SYRIZA vence eleições gregas

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Re: SYRIZA vence eleições gregas

#241 Mensagem por P44 » Qua Jul 22, 2015 2:33 pm

Plano vingativo da Europa para privatizar a Grécia

por YANIS VAROUFAKIS Hoje

No dia 12 de julho, a cimeira com os líderes da zona euro ditou os seus termos de rendição ao primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, que, aterrorizado com as alternativas, aceitou todos eles. Um desses termos dizia respeito à disposição dos restantes ativos públicos da Grécia.

Os líderes da zona euro exigiram que os ativos públicos gregos sejam transferidos para um fundo do género Treuhand - um veículo de venda urgente semelhante ao utilizado após a queda do Muro de Berlim para privatizar rapidamente, com grande prejuízo financeiro e com efeitos devastadores no emprego de toda a propriedade pública do Estado alemão oriental que desvaneceu.

Este Treuhand grego seria sediado no - esperem por isso - Luxemburgo e seria gerido por uma equipa orientada pelo ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, o autor do esquema. Isso iria concluir as vendas urgentes no espaço de três anos. Mas atendendo a que o trabalho do Treuhand original foi acompanhado por investimentos maciços em infraestruturas por parte da Alemanha Ocidental e por transferências sociais em larga escala para a população da Alemanha Oriental, o povo da Grécia não receberia nenhum benefício correspondente de qualquer espécie.


Euclid Tsakalotos, que me sucedeu como ministro das Finanças da Grécia, há duas semanas, fez o seu melhor para melhorar os piores aspetos do plano grego Treuhand. Ele fez que o fundo ficasse domiciliado em Atenas e arrancou dos credores da Grécia (a chamada troika da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional) a importante autorização para que as vendas possam continuar ao longo de 30 anos, em vez dos meros três. Isto foi crucial, pois irá permitir ao Estado grego manter os ativos subvalorizados até que o seu preço recupere dos baixos atuais induzidos pela recessão.

Infelizmente, o Treuhand grego continua a ser uma abominação e deveria ser um estigma na consciência da Europa. Pior, é uma oportunidade perdida.

O plano é politicamente tóxico, porque o fundo, embora domiciliado na Grécia, irá efetivamente ser gerido pela troika. É também financeiramente nocivo, porque as receitas irão pagar os juros daquela que até o FMI admite agora ser uma dívida impagável. E falha a nível económico, porque desperdiça uma oportunidade maravilhosa de criar investimentos de produção nacional para ajudar a combater o impacto recessivo da consolidação fiscal punitiva que também faz parte dos "termos" da cimeira de 12 de julho.

As coisas não têm de ser assim. No dia 19 de junho, comuniquei ao governo alemão e à troika uma proposta alternativa, como parte de um documento intitulado "Acabar com a crise grega":

"O governo grego propõe agrupar bens públicos (excluindo os pertinentes para a segurança do país, os equipamentos públicos e o património cultural) numa holding central separada da administração do governo e gerida como uma entidade privada, sob a égide do Parlamento grego, com o objetivo de maximizar o valor dos seus ativos subjacentes e criar um fluxo de investimento de produção nacional. O Estado grego será o único acionista, mas não irá garantir os seus passivos ou a sua dívida."

A holding iria desempenhar um papel dinâmico, preparando os ativos para venda. Iria "emitir uma obrigação plenamente adicional nos mercados de capitais internacionais" para originar 30 a 40 mil milhões de euros (32 a 43 mil milhões de dólares), que, "tendo em conta o valor presente dos ativos", iriam "ser investidos na modernização e reestruturação dos ativos sob a sua administração".

O plano previa um programa de investimentos de 3-4 anos, resultando numa "despesa adicional de 5% do PIB por ano", com condições macroeconómicas atuais implicando "um multiplicador de crescimento positivo acima de 1,5", o que "deveria impulsionar o crescimento nominal do PIB para um nível superior a 5% durante vários anos". Este, por sua vez, induziria "aumentos proporcionais em receitas fiscais", dessa forma "contribuindo para a sustentabilidade fiscal, permitindo ao governo grego exercitar uma disciplina nos gastos sem diminuir ainda mais a economia social".

