LAGER, o horror do nazismo.

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

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#16 Mensagem por Túlio » Ter Abr 04, 2006 11:36 am

E dê-le mecha. Nada de provas e contraprovas, nada de espaços ao contraditório, nada de Revisionismo!
Note-se que revisionismos há muitos. Ou, pelo menos, dois: o bom e o mau. O primeiro pode ser qualquer um que se refira seja ao que for, o que, convenhamos, não acrescenta muito.
O segundo, é o outro, o que se esconde e TENTA ESCONDER. A questão de saber se existiu um holocausto, em si, não é perigosa. Qualquer um está autorizado a colocá-la. Pior mesmo é questionar o Holocausto, o da maiúscula.
Os judeus preferem o termo Shoah, uma espécie de hiato, ausência de Deus da sua obra, como se tal lhe fosse permitido. Para eles, o termo holocausto reserva-se para o sacrifício que celebra a união entre o homem e Deus, interrompida durante o período nazi-fascista.
O primeiro holocausto registrado é o de Abraão, quando sacrificou a ovelha em substituição do filho, por suprema imposição de um Deus absurdo que lhe testava uma fidelidade que sabia existir - nunca pude entender direito essa parte da Bíblia.
O problema, aqui, está na arqueologia, na mitologia, na religião comparada, como se preferir. É a ciência a desmentir a tradição.
Para a Escola Bíblica de Jerusalém, fundada e mantida por frades franciscanos, e que se dedica a uma investigação rigorosa do mundo bíblico, Abraão não terá passado de um personagem mitológico. Um não-existente elevado à condição de homem real. Logicamente, o seu holocausto que celebraria a união com Deus, perde o seu efeito. Simplesmente, nunca se deu. Os judeus ortodoxos, portanto, sabem-no. Sabê-lo-ão os outros? Pergunte-se a qualquer católico ou crente evangélico, desses que pululam por aí em busca de almas para salvar se Abraão existiu e eles garantirão que SIM. Tal como muitos ainda pôem a mão no fogo por Adão e Eva com seu Éden.
Se este holocausto não existiu, que dizer do outro, o da maiúscula?

Inquestionável e inquestionado. Pode-se chegar à linha, mas nunca transpô-la. Quem o fizer é excomungado, é demonizado. É proibido perguntar.

É um dogma. Não tenho ao lado um dicionário de teologia, mas é relativamente fácil aproximarmo-nos de uma definição. No dogma não se toca, não se questiona. Lá dentro repousa a Verdade Absoluta. O Holocausto é essa verdade, e quem o questiona recebe a punição. E à 'boa' maneira inquisitorial. Em 1600, o dominicano Giordano Bruno foi queimado vivo. Era católico, mas era antes de mais um homem de mente livre. Cometeu o erro de dizer que o universo podia ser infinito, que podia existir vida em outros planetas, que a terra não era o centro. Passou os últimos nove anos de vida na prisão. Foi torturado, mas não abdicou do que pensava certo. Quantos Brunos existem no revisionismo? Quantos já foram queimados, pelo menos social e academicamente? Quantos já foram encerrados em prisões? Bastantes. Porque perguntaram.
O revisionismo diz que não morreu nenhum judeu durante a 2ª Guerra Mundial? Não me parece. Morreram quantos? 1 milhão? 2? Os oficializados 6? 10? 100? Não é o número que está em causa. O que está em causa é um direito à investigação, à pergunta. Algo tão simples como isso, mas que mete medo a muitos. Porque, com os outros revisionismos ninguém se preocupa. Armênia. Congo. Comunismo. Ninguém vai preso se disser que tem dúvidas. Aí são permitidas todas as dúvidas.
Durante a 1ª Guerra Mundial, os turcos chacinaram 1.500.000 armênios, muitos deles ao serviço do exército turco. Qualquer um pode investigar. Qualquer um pode dizer que não foi assim. Os turcos dizem-no. Defendem que não houve massacre nenhum e ainda recentemente levaram a tribunal um dos poucos historiadores turcos que afirma a existência do massacre.
Congo: desde a queda do regime de Mobutu, no final dos anos 90, morreram mais de 3 milhões de congoleses, vítimas da guerra civil. Se alguém disser o contrário, vai preso?
Comunismo: Em 1997 foi publicado O Livro Negro do Comunismo. Acusava os regimes comunistas de serem responsáveis por 100 milhões de mortos. O contra-ataque revisionista surgiu logo sob a forma de outro livro, O Livro Negro do Capitalismo, obra feita por encomenda e sem qualquer rigor científico. Entretanto, Nicolas Werth, um dos autores do Livro Negro do Comunismo viu a sua progressão académica impedida e a sua vida prejudicada.
Afinal, quantos revisionismos existem? Quantos são legais? Quantos e O QUÊ podem perguntar? Quais os critérios?
Ensinam-nos na escola que devemos perguntar, ser curiosos, mas depois, cuidado com o que se pergunta. Pode alguma vez ofender os donos da verdade...
De mais a mais, por quê se insiste tanto nessa tese de câmaras de gás para matar judeus, de campos de concentração para oprimir judeus, de tudo que é sacanagem possível e imaginável que se tenha feito ou imaginado contra os judeus, e os outros não? Uma vítima do comunismo ou mesmo do nazismo, se não for judia, então não interessa? O mundo então se divide entre judeus e goyin? Para mim, essa postura NAZISTA de repetir e repetir até que todos acreditem SEM QUESTIONAR na Verdade Fundamental, contribui mais para o ressurgimento da praga nazista do que todos os skinheads do mundo atuando em conjunto!
Viva a Democracia! Questione-se TUDO! Revise-se TUDO!




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#17 Mensagem por Túlio » Ter Abr 04, 2006 12:21 pm

E que tal esta aqui?

El presidente de los deportados españoles en Mauthausen confiesa que nunca fue preso de los nazis

Enric Marco ha confesado que falsificó en 1978 su biografía como preso del nazismo. Lo hizo "porque así la gente me escuchaba más".
Continúan artículo y comentarios

Tras más de 30 años de mentiras, el deportado español más conocido, Enric Marco, presidente de la asociación Amical de Mauthausen, ha reconocido que nunca estuvo en un campo nazi y que se inventó toda su biografía.

Por ello, ha sido cesado de todos sus cargos al frente de la asociación que agrupa a todos los deportados españoles en campos de concentración, que están desolados por la noticia.

Atrás quedan tres décadas de charlas, conferencias, homenajes e incluso un libro autobiográfico, ´Memoria del Infierno´, publicado en 1.978.

Los rumores sobre la falsedad de su pasado comenzaron a circular el pasado 1 de mayo, horas después de que Marco, de 84 años, fuese reelegido presidente de la Amical.

Al parecer, un historiador no lograba encontrar su nombre en los archivos de Flossenburg, el campo de exterminio donde supuestamente había estado Marco, de manera que elaboró un informe en el que cuestionaba la trayectoria de éste como deportado.

Tras tener acceso a dicho informe, la junta de la Amical se reunió de urgencia y decidió que su todavía presidente, que estaba de viaje en Austria para asistir a los actos de conmemoración del 60º aniversario de la liberación de Mauthausen, volviese a España para no enturbiar el homenaje.

La excusa oficial fue que estaba enfermo, aunque todos los miembros de la asociación ya sabían la verdad. A su vuelta, Enric Marco aguantó unos días, pero al no poder aportar los documentos necesarios para probar su pasado, se derrumbó y finalmente ayer reconoció que se lo había inventado todo.

Nunca salió de España bajo la condición de exiliado, nunca se incorporó a la resistencia francesa y nunca estuvo en el campo de concentración de Flossenburg, por lo que nunca fue liberado por las tropas aliadas en 1945 cuando finalizó la Segunda Guerra Mundial.

La verdad, según ha reconocido él mismo, es que salió hacia Alemania en una expedición de trabajadores españoles en 1941. Padeció prisión en régimen preventivo durante un tiempo, pero nunca en un campo de concentración, y regresó a España en 1943.

Sin embargo, a partir de 1978, fecha en la que fue elegido secretario general de la CNT, él empezó a contar una historia muy distinta. Se inventó que tras la derrota republicana en España se fue a Francia para luchar en la Resistencia, donde supuestamente fue detenido y deportado a los campos de exterminio de los que habría sido liberado en 1945.

"Para que me escuharan mas".

Enric Marco ha explicado que ha mentido porque "así la gente me escuchaba más y mi trabajo divulgativo era más eficaz". Marco ha señalado que "la mentira surgió en 1978" y la mantuvo porque "parecía que me prestaban más atención y podía difundir mejor el sufrimiento de las muchas personas que pasaron por los campos de concentración".

http://20minutos.es/noticia/22947/0/Mau ... espanoles/

+

http://www.elmundo.es/elmundo/2005/05/1 ... 08137.html


Mas revisar é tão errado assim? Descobrir mentiras como essa é errado? Sem revisão teria a Verdade aparecido de per si?
E esse outro texto aqui?

Sérgio Oliveira é natural de Pelotas-RS (aff...), onde nasceu em Maio de 1937. Ingressou na carreira militar (Exército Brasileiro) em 1956, em unidade de sua cidade natal. Cursou o Instituto Militar de Engenharia, no Rio de Janeiro, onde graduou-se e especializou-se como Tecnologista em Física. Serviu a maior parte do tempo em Juiz de Fora-MG. Passou à reserva quando servia em Alegrete-RS (1985).

Na reserva, passou a fazer o que sempre gostou: pesquisar e escrever. Sua obra de estréia foi "O Massacre de Katyn", lançada em Janeiro de 1989 pela Revisão Editora Ltda. A obra tinha sido rejeitada por outras editoras, sob a alegação de que se tratava de tema controverso, em contrariedade às "versões oficiais". Tãologo foi dada a público, a obra pioneira de Sérgio Oliveira foi incluída, juntamente com outros lançamentos da Revisão Editora Ltda., no índex de obras proibidas, por pressão de um, então, Conselheiro do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, sob o pretexto de que "dava nova versão a crime praticado na Segunda Guerra Mundial". A obra em questão inocentava os alemães imputados pelos "hitoriadores oficiais", e apontava os soviéticos como autores da terrível chacina contra oficiais poloneses. Em Abril de 1990, decorridos quatorze meses do lançamento de "O Massacre de Katyn", os soviéticos admitiram a autoria do massacre, confirmando o teor da obra REVISIONISTA de Sérgio Oliveira. Os patrulheiros ideológicos que haviam dado guarida ao arbítrio se limitaram a "meter a viola no saco".
Sérgio escreveu outras três obras revisionistas, todas publicadas pela Revisão Editora Ltda. Ele se engajou no revisionismo histórico da Segunda Guerra Mundial em razão das pressões contra seu primeiro trabalho. Concluiu que havia um conluio de forças contra o sagrado direito da liberdade de pensamento e de expressão, mormente em torno de acontecimentos relativos à Segunda Guerra Mundial.

Sérgio obteve "Menção Honrosa" em concurso monográfico sobre o tema "Constituição: Instrumento de Mobilização da Sociedade Brasileira", promovida pela Fundação Teotônio Vilela (Maceió-AL, 1987); "Menção Honrosa" na III Antologia de Contos do Brasil Contemporâneo, promovido pela Revista Brasília (Brasília-DF, 1994); "Destaque" na III Antologia de Contos Alberto Reinart, promovido pela Prefeitura Municipal de São José dos Campos (Sp, 1995). Todos estes trabalhos foram publicados.

Como cidadão consciente e militar da reserva do Exército de seu País, acredita que esta é a sua obra mais importante porque discorre sobre um tema que interessa directamente aos brasileiros: os fatores que determinaram a participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial. Ele acredita que, hoje, após a publicação do "Diário de Getúlio Vargas" e da revelação de documentos secretos do Foreign Relations e do War Department dos Estados Unidos, não há mais razão para dúvidas e controvérsias.

A pesquisa realizada por Sérgio Oliveira, com fundamento nas anotações de Getúlio Vargas e em ampla bibliografia, desvenda "segredos" até hoje muito bem guardados pelos zelosos guardiões da "verdade conveniente".

S.E. Castan

http://www.revisao.grupodirlip.org
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#18 Mensagem por Clermont » Ter Abr 04, 2006 12:35 pm

A obra em questão inocentava os alemães imputados pelos "hitoriadores oficiais", e apontava os soviéticos como autores da terrível chacina contra oficiais poloneses.


Mentira. A menos que se refira a "historiadores oficiais" do Partico Comunista Soviético. Mas tudo o que foi escrito por esse tipo de propagandista vale menos que estrume...

Desde 1943, que o Ocidente sabia que foram os comunistas a terem executado os prisioneiros poloneses. Mas, por questões de política, tal coisa não podia ser divulgada, em meio à guerra contra o nazismo.

O que o governo russo pós-glasnost fez, foi somente reconhecer uma verdade óbvia. Mais ou menos, quando o filho de Jânio Quadros, finalmente, revelou que seu pai havia renunciado com a intenção de aproveitar a crise, e fechar o Congresso com o apoio do Exército. Todo mundo sempre soube disso, mas, é claro, o bêbado sempre disfarçou com aquela conversa estúpida de "os poderes ocultos".




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#19 Mensagem por Túlio » Ter Abr 04, 2006 1:04 pm

THE ZUNDELSITE


Os Revisionistas Afirmam: O especialista em execuções Americano, Fred Leuchter, apresentou uma decisiva prova científica ao provar que as assim chamadas câmaras de gás em Auschwitz não poderiam ter sido usadas para o propósito alegado.


Após os Relatórios Leuchter, Fred Leuchter tem sido vingativamente atacado por duas razões:


1) Não tinha um grau em engenharia quando escreveu os seus fulgurantes estudos

2) foi pago pela Defesa Zündel e, desde logo, considerado comprado pelo ponto de vista Revisonista.


É verdade que Leuchter não tinha um grau apropriado. Jesus Cristo não tinha um grau em Cristianismo. Marx não tinha um grau em Marxismo.

O que Leuchter descobriu pode ser, e foi, verificado independentemente por engenheiros que têm graus impecáveis.


Fred Leuchter era, antes de ter a carreira e a reputação arruinadas pelo Grupo de Pressão de Promoção do Holocausto, um muito procurado especialista em equipamento de execução na América, foi recomendado pelo Diretor Prisional Bill Armontrout.


O Director Prisional Armontrout testemunhou no Julgamento Zündel de 1988 que só havia nos Estados Unidos um consultor, que ele conhecesse, no desenho, operação e manutenção de câmaras de gás, e esse consultor era Fred Leuchter.

Foi Armontrout quem impeliu Zündel a contactar Leuchter. (Testemunho de Armontrout: tal como resumido em Did Six Million Really Die? Report of the Evidence in the Canadian "False News" Trial of Ernst Zündel - 1988, Edited by Barbara Kulaszka, pag. 351-353)

Leuchter era um homem altamente competente, bem pago e respeitado no seu campo - até que foi arruinado financeiramente e na sua reputação pelos perversos ataques do Grupo de Pressão de Promoção do Holocausto que viu a lucrativa extorsão, de bilhões de dólares líquidos durante anos, desafiada pelas descobertas de Leuchter. Mais ainda, Leuchter foi qualificado pelo Juiz Thomas como uma testemunha especialista durante o Julgamento Zündel. Qualquer pesquisador sério poderia ter verificado isso analisando as transcrições de 1988 do Julgamento Zündel relativas ao testemunho de Leuchter. (Leuchter Testimony as summarized in Did Six Million Really Die? Report of the Evidence in the Canadian "False News" Trial of Ernst Zündel - 1988, Edited by Barbara Kulaszka, pag. 354-362)

A segunda acusação é que Leuchter foi pago pela defesa Zündel - e, desde logo, os seus achados são automaticamente etiquetados como sendo "suspeitos."

Evidentemente Fred Leuchter foi pago pela defesa Zündel. Foi contratado para ir a Auschwitz numa missão secreta, muito dramática, enquanto Ernst Zündel estava em julgamento em Toronto em 1988, lutando pela sua liberdade e reputação. Não havia tempo nem dinheiro para tentar encontrar outra pessoa. Ele não era um especialista de "voos noturnos", como tem sido repetidamente clamado.


Além disso, Leuchter afirmou desde o começo a Zündel e ao seu advogado, mesmo antes de ter ido a Auschwitz, que acreditava na
acusação das câmaras de gás de Auschwitz, e se verificasse essa acusação, então afirmá-lo-ia sob juramento e no seu relatório
.

Zündel continuou a aceitar e enviou-o a ele porque estava seguro dos fatos e contava com a integridade profissional de Leuchter.

Leuchter foi. Viu.

Leia o que ele tem para dizer. (Leuchter, Fred A. The Leuchter Report: The How and the Why. Journal of Historical Review 9, (1989): 133-139.)

Então Leuchter foi pago pelo seu trabalho. E então? Quem pagou a investigação e o livro de Pressac? Quem pagou a Fundação Beate Klarsfeld? Quem pagou o estudo do caso Zündel condensado num livro chamado "Hate on Trial" (Ódio em Julgamento)? (Gabriel Weimann and Conrad Winn, Hate on Trial, Mosaic Press, Oakville, 1986)

(Não, não quem você pensa! Pelo menos em parte, foi pago pelos contribuintes Canadenses!)

O Dr. Hilberg e o Dr. Browning foram pagos pelo Governo do Canadá pela sua perícia para apoiar a acusação do Grupo de Pressão de Promoção do Holocausto. Só Browning recebeu quase $25,000 para testemunhar contra Ernst Zündel - cortesia dos contribuintes Canadenses.

Será que estes dois fatos, que Leuchter foi pago, e que Leuchter não tinha o canudo necessário para o trabalho negam achados científicos que podem ser repetidos e verificados? Quando perguntaram a Leuchter o que impedia que alguém fosse pago para maldizer os seus achados científicos, Leuchter simplesmente respondeu:

"Quem quer que fizesse isso arriscaria a sua posição profissional."

Será que haverá profissionais com altas reputações no campo da engenharia dispostos a avançar e a repetir o que Leuchter fez? Teremos que aguardar para ver.


A Realidade Revisionista é sinistra. Hoje em dia na Alemanha, se um cientista verifica os achados de Leuchter, esse cientista perde o emprego e vai para a prisão. Outro caso é o Relatório Lüftl. Walter Lüftl é um engenheiro Austríaco. Foi durante anos presidente da Ordem dos Engenheiros Austríaca, o corpo representativo de todos os engenheiros Austríacos. Era um perito aprovado pelos tribunais e era frequentemente chamado para testemunhar em matérias de engenharia. Investigou Auschwitz e chegou a conclusões similares às de Leuchter. Os Austríacos prontamente o acusaram criminalmente por apresentar o seu
melhor ponto de vista de engenharia - que as instalações de "gaseamento" de Auschwitz eram falsificações. Isto causou-lhe imensas aflições. Como consequência resignou à sua posição. A mídia fez a festa.
Após vários anos o caso foi silenciosamente abandonado pelo estado. Ainda pior aconteceu ao jovem Germar Rudolf, um cientista alemão com as melhores qualificações, sem a menor mancha nas credenciais e currículo. Escreveu um relatório magnífico. (Das Rudolf Gutachten, Cromwell Press, 1993.) A sua vida e carreira estão arruinadas, enquanto a fortuna de Browning cresceu.

Somente por esta razão, não se vêem muitas pessoas a voluntariar-se para vaguear até Auschwitz com o seu próprio equipamento de engenharia.

Em resumo:


Ninguém nega os campos de concentração. Eram centros de detenção, em números não perto dos altos números reclamados. Não eram centros de matança.


De fato, de acordo com a série de livros da Time Life sobre prisioneiros, os campos de concentração Alemães eram menos de um sexto do número de campos que os EUA tinham para Japoneses, Alemães, Italianos e presos de guerra, e consideravelmente menos campos que o pérfido aliado dos Aliados, Stalin, tinha no seu Gulag.


Estes campos tal como Auschwitz albergaram Judeus, entre muitas outras nacionalidades. Também albergaram criminosos, inclusive criminosos Alemães. Albergaram traidores, espiões e outros que estavam a sabotar a Alemanha em guerra.

Mais uma vez: Eram centros de detenção. NÃO eram centros de matança.


Ninguém sobreviveu aos esquadrões da morte de Stalin em Katyn, e muito poucos se alguns sobreviveram à tumba de gelo de Kolyma e muitos outros campos de Stalin. Vale a pena repetir que no infame "Holocausto" temos o único caso de "genocídio" que é "provado" diariamente pelos sobreviventes.


É tristemente verdade que dezenas de milhar de todas as nacionalidades morreram em diferentes campos Alemães, maioritariamente de doenças causadas por desnutrição, superlotação, falta de higiene e de medicamentos. Sem dúvida alguns morreram por negligência e mesmo por tratamentos crueis da parte de guardas brutais. Sendo a natureza humana aquilo que é e era, devem ter havido atrocidades. Ninguém nega que houve atrocidades individuais. Podem supor como um guarda se deve ter sentido e atuado quando acabou de saber que o seu bebé foi incinerado no verdadeiro Holocausto que se chamava Dresden - uma cidade indefesa, sem importância estratégica, cheia de refugiados? E se acabasse de saber que a sua própria mãe jaz sepultada nas ruínas de Hamburgo ou Berlim? Não se teria sentido bondoso para com aqueles que considerava inimigos. Nestas circunstâncias, os Judeus podem ter estado nos primeiros lugares dessa lista. Esta experiências não são únicas dos "campos Nazis.".


Foram partilhadas por dezenas de milhões nos Gulags de Stalin em campos de políticos e de prisioneiros de guerra. Este destino foi partilhado pelos Holandeses às mãos dos Japoneses, pelos Britânicos e Canadianos em Burma, Singapura e Hong Kong. Foi partilhado pelos Americanos nas Filipinas e pelos Alemães na Polónia, Checoslováquia, Jugoslávia e França.

E não nos esqueçamos que foi partilhado pelos Alemães na Alemanha após a guerra nos campos da morte do Exército Americano em Rheinwiesen, descritos pelo autor Canadense James Bacque no seu livro "Outras Perdas" e no seu livro recentemente
publicado, "Of Crimes and Mercies" sobre este tópico. Bacque afirma que nove milhões de Alemães morreram como resultado directo de uma deliberada política Aliada.


Todas estas mortes foram mortes trágicas. Foram trágicas para Judeus, e foram trágicas para Alemães. Foram trágicas para todos os envolvidos nessa guerra. Para citar o Dr. Robert Faurisson, Revisionista eminente: "Continuam a falar sobre crimes de guerra. A guerra em si própria é o crime."

Clamar que houve atrocidades e depois compará-las a genocídio é perversamente enganador. O enigma estatístico e logístico de quais os Judeus que foram para esses campos, porquê, e quando, foi documentado há muito tempo muito livro muito detalhado de Walter Sanning chamado "The Dissolution of European Jewry" (A Dissolução da Judiaria Europeia.)

Nas últimas voltas e rodopios da dança do Grupo de Pressão de Promoção do Holocausto à volta do Grande Mito do Holocausto tentarão fazê-lo acreditar que os campos da morte ficavam na maioria no "Leste," (onde a maioria dos Judeus disseram ter vivido) e que poucos morreram no "Velho Reich Alemão" - porque teria sido mais fácil guardar segredo no Leste.

Olé! Fantástico!

Os fatos são que dezenas de milhares de pessoas foram enviadas por comboio de Auschwitz na Polônia para outros campos em Altreich (Alemanha Propriamente dita) no fim da guerra - Elie Wiesel, Sabina Citron e Anne Frank entre eles.

Isto foi feito a expensas e inconvenientes Germânicos. Dificilmente seria feito para os matar. Poderiam facilmente ter sido deixados para trás para morrerem de fome nos campos de concentração abandonados quando as pessoas fugiam desordenadamente para escapar ao Comunismo.

Não havia "campos da morte" Alemães. Ponto final. As pessoas morreram em cada um dos campos de concentração do tempo de guerra devido a um número de tristes razões, incluindo idade avançada.

Uma observação final precisa de ser feita, tem a ver com a mundialmente famosa Placa de Auschwitz.


Durante décadas, foi afirmado nesta placa que quatro milhões de pessoas foram genocidamente mortas em Auschwitz. Tal como resumido pelo Dr. Faurisson, até 3 de Abril de 1990, esta Placa "comemorativa" - onde o Papa e presidentes de muitas nações foram levados de modo a poderem genofletir perante vítimas não-existentes, tinha a seguinte inscrição em 19 línguas:

"Quatro milhões de pessoas sofreram e morreram aqui às mãos dos assassinos Nazis entre os anos 1940 e 1945."

Durante quase meio século, aproximadamente 500,000 turistas ingênuos foram deliberadamente enganados por guias intelectuais e vigaristas imorais enquanto visitavam o parque tema de mentiras e horrores anti-germânicos em Auschwitz e Birkenau - onde visitas guiadas, livros e filmes insistiram durante décadas que tudo o que o visitante via estava ". . . no estado original."

No novo texto lê-se o seguinte: "Que este lugar onde os Nazis assassinaram 1,500,000 homens, mulheres e crianças, de que a

maioria eram Judeus de diversos países Europeus, seja para sempre para a humanidade um grito de desespero e de aviso." (Luc Rosenzweig, "Auschwitz, a Polónia e o genocídio" (Tr.'s Note: Auschwitz, Poland and the genocide), Le Monde, January 27,1995,pag 1).)

Porque é que baixaram os números?

Agora o Grupo de Pressão de Promoção do Holocausto diz, "Bem, que pena, não fomos nós. Os Soviéticos sonharam com esses números."

De acordo com esta linha de argumentação, os perversos Soviéticos

". . . propositadamente elevaram o número de baixas não-Judias em Auschwitz-Birkenau muitas vezes o número real. Com o fim do comunismo na Polónia e na antiga União Soviética, oficiais no museu de Auschwitz baixaram meticulosamente os números de baixas de acordo com as estimativas de historiadores que, durante anos, insistiram que pereceram entre um e um milhão e meio de pessoas em Auschwitz-Birkenau- 80-90% dos quais Judeus. (The Breitbard Document, as published by the Simon Wiesenthal Center )


Claro, culpem os Russos e os Polacos. Não dêem aos Revisionistas crédito por os números encolherem constantemente sob a lupa do escrutínio erudito.

