Crise Econômica Mundial

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Re: Crise Econômica Mundial

#4951 Mensagem por LeandroGCard » Ter Set 04, 2012 3:18 pm

Bourne escreveu:Olhe bem,

A diferença que na ásia em geral os países e sociedades estão se beneficiando do sistema. Eles aproveitaram a janela de oportunidade para avançar no desenvolvimento econômico e industrial que dificilmente teriam sozinhos. Na medida em que avança o processo construíram formas de integração que conciliam a liberdade individual de cada país e igualdade.
Esta foi uma possibilidade surgida do próprio estado da sociedade dos países asiáticos quando eles começaram seu processo de industrializaçào acelerada. Plantadores de arroz do interior transformados em operários não especializados de fábricas em pólos industriais acabam trabalhando menos, ganhando mais e passando a ter acesso a recursos que antes nem sonhavam, como assistência médica, escolas para os filhos, e até mesmo simples eletricidade.

Já a sociedade européia está em outro estágio há mais de 100 anos, e é óbvio que forçar a população de alguns de seus países a se enquadrar como mão-de-obra não especializada com salários miseráveis será um evidente retrocesso em todos os sentidos. Mas isso pouco interessa aos senhores do capital europeus, principalmente nos países onde a população não será submetida a isso mas também nos próprios países periféricos. O que eles querem e parar de perder mercado para a China, ainda mais agora que ela está deixando de ser fabricante de bugigangas de baixa qualidade, não tendo aceitado o modelo de brasileiro de ser apenas uma base industrial para produtos das multinacionais dos países dominantes, e está lutando para se tornar uma potência tecnológica de direito próprio.
Na Europa foi ao contrário. Ao tentar criar uma integração profunda social e econômica conseguiram aprofundar as diferenças e criar um ambiente propício a instabilidade, especialmente para os países periféricos. Enquanto o norte da Europa vai bem. A Alemanha e Dinamarca estão é um ótimo momento. O problema é que as discrepâncias minam a sustentabilidade da eurozona e projeto da UE. Está na hora de mudar rumo ao aprofundamento da integração. Já que voltar vai sair caro.
Não interessa aos países centrais da Europa uma maior integração. Eles querem que sejam feitos sacrifícios que seus povos não aceitariam, e se o continente for integrado de fato os outros povos também não teriam porque aceitá-lo. Por isso a Alemanha e outros países mais semelhantes a ela relutam tanto em aprofundar a integração, mesmo correndo o sério risco de ver o Euro ser abandonado e de assim perder mercados praticamente cativos.

A questão de fundo é essa. O centro da Europa conseguirá tranferir sua estrutura colonial dos outros continentes para a sua própria periferia, mantendo assim sua proeminência econômica mundial (como quer a Alemanha e em menor grau a França), ou será forçado a abandonar de vez os últimos resquícios das vantagens do imperialismo, elevando todos os países e povos da Europa à mesma categoria e perdendo sua capacidade de competir globalmente (como querem os países do sul), sendo forçado a se isolar cada vez mais e a abandonar qualquer sonho de manter alguma importância a nível mundial no longo prazo, ou a aumentar a disparidade social dentro de suas próprias fronteiras, ficando cada vez mais parecido com o terceiro mundo?


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Re: Crise Econômica Mundial

#4952 Mensagem por marcelo l. » Qua Set 05, 2012 1:38 pm

não é crise, eu ainda não li, só os pedaços que me interessavam mais, mas é uma discussão sobre a UE séria.





"If the people who marched actually voted, we wouldn’t have to march in the first place".
"(Poor) countries are poor because those who have power make choices that create poverty".
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Re: Crise Econômica Mundial

#4953 Mensagem por marcelo l. » Qua Set 05, 2012 1:40 pm





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Re: Crise Econômica Mundial

#4954 Mensagem por marcelo l. » Qui Set 06, 2012 5:13 pm





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Re: Crise Econômica Mundial

#4955 Mensagem por marcelo l. » Qui Set 06, 2012 8:08 pm

The following article deals with the topic “The Future of Central Banking: Inflation Targeting vs. Financial Stability,” which will be discussed at the Global Economic Symposium in Rio this October. The author intends to enrich the discussion at the symposium with his personal stories and ideas.

After an 18-month reprieve, world food prices are on the rise again. The Food Price Index from the Food and Agriculture Organization of the United Nations (FAO) went up by more than 6% in July, with the Cereals sub-index surging 17% in that month. Corn and soya recently hit all-time highs in nominal terms.