Neste cenário, o superavit primário (que exclui o pagamento de juros) iria "alcançar magnitudes a uma "velocidade de escape" em absoluto, bem como termos percentuais ao longo do tempo". Como resultado, à holding iria "ser concedida uma licença bancária" no prazo de um ou dois anos "transformando-se assim num banco de desenvolvimento de pleno direito com capacidade de complementaridade no investimento privado na Grécia e de entrar em projetos de colaboração com o Banco de Investimento Europeu".

O banco de desenvolvimento que propusemos iria "permitir ao governo escolher que bens seriam, ou não, privatizados, garantindo ao mesmo tempo um maior impacto na redução da dívida a partir das privatizações selecionadas". Afinal de contas, "os valores dos ativos deveriam aumentar mais do que o montante real gasto na modernização e na reestruturação, auxiliado por um programa de parcerias público-privadas, cujo valor é reforçado de acordo com a probabilidade de futura privatização".

A nossa proposta foi saudada com um silêncio ensurdecedor. Mais precisamente, o Eurogrupo dos ministros das Finanças da zona euro e a troika continuaram a deixar passar para os meios de comunicação mundiais que as autoridades gregas não tinham propostas inovadoras, credíveis para oferecer - o seu refrão padrão. Alguns dias mais tarde, uma vez que as potências ter-se-ão apercebido de que o governo grego estaria prestes a render-se plenamente às exigências da troika, acharam conveniente impor à Grécia o seu degradante, sem imaginação e pernicioso modelo Treuhand.

Num ponto de viragem na história da Europa, a nossa alternativa inovadora foi atirada para o caixote do lixo. Ela permanece lá para outros recuperarem.

http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interio ... 73&page=-1




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Re: SYRIZA vence eleições gregas

#242 Mensagem por cabeça de martelo » Qua Jul 22, 2015 2:44 pm

Tenho a leve impressão que vais começar a colocar artigos de opinião do DN com muito mais regularidade...




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Re: SYRIZA vence eleições gregas

#243 Mensagem por P44 » Qua Jul 22, 2015 2:46 pm

cabeça de martelo escreveu:Tenho a leve impressão que vais começar a colocar artigos de opinião do DN com muito mais regularidade...

:mrgreen: olhe que nao, olhe que nao [000]




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Re: SYRIZA vence eleições gregas

#244 Mensagem por cabeça de martelo » Sáb Jul 25, 2015 10:54 am

Financial Times revela plano secreto do Syriza para regressar ao dracma
12:21 Mariana Adam


O Financial Times revelou na sexta-feira à noite, na edição on-line, a existência de um plano montado por elementos mais à esquerda do Syriza para a saída da Grécia da zona euro e o regresso ao dracma.

De acordo com o jornal britânico, o plano incluía a detenção do presidente do Banco Central da Grécia, o controle dos cofres da casa da moeda para pagar salários do sector público e as pensões, além de combustível e alimentos, enquanto Atenas se preparava para abandonar o euro e lançar um novo dracma e um pedido de ajuda à Rússia.

O grupo era liderado pelo então ministro da Energia e foi delineado a 14 de Julho, o dia seguinte ao primeiro-ministro Alexis Tsipras ter assinado o acordo com os credores para o terceiro resgate.

O Financial Times contactou o ex-ministro - que este ano visitou três vezes Moscovo, a pedido de Tsypras -, mas este recusou-se a fazer qualquer comentário.

O jornal acrescenta que o pedido de ajuda à Rússia, um dos eixos deste plano, consistia em fechar um novo projeto de gasoduto, com o qual a Grécia esperava receber pelo menos 5 mil milhões de euros adiantados de taxas de transporte do gás.

http://economico.sapo.pt/noticias/finan ... 24740.html




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Re: SYRIZA vence eleições gregas

#245 Mensagem por cabeça de martelo » Qua Jul 29, 2015 8:31 am

Varoufakis pode ser julgado pelas negociações com credores

Ex-ministro das Finanças defende os "métodos pouco ortodoxos" do seu plano B com controlo da troika. Nova Democracia, o maior partido da oposição, quer ouvi-lo no parlamento


:arrow: http://www.dn.pt/inicio/globo/interior. ... id=4704055




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Re: SYRIZA vence eleições gregas

#246 Mensagem por Clermont » Sáb Ago 01, 2015 7:51 am

A Europa como limite.