Porque não dar outra olhadela ao revelador gráfico do Dr. Faurisson?




Dr. Faurisson, no seu estilo, sendo o erudito cuidadoso e pesquisador meticuloso que é, um homem que é escrupulosamente honesto com amigos e adversários, dir-lhe-á o que é conhecido até ao momento.

O que aconteceu aos Judeus desaparecidos?

Isto é precisamente o que os Revisionistas perguntam - uma questão pela qual foram feridos, espancados, cuspidos, vilipendiados, acusados, julgados e presos e até mortos.

Por quê é "criminoso" querer saber porque motivo os números continuam a encolher e a encolher - tal como um balão furado?

Não são boas notícias, antes más notícias, que não morreram milhões em Auschwitz? Não é motivo para rejúbilo?


Será que alguma vez saberemos o que aconteceu e quantas vítimas houve aí? Não se não pudermos fazer perguntas!

Após uma intensiva campanha de cartas iniciada pela Equipe Zündel e dirigida ao Sr. Gorbachev há poucos anos, os Soviéticos finalmente libertaram os restantes Livros da Morte de Auschwitz, que tinham capturado em 1945.

Surpresa! Adivinhem?

Os estimados "quatro milhões", revistos para "milhão e meio," encolheram para 74,000 mortes confirmadas! Todas meticulosamente registadas - nome, data, nacionalidade, religião, hora, razão e causa da morte!



O pesquisador Alemão Tjudar Rudolf, que é fluente em Alemão, Inglês, Francês, Yeddish e Polaco e compreende muitos dos nomes e línguas eslavas, percorreu penosamente todos esses livros Soviéticos-Auschwitz de registos de mortes e totalizou o número de mortes Judias de acordo com nome e religião - mesmo contando com nomes eslavos.


O resultado final?

Pouco mais de 30,000 Judeus morreram em Auschwitz.

Foi isto que o Revisionismo do "Holocausto" conseguiu!


De tudo o que sabemos hoje, de acordo com a análise apurada deste homem, cerca de 30,000 Judeus perderam então as vidas, principalmente de doenças e sobrelotação, em Auschwitz e campos de trabalho em volta afiliados com o complexo principal em Auschwitz.

Este é um número de pessoas suficientemente trágico. Porquê a necessidade de exagerar? Para justificar o quê? Uma rancorosa campanha de ódio de meio século contra um antigo inimigo? Um regime que entrou para as páginas da história há uns 50 anos atrás?

É o que tudo isto se trata?

Ou é ao invés para manter os Alemães em perpétua sujeição mental, política, económica e financeira e para os tornar susceptíveis a novos, finamente organizados esquemas de chantagem que lhes extorquiram mais de 100 Bilhões de Marcos Alemães para os membros do Grupo de Pressão de Promoção do Holocausto e membros da sua tribo, instituições e organizações - sem esquecer os Estado de Israel? Que nem sequer existia na altura dos alegados crimes que foram supostamente cometidos pelos Nazis?

O abuso étnico dos Alemães e da Alemanha tem que parar. O Holocausto não é, nem nunca foi, sobre a apregoada "vitimização Judia." É sobre extorsão. Políticas de poder. E dinheiro, vingança e ódio!


O povo Alemão, de que muitos não eram sequer nascidos quando a tragédia da Segunda Guerra Mundial caiu sobre o seu país, têm estado a pagar enormes, enormes somas de reparações ao estado e povo Judeu - muitos deles beneficiários que não eram sequer nascidos quando aquilo que o mundo agora foi ensinado a conhecer como "O Holocausto" aconteceu.


Estes Alemães têm direito a todos os fatos. O Grupo de Pressão de Promoção do Holocausto está descaradamente a desinterpretar os "fatos" para estarem de acordo com os seus planos de intolerância em relação a todos que questionariam os seus métodos e objectivos clandestinos e sem consciência, empregando agentes secretos, fundos de imundície, boicotes, ameaças e terrorismo do Holocausto.


A vitimização de novas gerações de Alemães pelos erros, reais e imaginários, dos seus avós e em breve bisavós não é maneira de trazer a paz, tolerância e harmonia ao mundo.


Ernst Zündel está em gravação dizendo que
os perseguidos de ontem se tornaram os perseguidores de hoje.

4 de Abril, 1996


http://www.zundelsite.org/portugese/101/portug8.html

E então? Agora sou nazista por querer saber a Verdade? Por duvidar daquilo que, ao menos para MIM, não está suficientemente provado? 30.000 mortos, ao menos do meu ponto de vista, já é prova suficiente de que o nazismo não pode e não deve retornar ao nosso convívio, do mesmo modo que o comunismo! Mas 30.000 são muito pouca gente para quem quer bilhões de dólares, não?
Pois que me mandem um pouco dessa grana toda e, então sim, sairei por aí apregoando aos quatro ventos as mentiras que me mandarem disseminar. Antes não!




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#20 Mensagem por Túlio » Ter Abr 04, 2006 1:20 pm

GESTAPO EM AÇÃO

Um grupo de soldados, chefiado por um soldado mais antigo, acompanhado de dois agentes – o bonzinho e o mauzinho –, vão tarde da noite à casa de um cidadão que nessa hora está na cama, com os filhos, dormindo. Esmurram a porta, botam-na abaixo e entram na casa. As crianças choram assustadas, apavoradas; o pai é agarrado e levado para a sala e a mãe, nervosa também, tenta acalmar as crianças.

Na sala, o agente bonzinho tenta extrair, de maneira gentil, algumas informações do cidadão (é apenas uma tática) enquanto que o agente mauzinho lhe dá pontapés que o fazem rolar pelo chão. O cidadão leva pontapés na cabeça, no estômago, nos órgãos genitais, enfim, leva porradas o tempo todo. E o outro, posando de bonzinho, diz que a 'brincadeira' acabará assim que ele colaborar. Os soldados que acompanham os agentes a tudo assistem sem se intrometerem. Estão chocados mas acreditam que os agentes sabem o que fazem. Depois de mais de uma hora, quase duas horas, batendo no cidadão que ainda há pouco dormia com os filhos, os agentes param a tortura. Os soldados pensam que a missão está terminada. Não, não está. O sujeito que foi barbaramente espancado por aqueles covardes agentes, com a pusilânime aquiescência dos soldados, ouviram um nome. Dali eles saem e vão ao campo. Lá, agora, a vítima é um garoto de 14 anos. Porradas, pontapés, tapas e todo o tipo de violência contra o garoto. A partir de um certo momento, o garoto é posto sentado entre os dois agentes. Quando menos espera, um dos agentes empurra a cabeça do garoto violentamente contra o ombro do outro agente. Logo depois, esse agente faz a mesma coisa. E isso até o garoto não agüentar mais.
Missão terminada, todos vão embora. O soldado responsável pelo grupo pergunta ao médico do batalhão sobre as conseqüências daquela tortura que os agentes aplicaram ao garoto, ao empurrar a cabeça dele sobre o ombro de um e de outro. O médico explica que é algo que mexe com o cérebro e com todo o corpo, que uma tortura assim acaba com a pessoa em meia hora. Foi isso que o soldado viu: 36 minutos depois o garoto estava acabado. No dia seguinte, ainda impressionado com a selvageria que presenciou, ele vai ao hospital visitar o garoto. Encontra-o enfaixado da cabeça aos pés. Segundo o soldado, ao prestar o depoimento, dificilmente o garoto teria sobrevivido.

Muitos devem estar pensando que se trata mais de um crime atribuído aos soldados alemães partidários de Adolf Hitler. Não, não é. Trata-se dos métodos aplicados pelos israelenses aos palestinos que vivem nos territórios ocupados. Essa cena, além de outras, foi descrita por soldados que de uns anos para cá resolveram que não praticariam ações nos territórios ocupados da Faixa de Gaza e da Cisjordânia. Lutariam, sim, na defesa de Israel, mas não cometendo crimes e barbaridades toleradas, e aplicadas, pelo Estado. Não são esses, segundo eles, os valores que os pais lhes passaram. No começo eles não se deram conta da intensidade daquelas barbaridades, foi o tempo, o amadurecimento, e a própria vida que passaram a ter quando se casaram e tiveram filhos, que fez com que seus olhos se abrissem e vissem quão cruel era a política de ocupação. Passaram então a procurar outros militares que estavam descontentes com todas aquelas atrocidades, montaram um grupo e leram a famosa "Carta da Recusa" que sacudiu a sociedade israelense, passaram a recusar esse tipo de missões e foram punidos pelo Exército.

Quem quiser saber mais, basta assistir ao filme israelense "Eu Queria Ser Herói" que foi apresentado em São Paulo durante o Festival de Cinema Judaico. Vocês vão ver como os métodos dos opressores, sejam eles nazistas, comunistas, sionistas etc. são iguais em toda a parte. É triste ver isso da parte de um povo que faz tanta publicidade dos seus alegados sofrimentos.

Reitero ainda mais uma vez minhas dúvidas sobre o tale de Holocausto, ao menos do modo como é descrito e sempre e sempre e mais sempre empurrado goela abaixo de nós todos, mas uma coisa afirmo:

TODOS OS TOTALITARISMOS E OCUPAÇÕES REDUNDAM EM OPRESSÃO; TODAS AS OPRESSÕES, EM CRUELDADE!

Só a Democracia e a Liberdade de Expressão a ela intrínseca nos podem salvar, pows!




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#21 Mensagem por Túlio » Ter Abr 04, 2006 2:23 pm

A propósito do 60º aniversário (27/01/2005) da libertação do campo de concentração de Auschwitz, Esther Mucznik escreveu, no dia 21 de Janeiro do dito ano:

"Pouco antes de se suicidar a 11 de Abril de 1987, Primo Levi, sobrevivente de Auschwitz e testemunha incansável do Holocausto, confessava que já não tinha muito gosto em ir às escolas falar da sua experiência porque sentia que a sua linguagem se tornara insuficiente, que falava uma língua diferente. E dizia isto a propósito da seguinte reação de dois alunos de uma escola: 'Por que vem você, mais uma vez, contar-nos a sua história, quarenta anos depois, depois do Vietnam, depois dos campos de Stalin, da Coréia, depois de tudo isso... Por quê?' Conta Primo Levi que face a esta pergunta ficou 'de boca aberta, encurralado na minha condição de sobrevivente' com grande dificuldade de responder e com a sensação de 'ser um sobrevivente de uma outra época, um antigo combatente, um velhote ultrapassado, em suma...'."

Para tristeza de Mucznik e de tantos outros pregadores do Holocausto, a reação dos dois alunos irá assistir-se cada vez com mais frequência na sociedade, tão simplesmente porque quando se é coagido a crer em algo sem lugar para dúvidas e/ou discussões, dá-se uma reação instintiva de auto-defesa, que resultará, inevitavelmente, na rejeição generalizada dessa mesma fé. Mesmo que seja verdadeira, a simples obrigatoriedade da mesma semeará a incredulidade... Creio, aliás, ser este o MEU CASO!

Por paradoxal que possa parecer, a libertação das mentes será um fenômeno cada vez mais visível à medida que o Holocausto for sendo elevado ao nível de Dogma e transformado numa religião autoritária que ninguém à face da Terra pode ousar questionar e/ou rever - nem sequer à luz da ciência histórica isenta - sob pena de repressão política, sócio-profissional e, inclusive, judicial. Porque, quando assim é, torna-se legítimo pensar que há algo que alguém não quer que se saiba. Os cientistas que o digam: o que é que neste mundo não pode ser sujeito à sua investigação? E em nome de quê ou de quem?

Mais para o final do seu artigo, Esther Mucznik escreve: '(...) como transmitir a memória do Holocausto? Na França, como se sabe, o discurso negacionista é proibido por lei e no espaço europeu está em estudo a proibição de símbolos nazistas, nomeadamente depois do episódio do príncipe britânico que se fantasiou de SS. Louvo a boa vontade das autoridades, mas não me parece que isso seja a solução dos problemas. Na realidade não basta proibir, nem reprimir. Os tabus podem-se revelar úteis, mas não resolvem as questões de fundo.'

Já vimos que, para Esther Mucznik, a proibição, a repressão e os tabus são úteis e desejáveis. Porém, ela acha que tudo isso é ainda insuficiente. O que é que ela quer mais? Vejamos: 'o conhecimento e a educação: a procura da verdade histórica, o estudo sério e rigoroso e não-panegírico, a par da educação permanente nos valores universais da civilização humana, na distinção clara do bem e do mal.'

Sem eufemismos nem tergiversações, além da proibição, da repressão e dos tabus, a sra. Mucznik advoga ainda o doutrinamento forçado e universal. É claro que ela tenta amenizar o seu discurso recorrendo a chavões vazios, de tipo: 'a procura da verdade histórica', aliada a um 'estudo sério e rigoroso'. Mas como, se todo aquele que contribuir para esse 'estudo sério e rigoroso' com uma versão diferente, ainda que fundamentada, deve ser 'reprimido'?! Ou será que a 'procura da verdade histórica' só é aceitável se for feita com base em estudos que comprovem aquilo que já se diz estar comprovado?

Se há alguma honestidade em ciência, que se combatam as teorias alternativas não nos tribunais, mas sim nos fóruns científicos. A não ser assim, o Holocausto evoluiu já para o plano de moralidade coletiva - requisito vital a qualquer religião - não podendo a veracidade dos seus pressupostos ser sujeita a qualquer tipo de análise fria, científica e isenta. Estaremos, nessa altura, na presença de uma crença religiosa ao invés de um relato/acontecimento histórico.

E, já agora, que é isso da 'civilização humana'? Judeus, chineses, índios e africanos, por exemplo, comungam da mesma civilização? E o que são, ou quais são, os 'valores universais'? Quem os determina? Os conceitos de bem e de mal são universais? O que está bom para o Talmude (livro sagrado dos judeus) pode estar bom para a Bíblia? E o que está bom para o guerreiro Maomé pode estar bom para o pacifista Buda? Sharon = Rabin?

Chegados a este ponto da análise, sou levado a concluir que - das duas uma - ou Esther Mucznik não sabe do que fala, nem tampouco conhece o significado de vocabulário básico, ou então ela é uma autêntica mestra em retórica 'pega-trouxa'...

A todos os que, em todo o mundo, sofreram as consequências da catastrófica II Guerra Mundial, dedico meu respeito. Àqueles indivíduos que - egoística e insensivelmente - pretendem chamar apenas a si próprios o monopólio da Verdade e da comiseração mundial, dirijo a seguinte nota: Quem tudo quer, tudo perde.




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#22 Mensagem por Túlio » Ter Abr 04, 2006 3:03 pm

O que é o Revisionismo?

A palavra "Revisionismo" deriva do Latim "revidere", que significa ver novamente. A revisão de teorias guardadas há muito tempo é perfeitamente normal. Acontece nas ciências da natureza assim como nas ciências sociais, à qual a disciplina da história pertence. A ciência não é uma condição estática. É um processo, especialmente para a criação de conhecimento pela pesquisa de provas e evidências. Quando a investigação decorrente encontra novas provas ou quando os pesquisadores descobrem erros em velhas explicações, acontece frequentemente que as antigas teorias têm que ser alteradas ou até abandonadas.

Por "Revisionismo" queremos dizer investigação crítica baseada em teorias e hipóteses no sentido de testar a sua validade. Os cientistas precisam de saber quando novas provas modificam ou contradizem velhas teorias; na realidade, uma das suas principais obrigações é testar concepções tradicionais e tentar refutá-las. Apenas numa sociedade aberta na qual os indivíduos são livres de desafiar teorias comuns é nós podemos certificar a validade dessas mesmas teorias, e estar confiantes de que estamos a aproximarmo-nos da verdade. Para uma discussão completa sobre isto, o leitor deve conhecer por si mesmo o ensaio do Dr. C. Nordbruch em Neuer Zürcher Zeitung, 12 de Junho de 1999. [...]

Por que é que o Revisionismo do Holocausto é necessário?

Para os não-Judeus, o Holocausto é um evento histórico e não um assunto religioso. Como tal, está sujeito ao mesmo tipo de pesquisa e exame como qualquer outro acontecimento do passado, e por isso a nossa concepção do Holocausto deve estar sujeita à investigação crítica. Se novas provas necessitam de uma alteração na nossa concepção do Holocausto, então impõem-se uma alteração. O mesmo acontece quando se prova serem falsas antigas concepções. Não pode ser censurável questionar a precisão de afirmações científicas e tentar negar a sua validade. Então, não é censurável aproximarmo-nos com cepticismo das concepções que prevalecem sobre o Holocausto, enquanto isso for feito objectivamente; e nós temos razões válidas para sermos cépticos.

A maioria das pessoas sabe que os poderes existentes actualmente, particularmente na Alemanha, opõem-se a qualquer aproximação crítica ao Holocausto. Na realidade, o actual governo Alemão processa legalmente essas aproximações. Aqui está, portanto, uma resposta à questão do porquê ser o Revisionismo importante.

O governo Alemão pretende, obviamente, manter a actual ideia do Holocausto com todo o seu poder oficial sob o seu controle. Uma das razões para isso são os massivos interesses políticos e financeiros desses grupos religiosos descritos detalhadamente pelo professor norte-americano de ciência política N. G. Finkelstein no seu livro, A Indústria do Holocausto, o qual recomendamos grandemente a toda a gente. Devido às frequentes invenções e distorções do Holocausto, o Prof. Finkelstein lamenta o facto de não existirem mais cépticos. E o Prof. Raul Hilberg, um dos principais especialistas no Holocausto, declara repetidamente que essa superficialidade e esse controle de qualidade inadequado são os grandes problemas no campo da investigação do Holocausto. É mais do que evidente a necessidade de cépticos.

Mas, no entanto, isto não são apenas os interesses particulares de grupos religiosos e financeiros. Nós temos que competir com a nova ordem do pós-guerra, a qual foi criada pelos vencedores, ou seja, pelos Aliados. A credibilidade da versão vitoriosa da história é um risco. O Holocausto é o pilar central no mosaico da sua versão da história. Adicionalmente, temos que lidar com a hegemonia política e cultural dos círculos internacionalistas e igualitários. Para os igualitários, a imagem convencional do Holocausto é um símbolo extremamente útil no seu esforço para suprimir lutas étnicas, regionais e nacionais pela independência. Não interessa se essas lutas tenham lugar na Ásia, Arábia, América do Sul ou na Europa. Afinal, as lutas pela independência nacional assumem que o nacionalismo é uma coisa boa. Para os igualitários, o nacionalismo é uma coisa diabólica porque houve um dia em que o nacionalismo conduziu às câmaras de gás de Auschwitz

Os políticos Alemães sabem muito bem que a Alemanha iria ser sujeita a tremendas pressões se permitisse qualquer consideração crítica ao Holocausto. Finalmente, está em risco a credulidade de todos os que construíram o seu mundo sob a fundamentação moralista do "Holocausto" assim como daqueles que enfrentariam uma completa falência moral e social se encarassem as suas dúvidas. Existem profundas razões psicológicas e egoístas que tornam impossível a muitos intelectuais tomarem em consideração as dúvidas sobre o Holocausto, até para eles próprios.

No entanto, a circunstância de quem é a favor ou contra o internacionalismo e o igualitarismo é irrelevante. Assim, a opinião acaba por dizer respeito à posição dos jogos que as pessoas representam ou a orientação espiritual dos poderosos. O facto mais significativo é que existem grupos extremamente poderosos que estão determinados a esconder todas as considerações críticas do Holocausto. Por todo o mundo, os média maltratam completamente aqueles que expressam dúvidas sobre a versão ortodoxa do Holocausto. Nos países de expressão Alemã, expressar publicamente dúvidas sobre o Holocausto é uma ofensa punida com longas penas de prisão (Secção 130 Parágrafo 3 Código Penal Alemão ; Secção 3h do Código Austríaco; Secção 216 do Código Suíço.) Só isto deveria ser suficiente para estimular a suspeita de qualquer pessoa que tenha a capacidade de pensar de forma crítica. Isso deveria fazer-nos questionar sobre o porquê duma elite poderosa ter a tal necessidade drástica de manter esta propaganda de ódio depois da Segunda Guerra Mundial.

O padre Católico Viktor R. Knirsch de Kahlenbergerdorf, Áustria, faz algumas observações sobre este assunto (de perfil, à direita):

"É um direito e uma obrigação de qualquer um que procura a verdade para as suas dúvidas, investigar e considerar todas as provas disponíveis. Sempre que estas dúvidas e investigações forem proibidas; sempre que as autoridades exigirem inquestionáveis crenças existem provas de uma arrogância profana, a qual estimula a nossa suspeita. Se aqueles cujas alegações são questionadas têm a verdade do seu lado, eles responderão pacientemente a todas as questões. Certamente eles não continuarão a ocultar as evidências e os documentos que pertencem à controvérsia. No entanto, se aqueles que exigem crédito estão a mentir, então eles irão requerer um juiz. Por isto, vocês conhecê-lo-ão. É ele quem vos dirá que a verdade é calma e contida, mas que mente deverá exigir justiça mundanamente."

Para concluir a nossa resposta a esta questão devemos ter em conta um slogan de um anúncio que causou um escândalo na Alemanha no Verão de 2001. Pouco tempo antes, o governo Alemão tinha decidido finalmente, depois de muitos anos de discussão, erguer um gigantesco monumento em memória do Holocausto no centro da capital Alemã, Berlim. Num anúncio provocativo para adquirir fundos para este memorial, o qual tinha a intenção de convencer as pessoas da sua importância, várias personalidades Alemãs fizeram o seguinte enunciado:


"'o holocausto nunca aconteceu'

Ainda existem muitas pessoas que acreditam que nunca aconteceu, e daqui a vinte anos ainda existirão mais.

Portanto, faça um donativo para o memorial aos Judeus assassinados na Europa."

A primeira frase em grandes letras tinha a intenção, de certa forma, da "negação do Holocausto", mas uma vez que a explicação abaixo era praticamente ilegível e não muito nítido pelo seu tamanho, a tempestade de protestos que rompeu depois da campanha com este anúncio ter começado causou o seu fim imediato.

De qualquer forma, este anúncio fez uma profecia: Que haveriam mais "negadores" em vinte anos do que existem actualmente. Existem boas razões para a premonição destas personalidades Alemãs. O nosso conhecimento sobre todos os acontecimentos históricos está a aumentar com a passagem do tempo. Isto acontece não pelo facto das testemunhas estarem a morrer, mas especialmente por aquele facto. Os participantes em acontecimentos históricos têm um interesse pessoal o qual tende a distorcer os seus relatos sobre esses mesmos acontecimentos. Não será possível superar esta tendência de subjectividade e distorção até nós deixar-mos de ceder a estas pessoas e aos seus grupos de lobbys, especialmente quando estes grupos têm uma grande riqueza e influência política.

Se o enunciado for verdadeiro e se daqui a vinte anos mais pessoas acreditarem que "o holocausto nunca aconteceu", então a razão deve ser encontrada não nestas pessoas incrédulas, mas sim no expandir do nosso conhecimento sobre o Holocausto e no diminuir da influência daquelas pessoas que não têm interesses objectivos no que diz respeito à sua historiografia.

Será absurdo reivindicar que só porque todas as testemunhas das execuções em massa durante a Revolução Francesa já morreram, o número de cépticos sobre estes assassínios irá aumentar mais e mais. O nosso conhecimento sobre acontecimentos históricos não está dependente de testemunhas vivas; pelo contrário, é mais confiável quando pode ser sustentado sem tais testemunhas. Dúvidas sobre um acontecimento histórico são desenvolvidas apenas se existirem razões objectivas para tais dúvidas.

In: http://vho.org/


Aí está: se realmente quisermos que a tragédia nazista - e a comunista também - não mais se repita, estudemos livremente e História e tomemos aos neonazis, uma força em constante crescimento (adivinhem por quê...) a sua mais poderosa arma para recrutamento: a síndrome de vítima de um complô judaico internacional. Estudemos e mostremos a Verdade como ela é, sem preferências nem dogmas pueris...




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#23 Mensagem por Clermont » Qua Abr 05, 2006 7:42 pm

GENOCÍDIO – A DESTRUIÇÃO DAS MINORIAS – parte 2.

Ward Rutherford (digitado por Adolfo Luna Neto)

Os anos de tormento

Hitler mostrou-se anti-semita desde os primeiros pronunciamentos que fez. Sua muito citada frase no Mein Kampf, declarando que se uns 15.000 "desses inimigos hebreus" tivessem sido asfixiados no transcurso da Primeira Guerra Mundial "o sacrifício de milhões de seres na frente de batalha não teria sido em vão", provavelmente foi criada em 1923, quando ele se encontrava preso na Fortaleza de Landsberg, mas ele já expressara sentimentos semelhantes num discurso pronunciado em 1920 e numa carta, em 1919.

Suas idéias sobre o assunto surgiram certamente durante os dias de dificuldade que viveu em Viena – época em que seu orgulho não o impedia de aceitar o dinheiro que lhe enviava um judeu amigo de sua família. Seus associados, uns amargos freqüentadores dos albergues - antimarxistas, anti-semitas e pangermanistas - passavam o tempo, seu único bem grátis, na vã procura de bodes expiatórios para as desgraças da Alemanha, que acreditavam ser a causa das suas próprias desgraças.

