela 83ª Divisão de Infantaria, que possuía cerca de 40 porcento mais de viaturas motorizadas do que ela, supostamente, devia ter.




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#64 Mensagem por Clermont » Dom Mar 22, 2009 9:54 am

A GUERRA BLINDADA Parte 4..

James Dunnigan & Albert Nofi – Dirty Little Secrets of World War II.

A BLITZKRIEG: UM RÁPIDO EXAME.

A Blitzkrieg era uma doutrina operacional que permitiu aos exércitos alemães obter sucessos sem precedentes no campo de batalha durante os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial.

Embora a palavra blitzkrieg (“guerra relâmpago”, realmente, cunhada por um jornalista, não pelos alemães), instantaneamente, traga à mente os panzers de Hitler abrindo caminho através da Europa, na verdade, o tanque era, somente, uma engrenagem na intrincada maquinaria desta nova forma de fazer guerra. De fato, o tanque não era o bloco de construção fundamental, mas, antes, o engenho de combustão interna. A blitzkrieg era uma doutrina para o emprego de forças armadas combinadas motorizadas, tanques em cooperação com tropas de reconhecimento, infantaria, artilharia, engenharia e de logística, mais aeronaves de ataque terrestre.

O princípio básico operacional da blitzkrieg era Einheit (“unidade”) com todos os elementos, não simplesmente cooperando em ação, mas sendo integrados em grupamentos de combate combinados nos níveis mais baixos. Assim, um batalhão de tanques de três ou quatro companhias, podia entrar em ação acompanhado por uma companhia de engenharia de assalto; duas ou três companhias de infantaria; alguns elementos antitanque ou antiaéreos e alguns elementos de comunicações. Ele seria apoiado por um par de baterias de artilharia de campanha e uma ou duas esquadrilhas de bombardeiros de mergulho, e com cobertura de caças amigos. Destacamentos de combate integrados de engenheiros, infantes e tanques seriam formados ao nível de pelotão, para assegurar que as forças de cada arma ajudassem a negar as fraquezas das outras.

Taticamente, os engenheiros removeriam obstáculos, cobririam o avanço com fumaça química e empregariam lança-chamas para permitir aos chamados elementos de combate avançarem. Os tanques cobririam o avanço da infantaria, protegendo-a das metralhadoras, enquanto a infantaria os protegeria das armas antitanque. Os elementos antitanque e antiaéreos lidariam com tanques ou aviões inimigos (os canhões antiaéreos tendo mostrado ser matadores de tanques muito eficientes) enquanto a artilharia e os bombardeiros de mergulho lidavam com obstáculos, particularmente duros, enquanto amaciavam o inimigo e os elementos de comunicações mantinham todo mundo trabalhando junto.

Os ataques eram organizados em escalões ou ondas. Tão logo o primeiro grupo de unidades assegurava seu objetivo, o segundo e o terceiro passariam através dele para atingirem os seus. A idéia era, realmente, não tanto lutar com o inimigo, mas romper sua frente e penetrar sua retaguarda, onde a verdadeira vantagem das forças mecanizadas e motorizadas, sua superior mobilidade, lhes permitiria avançar, sem serem detidas, através das linhas de suprimento, comunicação e retirada do inimigo, com o objetivo final de isolá-lo e forçá-lo a rendição.

Uma operação blitzkrieg tinha varias fases:

Aufmarsch, movimento na direção da frente do inimigo, algo que podia ser feito bem rapidamente, apesar de uma aparente ampla dispersão de forças, dado que todas as tropas atacantes seriam motorizadas.

Gefechtsstreifen, concentração contra um estreito setor da frente inimiga, então...

Schwerpunkt, centro de gravidade do ataque, a ser feito com grande força, em contraste com as numerosas fintas que seriam empreendidas, simultaneamente, com o ataque principal.

Einsruch, penetração da frente inimiga, que, se bem-sucedida, seria seguida por forças adicionais, de modo a obter...

Durchsruch, ruptura, permitindo as tropas móveis acesso à retaguarda inimiga, onde elas poderiam empregar...