Demétrio Magnoli - Folha de São Paulo, 1º de Agosto de 2015.

A revolução grega acabou antes de começar. A aprovação, pelo parlamento, do pacote de reformas negociado com a União Europeia (UE) assinala o esgotamento do impulso de ruptura que conduziu o Syriza ao poder em janeiro. Na imaginação militante dos analistas radicais, a cisão da ala esquerda do Syriza com o primeiro-ministro Alexis Tsipras anuncia uma "segunda revolução". Mas o modelo mítico da Rússia de 1917 não se aplica à Grécia de 2015. Tsipras cedeu porque, na encruzilhada decisiva, a maioria dos gregos prefere a Europa, mesmo com austeridade, à aventura da revolução. É a prova de que a Europa tornou-se, antes de tudo, um limite ideológico.

O Syriza venceu as eleições iludindo os gregos. O partido da esquerda radical prometeu, ao mesmo tempo, encerrar a austeridade e conservar o país na Zona do Euro. Sugeriu-se que, ao longo das extenuantes negociações dos últimos meses, a Alemanha buscava empurrar a Grécia para fora do trem da UE. No fim, ficou patente que o objetivo alemão não era jogar a Grécia na beira da estrada, mas chamar o blefe do Syriza. Sob o comando de Angela Merkel, a Europa ofereceu um resgate multibilionário, atrelando-o firmemente a uma coleção de reformas econômicas e políticas. Tsipras convocou o povo a rejeitar em referendo o diktat europeu –para, logo em seguida, inclinar-se a ele. Na hora da verdade, entre a Europa e a revolução, escolheu a primeira.

Tsipras blefou, duplicou a aposta –e perdeu. A cisão de seu partido, esboçada pela demissão do combativo ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, no dia seguinte ao referendo, completou-se com a votação parlamentar do pacote europeu.

Coerentes com o "não" dos eleitores, mais de um quarto dos deputados do Syriza recusou-se a acompanhar o primeiro-ministro, impondo-lhe a suprema humilhação de constituir uma maioria com os partidos tradicionais relegados à oposição. Em condições normais, o zigue-zague de Tsipras, concluído por uma traição direta à vontade aparente do eleitorado, determinaria a sua morte política "" e indicaria o rumo da "segunda revolução". Contudo, o sonho do "assalto ao Céu" não está ao alcance da ala esquerda do Syriza pois a Europa sedimentou-se como barreira intransponível à utopia revolucionária.

Desde 2010, sob o impacto da recessão e das políticas de austeridade, emergiram correntes esquerdistas antieuropeias nos países do Mediterrâneo. A Grécia, cujo PIB encolheu em assustadores 25% durante esse período, é o célebre "elo mais fraco" da trama da Europa. Mesmo assim, segundo as sondagens de opinião, a meia-volta de Tsipras conta com o apoio da maioria da população, que não parece disposta a seguir a ala esquerda do Syriza na direção de um "Outubro" bolchevique. Os gregos, como os demais povos europeus, aprenderam o suficiente depois de uma guerra geral e quase meio século de Guerra Fria. Europa, para eles, não é uma moeda ou um mercado comum, mas o nome das liberdades políticas e econômicas asseguradas contra dois totalitarismos gêmeos.

No horizonte de Tsipras está uma conferência extraordinária do Syriza, para derrotar a dissidência revolucionária, e a convocação de eleições parlamentares antecipadas, para legitimar as reformas exigidas pela Europa. Por essa via acidentada, nasce um novo partido social-democrata na Grécia, em substituição ao desmoralizado Pasok. O isolamento da ala revolucionária do Syriza representa um profundo golpe político no Podemos, o partido esquerdista que acalentou a ilusão de reproduzir, na Espanha, o roteiro da ruptura grega.

Chamando o blefe do Syriza, a Alemanha venceu mais que uma batalha periférica na Grécia. Nas eleições gerais de novembro, os líderes do Podemos terão que dizer a verdade aos eleitores espanhóis, propondo-lhes uma escolha entre o euro e a revolução. É a receita certa para o fracasso.