Os historiadores que buscam uma base filosófica para o anti-semitismo de Hitler têm sugerido várias fontes, entre as quais as noções do monge cisterciense, Adolf Lenz. Suas opiniões, propagadas no Arioheröiken, correspondem em grande parte com as de Hitler. Também aquele apoiava a teoria da "superioridade" ariana e defendia a eliminação dos judeus por meio de esterilização e deportação. A verdade é que tudo quanto sugerem esses historiadores não tem qualquer fundamento. O anti-semitismo de Hitler jamais se apoiou em razões filosóficas e intelectuais. Na intimidade, ele demonstrava até desprezo pelas teorias raciais pangermânicas de Alfred Rosenberg e Walter Darré. Visto que tinha de justificar sua posição de quando em vez, seus argumentos eram tirados a esmo de conceitos de Gobineau, Nietzsche, com seu Super-homem, Darwin (Hitler não parava de falar sobre a "sobrevivência do mais capaz" e de "seleção natural") e, em particular, do "anti-semitismo de salão" dos Wagners e de Stewart Houston-Chamberlain.

O anti-semitismo de Hitler, como acontece com todo racismo verdadeiro, era emocional e subjetivo. Quando se começa a analisar os motivos psicológicos, é preciso considerar-se que Hitler era um inadaptado e um frustrado sexual. Pois, assim como os racistas brancos de hoje falam da suposta luxúria e grandes pênis dos negros, também Hitler escrevia sobre jovens judeus lascivamente à espreita de jovens alemãs para seduzi-las. No delírio das fantasias que criava, essas imagens podiam levá-lo a paroxismos de fúria. Não há razão para considerá-lo impotente ou, como os mexericos de tempo de guerra sugeriam, sexualmente deformado. A evidência da autópsia que os russos apresentaram demonstra isso. Há, no entanto, razão para se supor que ele não era atraente para as garotas, sobretudo nos seus tempos de jovem pobre. Fora a terrível pobreza - para ele sem dúvida uma degradação - havia nele defeitos insuportáveis, como a grosseria, a fúria incontida, o fanatismo louco. E não é por coincidência que ele constantemente se referia ao caráter corruptor das finanças judias, pois o dinheiro é, com freqüência, um símbolo inconsciente de sangue, e a "corrupção" do sangue das jovens arianas era precisamente o que ele via os jovens judeus fazer, em seu pesadelo.

No Nationalsozialistische Deutsche Arbeiter-Partei, para dar ao partido nazista seu título completo e adequado, seu anti-semitismo logo recebeu corporificação política. Os Pontos 4 e 5 do manifesto do NSDAP, publicado em fevereiro de 1924, declarava que a cidadania alemã estava disponível "somente aos de sangue alemão, independente de credo religioso". No caso de o significado dessa frase parecer ambíguo, a frase seguinte torna-a bem específica: "Nenhum judeu", declara ela, "pode, portanto, ser um nacional". Isto é desenvolvido no ponto seguinte, que declara que os que não possuem cidadania do estado são sujeitos "às leis aplicáveis aos estrangeiros".

Estes princípios foram incorporados não só à ideologia do partido como ao seu comportamento. Sempre paramilitar em caráter (ela afirmava estar travando uma batalha contra os comunistas), a milícia do partido eram os Sturmabteilung (Destacamentos de Assalto ou, mais popularmente, Tropas de Assalto) do Capitão Ernst Röhm. Quando não estavam desfilando ou combatendo os moinhos de vento do bolchevismo, eles estavam intimidando os judeus ou provocando intimidação com discursos pronunciados nas esquinas.

Contudo, já um novo grupo estava surgindo dentro da própria milícia. Em 1922, uma unidade especial das SA havia sido formada e recebera o nome de Schutzstaffeln (Esquadras de Proteção) ou, abreviado, SS. Três anos depois, um bávaro insignificante e míope, com um queixo azulado e pequeno, um homem que não apresentava outras qualidades além de ser um minucioso executor dos deveres do partido, cujo nome era Heinrich Himmler, ingressou nas SS. Em 1926, com as SS tendo então cerca de 200 homens, com a tarefa principal de servir às reuniões do partido, Himmler foi nomeado seu subcomandante. Em 1929, por ordem direta de Hitler, Himmler, que tinha então 28 anos, foi nomeado substituto de Erhard Neiden como comandante, ou Reichsführer das SS. O grupo aumentara em oito homens, mas se conservava subordinado às SA e Röhm.

Se Himmler dava a impressão de não ser muito imaginativo, a verdade é que, como Hitler, sua vida interior era cheia de fantasia, povoada de personagens das lendas germânicas. Ele começou a admitir que tudo aquilo poderia concretizar-se através das SS. Elas se tornariam uma força poderosa e independente no nazismo e na Alemanha, um estado dentro do estado, constituindo-se numa mistura adoidada da antiga Ordem dos Cavaleiros Teutônicos e dos Jesuítas - pois seus sonhos sempre tinham uma tintura de misticismo.

Uniformizadas em negro, altamente disciplinadas, em contraste com as rebeldes SA, o ingresso nas SS passou a ser o sonho dos jovens alemães. Entretanto, o ingresso na corporação tornou-se bastante difícil (os futuros recrutas tinham de provar a pureza do seu sangue nórdico remontando a 1750). Somente um em cada grupo de dez candidatos satisfazia às exigências da seleção. Quando da invasão da Polônia as SS totalizavam 26.000 membros.

Em junho de 1931, um jovem louro e de olhos azuis, vindo de Waldtrudering, e que recentemente ingressara nas SS, foi apresentado a Himmler por um dos membros da sua equipe. Era Reinhard Heydrich, que fora atraído para o nazismo por sua noiva, Lina von Osten, depois de obrigado a demitir-se da Marinha, após um escândalo que envolveu a filha de um diretor de estaleiro, mas que no fundo revelou firmeza de caráter de parte de Heydrich.

Na época, Himmler tinha planos para a criação de um Serviço de Inteligência dentro das SS, embora um dos seus companheiros de partido, Hermann Goering, sempre demonstrasse considerar a polícia e a segurança áreas de sua propriedade. Portanto, o esforço de Himmler fatalmente seria uma competição, mas ele sempre foi um mestre da maquinação. Ele nomeou o jovem Heydrich para dirigir seu novo departamento ao qual deu o nome de Sicherheitsdienst (SD), ou serviço de segurança, que tinha inclusive autoridade para investigar e manter arquivos até mesmo sobre os membros mais altos do partido. Assim, deu-se a união de dois homens que, entre si, tinham traços de caráter muito diferentes e que viriam a cobrar alto tributo à vida humana. Himmler era um homem convencido pelas teorias excêntricas de "sangue e solo" cujo destino o colocara em posição de aplicá-las. Ele não era sádico; não sentia prazer com o sofrimento que viria a impor. Ao contrário, como um Inquisidor, deplorava a necessidade de ter de adotá-lo. A única vez que presenciou uma execução, em Praga, em 1941, teve um acesso de histeria, foi chamado à atenção pelo comandante da cerimônia Heydrich - e desmaiou. Mas ele deu ordens que mataram milhões.

Tampouco havia indícios de que Heydrich fosse homem sádico e sanguinário no sentido estrito dos termos, e, ao contrário de Himmler, não era devoto de nenhuma teoria. Na verdade, é provável que secretamente ridicularizasse tais coisas. Contudo, era homem muito ambicioso e dotado, como seu chefe, de grande vocação para a intriga, superando-o mesmo. Era em suma um amoral, com desenvolvido faro para descobrir onde estava a vantagem, e sabia como aproveitá-la. Outros nazistas pelo menos afirmavam ter experimentado certo conflito interior antes de se decidirem a cumprir algumas ordens recebidas. Heydrich nem uma vez mostrou qualquer sinal de perturbação. Se o Partido Nazista fosse baseado no conceito de que a presença dos judeus na Alemanha lhe era altamente favorável e que eles deveriam ser recompensados por sua simples existência, Heydrich poderia tranqüilamente ter cumprido o dever de homenageá-los com o mesmo zelo, sobretudo por ter ele próprio algum sangue judeu.

Himmler, que sofria de terríveis conflitos (os quais provavelmente lhe causavam as cãibras estomacais dos últimos anos da guerra), superou-os pela crença na "pureza do sangue", coisa que considerava suficientemente importante para vencer todos os escrúpulos, incluindo a lealdade ao seu chefe, Ernst Röhm. No verão de 1934, um ano e meio depois que o Presidente Hindenburg nomeou Hitler Chanceler, Himmler participou de um complô entre os nazistas que temiam as SA como um exército privado. Isto levou ao assassinato de Röhm e de centenas de subordinados seus, na "noite das longas facas". A desculpa era que Röhm estava planejando um golpe, ou Putsch, contra Hitler e tal foi o sucesso que a destruição de Röhm e seu grupo causou, que as SS de Himmler ficaram com o controle virtual do campo. As SA haviam dado à Alemanha muita notoriedade internacional, pela brutalidade franca e desenfreada com que tratavam os judeus - sobretudo depois que os comunistas foram atirados à clandestinidade. As SS eram claramente mais disciplinadas e mais formais no seu procedimento; numa palavra, mais cavalheirescas. Não obstante, muitas pessoas compreendiam que, em Himmler e Heydrich, elas tinham uma dupla mais satânica e mais perigosa do que o ingenuamente selvagem Röhm.

Enquanto ocorriam essas convulsões, sem que a maioria do povo alemão soubesse ou lhes desse importância, o NSDAP, já no poder, começou a avivar as chamas do anti-semitismo, espalhando-as por toda a pátria. O manifesto do partido, escrito quase dez anos antes, declarara que os judeus deviam ser tratados como estrangeiros. O país anfitrião sempre pode pedir aos estrangeiros que "voltem para sua casa". Mas os judeus da Alemanha, ao contrário dos outros estrangeiros, não tinham casa; ademais, muitos deles viviam no país havia gerações. Para eles, a Alemanha vinha antes do judaísmo. A política, de início aplicada mais ou menos ao acaso, mas que mais tarde o seria com mais propósito e oficialmente, era tornar para eles as condições na Alemanha tão insuportáveis que muitos desses "estrangeiros" prefeririam partir. Mas uma partida em termos só possíveis para os ricos e influentes que tinham contatos que lhes permitiriam ser acolhidos em outros locais. Assim, se a política de Hitler fez alguma coisa, ela forçou a deixar a Alemanha exatamente as pessoas que ele mais temia e (se seus argumentos fossem seguidos) as obrigaria a se tornarem um grupo coeso entre os inimigos da Alemanha.

Não obstante, já na primavera de 1933, semanas após a ascensão de Hitler ao poder, os judeus começaram a ser demitidos de todos os cargos públicos; advogados, médicos e lojistas tiveram suas atividades cerceadas. Os que recusavam deixar-se intimidar, eram fotografados e tinham seus retratos publicados nos jornais locais. Mas, como o cônsul americano em Leipzig observou, o público não gostava do boicote. A gente mais pobre era obrigada a usar as lojas aprovadas pelos nazistas, e que aumentavam seus preços à medida que a competição diminuía; outros detestavam o princípio de tal perseguição. Fora da Alemanha, conforme crescia a consciência do que estava acontecendo naquele país, a aversão que isso fez gerar repercutia nas relações diplomáticas e comerciais.

Qualquer grupo menos obsessionado pelo racismo talvez tivesse percebido ser chegado o momento de abandonar a política anti-semita, mas os nazistas chegaram mesmo a destorcer as críticas estrangeiras para servirem a seus propósitos, justificando a perseguição com o argumento de que era em represália às atrocidades e ameaças dos judeus no exterior.

Quando um ministro sul-africano, em visita à Alemanha, sugeriu a Hitler que ele devia encontrar uma solução para o problema judeu de modo que não antagonizasse a Grã-Bretanha, o Führer começou uma de suas diatribes sobre o anti-semitismo que incluía a ameaça de que "um dia os judeus desapareceriam da Europa". Para o Ministro das Relações Exteriores da Checoslováquia, Hitler foi ainda mais claro: "Destruiremos os judeus... O dia do ajuste de contas chegou".

Todavia, diante das críticas, as medidas anti-semitas tinham de ser disfarçadas em lei. Muita gente na Alemanha, assim como em outros países, acreditava que os judeus tinham influência e autoridade desproporcionais aos seus números. Por isso, as pressões sobre a comunidade judia, por meio de leis restritivas, eram consideradas simples medidas de correção desse desequilíbrio, e foram feitas de modo a parecerem comuns. Tais medidas tiveram o efeito de separar o judeu do não judeu, tornar a existência do judeu mais dura e, por fim, criar os meios e a justificativa para a total segregação da comunidade minoritária.

Se os judeus fossem culpados de tudo o que se lhes atribuía; se as teorias genéticas adotadas pelos nazistas merecessem aprovação da ciência verdadeira, ainda assim não seriam admissíveis tanta perseguição, tanta provocação, tanto desrespeito à condição humana deles. Estes atos foram talvez apenas ligeiramente menos repelentes do que as medidas tornadas comuns, mais tarde. De um lado havia os rufiões e os sádicos compulsivos, indiferentes à identidade dos que estavam à sua mercê, fossem ou não judeus. Eram vítimas postas à sua disposição pelo governo, e isto lhes bastava; do outro lado, os administradores ambiciosos que, na ânsia de impressionar os superiores, arrancaram de suas almas os últimos resquícios de decência.

A realidade é que a desculpa dos nazistas para a perseguição dos judeus tinha poucas pretensões à seriedade intelectual. Era simplesmente o modo de satisfazer à necessidade de "inimigos", ao mesmo tempo que justificava a ineficiência e as opressões dos tiranos.

As características opressivas do regime tornaram-se de imediato óbvias a todos os alemães, judeus ou não
. Entre tantas provas disso, salientava-se o fato de a liderança nazista, uma vez no poder, haver-se arrogado o poder de polícia. Imediatamente após a ascensão de Hitler à Chancelaria, foi Goering, e não Himmler, quem abriu os primeiros campos de concentração aos inimigos políticos. Menos de um mês após a nomeação de Hitler, a 28 de fevereiro de 1933, o dia seguinte ao incêndio do Reichstag, oficializaram-se as primeiras medidas extraordinárias permitindo a prisão de cidadãos comuns e sua condenação à "custódia protetora" por período indefinido e sem direito a apelação. A execução desse decreto também foi feita por Goering. Por volta de abril, só na Prússia, mais de 16.000 pessoas haviam sido privadas da liberdade. Pelo Natal de 1933, o número de prisioneiros assumiu tais proporções que Hitler foi obrigado a anunciar uma anistia para 27.000 detentos, por absoluta falta de espaço para contê-los.

Os campos onde foram encarcerados logo se transformaram em cativeiros cujos encarregados não eram responsáveis perante ninguém. Himmler deu início a seus ensaios nesse setor, já tendo desafiado Goering com a existência do seu SD, e inaugurou um campo de concentração "modelo" em Dachau, a 20 km de Munique. Ali, os ideais himmlerianos de ordem e disciplina foram postos em prática. Caracteristicamente, a administração do campo obedecia a regulamentos que previam todas as eventualidades, indo da forma como se executavam as surras de chicote e os enforcamentos, à maneira como se pagava o prisioneiro-carrasco pelos seus serviços (três cigarros!). Embora extremamente imorais esses regulamentos, sobretudo quando sabemos que se referiam a homens e mulheres contra os quais jamais pesou qualquer acusação específica, eles eram, em contraste com os regulamentos dos campos de Goering, destinados a assegurar uma administração organizada.

Para os que cumpririam os deveres de guardas em Dachau, deveres, diga-se, para uma pessoa normal, difíceis, extremamente dolorosos, Himmler criou outro departamento das SS, as Totenkopf Verbände, ou Formações da Caveira (a Caveira sendo o emblema das SS). Entre os que ingressaram no pessoal de Dachau desse modo, estava um jovem chamado Adolf Eichmann, destinado a subir bastante na hierarquia das SS.

Assim, pelo final de 1934, Himmler assegurara para si próprio um lugar quase inatacável, exceto pelo próprio Hitler, no novo estado. Em suas Esquadras de Proteção havia um serviço secreto para fazer calar os inimigos do estado e escolher os lugares para onde seriam enviados e mantidos. Himmler diligenciava febrilmente no sentido de tornar-se o que realmente veio a ser, o segundo homem mais poderoso no Terceiro Reich.

Em 1934, assim como em 1933, não houve nenhuma diminuição nos tormentos infligidos aos judeus, contra quem era dirigida toda a sorte de hostilização. As autoridades locais exorbitaram muito da esfera dos direitos legítimos e até mesmo desprezaram a constituição alemã. Os judeus foram proibidos de freqüentar parques, andar de ônibus e nadar em piscinas e, em alguns lugares, os funcionários públicos viram-se obrigados a assinar uma declaração de que haviam rompido todas as relações sociais com quaisquer judeus que conhecessem. Os nazistas às vezes evitavam tais práticas, pelo efeito que teriam no exterior, e na medida em que os tormentos se baseavam em estatuto ou decreto, eram sempre justificados pelos nazistas com a alegação de "conveniência". Assim, quando se começou a calcular o ingresso de judeus em escolas alemães com base no número deles no conjunto da população, a desculpa apresentada é que se desejava "impedir excesso de alunos" nas escolas alemães.

Em 1935, a primeira das Leis de Nuremberg sobre a cidadania do Reich, que punha em vigor a decisão do partido de transformar os judeus em estrangeiros, foi anunciada por Hitler numa das Reuniões Anuais do Partido, realizada naquela cidade a 15 de setembro. Os moderados do partido (cujo número era grande, embora muito pouco influenciasse as decisões partidárias) aceitaram tais leis na suposição de que fossem definitivas nas suas disposições - na realidade elas foram ampliadas por cerca de 13 decretos suplementares. Alguns chegaram mesmo a acolhê-las como uma forma de regularizar a situação vigente, dando aos judeus uma visão de sua posição perante a lei e certa proteção, mesmo que somente como estrangeiros, o que não tinham no estado de coisas anterior. A verdade é que o isolamento social legalizado dos judeus, criado pelas leis de 1935, não só tornaram as medidas subseqüentes mais rigorosas, como jurídica e psicologicamente mais facilitadas. Os decretos estabeleciam a criação de duas classes de cidadão: O Reichsbürger, que tinha de ser de puro sangue alemão, e o Staatsangehöriger que, embora fossem súditos, não tinham direito à cidadania. Tal divisão de homens não existia legalmente desde o Império Romano.

As primeiras Leis de Nuremberg proscreveram os judeus de muitas atividades, inclusive o exercício do serviço público. Elas proibiam o casamento com arianos e, mais que isto, davam para os judeus uma definição tão ampla que nem pela cabeça dos arruaceiros e verdugos daquela gente havia passado. Como conseqüência, alemães praticantes da fé cristã e de outras religiões descobriram horrorizados que, em vez de serem "bons alemães" como se julgavam, eram rotulados como judeus e cidadãos de segunda classe. Contudo, fato notável é que as Leis de Nuremberg, nem em 1935 nem posteriormente, tentaram definir com precisão os judeus. Eles eram sempre descritos vagamente como "estrangeiros". Mesmo no verão de 1943, Himmler proibiu a publicação de um decreto que definia a condição de judeu. "Tal dogmatismo nos tolhe", observou ele.

A reação mundial às Leis de Nuremberg foi fortemente demonstrada. Berlim fora escolhida sede dos "Jogos Olímpicos" de 1936, mas fez-se uma representação ao Comitê Olímpico Internacional pedindo a mudança de local, alegando-se que a política do governo alemão estava em conflito com o espírito dos jogos. Hitler estava decidido a realizar as olimpíadas em Berlim e as Leis de Nuremberg foram atenuadas, para que os milhares de visitantes não testemunhassem os chocantes fatos. Os jogos foram realizados e tornaram-se um clássico nos anais olímpicos. Uma vez terminados, o fluxo de legislação anti-semita prosseguiu sistemática e impiedosamente, corroendo a posição da comunidade judaica. Firmas judias tinham de distinguir-se e registrarem-se. Judeus eram expulsos das profissões liberais e das universidades e, em muitos casos, obrigados a emigrar. Assim teve início o enorme êxodo de homens e mulheres, muitos dos quais, como Freud, Einstein e Max Planck, eram figuras de fama mundial.

Do ponto de vista nazista, a intensificação sistemática das medidas de Nuremberg não era o suficiente. Hitler estava preocupado com o efeito poluidor das finanças judias sobre a economia ariana. Portanto, os judeus tinham de ser obrigados a abandonar a atividade econômica. Mas, para fazer isto, eram necessárias leis de amplas conseqüências e estas precisavam ser justificadas não só perante a opinião pública alemã como perante a opinião mundial.

O ato seguinte do drama das relações nazistas foi provocado por um incidente fora da Alemanha. A 7 de novembro de 1938, um judeu alemão de 17 anos de idade, Herschel Grünspan, que visitava um tio em Paris, compareceu à Embaixada Alemã solicitando audiência ao embaixador, o Graf Johannes von Welczek. Um terceiro secretário, Ernst von Rath - funcionário mais importante do que um estranho, que comparecia a uma grande embaixada sem ser convidado, tinha o direito de esperar - atendeu-o. Grünspan sacou de um revólver e atirou nele, alegando mais tarde ter confundido esse jovem funcionário com o embaixador. Havia várias circunstâncias suspeitas nesse episódio: primeiro, a alegação supostamente feita pelo assassino de que tivesse confundido um homem tão jovem com o embaixador; segundo, a suposição implícita de que funcionários diplomáticos de carreira recebem visitantes desconhecidos nas escadas; e terceiro, o fato de que von Rath era um antinazista já sob vigilância da Gestapo. Ademais, na Alemanha, houve todos os indícios de que a explosão de violência subseqüente a este acontecimento havia sido intencionalmente preparada e uma das razões é que os que poderiam ter sido acusados de incitá-la haviam-se dado ao trabalho de se armar com álibis.

O Völkischer Beobachter (Observador Popular) que, sob o lema Ein Volk, Ein Reich, Ein Führer (Uma Raça, Um Estado, Um Líder), esclarecia a diretriz oficial do partido, publicou um pequeno editorial sobre o assassinato a 7 de novembro, dia em que o mesmo ocorreu. "Evidentemente", dizia ele, "o povo alemão é capaz de tirar suas próprias conclusões sobre este novo ultraje". Na noite de 9 de novembro, Hitler compareceu a um jantar em Munique, comemorativo do complô da Cervejaria de 1923, e foi lá que Josef Goebbels, Reichsminister da Propaganda e sem dúvida inspirador, se não autor daquele editorial, revelou que as represálias - referindo-se a distúrbios de rua - já estavam ocorrendo.

Depois do discurso de Goebbels, os que ali estavam reunidos não tinham muitas dúvidas de que os líderes partidários, em todos os níveis, iriam organizar e supervisionar a execução de distúrbios, ao mesmo tempo que cuidariam para não serem identificados como seus instigadores. Portanto, nisto, eles seguiam o exemplo dos seus chefes, que estavam num jantar em Munique e não se poderia ligá-los à violência. A única pessoa que não tinha esse álibi era Goering, mas ele tratou de estar num trem a caminho de Berlim, enquanto que o único homem que poderia, sozinho, pôr em ação o "pessoal da represália", Reinhard Heydrich, estava em Nuremberg. Mas existe um telegrama que ele enviou naquele dia, instruindo os chefes de policia para que cumprissem o que lhes cabia nos distúrbios que provavelmente ocorreriam. Incumbia-lhes cuidar, entre outras coisas, para que nenhuma propriedade ariana fosse danificada, impedir o saque de lojas e residências, embora permitindo sua destruição, e assegurar-se que nenhuma sinagoga fosse incendiada, se situada em lugar onde o sinistro pudesse pôr em perigo propriedades adjacentes. Outra mensagem veiculada por um dos seus assistentes mandava que a polícia do estado prendesse entre 20 a 30 mil judeus, especialmente os ricos, e tomasse os arquivos das sinagogas.

Durante aquela noite, um furacão de violência se abateu sobre os judeus em todas as grandes cidades alemães. Quadrilhas de rua, sem que a polícia as atrapalhasse, destruíram 7.500 lojas, incendiaram pelo menos 171 prédios de apartamentos e quase 200 sinagogas, incluindo a famosa e histórica, de Nuremberg, cidade onde Heydrich estava. Ele fingiu surpreender-se com a notícia.

Apenas 117 desordeiros foram presos, mas 36 judeus morreram (mais tarde este número foi aumentado para 91) e outros 36 foram feridos; 20.000 foram colocados sob custódia "para sua própria proteção". Assim, a "ira espontânea" do povo alemão pelo assassinato de um desconhecido diplomata, em Paris, voltou-se não contra os residentes franceses no país mas contra os judeus alemães.

Dos judeus detidos, cerca de 10 mil foram enviados para o campo de concentração de Buchenwald, de onde, aliás, muitos saíram mediante resgate.

Grünspan não era, sem dúvida, um subordinado da Gestapo, mas provavelmente foi instigado por um dos seus agentes provocadores para disparar o que veio a ser chamado de Kristallnacht (erroneamente traduzido como "A Noite das Vidraças Quebradas"). Na verdade, os distúrbios prosseguiram por mais de uma semana, servindo de desculpa a nova ação contra os judeus alemães, da qual logo se tirou partido.

Não se sabe ao certo que papel teria desempenhado Hitler na Kristallnacht. De qualquer modo, sua reação a ela foi típica de quem, como ele, votava aos judeus ódio cego, pois ele aceitou imediata e incondicionalmente a responsabilidade deles pelo ocorrido e mandou um diktat a Goering, instruindo-o para que a questão judaica fosse "coordenada e resolvida de uma vez por todas".

A 12 de novembro, três dias após o início dos distúrbios, com as quadrilhas ainda vagando pelas ruas, Goering convocou uma reunião, no seu Ministério da Aviação, para examinar as instruções de Hitler. As deliberações dos chefes nazistas foram interrompidas por uma questão resultante dos distúrbios: é que os prédios, em muitos casos, em que judeus exploravam seu comércio pertenciam a pessoas sem qualquer vínculo com a raça, e que sofreram prejuízos que montavam a milhões de marcos com os danos causados às suas propriedades, em particular com a quebra de vitrinas, e que passaram a cobrar às companhias de seguros. Se estas pagassem, iriam à falência; se não pagassem, a credibilidade das companhias de seguro alemãs ficaria vulnerável. Ficou então estabelecida na reunião a imposição de uma multa comunitária aos judeus para cobrir os danos - o que dá boa percepção das atitudes nacional-socialistas - e os representantes das companhias de seguro presentes à reunião receberam a promessa de Goering de que no futuro não se quebrariam tantas vitrinas.