Flachen und Luketaktik, as táticas de “espaço e brecha”, evitando as reservas e pontos-fortes inimigos, tanto quanto possível, atingindo-o onde ele seria menos capaz de se defender, de modo a pressionar e assegurar o controle de suas linhas de comunicação, enquanto outras tropas empreendiam a...

Aufrollen, enrolamento, das pontas destroçadas da frente rompida do inimigo, limpando pontos-fortes e alargando a brecha, para que forças adicionais (mesmo as não-motorizadas) pudessem se movimentar para apoiar as pontas-de-lanças avançadas, obtendo...

Keil und Kessel, literalmente, “cunha e bolsão,” o envolvimento do inimigo.

Em todas estas fases, algumas regras simples tinham de ser observadas. As forças atacantes precisavam, sempre, evitar a força do inimigo. O sucesso devia ser sustentado, o fracasso, abandonado. O objetivo não era tanto lutar com o inimigo, mas isolá-lo e deixá-lo secar na videira. Estas regras simples foram, primeiro, desenvolvidas e praticadas nos últimos dois anos da Grande Guerra. Enquanto os aliados tinham, em geral, deixado de importar estas táticas Stosstruppen (tropas de assalto), os alemães tinham lembrado que elas funcionavam e acrescentaram motorização e tanques ao conceito, durante os anos 1930.

A blitzkrieg funcionou com notável sucesso na Polônia, França, Bálcãs, África do Norte e na Rússia, pelo menos, nos primeiros anos da guerra. Mas o sucesso da blitzkrieg dependia igualmente da inépcia do inimigo, tanto quanto da habilidade e capacidade do Exército alemão. O defensor tinha de ser surpreendido; ele tinha de ser intelectual e doutrinariamente inflexível; relativamente imóvel; inferior em armamento antitanque; carente de superioridade aérea e ele tinha de se submeter, tão rápido quanto suas linhas de comunicação eram rompidas.

Sem a surpresa, o inimigo poderia fazer cuidadosos preparativos para recepcionar o ataque. Com flexibilidade intelectual e doutrinária, ele poderia reagir aos desenvolvimentos enquanto estes ocorriam, antes do que depois de eles terem acontecido. Com mobilidade, ele poderia empreender seus próprios contra-ataques tipo blitzkrieg. Com capacidades antitanque iguais ou superiores, ele poderia mastigar as forças atacantes. Com superioridade aérea, ele poderia dominar o campo de batalha, punindo, severamente, as colunas atacantes. E, se ele recusasse a se render, imediatamente, após o envolvimento, poderia imobilizar preciosos recursos móveis, levando a ofensiva a perder seu momento.

Enquanto a guerra prosseguia, os inimigos da Alemanha aprenderam. No fim, foram os aliados - cujos exércitos eram, cada vez mais, móveis e mais liberalmente equipados do que estes da Alemanha – quem travavam blitzkrieg, ainda que não tão espetacularmente.




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#65 Mensagem por irlan » Dom Mar 22, 2009 11:45 am

O Blitzkrieg continua sendo uma doutrina válida para a guerra atual?




Na União Soviética, o político é roubado por VOCÊ!!
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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#66 Mensagem por Clermont » Dom Mar 22, 2009 1:28 pm

Acho que, hoje em dia, o nome técnico para "Blitzkrieg" é "Guerra de Manobras". Sendo assim, os fundamentos básicos continuam válidos. Claro que, de acordo com as especificidades da atual tecnologia de armas.

Não foi em 1973 que os israelenses tentaram uma ofensiva blindada contra os egípcios, e se arrebentaram contra a surpresa tática dos mísseis antitanque? Numa parte do texto, postada acima, está escrito que, entre outras coisas, é preciso levar em conta as capacidades antitanque do inimigo.