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Re: SYRIZA vence eleições gregas

#247 Mensagem por Bourne » Dom Ago 02, 2015 3:28 pm

Esse cara manja dos paranauê. Ele põe em pauta a estrutura européia. E não a guerra santa que os entendidos de Grécia por cá pensam que eles está discutindo.
“O terceiro resgate da Grécia está fadado ao fracasso”

“O despotismo sádico da ideologia dominante”. “A leitura moral desta crise”. “O abraço mortal da dívida”. Yanis Varoufakis (Atenas, 1961) recebe o EL PAÍS em sua casa no centro da capital grega, com sua famosa moto estacionada na esquina. Frente a frente, o ex-ministro se mostra amável e desenvolto. Dá ao jornalista uma xícara de café, serve outra para si mesmo, e quando o gravador entra em cena, mostra por que se diz que tem uma das línguas mais afiadas da esquerda europeia. Quarenta e cinco minutos depois, dói ter que deixar de fora deste texto um punhado de frases como as escolhidas para iniciar este parágrafo.

De sua cabeça perfeitamente raspada não param de brotar ideias – e uma ou outra contradição. O terceiro resgate da Grécia, prevê, não vai funcionar; “está fadado ao fracasso” e é o ponto final de uma espécie de “golpe de Estado” dos credores. Berlim tem um plano para levar a troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) a Paris, “o prêmio da loteria”. E a Europa amedrontada com a saída da Grécia do euro, afirma, está a caminho de se tornar uma ideia sinistra, com fortes doses de preconceitos morais e um péssimo diagnóstico da crise, o que a leva a seguidas vezes receitar políticas profundamente equivocadas.

Pergunta. Você deixou o ministério há pouco tempo. Como é o seu dia a dia?

Resposta. Os jornalistas imaginam que eu esteja desanimado, mas não entrei na política para seguir carreira. Entrei para tentar mudar as coisas. E há um preço a pagar por tentar fazer isso.

P. Qual é o preço?

R. O desdém, o profundo ódio do establishment. Quem chega à política sem querer seguir carreira acaba se metendo em encrenca.

P. Tem a sensação de ter conseguido mudar as coisas?

R. Claro. Se não, por que você teria vindo me ver? O Governo grego foi eleito para negociar duramente, com argumentos que não eram aceitáveis para a eurozona. O mandado do Syriza era claro: conseguir um pacto com a Europa com a ideia de dizer aos parceiros que não podiam continuar sufocando a Grécia desta maneira desumana. Nós gregos nos lançamos com uma força irrefreável contra um Eurogrupo com uma lógica inamovível e irracional. O resultado foi um estrondo. E espero que também alguma coisa de luz.

Espanha e o risco de ser como a Grécia

C. P., ATENAS
Indagado sobre as declarações de Mariano Rajoy sugerindo que outros países podem sofrer o mesmo desvio que a Grécia caso ganhem peso opções semelhantes ao Syriza, Varoufakis diz que seu país “se tornou uma espécie de bola de futebol para os políticos de direita, que insistem em assustar sua população com a Grécia”.

“Os espanhóis têm que olhar para sua situação econômica e social e em cima disso avaliar do que seu país precisa, independentemente do que acontece na Grécia ou onde quer que seja. O perigo de se transformar na Grécia continua presente e se tornará real se continuarem repetindo os erros que foram impostos à Grécia”, diz o ex-ministro.

“Punir o orgulho de um país para atemorizar outros não é a ideia da Europa pela qual lutaram Felipe González, Valéry Giscard d’Estaing e Helmut Schmidt. Temos que recuperar o significado de ser europeu, encontrar formas de recriar o sonho de combinar prosperidade com democracia.”
Varoufakis não crê que o Podemos tenha prejudicado seu Governo: “Não diria jamais que o Podemos tenha sido um problema para nós. Pode ter intensificado o processo. Só que, sem o Podemos, a Europa teria empregado a mesma estratégia do medo”.
P. Em seu último livro (Economia sem Gravata – Conversas com Minha Filha, ainda não traduzido para o português), você explica a sua filha a crise. Com o terceiro resgate, a Grécia seguirá sob tutela da ex-troika até meados do século. Até que sua filha tenha mais ou menos a idade que você tem hoje. Como será isso?