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Apart from the obvious and potentially disruptive social effects, rising food prices pose a challenge to the central banks of developing countries. In most of them, food is the most important component of the consumption basket, and its price swings are quickly reflected in the consumer price measurements. With rising inflation central banks face a dilemma: should they assume this kind of price shock cannot be controlled and ignore it; or does monetary policy have a role to play in preventing spillovers to the rest of the economy?

A 2010 IMF working paper from researchers Luis A. V. Catão and Roberto Chang provides interesting insights from the orthodox economic framework. According to them, food price pressures can lead to cycles of broad and persistent inflation, and an ideal response would be a “coordinated action by key central banks” based on a global inflation targeting system. However, they admit such coordination would be quite problematic: the huge differences in income and in the structure of consumption baskets among countries make the problem and the urgency to solve it much more acute in poorer countries — I would add to this that the growth outlook and the commitment of central banks in most developed countries practically rule out any rise in interest rates in the next couple of years, at least.

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iscarding a global response, each central bank is left to deal with the problem within its own capabilities. Catão and Chang recommend pursuing a “strict target of broad inflation.” If strictly followed, this recommendation would lead to interest rate shocks in response to food price shocks. In an environment of slow global demand, the social costs of this kind of policy can be very high: higher interest rates can damage growth and employment and increase the hardship among the poorer, while not necessarily bringing down food prices, which are driven by several factors other than demand.

Jeremy Grantham, a respected fund manager and philanthropist, suggests in an article for the Financial Times that “we are in the midst of a global food crisis,” a crisis so severe and consequential that it should not be left to be solved by market forces and “cowboy capitalists” (and, I dare to infer, central bankers). He predicts that the pressure from China and other large food importers will soon force the United States and other developed powers to think of a sort of global solution. The world hasn’t seen such large collaboration since after the Second World War; can we expect wisdom and magnanimity in peace times?

http://futurechallenges.org/ges-perspec ... /#.UEh0V62

Compensa ler o artigo no site por causa dos links...




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Re: Crise Econômica Mundial

#4956 Mensagem por augustoviana75 » Sex Set 07, 2012 12:29 pm

Eu acredito, a longo prazo, que o modelo de minimizar os custos ao extremo, e assim, recaindo sempre na escolha do produto asiático tem que mudar.

Eu vejo por aqui, como a escolha de compra de produtos pela internet está acabando com as lojas físicas. Já há várias lojas fechando e permanecendo fechadas nos comércios daqui de Brasília. Acredito que isso deva estar acontecendo em outras partes do País e do mundo. Essa atitude acaba com os empregos daqui e encaminham os capitais mais ainda para fora do DF.

Analisando no âmbito nacional, é o que ocorre com os segmentos têxtil, tecnológico, etc. Ficamos apenas com aqueles setores que ainda não como importar: A execução das Obras, O plantio das lavouras e a mineração, por assim dizer.
Voltando a realidade de Brasília, as novas lojas que estão sendo criadas e se mantendo, são na sua maioria, aquelas que oferecem serviços com o fornecimento de insumos agregados. Se for somente de venda de material leve, normalmente não subsiste.
Precisamos valorizar novamente o trabalho semi-industrial desenvolvido na sua própria cidade, na sua própria região. As ferramentas especializadas permitem que os profissionais produzam, na qualidade artesanal, com acabamento profissional, no seu próprio ambiente. Precisamos assim comprar ternos de alfaiates locais ao invés de comprar pelo mesmo preço um vindo de fora, somente porque alguém disse que é bom. O terno do alfaiate também é bom. Por fim, o capital fica por aqui e o equilíbrio financeiro tende a estabilizar.
As nossas indústrias estão sofrendo. Não há como fazer uma guerra cambial. Temos que atuar nesse caminho. Valorizar o nosso, por questão de sobrevivência econômica.

[ ]´s




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Re: Crise Econômica Mundial

#4957 Mensagem por Andre Correa » Seg Set 10, 2012 3:45 pm

http://www.youtube.com/watch?v=s_7PIwgBx_w
[009]




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Re: Crise Econômica Mundial

#4958 Mensagem por Bourne » Seg Set 10, 2012 5:40 pm

:shock: :shock: :shock:

Descobriste a maneira a escola histórica alemã lida com dinheiro e sistema financeiro. Ou seja, uma instituição social, elemento formador da sociedade e Estado, inerente a própria formação das operações de débitos e créditos na sociedade. O fato de comprar coisas é uma convenção social. É um meio e não um fim em si mesmo.