Assim, se um exército de uma grande nação se chocar com o de outra grande nação, provavelmente, não vai conseguir uma vitória blitzkrieg como os alemães conseguiram contra os poloneses ou franceses. Isto porque a outra grande nação, também, vai ter tanques e outros equipamentos modernos. Além, é claro, de ser difícil pegar uma grande nação, de surpresa, com tanta tecnologia de satélites e outros brinquedinhos científicos à disposição. Em 1943, os alemães tentaram uma Blitzkrieg contra os soviéticos, em Kursk. Mas, em vez de uma vitória-relâmpago, tudo que conseguiram, foi uma guerra de material, que saiu caro para eles.

Mas, se um exército de uma grande nação se chocar, em guerra convencional, com o exército de uma nação pequena, sem muita tecnologia, então, é uma boa ocasião para uma "Blitzkrieg". O problema é que, a não ser que a nação pequena seja muito burra, ela não vai se prestar a isto. Talvez, ela prefira um outro tipo de guerra: a guerra de insurgência. E a coisa muda de figura.




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#67 Mensagem por Piffer » Dom Mar 22, 2009 10:55 pm

Complementando o Clermont, uma coisa são princípios de guerra, outra é doutrina. Se você ler Sun Tzu, Clausevitz, a Blitzkrieg, a Air-Land Battle ou a nossa Doutrina Delta, vai ver que muita coisa é igual, pois os princípios são sempre os mesmos.

Agora a doutrina já desce nos detalhes que uma visão geral de poucos parágrafos não nos mostra. Como por exemplo, é feito o ressuprimento das unidades mais avançadas? Até onde se permite avançar num aproveitamento do êxito? Podemos ir além do alcance da artilharia de tubo? E da artilharia de foguete? Como é feita a coordenação e controle do espaço aéreo?

Respondendo à pergunta, a Blitzkrieg foi a doutrina do Exército alemão da 2GM. As armas mudaram, a maneira como as informações são transmitidas mudou, a forma com que o suprimento chega à linha de frente mudou, a maneira como os comandantes veem e coordenam suas ações mudou. Então a Blitzkrieg não existe mais, embora seus princípios continuem válidos (e que já eram válidos antes dela existir).

Abraços,




Carpe noctem!
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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#68 Mensagem por irlan » Seg Mar 23, 2009 5:53 pm

Clermont e Piffer, valeu pelas informações, será que vocês poderiam postar alguma coisa sobre essa nossa doutrina delta?




Na União Soviética, o político é roubado por VOCÊ!!
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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#69 Mensagem por Piffer » Seg Mar 23, 2009 8:20 pm

A Doutrina Delta é a maneira como o EB conduz o combate regular, numa situação de defesa externa na nossa área operacional continental, exceto a Amazônia.

As bases para a aplicação dela se encontram na IP 100-1 Doutrina Delta e depois são destrinchadas nos manuais C 100-5 Operações, C 100-10 Logística Militar Terrestre e C 100-25 Planejamento e Controle de Fogos. Todos estão disponíveis na página do COTER: http://www.coter.eb.mil.br/1sch/manuais/manuais.html

Exemplificando o que eu falei anteriormente, podemos ler na concepção geral da Doutrina Delta:
- COMBATE OFENSIVO, COM GRANDE ÍMPETO, E VALORIZAÇÃO DA MANOBRA.
- BUSCA DO ISOLAMENTO DO CAMPO DE BATALHA COM ÊNFASE NA DESTRUIÇÃO DA FORÇA INIMIGA.
- MÁXIMO PODER RELATIVO DE COMBATE NO MOMENTO E LOCAL DECISIVOS.
- BUSCA DA INICIATIVA, DA RAPIDEZ, DA FLEXIBILIDADE E DA SINCRONIZAÇÃO DAS OPERAÇÕES.
- VALORIZAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO OBJETIVO, OFENSIVA, MANOBRA, MASSA, SURPRESA E UNIDADE DE COMANDO.
- DECISÃO DA CAMPANHA NO MAIS CURTO PRAZO.
Esses conceitos poderiam muito bem ter sido tirados da Blitzkrieg. Mas quando descemos mais no fundo, vemos que a Doutrina Delta prioriza as manobras de envolvimento e desbordamento e, quando estas não foram possíveis, a penetração. Na Blitzkrieg, a penetração é a manobra principal.