No devido tempo, as minutas dessa reunião circularam; elas estipulavam o método de perseguição que se repetiria sempre que a ordem nazista o determinasse. Os judeus perderiam as propriedades que possuíssem, recebendo por elas ridícula compensação em dinheiro. Nas semanas e meses seguintes, as recomendações apresentadas por uma comissão escolhida e nomeada pela reunião foram postas em vigor. Os judeus foram proibidos de freqüentar escolas alemãs, cinemas e teatros. Planos seriam preparados para o recrutamento de judeus para turmas de trabalhos forçados; redigiu-se uma lei de inquilinato estipulando que a propriedade de judeus só poderia ser alugada a judeus - a base de um sistema de gueto. Independente das outras evidências, a rapidez com que estas medidas foram introduzidas após o incidente de Paris indicava que as forças do anti-semitismo estavam preparadas.

Se havia qualquer dúvida quanto ao destino que aguardava os judeus alemães, a reunião de Goering a eliminou. Anunciando a multa comunitária de um bilhão de marcos para pagar os danos, Goering disse: "Se no futuro próximo o Reich Alemão entrar em conflito com potências estrangeiras, não é preciso dizer que nós, na Alemanha, primeiramente ajustaremos contas com os judeus".

Um artigo publicado na revista das SS, Das Schwarze Korps, a 24 de novembro - uma quinzena após a reunião no gabinete de Goering - era ainda mais esclarecedor. O autor declarava que os judeus que ainda estivessem na Alemanha após o começo de uma guerra seriam "aniquilados".

Por mais importantes que possam ser essas questões raciais e ideológicas, Heydrich, Goering e seus colegas viam que, a curto prazo, poderiam obter vantagens econômicas usando os judeus para levar a efeito uma chantagem internacional de vulto. Heydrich já vinha "permitindo" a imigração de judeus em troca de pagamentos em moeda estrangeira de que a Alemanha necessitava e, desde a Kristallnacht, ele tinha 20.000 judeus sob custódia e propositadamente submetidos a tais condições, em Buchenwald, que sem dúvida estariam dispostos a pagar as quantias mais extorsivas pela liberdade.

Mas as tentativas da Alemanha de resolver seu chamado "problema judeu" não se limitavam a esforços internos. Em comum com a Romênia e a Polônia, a Alemanha tinha convencido o mundo de que outros paises poderiam ajudar na concretização do desejo em que se encontravam de se livrar de parte de sua população. Para este fim, por iniciativa do Presidente Roosevelt, realizara-se uma conferência de 32 nações, em Evian, na França, em julho de 1938, onde se discutiu o problema dos judeus indesejados naqueles três países - sem resultado. A conferência foi suspensa sem que qualquer dos países presentes se dispusesse a receber sequer as crianças judias. Para Hitler e seus anti-semitas, o fracasso da conferência, embora ainda os deixasse às voltas com seu "próprio problema judeu", era prova de que o mundo em geral não se importava com o destino dos judeus. O que os alemães fizessem então com os judeus, estariam fazendo em grande parte como que um favor aos demais países do mundo, que, pelo que demonstraram na conferência, aceitaram implicitamente a responsabilidade pelo destino dos judeus alemães. A Kristallnacht fora um resultado imediato do fracasso da reunião.

Examinou-se uma variedade de planos, todos destinados a livrar a Alemanha da sua população judia de modo a evitar a afronta direta à opinião mundial. Um plano apresentado pelo Ministro da Economia alemão, Hjalmar Schacht, para usar bens judeus no financiamento de um empréstimo para ajudar a "emigração organizada dos judeus", e que foi até Londres para exame em dezembro de 1938, fracassou quando Hitler brigou com Schacht. Outro plano foi o famoso Projeto de Madagáscar, segundo o qual os judeus alemães seriam acomodados numa "reserva" naquela colônia francesa. Diz-se que a idéia partira do Ministro das Relações Exteriores francês, que afirmou que seu governo estava pensando em mandar 10.000 judeus para lá. Nenhuma dessas propostas foi aplicada.

A Europa estava caminhando para a situação que os judeus alemães, que desde Evian sabiam não ter amigos, mais temiam: a guerra da Alemanha com as grandes potências. Ao mesmo tempo, o número de judeus em mãos alemãs estava aumentando com o acréscimo de novos territórios. A anexação da Áustria havia colocado 185.000 sob o domínio nazista e o mesmo tipo de tormenta usado no Reich foi aplicado lá. O resultado disso - satisfatório para o jovem Tenente Adolf Eichmann, que fora encarregado da emigração em Viena - foi a partida para o exterior de 45.000 judeus austríacos em oito meses, contra apenas 19.000 da própria Alemanha. Na Checoslováquia, 300.000 judeus haviam caído nas garras dos alemães e também ali, Eichmann, promovido a capitão, desdobrou-se para obrigar os judeus a deixar o país numa taxa ainda maior do que na Áustria.

E, para desestimular qualquer hesitação por parte dos que podiam dar-se ao luxo de deixar o país, Hitler acrescentou seu endosso pessoal às previsões de Goering e de Das Schwarze Korps. Ele disse ao Reichstag a 20 de janeiro de 1939: "Se os financistas judeus internacionais... tiverem novamente êxito em provocar uma guerra mundial, o resultado não será a bolchevização da terra e, assim, a vitória da judiaria, mas o aniquilamento da raça judaica na Europa inteira".

No mesmo ano deu-se a consolidação de todos os serviços de segurança, sob as SS, no chamado RSHA (Reichssicherheitshaupamt, ou Departamento Geral de Segurança do Reich), com Heydrich na sua direção. Foi no ano seguinte que se reconheceu todo o talento de Eichmann, quando ele foi nomeado chefe do Departamento IVA4b, o responsável pelos judeus, instalado em edifício próprio, de quatro andares, na Kurfürstenstrasse, n° 116.

Mas a "emigração" ainda prosseguia, o que significava apenas uma coisa: a expulsão de judeus de todos os territórios do Reich. Passagens de navio eram adquiridas pela comunidade judia em geral e os emigrantes partiam, muitas vezes com pouquíssima possibilidade de serem aceitos pelos países a que se destinavam, mas na certeza de que o retorno à Alemanha representava a morte, lenta e penosa, num campo de concentração. Com a ajuda de Conselhos Judeus, instalados onde possível (com base num existente que os alemães haviam criado em Praga), os judeus eram mantidos sob permanente vigilância. A 6 de julho de 1939, o "Décimo Decreto, suplementando a Lei de Cidadania do Reich", submeteu a união das organizações de ajuda e caridade judias, na própria Alemanha, a um departamento de estado controlado pelo RSHA. Nos termos do mesmo decreto, as firmas judias remanescentes foram expropriadas sem compensação.. Privados dos seus negócios, proibidos de exercer qualquer atividade, exceto nos batalhões de trabalhos forçados que, de qualquer modo, só poderiam absorver uma pequena proporção - cerca de um quinto - os judeus alemães, juntamente com os da Áustria e do "Protetorado" (as regiões desmembradas da República Tchecoslovaca e colocadas sob o domínio alemão) foram atirados à miséria e aos guetos que tinham sido preparados para eles pela lei de inquilinato nazista.

Já virtuais prisioneiros do estado (eles dificilmente poderiam ser chamados de reféns, porque o esforço do exterior para resgatá-los fracassara por indiferença), eles se tornaram prisioneiros reais, quando a Grã-Bretanha e a França declararam guerra à Alemanha, no dia 3 de setembro de 1939. Na verdade, a emigração, em escala limitada, para países neutros continuou, entre os judeus que conseguiam os meios e os contatos para lhes garantir entrada no território a que se destinavam; essa emigração prosseguiu, mesmo após a queda da França. Esses errantes da nova Diáspora se espalharam até Xangai, onde as forças de ocupação japonesas os encontraram, em 1942. Pela liberdade, os fugitivos tinham de pagar elevado preço, que às vezes ia diretamente para as SS - pois Himmler considerava essas trapaças legítima fonte de renda; às vezes para os bolsos de oficiais corruptos do RSHA, que forneciam os documentos necessários, quase sempre forjados. Esses "defensores" da pureza racial desenvolveram seu comércio nas barbas de Hitler, até quase o último dia da guerra.




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#24 Mensagem por Túlio » Qua Abr 05, 2006 7:59 pm

AQUILO EM QUE ACREDITO, AQUILO EM QUE NÃO ACREDITO E PORQUÊ

por Bradley R. Smith


Compreendo perfeitamente que o regime Hitleriano era anti-semita e perseguiu Judeus e outros(*). Compreendo que muitos povos - entre eles os Judeus Europeus - conheceram profundas tragédias na Europa durante a Segunda Guerra Mundial.

Contudo, eu já não acredito que o Estado Alemão seguisse um plano para matar todos os Judeus ou que tivesse usado "câmaras de gás" para o assassínio em massa.

As razões pelas quais já não acredito em nenhuma das histórias são a não existência hoje em dia de vestígios físicos de autênticas câmaras de gás homicidas, e não existem documentos do tempo da guerra que provem que alguma vez existiram. Penso que a história das câmaras de gás não passa de uma falsificação grotesca.

Durante meio século as câmaras de gás estiveram no centro da história do holocausto. São ambas completamente inseparáveis. Sem câmaras de gás não há holocausto. É a equação. É o raciocínio que suporta a afirmação feita por alguns revisionistas que o holocausto é uma fraude.

Muitos dos testemunhos oculares de atrocidades Alemãs contra Judeus e outros são confirmadamente falsos. É errado levantar falsos testemunhos contra terceiros -- a maior parte de nós foi ensinada a perceber isso quando éramos crianças. Os falsos testemunhos contra os Alemães, juntamente com quem os promove, devem ser expostos à luz da investigação pública.

A tentativa de identificar cada sugestão de debate aberto sobre a controvérsia das câmaras de gás com sentimentos anti-Judaicos é infantil. Aqueles que protestam ser mais importante a sensibilidade para com os "sobreviventes" do que a verdade histórica representam uma visão do mundo que não tem cabimento na cultura Ocidental.

Estou disposto a deixar-me convencer que estou errado em parte ou na totalidade. Estou disposto a deixar-me convencer que é odioso apresentar provas a favor ou contra as câmaras de gás. Até estou disposto a discutir a ideia de que a liberdade intelectual corrompe o discurso público quando está envolvida a controvérsia sobre as câmaras de gás.

Contudo, não estou disposto a ir-me embora. Não sei porquê, mas não estou disposto.


in CODOH (http://www.codoh.com)

(*) - Esse é um dos principais - senão o principal - dissenso de minha parte no que tange a tópicos como esse...

De resto, faço minhas as palavras do ianque aí... Força, índio véio!




"Na guerra, o psicológico está para o físico como o número três está para o um."

Napoleão Bonaparte
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#25 Mensagem por Túlio » Qua Abr 05, 2006 8:33 pm

EIS AÍ O QUE É SER REVISIONISTA: ACIMA DE TUDO, DEVE-SE SER DEMOCRATA! ALÉM DISSO, NADA DEVE SER TABU!

"O GULAG (“Glavenoe Uporavlenie Lagerei”, Administração Central dos Campos) consistia numa vasta rede de campos de trabalhos forçados que se espalhavam por todo o comprimento e toda a largura da ex-União Soviética, das ilhas do Mar Branco às costas do Mar Negro, do Círculo Ártico às planícies da Ásia Central, de Murmansk a Vorkuta e ao Cazaquistão, do centro de Moscou à periferia de Leningrado.

GULAG, com o tempo, passou a indicar também o próprio sistema soviético de trabalho escravo, em todas as suas formas e variedades: campos de trabalhos forçados, campos punitivos, campos criminais e políticos, campos femininos, campos infantis, campos de trânsito. Ou seja, todo o sistema repressivo soviético, o conjunto de procedimentos que os presos outrora denominaram como “o moedor de carne”: as prisões, os interrogatórios, o traslado em vagões de gado sem aquecimento, o trabalho forçado, a destruição de famílias, os anos de degredo e as mortes prematuras e desnecessárias.

O GULAG já existia na Rússia czarista, nas turmas de trabalho forçado que operaram na Sibéria desde o século XVII até o início do século XX. Entretanto, quase imediatamente após a Revolução de Outubro, ele assumiu sua forma moderna e mais familiar tornando-se parte integral do sistema soviético. O terror em massa contra oponentes reais ou pretensos fez parte da Revolução desde o começo. No verão de 1918, Lênin já exigira que “elementos indignos de confiança” fossem encarcerados em campos de concentração fora das cidades principais. Em 1921 já existiam 84 campos de concentração em 43 províncias, a maioria destinada a “reabilitar” esses primeiros inimigos do povo.

A partir de 1929, os campos adquiriram nova importância. Naquele ano, Stalin resolveu utilizar o trabalho forçado tanto para acelerar a industrialização da URSS quanto para explorar os recursos naturais do extremo norte, quase inabitável, do país. Também naquele ano, a polícia secreta soviética (a CHECKA), passou a assumir o controle do sistema penal, lentamente arrebatando ao Judiciário todos os campos e prisões. Com o impulso das prisões em massa de 1937 e 1938, os campos entraram num período de rápida expansão. No final da década de 1930, podiam ser encontrados em cada um dos doze fusos horários da URSS.

Ao contrário do que se imagina, o GULAG não parou de crescer no final dos anos 30. Ao invés disso, continuou a expandir-se durante toda a II Guerra Mundial e a década de 1940, atingindo seu apogeu no início dos anos 50. Nessa época os campos desempenhavam um papel crucial na economia soviética. Produziam um terço do ouro do país, boa parte do seu carvão e madeira e muito de quase tudo o mais. No decorrer da existência da URSS, surgiram pelo menos 476 complexos distintos de campos, consistindo em milhares de campos individuais, cada um deles tendo de algumas centenas a milhares de pessoas. Os presos trabalhavam em todas as atividades imagináveis – derrubada e cortes de árvores, transporte dessa madeira, mineração, construção civil, manufatura, agropecuária, projetos de aviões e peças de artilharia – e, na realidade, viviam em um Estado dentro do Estado, quase numa civilização em separado.

O GULAG tinha suas próprias leis, seus próprios costumes, sua própria moralidade, e até sua própria gíria. Gerou sua própria literatura, seus próprios vilões, seus heróis, e deixou sua marca em todos os que passaram por ele, fossem como presos, fossem como guardas. Anos depois de libertados, os habitantes do GULAG muitas vezes eram capazes de reconhecer ex-condenados na rua, simplesmente “pelo olhar”.

O número total de prisioneiros nos campos costumava girar em torno de 2 milhões, mas o número total de cidadãos soviéticos que tiveram alguma vivência dos campos, na condição de presos políticos, é muito maior. De 1919, quando o GULAG iniciou sua maior expansão, a 1953, quando morreu Stalin, as melhores estimativas indicam que cerca de 18 milhões de pessoas passaram por esse infame sistema.

Como sistema de trabalho em massa que envolveu milhões de pessoas, os campos desapareceram com a morte de Stalin. Dias após a sua morte seus sucessores começaram a desmantelá-los.

No entanto, não desapareceram por completo. Em vez disso, eles evoluíram. Durante toda a década de 1970 e começo da década de 1980, alguns foram reformulados e usados como cárcere para uma nova geração de ativistas democráticos, de nacionalistas anti-soviéticos e de criminosos. Mesmo nos anos 80, o presidente norte-americano Ronald Reagan, e seu equivalente soviético, Mikhail Gorbachev, ainda discutiam a existência dos campos da URSS. Gorbachev – ele próprio neto de prisioneiros do GULAG – só começaria a dissolver definitivamente os campos em 1987.

Embora tenham durado tanto quando a URSS e milhões de pessoas tenham passado por eles, a verdadeira história dos campos de concentração da União Soviética não era de modo algum bem conhecida até recentemente. Mesmo os fatos concisos até aqui relacionados, embora familiares à maioria dos estudiosos ocidentais da história soviética, não penetraram na consciência popular ocidental. “O conhecimento humano”, escreveu Pierre Rigoulot, historiador francês do comunismo, “não se acumula como tijolos de uma parede, que se eleva gradualmente, acompanhando o trabalho do pedreiro. Seu desenvolvimento, mas também sua estagnação ou recuo, depende da estrutura social, cultural e política” (Rigoulot, “Les Paupieres Lourdes”).

Poder-se-ia dizer que, até agora, não existia a estrutura social, cultural e política para o conhecimento do GULAG. Suas localizações eram um segredo, mas o medo que despertava era bem conhecido por russos, lituanos, poloneses, armênios e tantos outros que viveram sob a influência da ex-União Soviética.

Os campos de concentração do GULAG surgiram antes mesmo dos seus infames contrapartes nazistas, como Auschwitz, Sobibor e Treblinka mas só agora, após o colapso do comunismo, a história desse sistema de repressão e punição que aterrorizou milhões, veio à luz com toda a sua força. Embora a existência desses campos já fosse conhecida no Ocidente, graças a clássicos como “Um Dia na Vida de Ivan Denisovitch” e “Arquipélago Gulag”, do dissidente Alexander Soljenitsin, aqueles que desejarem conhecer um retrato completo e acurado de um dos maiores crimes cometidos contra a humanidade, deverão ler as 749 páginas do livro de Anne Applebaum “Gulag – Uma História dos Campos de Prisioneiros Soviéticos”, editora Ediouro, 2004, de onde foram extraídos os dados acima.

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Segundo o autor deste artigo, o regime soviético sob a direção de todos os grandes timoneiros não tem precedentes em toda a História, pois não se assemelha a nada que jamais tenha existido. Nunca um Estado teve como objetivo matar, deportar ou reduzir à servidão os seus cidadãos e nunca um partido substituiu tão completamente um Estado. Nunca uma ditadura teve um poder tão grande em nome de uma mentira tão completa e, contudo, tão poderosa e tão perfeita sobre as mentes, que fazia com que os que a temiam, ao mesmo tempo saudassem seus fundamentos.

O socialismo real cometeu uma agressão sem precedentes à civilização. Todavia, o Nurenberg dos bolcheviques não ocorreu e provavelmente jamais ocorrerá, pois as instituições jurídicas criadas pelo socialismo real que, em parte, ainda permanecem vigentes, foram de tal forma corrompidas a ponto de não permitirem iniciativas nesse sentido. E, como não existe um vencedor oficial do socialismo real, não houve e nem deverá haver um julgamento formal de seus crimes contra a Humanidade. Cabe, também, duvidar que o julgamento da História, consolo das vítimas e dos acusadores impotentes, faça, algum dia, justiça aos milhões de sacrificados no Arquipélago Gulag."


"Gulag (do russo ГУЛАГ: Главное Управление Исправительно— Трудовых Лагерей, "Glavnoye Upravleniye Ispravitelno-trudovykh Lagerey", "Direção Principal [ou Administração] dos Campos de Trabalho Corretivo") era um sistema de campos de trabalhos forçados para criminosos e presos políticos da União Soviética, à semelhança dos campos nazistas. Este sistema funcionou de 1918 até 1956. Foram aprisionadas milhões de pessoas, muitas delas vítimas das perseguições de Stalin.




"Na guerra, o psicológico está para o físico como o número três está para o um."

Napoleão Bonaparte
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#26 Mensagem por Clermont » Sex Abr 07, 2006 9:31 pm

GENOCÍDIO – A DESTRUIÇÃO DAS MINORIAS – parte 3.

Ward Rutherford (digitado por Adolfo Luna Neto)

Começa o movimento para o leste

Por estranho que pareça, os judeus imaginavam perfeitamente justificável a esperança de que a eclosão da guerra lhes aliviasse as penas, pois os líderes alemães estariam por demais preocupados para continuar a persegui-los. E não poderia haver lugar para eles num grande conflito, como acontecera em 1914? Essas esperanças não eram de todo infundadas, pois a guerra trouxe certa melhora para pequeno setor da população judaica. Houve tal escassez de médicos e dentistas, que se tornou necessário devolver muitos judeus à prática da profissão.

Contudo, na Polônia, onde havia três milhões de judeus, o maior grupo até então encurralado pelos alemães, a história foi diferente. À medida que os alemães avançavam, os pogrom, como os da Kristallnacht, embora em escala imensuravelmente maior, ganharam impulso, já agora sem considerar a possibilidade de produzir danos a propriedades alemãs. A população das cidades polonesas, à medida que eram invadidas, sentia-se encorajada a descarregar seus sentimentos pela derrota e ocupação contra os judeus. As histórias fabricadas pelos alemães diziam que eles é que haviam traído a Polônia. Isto aconteceu a despeito de, in extremis, tendo o governo polonês oferecido garantias e feito promessas à população judaica, que perseguira e maltratara durante três séculos, milhares deles se terem alistado nas forças polonesas, tombando 30.000 deles nas três semanas de luta.

Os que se entregaram aos pogrom eram os anti-semitas locais mais perniciosos, em geral criminosos conhecidos, estimulados por alguns rufiões do exército alemão. Contudo, a verdadeira sombra inspiradora de toda essa reação era sem dúvida Heydrich, que fornecia os agitadores profissionais.

Mesmo onde os habitantes locais não participavam, os nazistas observaram, com satisfação, que eles eram menos sensíveis do que os alemães ao sofrimento dos judeus, assistindo sem se deixar sensibilizar aos excessos contra eles cometidos. O anti-semitismo polonês ocasionou a separação total das duas comunidades, de modo que não se registravam protestos por parte dos poloneses em defesa dos seus "bons judeus", um hábito alemão que havia sido alvo de muita demonstração de desprezo por parte de Himmler, Heydrich e Eichmann. Alguns protestos que ocorreram partiram de elementos do exército alemão.

Se o papel de Heydrich como maligno marionetista por trás dos pogrom é conjetural, elementos das suas forças e das SS desempenharam papéis mais evidentes. Durante a anexação da Áustria, supostamente para dar boas-vindas aos seus concidadãos, fortes medidas de repressão foram consideradas necessárias para que o país fosse submetido sem problemas. Para ajudar nessa tarefa, organizaram-se forças-tarefas motorizadas da Polícia de Segurança e do Serviço de Segurança (SD), com "deveres especiais de policia política", como rezava o documento oficial para tanto aprovado. Estes Grupos de Ação móveis (ou Einsatzgruppen) provaram tão completamente a sua eficiência. que foram utilizados nos Sudetos e na Tchecoslováquia, com ordem para reproduzir nestes dois lugares o desempenho demonstrado na Polônia, onde sua missão foi classificada como "a supressão de todos os elementos hostis ao Reich e à Alemanha atrás da linha de batalha". Era evidente, aqui como em outros lugares, quem estava incluído na lista dos "elementos hostis ao Reich". Não foram ordenadas especificamente execuções de judeus na Polônia. Aliás, as linhas de controle não estavam tão claramente demarcadas nessa campanha, como o foram mais tarde, de modo que, tecnicamente, elas ficaram sob o controle dos comandantes-de-exército, embora as ordens na realidade fossem dadas por Himmler. Contudo, as atividades combinadas contra os judeus da Polônia haviam provocado cerca de 250.000 baixas de setembro até o fim de 1939.

Desde o começo da campanha, um Einsatzgruppe estava realizando, por iniciativa própria, fuzilamentos em massa. Essa unidade, comandada pelo Tenente-Coronel Udo von Woyrsch, mais tarde foi retirada a pedido do exército. A 24 de outubro, um batalhão das SS, em Wloclawek, tendo obrigado os judeus locais a usar um sinal distintivo (a primeira experiência com a estrela amarela de Davi, mais tarde universalizada), prendeu cerca de 800 e fuzilou muitos deles "quando tentavam fugir".

Num incidente anterior, embora menor, ocorrido a 14 de setembro, 50 judeus foram levados para dentro de uma sinagoga e fuzilados. Os perpetradores do crime - homens das SS - foram submetidos a julgamento, sendo, porém, perdoados pela anistia geral decretada por Hitler a 4 de outubro.

Até essa época, atrocidades eram cometidas esporadicamente, sem no entanto denunciar que por trás delas houvesse um plano que as sistematizariam. Mas a 21 de setembro foi tomada a primeira providência evidentemente planejada: esta foi um relatório de uma conferência secreta presidida por Heydrich, e que circulou entre os comandantes-de-exército mais graduados na Polônia. O plano se cumpriria em três etapas: (I) o movimento de todos os judeus para "comunidades" (um eufemismo designativo de "guetos") de não menos de 500 pessoas cada uma e próximas de linhas férreas; (II) a nomeação de Conselhos Judeus e (III) o registro de todos os judeus pelos Einsatzgruppen. Os judeus do Reich seriam deportados para a Polônia - a primeira lufada daquele vento cortante que sopraria sobre os judeus nos anos seguintes. É significativo que Heydrich classificasse como "provisórias" tais providências, pois haveria, disse ele, um "objetivo final", cuja realização demoraria mais. Este relatório, tomado em conjunto com a ordem de situar as "comunidades" perto de linhas férreas, tem levado comentaristas à conclusão de que o "objetivo final" era realmente a Solução Final - o total extermínio dos judeus. Mas, neste estágio, a providência era encarada como medida destinada a facilitar a colocação dessa gente numa reserva judaica a ser criada em Lublin.

Na medida do possível, em meio à guerra, ainda havia tentativas para forçar a emigração judia. Mesmo na Polônia houve esforços para empurrá-los para além de uma linha de demarcação entre os setores alemão e russo - pois também os russos haviam marchado sobre as províncias orientais da Polônia. Grandes grupos de judeus foram levados a atravessar para a outra margem do Rio San, que marcava essa fronteira na maior parte do seu curso. Alguns tiveram a sorte de lhes permitirem passar; outros, mais tarde, foram recapturados pelos alemães, na guerra com a Rússia; alguns conseguiram chegar à segurança das fábricas de armamentos nos Urais e na Sibéria. Os que não puderam entrar, foram obrigados a cruzar novamente o San ou o Bug, sendo muitos deles fuzilados, quando não acontecia serem mortos por afogamento. Os poucos que evitaram esses dois destinos foram aprisionados.