Vídeo bem feito. Apensar os comentários terem um monte de comunistas que vestem calça diesel, iluminatis e liberais inspirados em Rodrigo Constantino. :mrgreen:




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Re: Crise Econômica Mundial

#4959 Mensagem por akivrx78 » Ter Set 11, 2012 2:25 am

Indonesia extra cautious over financial fallout in Vietnam
Asia News NetworkBy Rendi A. Witular in Vladivostok/The Jakarta Post | Asia News Network – 1 hour 24 minutes ago

Vladivostok (The Jakarta Post/ANN) - Learning from the experience of the 1997 Asian financial crisis, Indonesia is closely monitoring developments in Vietnam with the latter Asean member at risk of falling into a financial crisis that may drag down other countries in the region.

President Susilo Bambang Yudhoyono said in a press conference after the Asia-Pacific Economic Cooperation (Apec) Summit on Sunday that he had received reports of the situation and had consulted with his economic ministers about the problems.

"The trouble [in Vietnam] should be a lesson for us, particularly in gauging the resilience of our economy against a financial shock," said Yudhoyono.

"Indonesia and other fellow Asean members will be ready to help Vietnam through the crisis without the country having to seek a bailout from the International Monetary Fund [IMF]," said Yudhoyono.

He also said that assistance would be given through the Asean+3 mechanism, in which China, Japan and South Korea had forged a deal with Asean members to jointly weather the financial crisis without having to seek multilateral funds outside the region.

The deal would allow a member country access to a standby loan to address short-term liquidity problems in the region and supplement existing international financial arrangements.

The Asean+3 countries had prepared precautionary measures for the financial crisis by pooling a cooperation fund worth at least US$120 billion under the Chiang Mai Initiative framework, signed in 2000.

Vietnam risks becoming the biggest Southeast Asian economy to seek an IMF rescue loan since the late 1997 Asian financial crisis, as it moves to support a faltering banking system, Bloomberg reported on Thursday.

According to a report by the economic committee of the Vietnam National Assembly, as quoted by Bloomberg, the country may need IMF aid to recapitalise its banks and must act quickly to clean up bad debt or risk "prolonged stagnation".

The financial system, the assembly suggested, would need an injection of at least $12 billion.

However, Vietnam's central bank deputy governor Le Minh Hung said that Vietnam had no reason to seek loans from the IMF, given that the country's macroeconomic situation was stable.

The concerns are unlikely to be downplayed by most of the region's policymakers, who are still gripped by the trauma of the financial crisis that forced Asean members Indonesia, Thailand and the Philippines to seek bailouts from the IMF. The crisis first emerged in Thailand.

"Unless no wide-ranging measures are put in place, it could be contagion in terms of sentiment within the region's financial sector. In terms of trade, our exposure with Vietnam is small," said Trade Minister Gita Wirjawan.

Deputy Finance Minister Mahendra Siregar said the problems plaguing Vietnam were similar to Indonesia's during the 1997 crisis.

He said the trigger of the crisis centred on a lack of prudent governance in banks, thus creating an excess of bad debts owned by related-party shareholders and recalcitrant businessmen.

"We should not downplay the impact of the trouble in Vietnam amid uncertainty in the global economy," he said.

As the host of the Apec Summit in Bali next year, Indonesia has initiated the forming of an early detection system against financial crises in order to be better prepared for weathering the trouble.

"With the system in place, Apec will have the capability to absorb financial shocks. That's why we need better policy coordination and responses. We expect to be able to draft this mechanism during the summit in Bali," said Yudhoyono.

http://ph.news.yahoo.com/indonesia-extr ... 02958.html




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Re: Crise Econômica Mundial

#4960 Mensagem por manuel.liste » Ter Set 11, 2012 9:03 am

Portugal: balanza por cuenta corriente y balanza comercial de bienes y servicios

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Re: Crise Econômica Mundial

#4961 Mensagem por Bourne » Sex Set 14, 2012 3:27 pm

Aqui está o problema de alguns defensores do euro, do Banco central entre outros



Resumindo:

1) Muitos conceitos básicos de economia estão errados
2) É necessário uma perspectiva mais ampla

No brasil creio que ainda não pegou, mas América Latina já. :roll:




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Re: Crise Econômica Mundial

#4962 Mensagem por marcelo l. » Sex Set 14, 2012 6:23 pm

O presidente da Comissão Europeia defendeu hoje em Estrasburgo, França, que a União Europeia deve evoluir no sentido de uma «federação de Estados-nação», considerando que essa é uma forma de evitar nacionalismos e populismos.
No seu discurso anual sobre o ‘Estado da União’ Europeia, proferido perante o Parlamento Europeu, em Estrasburgo (França), José Manuel Durão Barroso defendeu a ideia de que a Europa tem de seguir um novo rumo e evoluir, pois não pode enfrentar os desafios do futuro com as ferramentas do passado, e considerou que o horizonte é uma «federação de Estados-nação», com uma partilha de soberania.