Abraços,




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#70 Mensagem por trabuco » Seg Mar 23, 2009 9:26 pm

Nossa Doutrina Delta é uma cópia da doutrina americana ou existem muitas particularidades?




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#71 Mensagem por Moccelin » Ter Mar 24, 2009 4:24 pm

Pelo pouco que eu já lí e estudei (e foi pouco mesmo) a Delta é completamente distinta da Americana, é uma doutrina nacional mesmo.

Mas é a visão de um Civil, tem muito oficial com EsAO aqui que pode falar melhor que eu...




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#72 Mensagem por Clermont » Sáb Mar 28, 2009 6:47 pm

A GUERRA BLINDADA Parte 5.

James Dunnigan & Albert Nofi – Dirty Little Secrets of World War II.

O LADO MENOS GLAMOUROSO DA BLITZKRIEG.

A blitzkrieg era uma prodigiosa consumidora de suprimentos, munições e combustível.

Considere o tanque. Um só tanque da Segunda Guerra Mundial tinha, talvez, trinta mil peças separadas, todas, mais ou menos, prontas para enguiços. A maioria dos tanques tinha uma resistência operacional de não mais do que cerca de 800 Km, antes de precisar de uma revisão ou, pelo menos, manutenção de rotina, o que exigia um par de horas por dia. Todas as espetaculares vitórias blitzkrieg alemãs foram obtidas com avanços inferiores a 800 Km. Quando os alemães tentaram levar seus blindados além deste limite, como fizeram na Rússia, quase desde o começo, meteram-se em problemas, quando os tanques começaram a enguiçar, com freqüência crescente e grande seriedade. Não só as exigências de manutenção obstruíam as operações, mas também se mostravam um dreno ao suporte logístico.

Exércitos mecanizados exigem oficinas móveis muito extensas, para reparar viaturas desgastadas e estas, por sua vez, exigem complexos serviços de depósitos para fornecer todas as peças que as viaturas exigem e as ferramentas necessárias para executar os reparos. Tais elaboradas instalações são, elas mesmas, um dreno de recursos, particularmente, no caso da Alemanha, que possuía limitadas instalações de produção automotiva. Naturalmente, as tropas móveis não podiam operar sem tais serviços, e eles eram úteis para devolver à utilização tanques e outras viaturas que tinham sido danificadas em combate. Na verdade, oficinas móveis de reparo eram, ocasionalmente, um fator crítico na determinação do sucesso ou fracasso de uma operação. A maioria dos danos incapacitantes aos tanques podia ser reparada dentro um dia ou quase e a máquina voltava à ação. Com um serviço particularmente eficiente de recuperação e reparo, algumas vezes era possível devolver mais de 80 porcento das baixas em tanques ao serviço.

Munição, também, era uma dor de cabeça logística quando se travava a blitzkrieg. A própria natureza destas operações levava o dispêndio de munição a crescer enormemente. Portanto, as colunas de suprimento também tinham de ser móveis, ou as pontas-de-lança avançadas ficariam sem os meios necessários para lutar. A artilharia de uma divisão podia, facilmente, disparar cerca de 300 toneladas de munição em uma só hora de ação pesada. Isto são cerca de 350 toneladas para propósitos de transporte, já que a munição requer algum tipo de empacotamento. Agora, considere que uma divisão panzer também teria mais de 150 tanques, vários canhões antitanque e antiaéreos, e alguns milhares de metralhadoras, fuzis e carabinas, todos consumindo munição em índices, igualmente, prodigiosos.

E, então, havia o combustível, a maior dor de cabeça logística isolada, criada pelas operações mecanizadas. Considere o combustível exigido para mover uma divisão panzer alemã (cerca de 160 tanques, dos tipos comuns disponíveis em 1941-1944), por 160 Km: 22,1 toneladas para uma divisão panzer de 1941 (tanques Pz-II, Pz-III, Pz-IV, Pz-38); até 35,8 toneladas para uma divisão de 1944 (tanques Pz-IV, Pz-V e Pz-VI “Tiger”).