O resultado da vitória alemã na Polônia fora a divisão da região do país submetida a seu controle em duas partes: as províncias polonesas mais ocidentais, até Lodz, foram incorporadas ao Reich; o resto da Polônia transformou-se no "Governo-Geral", uma espécie de grande lixeira humana, com oportunidades obviamente tentadoras para as experiências demográficas com que Hitler e Himmler há muito sonhavam. Estas estavam para ser realizadas através de um plano conhecido como o "Fortalecimento do Povo Alemão" para o qual Himmler foi nomeado Reichskommissar a 12 de outubro. Este plano acarretaria movimentos de populações inteiras. Os alemães que se encontravam no exterior seriam trazidos de volta e colocados em colônias criadas nos territórios poloneses incorporados à Alemanha. Os poloneses já ali instalados (com suas terras confiscadas) seriam subjugados por meios tão irrealistas quanto brutais, visando-se também à deportação em massa de judeus para a região do Governo-Geral.

A execução do reagrupamento dos judeus planejado por Heydrich na realidade foi mais lenta do que ele imaginara, pois sempre fora um planejador totalmente irrealista. Somente em setembro do ano seguinte é que foi emitida a ordem geral que delimitava a área de residência judaica, abrindo caminho para colocá-los nos guetos. Uma das causas do atraso foi que Hans Frank, nomeado por Hitler para dirigir a administração civil do Governo-Geral, que estava agora macaqueando um rei medieval no Palácio Wawel, em Cracóvia, sua nova capital, compartilhava da aversão de muitos alemães pelas SS. No caso de Hans, a aversão se baseava menos em considerações de ordem humanitária do que na inveja que o poder e influência dessa corporação lhe despertavam. Assim que soube do plano, ele protestou contra a intenção de Himmler de colocar os judeus do Reich em seu domínio.

A 26 de outubro de 1939 introduziu-se na Polônia o sistema do trabalho forçado (sem remuneração) para todos os judeus entre os 14 e 60 anos de idade; a 23 de novembro, os judeus e empresas judaicas foram obrigados a ostentar um sinal característico. No caso de indivíduos, era uma braçadeira com uma estrela de Davi amarela - só dois anos mais tarde é que tais sinais foram introduzidos no oeste. A 11 de dezembro, promulgou-se toda uma série de regulamentos destinados a restringir a liberdade de movimento dos judeus e, a 26 de janeiro de 1940; eles foram proibidos de se utilizar de trens - regulamento que se mostrou impossível de ser cumprido.

Nos territórios poloneses incorporados ao Reich havia cerca de 650.000 judeus, dos quais, anunciou Himmler, 500.000 seriam expulsos para o Governo-Geral da Polônia, a despeito dos protestos de Frank. Ele cumpriu a palavra, tendo início a deportação antes do fim de 1939, prosseguindo até o mês de março seguinte, embora houvesse ligeira interrupção, em janeiro, quando a administração civil de Frank recebeu a adesão dos protestos do Serviço de Economia e Armamentos do exército. Estes protestos do exército, baseados no fato de as deportações o privarem de pessoal especializado na Alemanha, continuariam, sendo em princípio aceitos por Heydrich e Himmler, que depois entenderam que o exército estava usando o artifício para salvar judeus do destino planejado para eles. Contudo, nessa época o exército não era a única fonte de protestos. Outras representações foram feitas por funcionários das ferrovias estatais, que afirmavam que o deslocamento das grandes levas de judeus prejudicavam outras necessidades de guerra - argumento justificado, especialmente mais tarde.

Nessa época, a principal área de recepção dos deportados, no Governo-Geral, ficava perto de Lublin, local da "reserva" judia - outro dos projetos discutidos, iniciados e depois abandonados, isto no começo de 1940, porque logo se mostrou impraticável para tão grande número de pessoas.

Nem todos os judeus que demandavam o leste vinham da Polônia, alguns provinham da Tchecoslováquia, da Áustria e mesmo da própria Alemanha. Eles eram numerosos demais para que as áreas reservadas pudessem absorvê-los - questão que provocou mais protestos de Frank, por motivos puramente administrativos, e protestos humanitários do Comandante-de-Exército no Leste, marechal-de-campo Blaskowitz. Muita gente, informou ele, estava morrendo de fome nos locais de recepção; crianças morriam de frio nos trens de deportação. Apesar disso, Hitler disse ao correspondente de um jornal americano, após o abandono do plano, que a fundação de um estado judeu os obrigaria a "viver em espaço tão reduzido, em tão grande promiscuidade, que lhes seria impossível atingir um padrão de vida tolerável".

Destino pior aguardava os judeus alemães deslocados de áreas como Stettin e Schneidermuhl para a zona do Governo-Geral em pleno inverno. Cerca de 1.360 deles foram obrigados a marchar durante 14 horas sobre neve. Por volta de março, 230 estavam mortos, muitos deles crianças de tenra idade. Que os alemães se importavam ainda com a opinião pública mundial, a respeito do problema, provam a rapidez e veemência com que procuravam negar o noticiário da imprensa neutra sobre as deportações e o que representavam em termos de sacrifício para os deportados. Preocupava-os também a possibilidade de que tais informes chegassem ao conhecimento dos russos, por desconhecerem a opinião destes sobre o assunto.

Uma vez em Lublin, Himmler tinha planos particulares para os migrantes. Desde a anexação da Áustria em 1938, que levara grande número de dissidentes políticos para os campos de concentração, Himmler e colegas começaram a preocupar-se com os benefícios do trabalho desse contingente não utilizado. As primeiras propostas apresentadas para o aproveitamento dessa gente sugeriam o seu emprego na fabricação de tijolos (imitando assim os antigos senhores de escravos dos judeus, os egípcios) e na exploração de pedreiras; mas, à medida que a ambição aumentava dentro da liderança nazista, surgiram projetos melhor elaborados. Himmler, por exemplo, ansiava por aumentar as fontes de renda das SS, caso estas deixassem de ser a menina dos olhos do Führer. Mas nenhum dos planos ambiciosos instituídos ou discutidos jamais chegou a ser plenamente executado, sobretudo porque para muita gente, inclusive Heydrich, o trabalho forçado era apenas outra maneira de eliminar os indesejados.

Contudo, Odilo Globocnik, chefe das SS e Chefe de Polícia em Lublin, começou a organizar o trabalho forçado segundo diretrizes que ele considerava promissoras e lucrativas. Ao mesmo tempo, o tráfico de judeus passou a ser feito de duas maneiras, quando cerca de 57.000 judeus poloneses, considerados aptos para trabalhar, foram levados para a Alemanha nas primeiras seis semanas da ocupação. Muitos foram empregados nas fábricas de material bélico da Wehrmacht.

O Major-General SS Globocnik, indivíduo semi-analfabeto, bêbado e com talento para o logro e a conspiração, usaria o trabalho judeu de parceria com vários empresários alemães tão corruptos quanto ele, e faria fortuna antes de ser demitido. Ele considerava o Governo-Geral e, sobretudo, Lublin um campo especial para o exercício da grande vocação que possuía para o logro.

Portanto, tudo planejado, teve início o programa de deportação e "recolonização", o desumano regime de escravização de pessoas humanas que continuaria até os últimos instantes da guerra.

O tratamento dispensado pelos alemães aos judeus obedeceu a uma série de etapas cuidadosamente graduadas. A emigração e deportação era uma delas, e os judeus já na área do Governo-Geral começaram a ser obrigados, em parte por pressões externas desenvolvidas com esta finalidade, em parte pelo instinto gregário que sempre se manifesta em tempos de desastre, a entrar na segunda fase: o encerramento em guetos.

O primeiro deles ficava em Varsóvia. A área escolhida, de acordo com o gosto nazista pelo tradicional, era a que incluía o local do gueto medieval, e também, porque houvesse em Varsóvia muito mais judeus que na Idade Média, parte da antiga área industrial da cidade, incluindo sua estação ferroviária. A verdadeira intenção da "recolonização" foi disfarçada com o risível argumento de que os judeus ali colocados estavam de quarentena, por serem mais sujeitos a doenças do que os outros. Assim, em setembro de 1940, a zona de "quarentena" encerrava, além de 240.000 judeus, 80.000 não-judeus poloneses atrás dos seus alambrados e cercas. No mês seguinte, abandonou-se o pretexto da quarentena, e os poloneses foram expulsos do gueto. O lugar por eles deixado foi ocupado por 120.000 judeus. A promiscuidade e o anti-higiênico subiram a níveis espantosos.

Guetos semelhantes foram criados em outras cidades sob o controle do Governo-Geral: Cracóvia, Lublin, Radom e Lwow. Dificilmente, pensavam os nazistas, os que sub-viviam nos guetos resistiriam ao poluente, à promiscuidade e à fome que a todos eles iam aturdir. Isto mostrou-se impraticável por duas razões primeira, embora os judeus na Alemanha, Áustria e Tchecoslováquia não representassem mais de um ou dois por cento da população total, na Polônia eles representavam 10 por cento e, em algumas cidades, até 25 por cento. A despeito da sua segregação, havia entre os judeus, profissionais de diversas atividades, que se colocaram a serviço dos segregados nos guetos de modo que espantava seus perseguidores, que se haviam deixado convencer pela propaganda dos próprios nazistas que rotulava o judeu de comerciante parasita, esperto e especulador. Mas os judeus poloneses, vivendo numa sociedade em grande parte hostil, haviam-se tornado mestres consumados na arte da sobrevivência, contribuindo muito para a comunidade geral. Assim, quando se tratava da aplicação prática de anti-semitismo, a hostilidade menos organizada dos poloneses vacilava. As medidas que de início haviam acolhido começaram a causar-lhes problemas, pois deixaram de contar com a colaboração de gente que lhes era necessária para sobreviver sob ocupação repressiva. (Como poloneses eslavos, eles eram considerados apenas um degrau acima dos judeus na escala racial alemã, e os poloneses e judeus normalmente eram considerados em conjunto nos planos alemães de recolonização). Sem perceberem, os poloneses se haviam tornado dependentes da habilidade dos judeus e passaram a ter menos entusiasmo por esse aspecto da política nazista que até então se mostravam dispostos a aceitar.

Mesmo assim, foi tentada a política da fome, que levou a incontáveis mortes; entretanto, mesmo depois da introdução da execução sumária para quaisquer judeus surpreendidos fora do gueto ou que se aproximassem demais do alambrado, não era possível impedir o comércio com o mundo exterior. Neste aspecto, os próprios guardas das SS mostraram-se longe de serem incorruptíveis.

Em meio a dificuldades extremas, o Conselho Judeu conseguiu manter no interior do gueto certa administração. Para começar, criaram serviços como escolas, hospitais, restaurantes do mercado negro, cafés, boates e bordéis; estes últimos luxos eram mantidos em grande parte com a ajuda da Gestapo, que obtinha lucros tentadores com esse tipo de comércio. Nessa época, os alemães chegavam mesmo a permitir a introdução nos guetos de pacotes do exterior, embora isto, mais tarde, fosse proibido. O correio alemão passou a recusar toda a correspondência destinada ao gueto, dando como razão para estas providências "o receio de epidemias".

A deterioração da vida nos guetos acentuava-se cada vez mais, à medida que para lá convergiam quantidades sempre crescentes de judeus provindos do Reich e de outros lugares. Havia fábricas dentro dos guetos e fora deles, às quais os judeus tinham permissão de ir diariamente, mas tais fábricas não tinham capacidade para dar trabalho a tanta gente desempregada. Os Conselhos Judeus instalaram cozinhas de campanha para fornecer uma sopa ás vezes feita de feno, mas, por fim, tiveram de fechar. A desnutrição era a causa mais comum dos óbitos ali registrados. Todos os dias encontravam-se cadáveres pelas ruas, em geral despidos, para que outros semifantasmas pudessem encobrir a quase nudez em que se encontravam.

Nessas circunstâncias, os alemães viam-se continuamente atribulados pelo medo de uma peste: se as mortes no gueto superassem a capacidade dos serviços de sepultamento, que aconteceria então? Ademais, aguardava-se a chegada de número muito maior de judeus, vindos do leste, se, como se esperava, Goering suspendesse a proibição das deportações, imposta depois que um jornal suíço abriu manchetes a respeito. Também havia outras razões para se esperar que esse número logo aumentasse consideravelmente. A invasão da Dinamarca e Noruega, na primavera de 1940, e depois da França e dos Países Baixos, colocou todos esses paises sob o tacão nazista.

Contudo, Heydrich e seu departamento nunca estavam muito distantes dos acontecimentos e, ambicioso como era, Heydrich sem dúvida acolhia sempre bem o aumento do seu império, a despeito dos problemas que lhe traziam - durante seis semanas, após o 10 de maio de 1940, 350.000 judeus caíram em mãos alemãs, dos quais cerca de 120.000 eram refugiados da própria Alemanha. A primeira reação de Heydrich a esse problema foi usar a zona de Vichy, na França não-ocupada, segundo os termos do armistício, para sua "recolonizaçâo", tal como a zona do Governo-Geral da Polônia fora usada como monturo. Em conseqüência, não se impôs qualquer impedimento aos que procuravam deixar a Zona Ocupada para irem para lá. Isto continuou depois que o Governo de Vichy promulgou um Statut des Juifs a 4 de outubro de 1940, que ordenava o internamento de refugiados judeus (a população nativa, como cidadãos franceses, gozava da proteção da lei); 40.000 desses judeus estrangeiros foram internados em campos instalados em Gurs, Les Milles e Rivesaltes e, desse modo, privados da liberdade e dos direitos civis. Heydrich superou-se mandando 7.450 judeus do Reich para a Zona Não-Ocupada, a 22 de outubro; destes, muitos morreram na viagem. Mas os franceses, temendo o recrudescimento dessa prática, protestaram vigorosamente, impedindo que prosseguisse.

Hitler, tão obcecado estava pela idéia de que os judeus eram agentes de conspirações internacionais, que admitiu que os judeus ocidentais caídos em suas mãos pudessem ser usados como reféns para neutralizá-las. Aliás, os reféns eram outra das suas obsessões e, num estágio da guerra, ele deportou famílias inglesas das ilhas anglo-normandas com a intenção de transformá-las em reféns contra os bombardeios do Reich pelos britânicos, distribuindo-as pelas cidades maiores. Ele acreditava seriamente que os judeus europeus, nesse plano anterior, pudessem ser mantidos em Lublin ou em outro lugar, onde constituiriam garantias do "bom comportamento" dos judeus americanos. O plano deu em nada.

Heydrich, proibido que fora de despejar judeus na França de Vichy, tentara introduzir o padrão clássico de organizar a população judia na Zona Ocupada da França, consolidando as organizações de caridade e criando Conselhos Judeus. A tática nunca funcionou como funcionara em outros lugares, porque os funcionários do governo francês, cuja cooperação era essencial, não tinham estômago para suportar a tal ponto a pureza racial dos ocupantes. Nenhum judeu francês daria seu nome aos Conselhos Judeus e mesmo nos círculos pró-Vichy havia muita gente disposta a ajudar os judeus, enquanto que os judeus franceses naturalizados continuavam sendo considerados cidadãos franceses. Os que os alemães podiam pegar eram refugiados que não estavam no país por tempo suficiente para terem preparado seus papéis de naturalização. Os alemães queriam a todo custo fazer que franceses dessem a impressão de se terem voltado contra os judeus franceses e os estavam tratando como foram tratados na Alemanha, Áustria, Tchecoslováquia e Polônia. Nisto eles eram constantemente frustrados e devido à sua frustração, embora se fizessem tentativas e alguns judeus fossem impiedosamente executados, a perseguição dos judeus na França redundou em fracasso.

Em outras partes da Europa ocupada, o departamento de Heydrich estava agindo de várias maneiras, nos dias após a vitória alemã, para pôr em desenvolvimento as medidas planejadas, tentando incluir as novas levas de judeus aprisionados num programa geral. Isto tinha pouco que ver com as atitudes nacionais em relação aos judeus; praticamente em toda a Europa setentrional e ocidental não era grande o entusiasmo pela perseguição a judeus e mesmo na Alemanha, cujo povo fora submetido a oito anos de propaganda nazista, havia muita omissão e covardia moral diante da injustiça vil, mas também muita aversão a isso. Assim, durante toda a guerra houve famílias alemãs que ocultaram judeus, famílias de todas as camadas da sociedade, entre as quais se encontrava pelo menos uma família de aristocratas prussianos cujo chefe era um general da ativa da Wehrmacht.

Os sucessos e fracassos dos esforços de Heydrich na Europa ocupada variavam de acordo com o tipo de ocupação a que o país era submetido e a espécie de organização judia que ali existia antes. Assim, na Holanda, onde, ao contrário da França, todo o governo do país estava sob supervisão alemã, com um governo-títere holandês que em nada desobedecia ao dominador, a prisão e subseqüente deportação dos judeus foram feitas, a despeito da proibição do Cardeal-Arcebispo aos policiais católicos que participavam dessa atividade (sua recusa muitas vezes lhes custava o emprego) e da aversão do povo holandês por esse tipo de perseguição. A vizinha Bélgica estava nas mãos de uma administração militar e seu Governador alemão, o General von Falkenhausen, era um adversário franco do nacional-socialismo. Ali, menos de um terço dos judeus do país foi arrebanhado. Na Dinamarca e na Noruega foi diferente. A primeira era considerada um país neutro sob ocupação alemã. A Noruega, embora governada por um Reichskommissar, como a Holanda, era adjacente à neutra Suécia que, durante toda a guerra, deixou sua porta entreaberta aos refugiados judeus, chegando mesmo a organizar e distribuir abertamente papéis de naturalização suecos através do seu consulado. Isto, ajudado pelo fato de ser pequena a sua população de raça judaica e de serem os noruegueses contra o anti-semitismo, como os holandeses, contribuiu para frustrar os objetivos de Heydrich.

Aí estão algumas exceções de uma história quase que totalmente sinistra.

A amargura dos judeus permanecia na ordem do dia, na mesa de planejamento dos nazistas, que outro absurdo fabricaram: a renovação do Plano Madagáscar de 1938. Com a França, a quem a ilha pertencia, sob ocupação, os alemães acreditavam que tal plano era uma possibilidade e propuseram enviar para lá os "judeus ocidentais", que seriam mantidos como reféns internacionais. Os estudos de viabilidade foram iniciados no verão de 1940 por Adolf Eichmann e duraram quase um ano. Com os mares patrulhados pela marinha britânica, a possibilidade de eles deslocarem 4 milhões de pessoas - o número projetado - para uma ilha ao largo da costa oriental africana jamais pareceu muito viável. Ninguém sabia, por exemplo, onde a Alemanha encontraria navios suficientes para levar a efeito esse projeto.

Um segundo plano, também examinado nessa época, porém jamais investigado a sério, previa a criação de uma Pátria Nacional Judia na Palestina. Para este, as dificuldades eram ainda maiores. A Palestina, predominantemente árabe, ainda estava em poder dos britânicos - por mandato da Liga das Nações - e a administração britânica da região deixara claro que não aceitaria mais que uns poucos refugiados judeus, por temer ofender os árabes, política que contribuiria imensamente para aumentar o sofrimento dos judeus, antes e depois da guerra. Ademais, acreditava-se que isto pudesse levar a Palestina - com o nome de Israel - a tornar-se uma espécie de Vaticano judaico.

Nenhum dos dois planos se tornou realidade, embora fosse o projeto da Palestina de tal modo comentado que deu motivo a boatos que de vez em quando percorriam os guetos, enchendo de vã esperança o coração dos que começavam a desesperar.

A versão de que os dois planos não passavam de "disfarce" é apoiada por duas testemunhas: Himmler (informado a respeito pelo seu massagista, Felix Kersten) e Baldur von Schirach, gauleiter de Viena. Hitler esteve com esses dois homens no verão de 1940, quando da queda da França. A von Schirach, o Führer confidenciou que pretendia recolocar os judeus vienenses no Governo-Geral da Polônia, mas a Himmler ele deu a tarefa do extermínio progressivo dos judeus europeus. Se o Projeto Madagáscar foi sequer mencionado nessa reunião, deve ter sido rechaçado sumariamente. A instrução de Himmler recebeu a sanção formal de uma "Ordem do Führer".

Desde o começo haveria dois instrumentos principais de destruição: "redução natural" (o termo feliz de Heydrich), pelo mortífero esforço desenvolvido nas turmas de trabalho forçado, e a liquidação dos sobreviventes em campos de concentração designados e equipados para a tarefa. Um terceiro método, posteriormente introduzido nos planos, consistia em ampliar as atribuições dos Einsatzgruppen do SD, que tinham a função de "limpar" as áreas deixadas para trás pelo exército. Vários grupos foram criados, um deles dirigido pelo Coronel SS, Professor Dr. Franz Six, ex-diretor da Faculdade de Economia da Universidade de Berlim, com a incumbência de controlar o Grupo de Ação que seria enviado à Grã-Bretanha após a invasão. O treinamento, em cursos intensivos especiais, foi ministrado em Prezsch, perto de Leipzig.

Quanto aos outros métodos de extermínio, os locais para serem desenvolvidos já haviam sido escolhidos, e um deles, Auschwitz, começou a funcionar como campo de concentração na primavera de 1940. Os outros ficariam em Treblinka, Sobibor, Chelmno e Belsec - todos, exceto Chelmno, no Governo-Geral. Para liquidar os judeus da "reserva" de Lublin haveria instalações no campo de trabalho de Majdanek.

O comandante que Himmler nomeou para Auschwitz, Tenente-Coronel SS Rudolf Höss, era um homem a seu gosto: cheio de planos tão grandiosos quanto irrealistas, incluindo um para estabelecer uma estação de pesquisa agrícola no campo, que se especializaria no cultivo de plantas e criação de gado.

Além dos locais, impunha-se o recrutamento de pessoal treinado para os assassinatos em massa e eliminação dos cadáveres (isto, em particular, causaria um problema). Aos alemães não era estranha a torpe atividade, pois desde 1939 eles a vinham praticando. Usavam a câmara de gás para eliminar judeus ou arianos considerados incuráveis, segundo o programa de eutanásia. Hitler, como sugere o comentário sobre os judeus registrado no Mein Kampf, tendo sofrido os efeitos do gás na Primeira Guerra Mundial, tinha uma fixação pelo assunto. Os métodos usados nos institutos de eutanásia incluíam até o monóxido de carbono.

Hitler, em deferência à opinião pública, anunciou a supressão de tal programa em agosto de 1941 - embora ele prosseguisse sob novo disfarce. Entretanto, isto significava que o pessoal do instituto estaria disponível para o extermínio dos judeus. Aliás, ele já estava sendo usado para esta finalidade, pois os incapacitados para o trabalho eram despachados para o "instituto" mais próximo, numa viagem sem volta. A quantidade dos enviados a estas usinas da morte atingiu tais proporções que levou a um impertinente protesto do diretor de um dos institutos sobre o excesso de trabalho do seu pessoal.

Enquanto se faziam esses preparativos, na Alemanha e em toda a Europa ocupada recrudesceram as medidas anti-semitas. Na França, Holanda e Bélgica iniciou-se o registro dos judeus; os guetos poloneses foram murados.

Na sua maioria, essas providências foram executadas sem incidentes, mas não de todo. Em fevereiro de 1941, a polícia alemã, com a milícia de colaboracionistas holandeses, começou a revistar as casas no quarteirão judaico de Amsterdã porque, segundo se dizia, haviam feito disparos de uma janela. Quando viram o que acontecia, os trabalhadores holandeses de uma fábrica das proximidades foram dar auxílio aos judeus e, na refrega, um miliciano holandês foi morto. Houve outros conflitos quando os alemães prepararam um enorme funeral para o morto; 390 judeus, todos jovens, foram presos como reféns, provocando uma greve geral que abrangeu a cidade inteira. Os alemães foram obrigados a trazer policiais e tropas das SS da Alemanha. Sessenta holandeses foram enviados para campos de concentração, juntamente com os 390 reféns judeus. A maioria deles morreu antes do término do ano em que isto se verificou, 1941.

Como parte do processo de recrudescimento das medidas anti-semitas, a 14 de maio 3.600 judeus parisienses foram internados - ato que provocou muita contrariedade em Vichy e criou problemas nos entendimentos diários que os alemães mantinham com o governo Pétain.




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#27 Mensagem por Clermont » Qua Abr 12, 2006 10:53 pm

A LUTA CONTRA A NEGAÇÃO DO HOLOCAUSTO.

Por Raffi Berg – BBC News - 14 April, 2005

Belsen foi o primeiro campo da morte tomado pelos aliados ocidentais e relatos de primeira mão das sepulturas coletivas, pilhas de cadáveres e sobreviventes emaciados e doentes, se espalharam rapidamente pelo mundo.

Richard Dimbleby da BBC descreveu as pessoas mortas e moribundas sobre um acre de terreno, enquanto o correspondente de rádio americano, Patrick Gordon Walker descrevia o campo como um “buraco do inferno”, complementando que isso não era propaganda, mas “a verdade pura e simples”.

Mas, no século XXI, enquanto esses eventos mergulham na história e o número de sobreviventes do Holocausto rareia, há pessoas que negam que esses crimes tenham ocorrido – e essa é uma tendência que alguns especialistas dizem ser crescente.

“O revisionismo do Holocausto está se espalhando, e não somente entre neo-nazistas,” disse Kate Taylor, da publicação anti-fascista “Searchlight”, ao website da BBC News.

“Enquanto os sobreviventes morrem cada vez mais, é muito fácil seqüestrar a história para qualquer causa ou propósito.”

A internet tem desempenhado um papel nisso.

Enquanto publicações divulgando a negação do Holocausto estavam previamente confinadas a parafernália de ódio racial de grupos extremistas, o mesmo material agora está prontamente disponível na web.