O presidente do executivo comunitário admitiu que tal necessitará de alterações aos tratados e apontou que antes das próximas eleições para o Parlamento Europeu, previstas para Junho de 2014, apresentará um pacote de propostas para o reforço da integração europeia.

http://sol.sapo.pt/inicio/Internacional ... t_id=58933




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Re: Crise Econômica Mundial

#4963 Mensagem por Bourne » Sáb Set 15, 2012 12:13 pm

Soros: Alemanha deveria comandar ou abandonar o euro

http://www.cartamaior.com.br/templates/ ... a_id=20861

A Alemanha, como o maior credor dos países europeus, está no comando, mas se recusa a aceitar responsabilidades adicionais. Como resultado, toda oportunidade de resolução da crise foi perdida. A crise se espalhou da Grécia para outros países com déficit, e chegou mesmo a pôr em questão a sobrevivência mesma do euro. Como uma quebra do euro causaria um estrago imenso, a Alemanha sempre faz o mínimo necessário para mantê-lo vivo. Deveria escolher entre liderar esse processo de crise ou abandonar o euro. O artigo é de George Soros.

George Soros - Project Syndicate

(*) Publicado originalmente em Project Syndicate.

Nova Iorque – A Europa está em crise financeira desde 2007. Quando a bancarrota do Lehman Brothers ameaçou o crédito das instituições financeiras, o crédito privado foi substituído pelo crédito do estado, revelando uma falha não reconhecida no euro. Ao transferirem seu direito a imprimir moedas ao Banco Central Europeu (BCE), os países membros se expuseram ao risco de default, como fossem países de Terceiro Mundo, pesadamente endividados em moeda estrangeira. Os bancos comerciais arcaram com os títulos da dívida pública de países mais fracos, que se tornaram potencialmente insolventes.

Há um paralelo entre a atual crise do euro e a crise bancária internacional de 1982. Naquele momento, o Fundo Monetário Internacional salvou o sistema bancário global, emprestando dinheiro o suficiente para países pesadamente endividados; evitou-se o default, mas ao custo de uma depressão duradoura. A América Latina teve uma década perdida.

A Alemanha está hoje jogando o mesmo papel que o do FMI, de então. O cenário difere, mas o efeito é o mesmo. Os credores estão jogando todo o fardo do ajuste para os países devedores e se evadindo de suas próprias responsabilidades.

A crise do euro é uma mistura complexa de problemas das dívidas soberanas e dos bancos, assim como de problemas no desempenho da economia que deram lugar aos desequilíbrios na balança de pagamentos da zona do euro. Então, eles tentaram ganhar tempo.

Em regra, isso funciona. O pânico da finança arrefece e as autoridades lucram com a sua intervenção. Mas não desta vez, porque os problemas financeiros estiveram combinados com um processo de desintegração política.

Quando a União Europeia foi criada, era a corporificação de uma sociedade aberta – uma associação voluntária de estados iguais que concederiam parte de sua soberania em benefício do bem comum. A crise do euro agora está tornando a União Europeia algo fundamentalmente diferente, dividindo países-membros em duas classes – credores e devedores – com a responsabilidade sobre os credores.

Como país credor mais forte, a Alemanha emergiu como o hegemon. Países em débito pagam prêmios de risco substanciais para o financiamento de suas dívidas públicas. Isso se reflete nos seus custos de financiamento em geral. Para tornar as coisas piores, o Bundesbank permanece comprometido com uma doutrina monetária fora de moda, enraizada na traumática experiência alemã com a inflação. Como resultado, reconhece somente a inflação como uma ameaça à estabilidade, e ignora a deflação, que é a ameaça real hoje. Mais ainda, a insistência da Alemanha na austeridade por parte dos países devedores pode facilmente se tornar contraprodutiva, com o aumento da dívida em relação ao PIB, enquanto este despenca.