E a este considerável montante, não esqueça de acrescentar uma “quantidade desperdiçada” normal (reabastecer na linha de frente pode ser uma ação tão excitante quanto desperdiçadora) e o combustível exigido para levar o próprio combustível é, algumas vezes, considerável. Na África do Norte, os comboios de caminhões dos portos de retaguarda até o exército panzer ítalo-alemão de Rommel, consumiam quase tanto combustível quanto entregavam.

Naturalmente, já que você não empreende uma blitzkrieg somente com tanques, você, agora, tem de levar em consideração as exigências de combustível para o restante das viaturas motorizadas na divisão panzer, todas as, aproximadamente, 2600 delas.




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#73 Mensagem por Clermont » Qui Abr 02, 2009 6:51 pm

A GUERRA BLINDADA final.

James Dunnigan & Albert Nofi – Dirty Little Secrets of World War II.

MAIO DE 1940.

Surpreendentemente, de muitas maneiras, os alemães eram bem inferiores aos Aliados em tanques. Eles tinham, somente, 3.227 tanques, opondo-se aos 590 tanques britânicos e 3.437 franceses. Uma vantagem aliada de quase 25 porcento. No entanto, o puro número de tanques não era, necessariamente, o fator crítico. A questão real era qualidade.

Os tanques podiam ser divididos em três classes: os da classe 1 eram viaturas ágeis, rápidas, capazes de fazer, pelo menos, 40 Km/h; os da classe 2 não podiam fazer mais do que cerca de 28 Km/h, enquanto os da classe 3, no melhor dos casos, eram capazes de atingir 19 Km/h, e isso em estrada. Portanto, enquanto os Aliados tinham cerca de 25 porcento a mais de tanques, menos de um terço destes eram tão rápidos quanto a totalidade do conjunto alemão. Esta vantagem da agilidade tinha benefícios, tanto táticos quanto estratégicos. Taticamente, os tanques alemães podiam manobrar com grande velocidade. Mesmo o pequenino Panzer I (com duas metralhadoras e mal atingindo 13 mm de blindagem, mas com uma velocidade, em estrada, de 40 Km/h) podia se evadir do pesadamente armado Char B1 (com um canhão de 75 mm, outro de 47 mm e duas metralhadoras, e quase 76 mm de blindagem, porém, mal atingindo uma velocidade de 28 Km/h, em estrada). Estrategicamente, os motores melhores dos tanques alemães lhes forneciam a velocidade, sem a qual a blitzkrieg teria sido impossível. Outro elemento reforçando a eficácia das forças blindadas alemãs, era o fato de que todos os tanques alemães tinham rádios, tornando a cooperação muito mais fácil, enquanto a maioria dos tanques aliados careciam deles. Como se estas vantagens nos tanques não fossem o bastante, havia a questão da organização.

Virtualmente, todos os tanques alemães estavam concentrados em suas dez divisões panzer. Em contraste, os Aliados dispersaram seus tanques. Os franceses colocaram a maioria de seus tanques classe 3 e cerca de 300 classe 2, em trinta e três batalhões independentes de tanques, designados para apoiar divisões de infantaria na frente. Como resultado, suas divisões blindadas (que não eram uniformes, nem doutrinária e nem organizacionalmente) compartilhavam cerca de 700 viaturas classe 2 e a maioria das viaturas classe 1, com exceção de cerca de 200 que estavam nas cinco divisões de cavalaria semi-mecanizadas. Os britânicos não se saíam muito melhor, colocando todas suas viaturas classe 2 e cerca de um terço das de classe 1, em sua divisão blindada e, espalhando o restante, 310 viaturas, em nada menos do que três brigadas e quatro regimentos de cavalaria independentes. Portanto, a divisão blindada britânica tinha cerca de 280 tanques, as divisões francesas, na média, cerca de 180 (três tinham 200 e três, 158), enquanto as divisões panzer alemãs (que possuíam, ainda menos, uniformidade organizacional do que as divisões francesas, mas, no entanto, compartilhavam de uma doutrina comum) tinham, em média, cerca de 325 tanques. Assim, os tanques alemães estavam, de longe, mais concentrados do que os dos seus oponentes. E os alemães, não só mantinham todos seus tanques em suas divisões blindadas, como deram um passo além, agrupando sete divisões panzer num corpo-de-exército blindado, enquanto os Aliados distribuíram suas divisões blindadas entre três diferentes exércitos de campanha e a reserva geral.