Uma das primeiras e mais infames publicações negando o Holocausto foi um livreto pseudo-acadêmico de 32 páginas, intitulado “Seis Milhões Realmente Morreram?”, impresso pela primeira vez na Inglaterra em 1974.

Ele desconsidera os campos de concentração como “mitologia”, rejeita o Diário de Anne Frank como uma fraude e afirma que os judeus não foram exterminados, e sim emigraram da Alemanha Nazista com a ajuda de um governo benevolente.

O livreto foi amplamente banido mas ressurgiu em forma eletrônica na Internet.

Kay Andrews, do Centro Educacional do Holocausto do Reino Unido disse que os sites de negação do Holocausto, sutilmente questionando fatos, podem iludir pessoas jovens que o grupo dela tenta educar.

“Com a Internet, você precisa ser razoavelmente bem-educado para poder ver através do que os website revisionistas estão tentando fazer,” diz ela.

“Eu acho que tão logo você olhe para eles com atenção você pode desconsiderá-los, mas parte do problema que nós achamos é que os professores mandam seus pupilos fazerem pesquisas na Internet e sem guiá-los para sites específicos.

“Assim, como resultado, garotos pôem o Holocausto na mecanismo de buscas, e recebem todo esse material, e aos 14 anos eles não são maduros o bastante para fazer distinção entre um site negacionista e um site mais legítimo.”

NEGACIONISMO CONDENADO?

Entretanto, o eminente historiador britânico Sir Martin Gilbert acredita que a incansável coleta de fatos sobre o Holocausto irá, por fim, confinar os negacionistas à história.

“Eu não acho que a negação do Holocausto seja, realmente, um problema devido ao incrível estado das memórias sobreviventes,” ele disse ao website da BBC News.

“O número de negacionistas e a quantidade da literatura negacionista é minúscula comparada com a literatura séria, não apenas as memórias, mas os livros de história, os livros especializados, e livros que tem apelo a todos os grupos etários sobre o Holocausto.

“Há um tremendo montante de material e alguns deles são escritos para pessoas jovens e adolescentes – nesse sentido os negadores do Holocausto perderam totalmente.”

Por um período de muitos anos, o museu Yad Vashem de Jerusalém, documentou as vidas de mais de três milhões de vítimas do Holocausto.

Mais recentemente, a Fundação de História Visual do Shoah [Holocausto] (VHF) registrou mais de 50 mil entrevistas em vídeo com sobreviventes e testemunhas do Holocausto.

Ponto de virada

Mas o presidente da VHF, Doug Greenberg é menos confiante sobre o futuro do que Martin Gilbert.

No lado positivo, ele nota que em 2000, um juiz britânico rejeitou uma ação iniciada pelo notório revisionista britânico, David Irving, contra a historiadora americana Deborah Lipstadt, que o havia chamado de “o mais perigoso porta-voz da negação do Holocausto”.

“A coisa mais importante que aconteceu em termos de negação do Holocausto é o julgamento de David Irving,” Greenberg contou ao website da BBC News.

“Porque uma corte legal britânica disse, com efeito, que a negação do Holocausto não é uma forma válida de olhar para o passado.”

De outro lado, ele diz, nós não podemos dizer o quanto a história será esquecida nos anos que virão.

“Em cinqüenta anos no futuro, não apenas não existirá mais nenhum sobrevivente vivo, não haverá ninguém vivo que até mesmo tenha conhecido um sobrevivente, e é aí que repousa o perigo,” disse ele.

O medo de que os negacionistas possam ganhar a vantagem levou um guarda de campo das SS, Oskar Groening, a romper uma vida inteira de silêncio, no início desse ano num documentário da BBC, “Auschwitz: Os Nazistas e a Solução Final.”

“Eu vi as câmaras de gás. Eu vi os crematórios. Eu vi os fornos abertos. Eu estava na rampa quando as seleções [para as câmaras de gás] tinham lugar,” disse Groening, agora, com seus 80 e tantos anos.

“Eu gostaria que vocês acreditassem que essas atrocidades aconteceram – porque eu estava lá.”


______________________________


”OS QUE NEGAM AUSCHWITZ, OUÇAM-ME: EU ESTAVA LÁ, MAS DO LADO DOS CARCEREIROS”.

Oskar Gröning, entrou na Juventude Hitlerista quando os nazistas chegaram ao poder em 1933, estava convencido que ajudaria a Alemanha a livrar-se de culturas estranhas. Trabalhava há pouco tempo num banco quando começou a guerra, mas logo alistou-se nas SS (Schutzstaffeln em alemão, ou seja Esquadras de Proteção, a milícia armada do partido nazista). Dois anos depois foi designado para o campo de Auschwitz, seu trabalho era contar o dinheiro confiscado aos prisioneiros hebreus, nessa época lhe disseram: “Nos livraremos dos judeus que não estejam aptos ao trabalho”. Continuou contando dinheiro, até que um companheiro o chamou para conhecer os fornos crematórios, este divertia-se em ver que os cadáveres quando começavam a queimar estremeciam no momento que o ar dos pulmões era expelido e que a parte sexual dos homens, tinha uma improvisada ereção.

Oskar sentiu-se mal e foi até seu superior pedir transferência para a linha de frente. Mas o pedido lhe foi negado, seu comandante fez-lhe ver que ele tinha jurado fidelidade e que os hebreus eram os verdadeiros inimigos da Alemanha, concluindo: “Caro Gröning, o que você que fazer? Estamos todos no mesmo barco. Nos empenhamos em aceitar essa missão sem pensar”.

Em 1944, Gröning conseguiu sua transferência, ferido em batalha, no ano seguinte rendeu-se às tropas inglesas, no questionário que lhe foi dado a preencher, omitiu ter trabalhado em Auschwitz. Hoje ele tenta minimizar o fato com uma impressionante ingenuidade: “Os vencedores tem sempre razão, nos sabíamos que as coisas acontecidas em Auschwitz, nem sempre estavam dentro das regras dos direitos humanos”.

Finda a guerra, organizou sua vida e seguiu normalmente. Interessante de se notar nesse fato, é que pôde-se ter sido das SS, ter trabalhado em Auschwitz, ter sido testemunha do processo de extermínio, ter contribuído para a Solução Final e não ter sido considerado “culpado” pelo Estado alemão ocidental do após guerra.

Tudo teria ficado desconhecido não fosse um pequeno incidente, Oskar Gröning, ao aposentar-se dedicou-se à filatelia, um dia conversando com um conhecido que praticava o mesmo hoby, ouviu deste: “Não lhe parece terrível que o governo declare ilegal qualquer coisa que se diga contra a matança de milhões de hebreus em Auschwitz?”, ele achava inconcebível que se pudessem queimar tantos corpos. Oskar ficou pasmo, mas nada disse, procurou um jornalzinho “negacionista” que lhe havia sido indicado pelo tal amigo e escreveu um comentário irônico, enviando-o a este. A sua denuncia foi impressa em uma revista neo-nazista e ele começou a receber telefonemas e cartas ameaçadoras, de gente que queria demonstrar que Auschwitz era uma grande alucinação, porque jamais tinha acontecido.

Nem quero perguntar por que Oskar Gröning demorou tanto tempo para dizer aquilo que testemunhara e somente o fez por um motivo acidental, mas não há dúvida de uma coisa, o anti-semitismo está bem vivo na Europa.


________________________


OSKAR GRÖNING: GUARNIÇÃO SS DE AUSCHWITZ.

No outono de 1941, o soldado SS Oskar Gröning começou a trabalhar em Auschwitz. Suas funções, eventualmente, incluíam supervisionar a coleta de bagagens tiradas aos judeus quando os trens de deportação chegavam. Ele também foi encarregado de contar o dinheiro roubado dos judeus de Auschwitz e organizar sua transferência para Berlim.

Na época, Gröning concordava com a ideologia nazista, que falsamente afirmava a existência de uma conspiração judaica para dominar o mundo, mas as evidências disponíveis não indicam que ele tomou parte diretamente na matança de judeus em Auschwitz. E nem que ele desejou permanecer lá. Documentos confirmam que ele solicitou transferência para a frente, mas sua requisição foi recusada.

Oskar Gröning: Não demorou muito para que eu fosse designado para supervisionar a coleta de bagagens de um transporte que iria chegar.

Quando estava terminado, era como uma lixeira, havia montes de detritos deixados e entre esse detrito havia pessoas doentes, aquelas incapazes de caminhar. E o modo como essas pessoas eram tratadas, realmente horrorizou-me. Por exemplo, uma criança que jazia nua foi, simplesmente, puxada pelas pernas e arremessada dentro de um caminhão que iria ser conduzido para longe dali, e quando ela gritou como uma galinha doente, eles bateram a cabeça dela na beirada do caminhão, e assim ela calou-se.

Nós estávamos convencidos por nossa visão de mundo que havíamos sido traídos pelo mundo inteiro, e que havia uma grande conspiração dos judeus contra nós.

Entrevistador: Mas, certamente, quando se tratava de crianças você não devia ter compreendido que elas, possivelmente, não teriam feito nada a vocês?

Oskar Gröning: As crianças, elas não eram o inimigo no momento. O inimigo era o sangue dentro delas. O inimigo era crescerem para serem judeus que podiam se tornar perigosos. E por causa disso, as crianças estavam incluídas, também.

Entrevistador: Mas... você não sente por ter feito sua própria vida mais confortável enquanto milhões, realmente, morriam?

Oskar Gröning: Absolutamente, não. Todo mundo estava tratando de si. Tantas pessoas morreram na guerra, não somente os judeus.

Tantas coisas aconteceram, tantos foram fuzilados, tantos se extinguiram. Tantas pessoas queimaram até a morte, se eu pensasse sobre tudo isso, não seria capaz de viver um minuto mais.

Entrevistador: Há tantos no mundo de hoje que negam a realidade das atrocidades cometidas pelos nazistas. E é para confrontar esses que descrêem que Oskar Gröning rompeu seu silêncio e testemunhou sobre o que ele viu em Auschwitz.

Oskar Gröning: Eu vejo isso como minha tarefa, agora na minha idade, encarar essas coisas que eu experimentei e me opor aos negacionistas do Holocausto que clamam Auschwitz nunca ter acontecido.

E é por isso que estou aqui, hoje.

Porque eu quero dizer a esses negacionistas: eu vi as câmaras de gás, eu vi os crematórios, eu vi os fornos abertos – e eu quero que vocês acreditem em mim, quando digo que essas atrocidades aconteceram.

Eu estava lá.


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#28 Mensagem por Clermont » Dom Abr 16, 2006 10:21 pm

GENOCÍDIO – A DESTRUIÇÃO DAS MINORIAS – parte 4.

Ward Rutherford (digitado por Adolfo Luna Neto)

Os massacres

Em meio as atividades, em toda a Europa, da RSHA, particularmente do departamento IVA4b, os planejadores militares alemães estavam extremamente atarefados, preparando, nos três últimos meses de 1940, sigilosamente, a estratégia a ser obedecida no ataque à Rússia, que se realizaria no ano seguinte. Sabemos agora que Hitler supunha que a Grã-Bretanha estivesse incapacitada como força beligerante, sentindo-se por isso capaz de livrar-se do seu último inimigo potencial no continente europeu e, ao mesmo tempo, levar à concretização o velho sonho de anular o bolchevismo.

Para Himmler, isto sugeria novos e grandes problemas, mas também novas e grandes oportunidades: problemas porque era de seu dever desmantelar o regime soviético e policiar as áreas ocupadas; oportunidades porque lhe seriam ali abertas novas oportunidades de expor vastos monturos em região bem distante da Alemanha metropolitana, o que permitiria maior liberdade de ação.

Para o policiamento, criaram-se quatro Einsatzgruppen, designados “A”, “B”, “C” e “D”. O número total de integrantes desses grupos era inferior a 3.000, incluindo especialistas, como operadores de rádio e intérpretes (alguns dos quais eram mulheres). Eles se dividiam em unidades ou Kommandos, que tinham de 600 a 900 elementos cada uma.

A lição da Polônia, onde os Grupos de Ação eram tecnicamente subordinados ao comando do exército, fez que se estabelecessem claras demarcações de controle. Os Einsatzgruppen eram subordinados ao exército quanto a movimento, rações e acomodações, mas a Heydrich quanto à disciplina, jurisdição e questões técnicas. Em outras palavras, Heydrich dava as ordens. O exército insistira em que, próximo à linha de frente, os Grupos de Ação deveriam ficar a ele subordinados, muito embora até mesmo esse direito fosse seriamente circunscrito.

Otto Ohlendorf, um intelectual simpático, advogado e economista, que ingressou no SD em 1936, depôs sob juramento, sobre as instruções que Himmler lhe deu ao ser nomeado para comandar um dos grupos: "Himmler disse-me que parte importante da nossa tarefa consistia no extermínio de judeus - homens, mulheres e crianças - e de funcionários comunistas". Ohlendorf foi responsável pela morte de 90.000 homens, mulheres e crianças.

Mais ou menos em junho de 1941, Himmler mandou que Rudolf Höss, comandante de Auschwitz, "preparasse instalações naquele campo para a realização de extermínio em massa"
. Disse também que Eichmann lhe traria instruções detalhadas. Antes da visita de Eichmann, Höss foi ao recém-fundado campo de Treblinka, onde já funcionava uma câmara de gás, permanentemente, utilizando o monóxido de carbono gerado por motores de combustão interna. Ele voltou desfavoravelmente impressionado e diria a Eichmann, quando este chegou, em julho, que "era impossível usar tais métodos lentos para o extermínio em massa".

Enquanto Höss estava ausente do campo, seu chefe de segurança, Capitão Fritzsch, tentou a experiência com cristais de Zyklon B, à base de ácido prússico para uso em fumigação. Höss repetiu a experiência em escala maior: 850 prisioneiros, 600 dos quais, prisioneiros de guerra russos, foram metidos num porão em que se atiraram os cristais venenosos. Doze horas depois o porão foi aberto, mas entre as vítimas, tão espremidas que não podiam cair ao morrer, algumas ainda estavam vivas, tornando-se necessário submetê-las de novo ao processo. Sugerira-se que não seria boa política instalar-se o centro de extermínio dentro do próprio campo principal e, na verdade, as primeiras câmaras de gás foram dois celeiros adaptados à finalidade, num campo em Birkenwald, situado nas proximidades. A capacidade dos dois celeiros era de 250 vitimas, de modo que foi preciso projetar e construir câmaras maiores, que se constituíram em motivo de orgulho para Höss.

Ele disse que elas foram projetadas por Paul Blodel, um arquiteto de Dusseldorf, bêbado contumaz, que se distinguiria como comandante de um Kommando de Grupo de Ação. Contudo, outro engenhoso matador fez que essas câmaras se parecessem com grandes banheiros, com chuveiros no teto e tudo o mais. Os que iam morrer eram informados de que iriam para o banho, recebendo inclusive um "sabonete" - na verdade um pequeno bloco de cimento, posteriormente recuperado para ser entregue ao candidato seguinte.

A primeira grande ação antijudia da guerra - talvez o que precisavam os nazistas para convencer os alemães mais cautelosos de que tal procedimento não provocaria inevitavelmente a ira da humanidade - partiu da possivelmente menos importante das três nações que haviam declarado em Evian, em 1938, o desejo de livrar-se dos judeus - a Romênia. O país tinha o seu equivalente aos nazistas - os Guardas de Ferro, que muito contribuíram para fazer da Romênia um aliado da Alemanha na guerra à Rússia. A 22 de junho, três grupos de exército alemães iniciaram a penetração da Rússia, um deles passando pela Romênia. Dois dias mais tarde, a cidade de Jassy foi violentamente bombardeada pelos russos. Os Guardas de Ferro, que já haviam massacrado judeus em Bucareste e exposto seus cadáveres nos açougues rituais judaicos da cidade, voltaram-se então contra os de Jassy. Os judeus foram arrebanhados durante a noite de 28 de junho; no dia seguinte, as execuções sumárias tiveram início. Então, cerca de 5.000 deles foram embarcados num trem, 120 em cada vagão, com destino a Bucareste, a 480 km de distância. O trem jamais chegou à cidade. Depois de dois dias de percurso pela região, durante os quais, em várias paradas, os cadáveres eram jogados fora, ele chegou a uma estação situada ao sopé dos Cárpatos, tendo em seu interior, vivos, somente 1.000 "passageiros". Se acrescentarmos aos 4.000 que morreram no trem cerca de 3.000 vitimados nas ruas e durante o arrebanhamento, cerca de 7.000 judeus perderam a vida.

Hitler falou com calorosa aprovação: "Um homem... como Antonescu", disse ele acerca do ditador romeno, "age a este respeito de modo muito mais radical do que nós, até agora". Assim, os assassinos romenos foram apresentados como exemplos para emulação alemã e como crítica implícita à sua reticência.

Foi pouco depois disso, no começo de julho, que Heydrich foi encarregado por Goering de levar a cabo todos os preparativos... "para a solução da questão judaica". Também foi autorizado a apresentar um relatório das medidas até então tomadas para a execução da "solução final da questão judaica" - a primeira vez que se usou esta expressão por escrito. Perante o Tribunal de Crimes de Guerra instalado em Nuremberg, Goering discutiria o significado dessas cinco últimas palavras. Heydrich pareceu não ter dúvidas a respeito, pois a 20 de maio de 1941 o RSHA baixou instruções à polícia alemã e aos representantes do SD na Bélgica e França. Isto pôs fim à emigração dos territórios ocupados, bem como à "recolonização" no leste. A razão apresentada para a aplicação da medida baseava-se na certeza de que em breve seria adotada a "Solução Final", codinome do extermínio.

Uma minuta dirigida por Heydrich aos quatro oficiais mais graduados das SS e da polícia começou a pôr em vigor sua ordem. Esta punha em relevo as instruções de Himmler a Ohlendorf: que parte da sua tarefa consistiria em exterminar judeus e funcionários comunistas. Um parágrafo final instruía-os a não interferir em quaisquer medidas anticomunistas ou antijudaicas iniciadas pela população local. Ao contrário, deveriam encorajá-las secretamente, para que tal encorajamento não fosse atribuído aos ocupantes. Sua última sentença era uma advertência: "Deve-se tomar cuidado especial com relação ao fuzilamento de médicos ou pessoas vinculadas à atividade médica... "

A instrução para encorajar o ânimo local logo foi posta em prática. Na Lituânia, liberada da União Soviética pela Wehrmacht no começo da guerra, bandos de assassinos encheram as ruas, matando cerca de 3.000 judeus só em Kovno, a capital, antes que o exército alemão pusesse fim a tais atividades. Mesmo depois disso, a 4 de julho, dois dias após a promulgação das ordens de Heydrich, guerrilheiros lituanos, por ordem dos alemães, fuzilaram 416 judeus, incluindo quase 50 mulheres, nos arredores de Kovno.

O representante de Heydrich no local, o Major-General SS Franz Stahlecker, comandante do Einsatzgruppe A, vislumbrou outros modos de se beneficiar com o anti-semitismo local e suas manifestações violentas. Ele confinou os judeus num gueto - para sua "própria proteção" - e quando verificou que o local designado para este fim era pequeno demais, resolveu o problema de acomodação executando todos os judeus incapacitados para o trabalho, em grupos de 50 a 100. Esses assassinatos foram repetidos seis dias depois, quando 700 reféns retirados de Vilna foram executados nos arredores da cidade, nos reservatórios de petróleo que o Exército Vermelho abrira em Ponary. Nesses locais os nazistas deram prosseguimento à aplicação da Solução Final na Rússia e no Báltico. Em setembro, sob a alegação de que dois soldados alemães haviam sido assassinados, sem que dissessem onde, 700 reféns foram executados. Pelo final do ano, 30.000 judeus haviam morrido nos mencionados reservatórios. Entrementes, em Kovno, 10.000 pessoas foram fuziladas num só dia e, depois, mais 10.000 em Dvinsk.

Durante os meses de novembro e dezembro, 24.000 pessoas foram levadas de ônibus para os locais de execução em Riga. Ali, contudo, os atos foram presenciados por integrantes do exército regular, que enviaram relatórios dos assassinatos à Alemanha. Isso se repetiria em muitas outras ocasiões.

O processo usado em Kovno tornou-se o padrão clássico de destruição de judeus pelos Einsalzgruppen. A população judia de uma cidade era encerrada em guetos - na prática, qualquer grupo de prédios que pudesse atender à finalidade de guardar judeus, servissem ou não para moradia. O gueto tinha seu próprio governo interno, um Conselho Judeu, cujas funções incluíam providências sobre os que seriam "recolonizados", que passou a sinônimo de execução. Os primeiros a serem recolonizados eram invariavelmente os desempregados, os doentes e órfãos. Reitlinger identificou quatro estágios na história dos guetos nazistas. Quando foram introduzidos, eles destinavam-se apenas a impedir que os judeus negociassem. Em seguida, tornaram-se locais onde eram largados os judeus para morrerem de fome. Depois, passaram à sede de execução dos semitas considerados não-essenciais. O último ainda estava por vir: a destruição total dos habitantes dos guetos.

Os detalhes do método de execução usado nessa época também foram esclarecidos por Ohlendorf no depoimento por ele prestado no tribunal: "A unidade escolhida... entrava numa aldeia ou cidade e mandava que os cidadãos judeus preeminentes reunissem todos os judeus para fins de recolonização. Eles eram obrigados a entregar todos os objetos de valor... e, pouco antes da execução a entregar suas roupas externas. Homens, mulheres e crianças eram levados para um local de execução, em geral situado perto de um profundo fosso antitanque. Então, eram fuzilados, ajoelhados ou de pé, e os corpos jogados no fosso... "

Os carrascos nem sempre eram membros dos Einsatzgruppen. Sabemos que anti-semitas locais bem como a polícia do lugar ajudavam nos assassinatos. Sabemos também que civis alemães, que trabalhavam como intérpretes ou como ferroviários, apresentavam-se como voluntários para integrar os pelotões de fuzilamento, porque havia possibilidade de saque e de uma ração especial de aguardente. Com assassinos não muito treinados, não raro as vítimas, por mal feridas, morriam não dos tiros, mas pela asfixia causada pelo peso dos corpos atirados sobre elas, ou da terra, quando fechada a sepultura. Não era incomum, no dia seguinte a um morticínio, encontrarem-se rastos de moribundos fora da sepultura. Alguns realmente apareciam, para tratamento, em hospitais, e uns poucos escapavam de todo.

Os massacres continuavam: em Korosten, em Berdichev, em Ulman, em Winnitsa, na Ucrânia ocidental; em Jitomir, 2.531 judeus morreram na última semana de julho; outros 407 no começo de agosto e cerca de 1.668 no começo de setembro. Mais tarde, nesse mesmo mês, ocorreu o mais cruel de todos os massacres perpetrados pelos Grupos de Ação. Foi em Kiev, que caiu em poder dos alemães no dia 19.

Cinco dias após a ocupação, o Q-G do Comando da Área de Retaguarda do 6º Exército, no Hotel Continental, foi destruído por uma explosão, provavelmente provocada por uma mina armada pelos russos. Centenas de soldados alemães morreram no combate aos incêndios subseqüentes.

Decidiu-se que as represálias seriam feitas contra os judeus. Mas o que mostra toda a loucura inerente a esses fatos, é que tais represálias seriam secretas, perdendo assim qualquer valor moral de escarmento que lhes pudesse ser atribuído. O Coronel SS Paul Blobel, chefe do Kommando 4A do Einsatzgruppe C, o mesmo Blobel que se supõe ter projetado as câmaras de gás de Auschwitz, foi encarregado das execuções.

A 26 de setembro, os judeus de Kiev receberam ordens de se apresentarem dentro de três dias para "recolonização". Esperavam os nazistas a apresentação de não mais de 6.000. Mas, "graças a uma organização extremamente hábil", nas palavras de um relatório diário do Einsalzgruppe, 30.000 chegaram, trazendo suas trouxas. Dois outros relatórios elevaram o número para quase 34.000.

O local da execução era a ravina Babi Yar, nos arredores de Kiev. Ali, eles desciam de uma prancha para a ravina e eram mortos com um tiro na nuca. A operação demorou dois dias.

Os carrascos se iludiam, julgando que a população em geral ignorava por completo os assassinatos. Estes eram do conhecimento público, e somente o terror pôde impedir que se comentasse a respeito, o que deu aos alemães a impressão de que ninguém sabia de nada. O massacre veio a servir de tema do lamento do poeta russo Eugênio Ievtushenko.

Por necessidade, a invasão da Rússia trouxe a Galícia para a esfera de influência nazista. Esta região desde 1919 fazia parte do território polonês, sendo anexada pela Rússia em 1939. Ali, como no Báltico, as medidas contra os judeus logo foram instituídas, e as forças locais encorajadas a participar dos progrom. Num destes, em Lwow, 7.000 judeus foram mortos durante a denominada Aktion Petlura.

Outros massacres tiveram lugar em Kiev, em outubro de 1941 e janeiro de 1942, nos quais um total de 15.000 pessoas pereceram. Em Dniepropetrovsk, a 13 de outubro de 1941, 11.000 crianças e velhos foram mortos numa só ação. Em Borissov, uma semana mais tarde, todos os 7.620 judeus da cidade foram mortos pelo Einsatzgruppe A; a 6 de novembro, 15.000 em Rwono, na Ucrânia. Durante o mês de dezembro completaram-se os massacres em Riga, Vilna e Simferopol, na Criméia, num total de 70.000 vitimas. Em quatro meses, cerca de 350.000 judeus tinham sido fuzilados.