Há um perigo real de que a Europa de dois níveis se torne permanente. Tanto os recursos humanos como os financeiros serão atraídos para o centro, deixando a periferia permanentemente deprimida. Mas a periferia está fervilhando em descontentamento.

A tragédia da Europa não é o resultado de uma conspiração maligna, mas reside, antes, numa falta de políticas coerentes. Como nas tragédias gregas, concepções errôneas e a mais completa falta de entendimento têm consequências fatais, mesmo que não intencionadas.

A Alemanha, como o maior credor dos países, está no comando, mas se recusa a aceitar responsabilidades adicionais. Como resultado, toda oportunidade de resolução da crise foi perdida. A crise se espalhou da Grécia para outros países com déficit, e chegou mesmo a pôr em questão a sobrevivência mesma do euro. Como uma quebra do euro causaria um estrago imenso, a Alemanha sempre faz o mínimo necessário para mantê-lo vivo.

Mais recentemente, a chanceler Angela Merkel deu suporte ao Presidente do BCE, Mario Draghi, deixando assim o presidente do Bundesbank, Jens Weidmann , isolado. Isso permitirá que o BCE abafe os custos dos empréstimos aos países que se submeteram a um programa de austeridade sob supervisão da Troika (o FMI, o BCE e a Comissão Europeia).

Os devedores estão, mais cedo ou mais tarde, comprometidos com a rejeição dessa Europa de dois níveis. Se o euro cair em desgraça, o mercado comum da União Europeia será destruído, deixando a Europa pior do que estava quando os esforços para uni-la começaram, dado o legado de desconfiança e hostilidade mútuas. Quanto mais tardio for o rompimento, pior será o resultado. Então, é chegada a hora de considerar alternativas que até recentemente seriam consideradas inconcebíveis.

A meu juízo, a melhor linha de ação consiste em persuadir a Alemanha a escolher entre liderar a criação de uma união política com um compartilhamento de responsabilidades orçamentárias, ou o abandono do euro.

Na medida em que toda a dívida acumulada é nominal em euros, faz toda a diferença quem permanece no comando da união monetária. Se a Alemanha deixá-lo, o euro será depreciado. Os países devedores poderiam retomar sua competitividade; sua dívida em valores reais diminuiria e, com o BCE sob seu controle, a ameaça de default desapareceria e o custo de seus empréstimos cairiam a níveis comparáveis aos do Reino Unido.

Os países credores, por outro lado, teriam prejuízos nos seus investimentos nominais em euros e encontrariam uma competição dura em casa, a partir de outros países membros da zona do euro. A extensão dos prejuízos dos países credores dependeria da extensão da depreciação da moeda, dados os juros sobre a manutenção da depreciação dos títulos das dívidas.

Após o deslocamento inicial, o resultado final seria a realização do sonho de John Maynard Keynes, de um sistema monetário internacional, no qual tanto credores como devedores compartilhariam responsabilidades pela manutenção da estabilidade. E a Europa evitaria a depressão iminente.

O mesmo resultado poderia ser obtido, com menos custo para a Alemanha, se a Alemanha decidir se comportar como um hegemon benevolente. Isso significaria implementar a proposta da união bancária europeia, estabelecer uma espécie de nível de negociação entre países credores e devedores, ao estabelecer um Fundo de Redução de Dívida, vindo a convertê-la toda em dívida nos eurobônus, e visando a um crescimento nominal do PIB na casa dos 5%; assim a Europa poderia fortalecer sua via de saída do endividamento excessivo.

A Alemanha pode decidir comandar a zona do euro ou deixá-la. Qualquer das alternativas seria melhor do que criar uma insustentável Europa de dois níveis.

Tradução: Katarina Peixoto




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Re: Crise Econômica Mundial

#4964 Mensagem por marcelo l. » Sáb Set 15, 2012 12:42 pm

Posso até concordar contigo, Bourne, mas eu não vejo condições políticas para Alemanha mudar o rumo ainda mais, eles vão nesse puxa e empurra até não dar mais. Quando estourar vão todos ver o que fazem.




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Re: Crise Econômica Mundial

#4965 Mensagem por NettoBR » Ter Set 18, 2012 3:56 pm

Canal Livre debate a crise econômica na Europa
Convidados:
Roberto Gianetti da Fonseca, diretor de relações internacionais e comércio exterior da Fiesp.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-presidente do BNDES e ex-ministro das Comunicações.
Rubens Ricupero, embaixador e ex-ministro da Fazenda.









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