E, naturalmente, os elementos finais no sucesso alemão eram sua doutrina e treinamento superiores.

O NASCIMENTO DA GUERRA MODERNA.

No início de 1943, os comandantes alemães na Frente Russa perceberam que as técnicas que haviam sido tão bem-sucedidas nos últimos quatro anos, não estavam funcionando mais. Rapidamente, eles desenvolveram novas formas de lutar, e estas assumiram a forma da guerra mecanizada que permaneceu como padrão pelo restante do século XX.

De 1939 até o final de 1942, a blitzkrieg clássica foi a forma dominante de guerrear. Esta envolvia formações de tanques e infantaria de rápido movimento, explorando brechas abertas na linha inimiga, seguindo-se de uma varredura na área de retaguarda do inimigo, com o conseqüente colapso de sua capacidade de resistir. Foram os russos que surgiram com o antídoto para isto, que consistia em massas de armas antitanque baratas (canhões de alta-velocidade autorebocados) e múltilplas linhas de defesa, ostentando bem-entrincheirados canhões antitanque e infantaria, apoiados por artilharia e unidades de tanques, para contra-ataques. A Batalha de Kursk, no verão de 1943, confirmou o que muitos generais alemães já tinham visto, no início de 1943. Em Kursk, poderosas unidades de tanques alemãs, exauriram-se, assaltando as defesas russas. O contra-ataque blindado russo empurrou os alemães para trás, centenas de quilômetros.

A nova tática alemã tinha duas características. Primeira, ela enfatizava a crescente importância do reconhecimento e a necessidade de encontrar porções levemente defendidas das linhas inimigas, para avançar através delas, com forças blindadas. Segunda, mais atenção foi prestada aos complexos procedimentos que as unidades tinham de utilizar, de modo a derrotar as novas defesas russas. O que os alemães produziram foi um complexo arranjo entre infantaria, blindados e artilharia para, de forma metódica, reduzir as defesas de tipo russo. Em alguns aspectos, estas novas técnicas eram similares ao que os alemães tinham utilizado na Grande Guerra para romper as linhas fortificadas de trincheiras que haviam resistido a todas as formas de ataque, durante quase três anos. O ponto crítico era que as duas partes da nova tática tinham de ser utilizadas juntas. Nenhuma delas teria sucesso, isoladamente. Com a possibilidade de defesas antitanque eficazes (e os alemães, na África do Norte tinham desenvolvido as mesmas técnicas contra os britânicos), os tanques não podiam mais avançar, impunemente, contra a resistência inimiga. Os tanques ainda podiam avançar, mas somente como parte de uma bem-treinada equipe combinada de armas, e de forma muito mais lenta do que antes. A mobilidade das forças mecanizadas tornou-se mais importante do que nunca. Nenhum lado podia construir defesas à prova de tanque por toda a parte, assim, o modo de guerrear tornou-se uma partida de xadrez de movimentos rápidos. Aquele que chegasse primeiro na área de retaguarda do outro, normalmente, era o vencedor. Com ambos os lados, agora, possuindo, praticamente, as mesmas capacidades, a era da guerra moderna tinha começado.




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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#74 Mensagem por Piffer » Sex Mai 15, 2009 9:37 pm





Carpe noctem!
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Guerra
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Re: Doutrinas táticas, operacionais e estratégicas.

#75 Mensagem por Guerra » Sáb Mai 16, 2009 9:30 am

Clermont escreveu: Em contraste, os Aliados dispersaram seus tanques.
Erro primário. A nossa cavalaria esta sempre puxando a orelha dos nossos infantes para esse detalhe :lol: :lol:




A HONESTIDADE É UM PRESENTE MUITO CARO, NÃO ESPERE ISSO DE PESSOAS BARATAS!
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