R. Engano seu. Não é a antiga troika. A troika voltou.

P. E o que acha de os homens de preto continuarem em Atenas até que seus netos sejam adultos?

R. Não farão isso. O acordo não tem futuro. Baseia-se na manutenção da farsa de empurrar com a barriga: prolongar a crise com novos empréstimos insustentáveis e fingir que isso resolve o problema.

P. Qual sua expectativa então para os próximos meses? Nada de bom?

R. O terceiro resgate está fadado ao fracasso. Sejamos sinceros: o ministro alemão, Wolfgang Schäuble, nunca teve interesse em pactuar nada que pudesse funcionar. Seu plano é redesenhar a eurozona: parte desse redesenho é pôr de lado a Grécia. Acho que está completamente equivocado, mas tem muito poder. Uma das falácias destes dias é apresentar o pacto entre Atenas e os credores como alternativa ao plano de Schäuble. Não é isso: o acordo é parte do plano de Schäuble.

P. Acha que vai acontecer o Grexit [abandono do euro pela Grécia]?

R. Espero que não. Mas vai haver muito ruído, atrasos, descumprimento de metas, mais recessão, problemas políticos. Quando chegar a hora, vamos ver se a Europa quer ou não seguir em frente com o plano de Schäuble.

P. Berlim acaba de propor um plano para aplicar as regras do euro com ainda mais rigor.

R. Schäuble quer deixar de lado a Comissão e criar uma espécie de autoridade fiscal com capacidade para submeter os orçamentos nacionais, inclusive em países que não estejam sob o programa. É como submeter todos os sócios ao programa. O plano Schäuble é impor a troika a todos. Em Madri e em Roma. Mas especialmente em Paris.

P. Paris?

R. Paris é o prêmio da loteria, o destino final da troika. O Grexit será usado para criar o medo necessário em Madri, Roma e Paris.

P. Sacrificar a Grécia para mudar a cara da Europa?

O ‘plano Schäuble’ é impor a troika a todos. Especialmente a Paris
R. É uma demonstração: é isto que acontece se não se submeterem à troika. O ocorrido na Grécia é um golpe de Estado: a asfixia de um país por meio de restrições de liquidez. Em Bruxelas nunca houve interesse em oferecer um pacto mutuamente benéfico. As ajudas não chegavam; era preciso fazer frente a seguidos pagamentos ao FMI e ao BCE, e no fim ficamos sem dinheiro. Logo depois nos deram um ultimato e nos vimos obrigados a fechar os bancos. O resultado é o mesmo que ter derrubado um Governo ou tê-lo forçado a se derrocar.

P. Onde fica a Europa nessa história?

R. Ninguém pode ser livre se uma pessoa somente estiver escravizada: esse é o paradoxo de Hegel. A Espanha e os outros parceiros não têm como prosperar, ser livres ou cuidar de sua soberania e democracia se a outro parceiro é vetada a prosperidade, a soberania ou a democracia.

P. Ninguém discute que a austeridade era excessiva nem a necessidade de reestruturar a dívida: discute-se sua estratégia de negociação.

R. Nada relacionado à austeridade e ao alívio da dívida era indiscutível em janeiro: é indiscutível agora, porque lançamos o debate à mesa. Para todos que me dizem que fracassamos, diria que conseguimos abrir uma discussão não apenas sobre a Grécia, e sim sobre a Europa, que vale seu peso em ouro.

P. Está satisfeito com o resultado?

R. O euro estava mal projetado, como se viu com o colapso do [banco de investimentos] Lehman. Desde então, a Europa vive em estado de negação e fez o contrário do que deveria. Um país como a Grécia, com apenas 2% do PIB europeu, elegeu um Governo que pôs na mesa temas essenciais; depois de seis meses de luta perdemos a batalha. Mas ganhamos a guerra: mudamos o debate.