As execuções eram sempre disfarçadas em ações contra guerrilheiros potenciais ou seus simpatizantes, disfarce que não demorou a cair por terra, pois um Kommando de um Einsatzgruppe comunicou o fuzilamento de crianças judias, feito quase que diariamente, e, em uma ação, a 29 de agosto de 1941, executou 1.469 delas. O Einsatzgruppe A, que já executara 229.052 judeus informou, por volta de novembro de 1941, que embora tivesse morto apenas 56 guerrilheiros e mais 1.064 comunistas, matara 126.421 judeus. Outras evidências destrutivas vem de Ohlendorf. Na Criméia, os membros de duas seitas judias haviam sido arrebanhados. Uma delas era de muçulmanos convertidos ao judaísmo; a outra, de judeus convertidos ao islamismo. A primeira seita foi poupada por ordens do Departamento IVA4b, conforme Ohlendorf revelou; a segunda, de judeus raciais, foi destruída, provando desse modo que os motivos raciais, e não o problema de adesão aos guerrilheiros (que nunca foi suscitado) era o que selava seu destino.

Não era possível convencer a ninguém que o fuzilamento de crianças fazia parte da atividade antiguerrilheira. Para eliminá-las, introduziu-se o uso, mais discreto, dos caminhões de gás. Eram veículos adaptados de modo que, ao acionar uma alavanca o monóxido de carbono gerado nos gases de descarga era injetado no compartimento dos passageiros. As vítimas eram levadas da prisão ou do gueto para o local de sepultamento no caminhão e deviam estar mortas quando chegassem ao destino, método econômico, ainda que macabro. Mas a intenção nem sempre se cumpria - o que levava os inovadores do sistema a culpar os motoristas dos "caminhões", e não a si próprios, pelo fracasso. O uso de caminhões de envenenamento por gás provocou protestos dos membros dos próprios Einsatzgruppen, que alegavam que as crueldades implicadas eram moralmente indefensáveis. Como uma carta que dava instruções sobre o uso adequado dos caminhões faz referência a cadáveres sujos de excrementos e rostos contorcidos pela sufocação (em oposição à asfixia indolor pelo gás que os caminhões deviam provocar), pode-se ver que até mesmo os empedernidos matadores se nauseavam diante daquilo. Contudo, o uso da crueldade foi até ampliado.

Uma vez que o horror do que estava sendo feito parecia focalizar-se mais em detalhes do que em princípios, conclui-se que a questão não era absolutamente de moral. A aversão era livremente expressada, por exemplo, pelos soldados comuns, entre os quais se encontravam, devemos lembrar-nos, muitos que haviam sido em criança doutrinados em anti-semitismo na "Juventude Hitlerista". Em conseqüência, o Feldmarechal Walter von Reichenau, comandante do 6° Exército, sentiu-se compelido a apresentar uma justificativa para o que se estava fazendo. "O soldado nos Territórios Orientais", declarou ele na "Ordem do Dia" de 10 de outubro de 1941, "não é apenas um combatente, segundo as regras da arte da guerra, mas também o portador de uma ideologia nacional implacável... Portanto, o soldado tem de se compenetrar da necessidade da aplicação de uma vingança severa mas justa, contra a judiaria subumana". Contudo, num relatório oficial, escrito em dezembro de 1941, um oficial de Estado-Maior do Grupo de Exércitos Centro declarou que o corpo de oficiais, "quase unanimemente, é contra o fuzilamento de judeus, prisioneiros e comissários". Na sua opinião o mesmo autor disse, isto era uma nódoa no exército alemão.

Um membro do departamento de economia do exército na Ucrânia escreveu que "não havia prova alguma de que os judeus estivessem largamente empenhados em sabotagem ou atos semelhantes", nem podiam ser considerados como "representando uma ameaça à Wehrmacht alemã"
. Uma expressão mais forte do sentimento partiu do Reichskommissar Wilhelm Kube, membro-fundador do NSDAP, que já demonstrara repugnância diante desses excessos e estava sendo vigiado pela Gestapo a pedido de Heydrich. Ele escreveu a Himmler sobre a "indescritível brutalidade" e "extrema bestialidade" e denunciou o que fizeram a uma jovem judia, a quem pediram 5.000 rublos em troca da vida de seu pai, e ela começou a implorar dinheiro à todos. A carta-denúncia foi ignorada e, pela primavera de 1942, pelo menos um milhão de judeus haviam perecido nessas ações.

Mas nem todos os judeus, nessas regiões, haviam sido mortos. Muitos permaneciam nos guetos, marcados com estrelas amarelas no peito e nas costas, submissos aos Conselhos Judeus. Muitas vezes ordenavam que lhes dessem o mínimo alimento possível, e somente depois que o resto da população tivesse sido alimentada "e, de modo algum, mais do que o suficiente para manter a vida".

Uma nomeação tristemente importante foi feita em setembro - um passo à frente para a destruição final dos guetos. Tal ato deu a Eichmann, além das funções que exercia, a responsabilidade pela organização dos transportes. Suas instruções abrangiam não só o movimento para o leste, como também o das regiões ocidentais e setentrionais da Europa ocupada. Também ali se registravam progressos na "Solução Final", embora, em muitos lugares, houvesse demora que Heydrich e seu RSHA consideravam exasperante e deplorável.

Em outubro, com Eichmann já no exercício do novo posto, as deportações do Reich e além ganhavam velocidade. Bons trens, carregando 1.000 pessoas, partiam de Berlim, Hamburgo, Hanover, Dortmund, Düsseldorf, Colônia, Frankfurt, Kassel, Stuttgart, Nuremberg, Munique, Breslau, além de Viena, Praga, Luxemburgo e até mesmo de Antuérpia. As deportações prosseguiram até janeiro de 1942 para áreas que incluíam Lodz, Varsóvia, Kovno, Minsk e Riga. Nessas deportações, as organizações de caridade e ajuda judias consolidadas - a União Reich - e os Conselhos Judeus eram obrigados a ajudar, fornecendo listas para a "recolonização".

Em 1941, os Estados Unidos ainda eram neutros e um repórter do New York Times aproximou-se o suficiente para testemunhar a partida de um trem carregado enviando a seu jornal um relato do que observou. As deportações também eram de conhecimento público, pelo menos em Berlim, e causaram tal reação que os líderes do partido foram obrigados a distribuir folhetos denunciando a "culpa" judaica.

Mesmo assim, muitos não judeus começaram a usar a Estrela de Davi, que os semitas de Berlim tinham sido obrigados a usar apenas um mês antes - dois anos depois da sua introdução na Polônia. Num sermão dirigido aos cristãos na Catedral católica de Sta. Edwiges, no domingo após uma dessas partidas de trem, o velho cônego Lichtenberg disse que desejava ser mandado para o leste, a fim de compartilhar do destino dos judeus. Ele foi satisfeito. Meteram-no em um campo de concentração onde sofreu e morreu.

Ninguém sabia o que os deportados encontrariam no local de chegada. Os destinados a Kovno e Riga, num transporte, chegaram no momento em que se realizava uma "ação especial" - isto é, um fuzilamento em massa. Foram prontamente arrastados do trem e juntados às demais vítimas. Outros, temporariamente poupados, encontraram guetos superapinhados e famintos, para cujos habitantes a sua chegada não era nada agradável. Frank, o governador-geral da Polônia, estava furioso com o reinício das "recolonizações" e não se encontrava disposto a mostrar magnanimidade para com os que o oneravam.

Com tanta atividade na Alemanha, poder-se-ia supor que não houvesse muito tempo ou energia para hostilizar os judeus ainda ali existentes. Longe disso. O ataque à vida e liberdade dos judeus partindo de todos os setores, que se iniciara em 1933, pareceu redobrar de ferocidade entre 1941 e final de 1942 e seus efeitos de tempo de paz, embora desagradáveis, eram limitados, ao passo que agora começavam a impor terríveis dificuldades. Desde 1940, as horas de compras dos judeus eram restritas entre 16 e 17h quando, afinal, as lojas já não tinham mais o que pudessem adquirir para tornar possível a sobrevivência. Em Berlim, desde junho de 1941, eles tinham cartões de racionamento especiais, marcados com um "J". Os judeus não podiam usar os transportes coletivos sem permissão policial, nem telefone, nem freqüentar restaurantes ou usar as salas de espera das estações e nem passear no campo. Eles tinham de entregar todas as roupas de lã e peles - inclusive as golas de pele dos casacos; tinham de entregar bicicletas, máquinas de escrever, discos, binóculos, rádios e pintar no lado externo de suas casas a Estrela de Davi. As escolas freqüentadas por judeus foram fechadas, e sendo-lhes vedada a matrícula em outras escolas. Por fim, em outubro de 1942, suas rações de ovos, carne, cereais e leite foram canceladas.

Em todos os setores havia indícios de que estavam em marcha os preparativos para "a certa solução final do problema judeu". E enquanto na Rússia e na Polônia os Einsatzgruppen levavam a cabo suas tarefas sangrentas, os campos de extermínio estavam sendo instalados; dois deles, Belsec e Chelmno, haviam começado a funcionar em outubro de 1941.

Mas ainda restavam três problemas básicos. O primeiro era o que, em certo sentido, Himmler criara, no desejo de tornar os campos de concentração independentes e contribuintes para a economia de guerra alemã. Não só o regime de trabalho escravo estava em franca atividade, tentando minimizar o problema da escassez de mão-de-obra na Alemanha, como também em alguns setores, nos quais somente o povo judeu era especialista, Himmler estava numa posição de parecer indispensável, por ter passado a ser a única fonte supridora de mão-de-obra judaica. Havia, por exemplo, os cortadores de diamante em Amsterdã; os peleiros e trabalhadores em couro da Polônia, todos suprindo necessidades da Wehrmacht. O que aconteceria com essa gente?

Nada poderia, entretanto, interferir no livre desenvolvimento das medidas que levassem à "solução" - afirmava o louco antisemitismo nazista. Logo, as razões da economia se subordinariam ao desejo de varrer da face da terra o judeu. Em dezembro de 1941, Hinrich Lohse, Reichskommissar de Ostland (nome aplicado aos territórios russos ocupados), perguntou se os trabalhadores especializados das fábricas da Wehrmacht deviam ser liquidados, sendo informado de que "as regras relativas ao problema (judaico) requerem que as exigências da economia sejam ignoradas". No fim, Goering (Ministro da Economia), a quem dificilmente se poderia desconfiar de ser simpatizante dos judeus, teve de intervir pessoalmente para impedir a interrupção do esforço de guerra. Ainda assim, a trégua concedida aos judeus durou apenas doze meses. No ano seguinte, o exército foi obrigado a trocar operários judeus treinados por poloneses destreinados, mas só depois que o General von Gienath, comandante do Distrito Militar do Governo-Geral, foi demitido do comando, por opor-se ao absurdo.

O segundo problema era o dos direitos dos restantes judeus alemães, segundo a lei. O 11º Decreto Suplementar da Lei de Cidadania do Reich, promulgado a 25 de novembro de 1941, resolveu isso. Segundo o decreto, os judeus que estivessem fora do Reich eram apátridas, enquanto que os que se encontravam no território nacional tornavam-se apátridas tão logo cruzavam suas fronteiras - mesmo contra sua vontade. Daí por diante, eles não tinham direito algum perante a lei.

O último problema com que se defrontavam os diretamente envolvidos na "Solução Final" implicava outros. Himmler e Heydrich reconheciam que se encontravam na condição de assassinos de aluguel de Hitler. Sem dúvida, sabiam do destino dos assassinos de aluguel uma vez terminada a tarefa. Portanto, queriam garantir-se o direito de poderem dizer: "Não somos apenas nós, mas todos compartilham da culpa; estes que aí estão respeitavelmente sentados em seus gabinetes também participaram do que fizemos".

Nas últimas semanas de 1941, Heydrich dedicou-se à resolução deste problema.




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#29 Mensagem por Clermont » Ter Abr 25, 2006 10:36 pm

GENOCÍDIO – A DESTRUIÇÃO DAS MINORIAS – parte 5.

Ward Rutherford (digitado por Adolfo Luna Neto)

A destruição dos guetos

Para os historiadores, 1942 foi o ano crítico da guerra; ano que marcou o início da batalha de Stalingrado; ano de El Alamein; ano em que os Estados Unidos lançaram todo o seu poderio na refrega. Foi o ano, enfim, em que a sorte mudou.

Estes eventos não passaram despercebidos para os judeus que se encontravam na Europa, que ouviam a BBC através de receptores clandestinamente instalados nos guetos ou liam nas entrelinhas do noticiário dos jornais alemães sobre as "vitórias" conquistadas. Se isto lhes dava esperança, esta se mostraria vazia - pois foi naquele mesmo ano que o extermínio se fez de fato realidade, não obstante os assassinatos em massa realizados no leste no ano anterior. Em retrospecto, é fácil tirar-se a conclusão de que Hitler, percebendo o curso dos acontecimentos, estava decidido numa coisa: que se nada mais fosse conseguido, sua profecia de 1941 teria de se cumprir. A judiaria seria aniquilada. Este seria o seu monumento, e não o Reich de mil anos. Entretanto, como se disse, a "Solução Final" não foi feita repentinamente, mas etapa por etapa, efetuada de acordo com uma estratégia sincronizada, perceptível desde o começo da era nazista.

Em vista da importância do ano, é quase simbólico que os meios que Heydrich buscava para implicar outros na trama tornaram-se realidade em janeiro de 1942, na Conferência de Wannsee. Depois de um adiamento de seis semanas, esta teve lugar a 20 de janeiro, e entre os delegados convidados, além dos funcionários do RSHA, incluindo Eichmann, encontravam-se civis do Ministério do Interior, do Ministério das Relações Exteriores e de outros departamentos.

A despeito da linguagem eufemistica usada na apresentação do assunto, não pode haver dúvida de que seus ouvintes compreendiam perfeitamente o que Heydrich queria dizer. Os judeus seriam usados em turmas de trabalho nas quais uma grande parte "desapareceria por redução natural". Os que sobrevivessem - "indubitavelmente os de resistência mais sólida" - receberiam "tratamento especial". "Tratamento especial" significava simplesmente extermínio. Deste modo, cerca de 11 milhões de judeus - incluindo os da Grã-Bretanha, após a conquista - seriam aniquilados. Os meios-judeus escolheriam entre a morte e a esterilização.

Se Heydrich temia demonstrações de indignação dos delegados reunidos, seus temores mostraram-se infundados. Nem uma única voz se fez ouvir em protesto. O Dr. Otto Thierack, Ministro da Justiça do Reich, chegou mesmo a oferecer-se para entregar todos os judeus sob sua jurisdição ao SD, e Eichmann, em seu julgamento em Jerusalém, em 1961, falou do contentamento que experimentou, "tal como Pilatos deve ter experimentado, porque me senti completamente isento de culpa. Ali, na conferência, as mais eminentes personalidades do Reich expuseram seus pontos de vista. Os papas estavam dando as ordens. A minha era obedecer".

Depois de transposto o primeiro obstáculo, a conferência prosseguiu. Nas palavras de Eichmann: "Passamos a discutir as várias maneiras possíveis de matá-los".

Que esta reunião não teve outra finalidade senão a de ser um ardil para incriminar outros, demonstra-o o fato de que as questões discutidas sob o título "maneiras possíveis de matar" já estavam sendo energicamente executadas: fome, excesso de trabalho, envenenamento por gás e fuzilamentos em massa.

Para Heydrich, contudo, a ocasião seria uma espécie de Festim de Baltasar. Ele jamais testemunharia a realização dos seus planos. A 27 de setembro de 1941 fora promovido a General SS e nomeado Protetor da Boêmia e Morávia. Enquanto visitava seus domínios, ele foi assassinado por guerrilheiros tchecos, a 27 de maio de 1942. Preço terrível seria cobrado por esse ato: Lídice, aldeia onde se deu o fato, seria inteiramente destruída, e mortos quase todos os seus habitantes.

Após a morte de Heydrich, Himmler não nomeou nenhum sucessor durante uns seis meses, quando então escolheu um ex-advogado austríaco, o Tenente-General SS Ernst Kaltenbrunner, que se mostraria um digno sucessor de Heydrich sob os aspectos mais negativos. Aliás, do ponto de vista de Himmler, ele era mesmo superior a Heydrich, por ser menos ambicioso. Até que se verificou a nomeação de Kaltenbrunner, os deveres de Heydrich foram desempenhados por Eichmann, que a 6 de março convocou uma conferência para discutir e buscar solução para dois problemas. Um deles relacionava-se com o transporte; o outro era como se realizaria a esterilização de judeus casados com não judeus e dos seus filhos. O segundo problema jamais foi resolvido, a despeito das torturas infligidas às "cobaias" dos campos de concentração. Hitler não queria ficar de mãos atadas, se decidisse eliminar também os mestiços.

A 20 de março de 1942, três semanas após a conferência de Eichmann, sugeriu-se a esterilização de 8.000 judeus de casamentos mistos, na Holanda, como alternativa para a deportação. As esterilizações foram executadas no campo de detenção holandês, Westbork, em alguns casos por médicos das SS, mas normalmente por médicos particulares. Isto fora feito sem o conhecimento de Eichmann, que se agastou com o fato, que estava sendo feito mediante concordância privada entre Himmler e o Alto Líder das SS e da Policia na Holanda, General Hans Rauter. Como resultado, 8.610 judeus holandeses ficaram em liberdade, porque, nas palavras de Rauter, não eram mais considerados "perigosos para a Alemanha". Eles nem sequer tinham de usar o distintivo judeu, enquanto que os nascidos impotentes podiam obter um certificado disso e também estavam isentos do distintivo. Esta medida levou a uma outra exploração para a Gestapo, que fez um comércio ativo com a venda de certificados de "esterilização".

Após a Conferência de Wannsee, Himmler acelerou os planos para tornar seus campos de concentração economicamente viáveis, nomeando um ex-pagador da marinha, Oswald Pohl, para dirigir um novo departamento das SS encarregado de desenvolver o programa de trabalho escravo. Ele já providenciara para que não se ignorassem oportunidades de lucro, como a remoção de obturações de ouro da boca dos mortos e, em alguns casos, dos vivos. A despeito das sanções draconianas destinadas a assegurar que só as SS, e nenhum particular, lucrassem com tais atividades, nas condições vigentes nos campos de concentração, era impossível pô-las em vigor e acredita-se que centenas de prisioneiros foram mortos apenas para se lhes arrancar as obturações de ouro. Um homem, o Kriminalkomissar Christian Wirth, perito em extermínio, vindo dos velhos institutos de eutanásia, andava pelos campos com um vidro de geléia vazio no qual recolhia as obturações de ouro.

Mesmo em 1942 ainda havia personalidades judias de renome - artistas, músicos, cientistas - vivendo na Alemanha. Himmler sabia que seu desaparecimento repentino da cena abriria um vazio muito sensível. O desaparecimento de judeus com altas condecorações de guerra (obtidas na guerra anterior, claro) também seria embaraçoso, apesar de Hitler haver declarado que "os porcos obtiveram suas condecorações fraudulentamente". Para eles foi então criado um gueto especial. Era a cidade-fortaleza de Theresienstadt, na Boêmia, cuja população fora evacuada por Heydrich, num de seus primeiros atos como Protetor. A cidade, cuja população era de 7.000 pessoas, em breve teria de acomodar 30.000.

Para a inauguração do novo gueto, a que denominaram Reserva Especial, foram convidados representantes da Cruz Vermelha alemã e internacional e oficiais dinamarqueses. Himmler mais tarde chegaria mesmo a vangloriar-se, hipocritamente, para um representante do Congresso Judeu Mundial: "Este tipo de campo foi projetado por mim e por meu amigo Heydrich, e pretendemos que todos os campos sejam assim".

A simples existência de tal lugar, onde, apesar de superlotado parecia haver certa segurança para os presos, criaria uma demanda de vagas nele. Isto poderia ser facilmente usado pela Gestapo para um comércio lucrativo, e milhares de judeus passaram pelas suas portas, acreditando terem comprado passagem para a vida, quando em verdade foram morrer nos campos mais a leste. A superlotação continuava a crescer, tornando-se tão intolerável que muitos judeus, mesmo "isentos," foram finalmente deportados. O trabalho era compulsório e duro. As rações mal atingiam o nível de subsistência e alguns internos verificaram que o regime de fome era ali mais duro que nos mais notórios campos de concentração. Rações mais generosas eram concedidas aos trabalhadores agrícolas e em mineração de mica: 250 gramas de pão por dia, com 50 gramas de batatas e mingau aguado. Em média, cerca de 130 pessoas morriam diariamente de fome.

Uma outra exploração lucrativa para as SS estava num "plano para compra de casa" inventado por Eichmann. Segundo esse plano, os que iam ser mandados para Theresienstadt tinham de entregar todos os seus bens antes da partida. A desculpa para despojá-los desse modo era que estes bens seriam usados como títulos de crédito para a compra de casa e o restante do dinheiro, após a transação, seria dedicado a prover acomodações para os que não tinham meios. Tal plano tinha seus atrativos, porque antes da emigração os judeus tinham de declarar quaisquer bens restantes, que eram automaticamente confiscados pelo governo. Desse modo, eles deixavam a impressão de que esses bens eram inteiramente aplicados às causas "judaicas" (na realidade, iam para os fundos das SS). Ao chegarem ao gueto, os judeus descobriam o que haviam comprado: um catre num barracão superlotado - se tivessem sorte, porque somente 60 por cento dos internados podiam dispor de tal luxo.

Aos olhos de Himmler, além das suas outras virtudes, Theresienstadt era um meio útil de neutralizar a propaganda de atrocidades, pois sempre que surgiam perguntas sobre o desaparecimento de um judeu famoso, este podia ser mostrado. E, talvez sentindo que a vitória não era mais a recompensa inevitável do trabalho das armas alemãs, Himmler e Heydrich mostravam-se cada vez mais preocupados com a possibilidade da descoberta dos seus atos. Noticias de massacres alemães na Rússia já estavam chegando ao conhecimento do governo soviético, através de sobreviventes e guerrilheiros, provocando forte protesto de Molotov, Ministro das Relações Exteriores russo. A recuperação de território por uma bem sucedida ofensiva russa, mesmo que finalmente detida, poderia levar a descobertas que seriam mais difíceis de ignorar, atribuindo-as à propaganda, do que as narrativas dos sobreviventes.

Pouco antes de sua partida para Praga, em maio de 1942, Heydrich chamou Blobel, o famoso homem da ravina de Babi Yar, e o encarregou de exumar e destruir totalmente os cadáveres sepultados nas grandes valas comuns. Ele também teria de cumprir as mesmas funções nos campos de extermínio à medida que entrassem em funcionamento, orientando suas administrações sobre os métodos de destruição dos ossos dos mortos.

Blobel se encontraria totalmente ocupado, pois os massacres ainda prosseguiam. No último dia de janeiro, por exemplo, 11 dias após Gross Wannsee, Franz Stahlecker, o homem que instigara os pogrom na Lituânia, comunicou a Heydrich que 229.052 judeus haviam sido executados nos Estados Bálticos. Em fevereiro e março, foi novamente visada a Rússia onde, em Kharkov, a mais oriental das cidades ucranianas, viviam cerca de 81.000 judeus. Destes, uns 20.000 haviam sido surpreendidos pela ocupação alemã. Em dezembro, eles foram removidos para um "gueto" que na realidade não passava de barracões abandonados numa fábrica de tratores. Dali eles eram levados, em grupos de algumas centenas de cada vez, para serem fuzilados. Finalmente, os barracões, contendo os corpos de muitos que tinham morrido de frio ou de fome, foram incendiados.

Assim, os Einsatzgruppen, seguindo tão de perto o exército que às vezes se tornavam uma ameaça à segurança, continuaram fazendo novas colheitas. Por volta de setembro de 1942 eles haviam atingido o ponto mais oriental: Kislovodsk, no Cáucaso Setentrional, onde uns 2.000 judeus daquela cidade e milhares de outros, vindos de Piatygorsk e Essentuki, foram fuzilados. Quando o Exército Vermelho avançou, esta foi a primeira grande vala comum descoberta. A 29 de outubro de 1942, os judeus sobreviventes de Pinsk, num total de uns 16.000, foram liquidados.

Mas era na Polônia, sobretudo nas províncias orientais do Governo-Geral, que a "Solução Final" estava sendo aplicada mais metodicamente. Os judeus da Galícia Oriental haviam escapado temporariamente ao destino dos que foram surpreendidos pelo avanço alemão porque, a 1o de agosto de 1941, a província foi entregue à administração de Frank, como parte do Governo-Geral, ficando assim fora da área operacional dos Einsatzgruppen. Porém, em dezembro daquele ano, numa comunicação aos membros de seu gabinete, Frank anunciou que seu domínio "tinha de ficar livre de judeus, tal como havia sucedido no Reich". Há certa evidência de que ele estava preparando também uma "Solução Final"; mas que não se encaixaria de modo algum nos planos de Himmler, ainda que apenas porque o Reichsführer-SS e o chefe do Governo-Geral raramente concordavam e, aliás, Himmler já encarregara Odilo Globocnik da tarefa de executar a "fase quatro" da operação, destinada a destruir todos os guetos e reservas poloneses. Esta era a planejada redução dos guetos mediante a liquidação dos judeus considerados não-essenciais ao trabalho.

Este programa recebeu o codinome de Aktion Reinhard, homenagem adequadamente prestada à memória de um homem a cujo gênio maligno muito devia a "Solução Final", o falecido Reinhard Heydrich. A consumação dos seus planos se tornou possível à medida que nos campos já existentes e nos que vinham sendo construídos eram instalados equipamentos para promover por asfixia a morte coletiva de judeus, na primavera de 1942. Mas, na verdade, no primeiro lugar escolhido, os únicos meios de execução eram os caminhões de envenenamento a gás usados na Rússia. Estes foram desviados para Chelmno, um campo de concentração situado ao redor de um castelo abandonado, ironicamente chamado "O Palácio", destinado a sediar o gueto de Lodz. Os caminhões de envenenamento a gás continuaram sendo usados durante toda a existência do campo, nos quais as vítimas entravam persuasivamente ou a poder de chicote. Ao todo, 152.000 judeus foram assassinados ali.