P. Então isso lhe basta?

Em Bruxelas nunca houve interesse em pacto mutuamente benéfico
R. Claro. Não consigo quantificar esse resultado; não consigo dizer quantos bilhões vale transformar o debate. Mas há coisas que são medidas pelo seu valor, não somente pelo seu preço.

P. Você tinha uma plano B: uma moeda paralela dentro do euro. Isso ainda pode ser ativado?

R. Vamos separar duas coisas. Havia um esquema, denominado plano X, um plano de contingência para responder aos atos de agressão por parte do BCE, do Eurogrupo e das demais instituições. E um projeto para um novo sistema de pagamentos por meio da Receita Federal. Esse sistema deveria ter sido implantado obrigatoriamente; deveria ser implantado amanhã. Mas o plano X já era.

P. Segundo Tsipras, não havia alternativa ao pacto. Com o plano B você está dizendo o contrário?

R. Desde jovem rejeito esta ideia thatcheriana de que não existe alternativa. Sempre existe.

P. Você falou em terrorismo monetário e tortura fiscal. Essa retórica não foi prejudicial?

R. Esse conceito de tortura fiscal é uma descrição precisa do que aconteceu. A ideia é afundar a cabeça do torturado na água; antes que se afogue, é permitido que respire, para depois fazer um novo mergulho, repetidamente, até ele confessar. A Grécia é asfixiada com a falta de liquidez. Até depois do resgate. Os parceiros deram apenas 7 bilhões de euros (cerca de 26 bilhões de reais), a medida para pagar o FMI e o BCE: dessa forma, o Governo é mantido sob controle absoluto. Em relação ao terrorismo, em 25 de junho os credores nos presentearam com uma proposta para cinco meses, cientes de que era impossível cumprir as condições. Decidimos submetê-la a referendo e pedimos uma extensão do resgate de duas semanas para votar em paz. O Eurogrupo nos negou essa ampliação; obrigou-nos a fechar os bancos. Numa economia moderna, fechar os bancos é a pior forma de terrorismo monetário. O que é o terrorismo, se não perseguir uma agenda política mediante o medo? Foi o que fizeram: aterrorizar as pessoas sobre os efeitos de votar não. Se em Bruxelas tivessem se abstido de assustar os gregos, não teria usado essa palavra.

P. Chamar de criminoso o FMI, como fez Tsipras, ajudou em algo nas condições do acordo?

O que aconteceu foi um golpe de Estado: a asfixia de um país por meio de restrições de liquidez

R. Sejamos precisos: Tsipras falou de um programa de negligência criminosa que impôs aos gregos uma crise monumental, inclusive uma crise humanitária. Não subimos o tom da nossa retórica até o final de junho. Até lá fomos extremamente corteses, apesar da incrível hostilidade do Eurogrupo. Até então, Tsipras tinha combinado 90% do programa. O que fizeram os credores? Deram marcha à ré e voltaram a propor medidas inaceitáveis, por exemplo no IVA [imposto sobre valor adicionado]. Isso foi um ato de agressão: daí falamos em negligência criminosa.

P. Se o acordo é tão ruim, por que Tsipras o aceitou?

R. Isso você deve perguntar para ele.

P. Por que não conseguiu sequer um aliado no Eurogrupo?

R. Essa ideia de que o Eurogrupo são 18 contra um é ilusória. Há uma pequena minoria que acredita na austeridade. Há um grupo maior de Governos que não acreditam na austeridade, mas são obrigados a defendê-la porque a impuseram. E há ainda um terceiro grupo, com a França, que não acredita na austeridade nem a exerce.

P. Os gregos que votaram num partido de esquerda entendem as fotos na revista Paris Match?

R. Passeie comigo pelas ruas e você verá. Mesmo assim me arrependo dessa sessão de fotos, que além de tudo é esteticamente horrível. Talvez não acredite em mim, mas quando aceitei não conhecia a Paris Match. Cometi o erro de aceitar a sessão de fotos. Peço desculpas.

P. Você uma vez disse que o legado de Thatcher foi a perigosa financeirização da economia e, acima de tudo, Tony Blair. Qual será o legado de Angela Merkel?

R. A Europa corre o risco de se tornar uma jaula de ferro: espero que a chanceler Merkel não queira deixar essa herança.

Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2015/08 ... 01878.html




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Re: SYRIZA vence eleições gregas

#248 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Ago 13, 2015 11:47 am

Imagem

:mrgreen:




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Re: SYRIZA vence eleições gregas

#249 Mensagem por P44 » Qui Ago 13, 2015 2:52 pm

agora bota aí a vaca alema



























(sem ser a merkel) :mrgreen:




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Re: SYRIZA vence eleições gregas

#250 Mensagem por cabeça de martelo » Qui Ago 13, 2015 9:02 pm

Epá já estava a sacar as fotos dela nua quando era mais novita...




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Re: SYRIZA vence eleições gregas

#251 Mensagem por P44 » Qua Ago 19, 2015 2:14 pm

A Alemanha sempre disponivel para "ajudar" a Grécia :roll:


Grécia vende exploração de 14 aeroportos à alemã Fraport

18/08 13:44 CET



É a primeira privatização do governo Tsipras. As autoridades gregas aprovaram a concessão de exploração de 14 aeroportos regionais à empresa alemã Fraport.

Trata-se dos aeroportos de Salónica e Kavalas, no continente e mais doze nas principais ilhas turísticas do mar Jónico e do Mar Egeu.

O encaixe para o orçamento grego é de 1230 milhões de euros.

Com este acordo, a Fraport compromete-se a investir 300 milhões de euros nos primeiros quatro anos e 1300 milhões nos 40 anos da concessão.

Com o terceiro programa de resgate, a Grécia comprometeu-se a transferir para um fundo de privatizações, ativos estatais no valor de 50 mil milhões de euros, para pagamento de dívidas, recapitalização da banca e investimentos.

http://pt.euronews.com/2015/08/18/greci ... a-fraport/




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Re: SYRIZA vence eleições gregas

#252 Mensagem por cabeça de martelo » Qua Ago 19, 2015 2:27 pm

Falam dos Alemães... mas porque é que não falam dos Chineses?

Quem anda por cá a comprar tudo quanto é empresas? Os Alemães?! No!




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Re: SYRIZA vence eleições gregas

#253 Mensagem por P44 » Qua Ago 19, 2015 2:31 pm

cabeça de martelo escreveu:Falam dos Alemães... mas porque é que não falam dos Chineses?

Quem anda por cá a comprar tudo quanto é empresas? Os Alemães?! No!

Nós vendemo-nos ao chulo que der mais, os gregos não têm outro remédio senão venderem-se à Alemanha...




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cabeça de martelo
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Re: SYRIZA vence eleições gregas

#254 Mensagem por cabeça de martelo » Qua Ago 19, 2015 2:41 pm

Pzito não digas isso, vai lá ver o que os Chineses têm andado a comprar na Grécia. Até os hovercrafts Russos que eles tinham foram vendidos aos Chineses!

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"Lá nos confins da Península Ibérica, existe um povo que não governa nem se deixa governar ”, Caio Júlio César, líder Militar Romano".

Portugal está morto e enterrado!!!

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Re: SYRIZA vence eleições gregas

#255 Mensagem por Wingate » Qua Ago 19, 2015 2:45 pm

P44 escreveu:A Alemanha sempre disponivel para "ajudar" a Grécia :roll:


Grécia vende exploração de 14 aeroportos à alemã Fraport

18/08 13:44 CET



É a primeira privatização do governo Tsipras. As autoridades gregas aprovaram a concessão de exploração de 14 aeroportos regionais à empresa alemã Fraport.

Trata-se dos aeroportos de Salónica e Kavalas, no continente e mais doze nas principais ilhas turísticas do mar Jónico e do Mar Egeu.

O encaixe para o orçamento grego é de 1230 milhões de euros.

Com este acordo, a Fraport compromete-se a investir 300 milhões de euros nos primeiros quatro anos e 1300 milhões nos 40 anos da concessão.

Com o terceiro programa de resgate, a Grécia comprometeu-se a transferir para um fundo de privatizações, ativos estatais no valor de 50 mil milhões de euros, para pagamento de dívidas, recapitalização da banca e investimentos.

http://pt.euronews.com/2015/08/18/greci ... a-fraport/
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