No gueto de Lodz havia umas 30.000 pessoas e fez-se um começo de recolonização com deportados do Reich e membros de algumas das comunidades menores adjacentes. Entre janeiro e setembro de 1942, 55.000 vítimas foram transferidas de Lodz para Chelmno. Embora o índice de mortalidade fosse alto, os caminhões de envenenamento a gás podiam cuidar aos poucos dos grandes números, e foram a doença, a fome e o trabalho excessivo os responsáveis pela maioria das mortes. Aliás, os habitantes do gueto estavam em condições físicas tão ruins que os necessários ao trabalho forçado passaram a ser trazidos de outros lugares.

Lodz ficava na fronteira dos territórios incorporados ao Reich e do Governo-Geral, valendo lembrar que uma das finalidades desse massacre era proporcionar Lebensraum (Espaço Vital) para os germânicos que estavam de volta, de acordo com as instruções de Himmler, como Comissário para o Fortalecimento do Povo Alemão. Pelo final de 1941, um total de 497.000, inclusive os dos Estados Bálticos e da Romênia, havia-se mudado para uma área anteriormente ocupada por um milhão e meio de poloneses e judeus. Por volta de junho de 1942, 120.000 deles ainda estavam abrigados em campos. Em agosto de 1943, o número aumentara para 546.000 e havia cerca de 99.500 em campos e 22.000 perto de Lodz, todos na miséria, vestindo-se com roupas tiradas aos judeus exterminados.

Em meados de março a morte inaugura outra usina, esta em Belsec, o primeiro campo permanente para envenenamento a gás. Ele era dotado de quatro câmaras de gás, com capacidade para 750 pessoas, que eram saturadas com os gases da descarga de um motor diesel. Freqüentemente o motor enguiçava, quando então as vitimas passavam horas encerradas nas câmaras, ouvindo-se os seus gemidos do lado de fora. Não obstante, 15.000 vítimas de Lublin, a "reserva judia", foram ali asfixiadas. O resto, cerca de 11.000, foi para Majdanek, onde sobreviveram pelo menos até que as câmaras de gás ficaram prontas, no outono.

Durante o mês de abril o gueto de Lwow é que foi recolonizado, quando umas 15.000 pessoas foram removidas durante o primeiro mês, muitas outras em maio e junho, embora o movimento se atrasasse porque Belsec estava superlotado.

Outras operações ocorriam simultaneamente nos guetos menores e, por volta de julho de 1942, 250.000 judeus, do total de 1.600.000 que havia no Governo-Geral, tinham sido recolonizados.

E os fuzilamentos prosseguiam. No transcurso do verão, cerca de 7.000 crimes por dia eram cometidos; provavelmente cerca de meio milhão de judeus pereceram em toda a Polônia. Num dos grandes massacres, em Lida, morreram 16.000. Goering pôde dizer numa conferência: "Só restam uns poucos judeus vivos. Dezenas de milhares têm sido eliminados". Pelo final daquele ano, o número dos assassinados no Governo-Geral saltara de 250.000 para 1.274.166.

Foi do local de um desses banhos de sangue, no aeródromo de Dubno, na Ucrânia, a 5 de outubro, que um dos relatos mais completos do que uma execução em massa significava para suas vítimas chegou até nós. Hermann Gräbe, um engenheiro civil alemão, depondo no Tribunal de Nuremberg, durante os julgamentos de Crimes de Guerra, declarou que viu grande número de pessoas alinhadas contra um grande monte de terra. Entre elas havia uma mulher, de cabelos brancos, ninando uma criança de não mais que um ano de idade; em outro lugar, um pai segurava a mão de seu filho, de uns dez anos, afagando-lhe a cabeça, enquanto o menino tentava conter as lágrimas; uma jovem esguia, de cabelos negros, ao passar por Gräbe apontou para si mesma e disse: "Vinte e três anos".

Gräbe, espantado por não o terem mandado sair dali, foi para o outro lado do monte. Havia um poço enorme, contendo talvez uns mil corpos, quase todos apresentando sangramento na cabeça. Muitos ainda se moviam; alguns tentavam mostrar, com as mãos erguidas, que se encontravam ainda vivos, talvez para que os eliminassem de vez.

Numa extremidade do poço sentava-se um homem das SS, com os pés pendendo para dentro dele, um fuzil-metralhadora nos joelhos e um cigarro preso aos lábios. O grupo de pessoas que Gräbe vira do outro lado foi trazido para ali. Ele as viu descer ao poço sob as ordens do homem das SS. Então houve uma série de disparos. Quando ele tornou a olhar, alguns corpos ainda se mexiam; outros jaziam imóveis.

Ele viu outro grupo ser trazido para o local de fuzilamento, inclusive uma mulher paralítica, que por ordem de um SS foi despida e carregada pelos demais condenados.

Na manhã seguinte, Gräbe retornou ao local do poço; cerca de 30 pessoas haviam saído dali, arrastando-se, tendo algumas chegado a percorrer certa distância. Logo depois chegou um grupo de SS, trazendo alguns judeus retirados do cativeiro em que aguardavam a visita da morte. Após terem carregado, por ordem dos SS, os mortos de volta ao poço, foram também executados.

Todos, segundo Gräbe, iam humildemente ao encontro da morte, obedecendo ordens destinadas a facilitar aos carrascos a própria execução. Ninguém implorava misericórdia. Ninguém procurava escapar. Ninguém resistia.

Mas a resistência viria depois.

As operações de recolonização realizadas de acordo com a chamada Aktion Reinhard ainda não haviam chegado ao maior gueto da Polônia - Varsóvia. Nele havia cerca de 380.000 habitantes e, em julho, Globocnik, entre outros, achou que havia chegado a hora de cuidar dele. Para começar, cerca de 7.000 judeus, portadores de licença de trabalho, por conseguinte com execução adiada, haviam sido mortos, naquele mês, no gueto de Rowno, o mais próximo do de Varsóvia. Todas as precauções haviam sido tomadas para que ninguém neste gueto soubesse do que acontecera lá. Em grande parte as providências tinham funcionado, mas, com o passar dos dias, aumentava a possibilidade da descoberta do que havia acontecido, o que talvez levasse o judeu de Varsóvia, em desespero, a resistir à recolonização.

Contudo, havia boas razões para o atraso. Uma delas era a escassez de transporte, causada pelos preparativos para a ofensiva de verão da Wehrmacht na Rússia, pois Hitler prometera que a campanha no leste terminaria definitivamente naquele ano. Na verdade, os preparativos para a ofensiva tinham impedido Heydrich de mandar judeus para os guetos russos a partir de março. Mas, a despeito do problema, Himmler conseguiu algumas unidades das Ferrovias Estatais. Por volta de julho, ainda no início da ofensiva, saia diariamente um trem levando judeus de Varsóvia para o campo de extermínio em Treblinka, desde o dia da sua inauguração. Este campo, que entrou em funcionamento no dia 23 de julho, foi o penúltimo dos principais campos da morte a ser construído. O último, Sobibor, só foi inaugurado em fins de outubro, devido a um motim, dirigido por um polonês, no qual cerca de 150 judeus tentaram uma fuga em massa. A maioria morreu na área minada que cercava o campo, e somente uns 30 sobreviveram à guerra. Quase um ano depois, idêntica revolta registrou-se em Treblinka, também dirigida por um polonês, desta vez um capitão do exército. Os judeus chegaram a penetrar no arsenal e apossar-se de armas, mas a revolta fracassou, sendo massacrados os amotinados. Contudo, dois meses depois disso, em novembro de 1943, o campo foi destruído por explosões. Esvaziadas as valas comuns, a área foi plantada de pinheiros. Apesar dessas dificuldades, Sobibor e Treblinka, juntos, conseguiram eliminar mais de um milhão de judeus da Rússia, Tchecoslováquia, Áustria, Holanda e França.

O processo de seleção, que iniciou a recolonização de Varsóvia em 1942 e enviou para Treblinka tantas e tantas vítimas, foi executado de acordo com o padrão estabelecido, escolhendo-se os que não possuíam certificado de trabalho, os velhos, os doentes e as crianças. As listas tinham de ser fornecidas pelo Conselho Judeu do gueto - transformando os judeus, ali como em todos os outros lugares, em cúmplices de seus próprios assassinos.

Enquanto os Estados Unidos ainda não estavam em guerra com a Alemanha, os judeus de Varsóvia que eram cidadãos americanos, depois de instruídos a se registrarem, foram enviados para uma prisão especial - o que deveria ter funcionado como advertência de que algo estava prestes a acontecer, mas nessa época ainda não havia resistência organizada no gueto. Sabia-se que milhares de judeus estavam ocultos atrás daquelas paredes, mas as condições eram tais, que muitos se juntavam voluntariamente às colunas de deportação, só para conseguir a ração de viagem de pão e geléia.

Embora os documentos alemães registrem que 5.000 judeus deixavam Varsóvia diariamente, o Conselho Judeu recebera ordens de fornecer 6.000 por dia, o que não poderia prosseguir indefinidamente sem acabar incluindo os portadores de certificados. Os alemães passaram então a proceder como em outros lugares: mudavam constantemente os certificados, anulando os anteriores. Os que não possuíam documentos atualizados eram arrebanhados, e muitas vezes as mulheres e filhos dos portadores de certificados válidos eram arrastados enquanto o marido se encontrava trabalhando.

Por volta de 15 de agosto metade do gueto se fora, reduzindo-se à metade a área que lhe correspondia, a primeira de várias reduções registradas. No dia seguinte, novo certificado de trabalho foi emitido, limitado a 30.000 trabalhadores, sem incluir seus dependentes. Entre 5 e 12 de setembro organizou-se um novo arrebanhamento. No decurso desse período, cerca de 100.000 semitas, incluindo empregados do Conselho Judeu, membros do Ordnungsdienst (a polícia judaica do gueto), foram recolonizados. O tamanho do gueto foi novamente reduzido. Por volta de 3 de outubro restavam oficialmente no gueto uns 30.000 judeus, embora, na realidade, incluindo-se os que permaneciam escondidos, houvesse uns 60.000 ou 70.000 sobreviventes.

Contudo, os judeus restantes estavam em grande parte livres de dependentes e, nessa situação, preparados para aceitar as ordens da grupo de resistência que fora secretamente criado. A longo prazo, verificou-se que, ao desmembrar as famílias, os alemães cometeram um erro.

O novo ano, ao começar, encontrou o Conselho Judeu, mesmo com a população do gueto enormemente reduzida, às voltas com o preenchimento da cota 5.000 diários relacionando inclusive os que trabalhavam nas fábricas de armamento. Em janeiro de 1943 Himmler fez uma visita de surpresa a Varsóvia, mostrando-se irritado ao verificar que havia ali mais gente do que esperava encontrar. A recolonização, ordenou ele, tinha de estar terminada até 15 de fevereiro.

Alguns gerentes de fábrica alemães, tentando conservar seus empregados judeus, falseavam a verdade ao elaborar as listas de operários semitas que possuíam, chegando até a ocultá-los, para manter a produtividade do estabelecimento.

A 18 de janeiro, quatro dias após a visita inesperada de Himmler, uma coluna de deportados marchava para o ponto de transferência, o Caldeirão, como era chamado, quando vários deles sacaram de armas e abriram fogo. Tais armas eram pistolas de fabricação italiana, adquiridas no mercado negro ao preço de 50 libras cada uma. Esta insignificante reação foi imediata e mortiferamente respondida, obrigando os judeus a recuar, à procura de proteção, largando os seus mortos. Durante três dias a caçada prosseguiu, mas mesmo depois que os alemães colocaram canhões de campanha para demolir a ala nordeste do gueto, onde havia cerca de quatro grupos de resistência ocultos, nem todos foram destruídos, e os alemães suspenderam a ação.

Himmler ordenou fosse construído um campo de concentração dentro do gueto e, quando pronto, todos os prédios deveriam ser arrasados. Mais tarde, os judeus e as oficinas em que trabalhavam seriam transferidos para Lublin.

Entrementes, a 13 de março, o gueto de Cracóvia foi recolonizado. Havia ali cerca de 14.000 judeus que foram em dois dias apenas enviados a campos de extermínio e de trabalho escravo.

No dia em que se iniciou a recolonização de Cracóvia, ao Conselho Judeu de Varsóvia foi enviada ordem para apresentar 2.000 pessoas a serem colocadas num campo provisoriamente instalado em Trawniki. Nem o conselho nem seus auxiliares, os policiais judaicos do Ordnungsdienst, puderam cumprir as ordens. Os grupos de resistência estavam no controle e o conselho caíra num fogo cruzado. Se desobedecesse sos alemães, iria para Treblinka; se obedecesse, seria morto pela resistência. Os alemães tiveram, eles próprios, de ir apanhar os que desejavam deportar.

A 17 de abril, o Major-General SS Jürgen Stroop chegou para assumir o posto de Alto Líder SS e da Polícia em Varsóvia. Dois dias depois colocou ele no gueto dois carros blindados, três peças de artilharia e um tanque francês capturado na Campanha de 1940. Como demonstração de força o efeito foi nulo, e ele teve de dividir o gueto em setores controlados por diferentes unidades que o "pacificariam".

Ele tampouco encontrou cooperação entre os donos de fábricas alemães. Grandes abrigos haviam sido construídos nos terrenos de muitas das fábricas, contra ataques aéreos. Neles grandes grupos de judeus se ocultaram, com o conhecimento dos seus empregadores.

A 21 de abril, Stroop conseguiu arrancar mais de 5.200 judeus das fábricas de armamentos e deportá-los. Mais tarde, ele descobriu que ainda restavam alguns, que, metidos em uniformes do exército alemão, roubados à fábrica, passavam por soldados alemães.

Foi neste ponto que, cumprindo ordens de Himmler, Stroop decidiu pela destruição metódica do gueto, por meio de incêndios e explosões. Não havia armas suficientes para todos os judeus, além de muitos deles não apresentarem condições de lutar, os velhos e os doentes. Numerosos judeus preferiram morrer nas chamas a renderem-se, embora fosse arrebanhada quantidade suficiente, até 25 de abril, para serem enviados 25.000 para Treblinka, logo depois desta data.

Mas a batalha estava longe de terminada. Os elementos da resistência travaram contato com guerrilheiros poloneses, que lhes forneceram armas e mandaram combatentes para o gueto. No fim, os que se ocultavam nos esgotos foram dali expulsos por efeito de bombas de fumaça, que lhes deu a impressão de estarem sendo envenenados a gás.

A 28 de abril foi capturado um bunker (abrigo) onde viviam alguns dos membros mais ricos e importantes do gueto. Até então Stroop evitara fazer explodir os bunkers, para não danificar as fábricas e suas ferramentas. Mas a política por ele adotada mudara, sendo várias fábricas dinamitadas. Os moradores dos bunkers, como tantos outros, preferiram morrer onde estavam.

Já então cerca de 1.100 soldados estavam empenhados na limpeza do gueto, número não muito grande em comparação com a quantidade de alemães empenhados em ações guerrilheiras, mas humilhantemente desproporcional à tarefa. A 9 de maio, Stroop capturou o que admitiu ser o QG oculto e, com ele, o vice-líder do comitê de resistência. Mesmo assim, a resistência prosseguiu, embora a 11 de maio ele fosse informado por um prisioneiro que todos os lideres se haviam suicidado. Assim, Stroop decidiu suspender a ação.

Pequenos grupos de prisioneiros caíram-lhe nas mãos e, embora houvesse ele descoberto que os judeus restantes esperavam continuar ocultando-se, aguardando que ele se fosse embora, Stroop manteve-se decidido a terminar a batalha. A 16 de maio, dia em que ela terminou oficialmente, uma sinagoga e um cemitério judeu foram destruídos por explosões. No próprio gueto, cerca de 7.000 judeus haviam sido mortos, e para Treblinka e outros campos foram levas enormes. Mas durante os meses seguintes ainda se arrancavam resistentes dali.

Himmler, ao tomar conhecimento da ação, através de Stroop, que lhe enviou um relatório copiosamente ilustrado e encadernado a couro, ordenou que a área do gueto fosse inteiramente arrasada, inclusive porões e galerias de esgoto e que a área recuperada fosse transformada num jardim público. Esse trabalho prosseguiria até o Levante de Varsóvia dos resistentes poloneses, no ano seguinte, quando o Exército Vermelho estava a uns 24 km dali.

A Aktion Reinhard terminou oficialmente em outubro de 1943, e em dezembro do mesmo ano Globocnik apresentou sua conta de "lucros e perdas", que incluía não só o número de mortos mas também seus pertences, entre os quais, além de termômetros e despertadores, havia presentes de amor ou estima: lapiseiras de ouro e prata, jóias, relógios, cigarreiras, isqueiros. O valor desses objetos totalizava 178.745.000 Reichsmarks.

Entrementes, Himmler ainda estava empenhado em seus empreendimentos comerciais. A 12 de março de 1943 as SS tinham fundado mais uma de suas próprias empresas, as indústrias Osti (Leste) GmbH, com Oswald Pohl na presidência e Odilo Globocnik como diretor-gerente. Sua finalidade era assumir a direção de algumas das fábricas de Lubtin, já prontas ou em construção. Uma vez revogadas as medidas de exceção concedidas aos judeus em atividade nas fábricas de armamento, eles cairiam totalmente sob o controle das SS, não só os das fábricas da Polônia e outros locais, como os do próprio Reich, cuja deportação Goering fora obrigado a suspender no ano anterior.

Tudo foi feito para que estes judeus fossem deslocados rapidamente para o leste. Três composições de deportação partiram de Berlim, levando operários das fábricas de munição, entre janeiro e o fim de fevereiro de 1943, sem chamar atenção. Um quarto trem, que a 27 de fevereiro, segundo o cronograma de Himmler, deveria carregar judeus famosos do Reich, não partiu, embora as fábricas estivessem cercadas por unidades do SS Leibstandarte Adolf Hitler, formações de guardas escolhidos. O arrebanhamento fracassou, pois os judeus haviam sido avisados. Quatro dias depois, outra tentativa foi frustrada, desta vez por tremendo ataque aéreo da RAF contra a capital. Houve uma demonstração de protesto e resistência quando os nazistas pretenderam arrastar internos de um asilo de velhos. Toda a ação teve de ser suspensa. Segundo os dados do recenseamento feito em 1933, havia na Alemanha de antes da guerra 499.682 judeus. Calcula-se que 123.000 tenham sido mortos.

Cerca de 180.000 judeus foram deportados até maio de 1943, dos quais 100.000 foram enviados para Theresienstadt, onde cerca de 60.000 morreram. Sempre houve grandes números de ocultos; em 1943, provavelmente montava a 40.000.

Mesmo assim, Globocnik pôde vangloriar-se de que, com judeus vindos de toda parte, havia 45.000 escravos empregados pela Osti. As mesmo tempo, ele se queixava que não conseguiam receber ordens. Himmler odiava ouvir falar de fracassos, e Globocnik começou a cair em desgraça após alguns negócios escusos, sendo em pouco demitido e estacionado em sua cidade natal, Trieste. Consta que ele suicidou-se em junho de 1945.

Em junho de 1943, ele foi autor de outra proposta que não conseguiu alcançar crédito algum. Propunha o deslocamento dos judeus de Litzmannstadt, próximo de Lodz, para Lublin, e fechar o campo de Litzmannstadt. Ali ainda havia gente trabalhando em indústrias isentas e estas foram imediatamente inundadas de ordens para salvá-las da "recolonização". Himmler já estava farto da inabilidade e cupidez de Globocnik. No começo de setembro, Oswald Pohl encarregou-se das suas Funções, de diretor-gerente dos dez campos da Osti. Mas Himmler também se cansara destes. A 3 de novembro, cinco deles foram fechados. Sem que qualquer dos executivos da Osti soubesse, foi feita uma seleção de elementos escravizados pela torpe organização e, num dos maiores massacres isolados da "Solução Final", 16.000 judeus, em questão de horas, foram metralhados, subindo a 40.000 o número de mortos ao fim da "festa" do sádico. Durante a cremação dos corpos, toda a cidade de Lublin ficou coberta de cinzas.




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#30 Mensagem por Clermont » Dom Mai 07, 2006 10:11 pm

GENOCÍDIO – A DESTRUIÇÃO DAS MINORIAS – parte 6.

Ward Rutherford (digitado por Adolfo Luna Neto)

Auschwitz

A primavera de 1942 presenciou outro marco na conclusão da "Solução Final". Foi a entrada em funcionamento das imensas câmaras de gás de Auschwitz, podendo, cada uma delas, executar 2.000 vítimas de cada vez. Este campo, mais que qualquer outro, tornou-se sinônimo de extermínio, de tal modo que, quando se dizia que alguém "fora para Auschwitz", automaticamente aceitava-se a idéia de sua morte.

Himmler tinha por Auschwitz preferência sobre os demais campos. Ele recomendou a Rudolf Höss, quando o encarregou da ampliação do campo, "que nele incluísse instalações de extermínio, que ele estava favoravelmente situado com relação a comunicações técnicas e... que a área era fácil de isolar e camuflar". A camuflagem de que falava era uma fábrica de borracha sintética (Buna) da I. G. Farben, que empregava mão-de-obra do campo; embora a alguma distância dele, ou seja, em Monowitz. Na verdade, Auschwitz era composto de dois campos distintos. O campo de concentração propriamente dito denominava-se Auschwitz ou Auschwitz I, e o campo de extermínio, cerca de três quilômetros dali, em Birkenwald, era chamado Auschwitz II ou Auschwitz-Birkenau.

Para a sua instalação, cerca de 8.000 hectares de terra haviam sido desapropriados. Somente homens das SS, ou empregados civis com passes especiais podiam entrar na área. Todo o equipamento para o assassinato em massa estava oculto nas florestas e, segundo Höss, "era impossível vê-lo", o que não é de todo verdade. Suas altas chaminés eram visíveis da ferrovia, e amontoavam-se nas janelas dos trens os passageiros, que sabiam de que se tratava, de campos de concentração, embora não conhecessem a totalidade do horror que ali se encerrava.

Auschwitz I e Auschwitz-Birkenau eram, individualmente, os maiores campos da Alemanha. Assim, como comandante desse complexo, Höss sentia-se uma pessoa de certa importância. Ele tinha 42 anos, era filho de um lojista de Baden-Baden e se destinava ao sacerdócio. Aos 22 anos, rompeu com a Igreja e ingressou no NSDAP. Em 1923 fora condenado à prisão perpétua, por participar do assassinato de um professor que, segundo se dizia, denunciara um antigo nazista aos franceses ocupantes.

Na prisão ele conheceu Martin Bormann, que viria a dirigir a Chancelaria do Partido de Hitler. A subida do partido nazista ao poder, em 1933, ainda o encontrou na prisão, mas em 1934 ele tornou-se líder de quarteirão no Campo de Concentração de Dachau - o primeiro campo -, posição concedida a prisioneiros de confiança. Em 1936, foi feito segundo-tenente no Totenkopf Verbände, as unidades de guardas SS dos campos de concentração. Assim, este preso e interno de campo de concentração cruzou a divisa aparentemente intransponível entre guardado e guarda e, feito isso, subiu ao posto de tenente-coronel das SS. Uma fotogratia sua, tirada durante o julgamento a que foi submetido em Varsóvia, mostra um homem de olhos sensíveis e ansiosos, no rosto a expressão de um sacerdote consciencioso que, a despeito da religiosidade que aparenta, é vítima de dúvidas. "Uma personalidade não de todo deste mundo", disse o Dr. G. M. Gilbert, psiquiatra de Nuremberg. Höss declarou que, embora cumprisse a Ordem do Führer sobre os extermínios, era portador de sérias dúvidas.

A área sob seu comando, o grupo de campos de concentração chamado Auschwitz, ficava perto do Governo-Geral, numa área da Polônia meridional que fora absorvida na Silésia. Assim, o maior dos campos da morte estava geograficamente dentro do território do Reich, conforme definido após a queda da Polônia.

Os esforços para disfarçar a função de Auschwitz-Birkenau não se limitavam à "camuflagem" externa. Como em outros campos (Treblinka, por exemplo, tinha uma falsa estação ferroviária), tudo era feito para não despertar nos recém-chegados qualquer suspeita. Algumas das câmaras de gás eram subterrâneas; outras ficavam no nível do crematório. Todas eram internamente equipadas com chuveiros. O terreno que recobria as câmaras de gás havia sido gramado e em Birkenau uma orquestra cigana tocava para os condenados, executando trechos de Franz Lehar e Strauss. Os gramados eram pontilhados de tubos ventiladores através dos quais eram lançados os cristais de Zyklon B. A grama e os ventiladores eram muito comuns na prática militar alemã, não dando, portanto, motivo a suspeitas, embora mais tarde a função dos bunkers fosse do conhecimento inclusive dos que estavam prestes a entrar neles.

Mesmo os prédios dos crematórios não eram externamente desagradáveis, embora o tamanho das chaminés talvez parecesse desproporcional para a finalidade.

Num dia normal, o aspecto tranqüilo que o campo oferecia só era quebrado pela fumaça que saía daquelas chaminés, pois tudo, inclusive as melodias da orquestra cigana, havia sido preparado para que a destruição de homens, mulheres e crianças se fizesse ininterrupta e livremente.

No mundo do pós-guerra, a imagem que se tem de Auschwitz, construída tendo por base o que ali se verificou, é do fluxo continuo de alimento para as câmaras de gás. Na verdade, havia temporadas de assassinato, correspondendo aos arrebanhamentos realizados por todo o Departamento IVA46 do RSHA de Eichmann. Na "temporada", de quatro a seis semanas de duração, dois ou três trens por dia traziam cerca de 2.000 pessoas - o bastante para encher as câmaras uma vez. Antes da partida das levas para Auschwitz, um teletipo era enviado de Berlim, da Kurfürstenstrasse, n° 116, dando o número de pessoas a serem esperadas, incorporando a expressão: "destinadas, de acordo com as diretivas, a tratamento especial". Na chegada, o trem era passado para o desvio de Birkenau. Como medida de segurança, a locomotiva era desligada da composição, o pessoal da ferrovia, mandado sair da área, como também os guardas que haviam acompanhado o trem. Daí por diante, tudo corria por conta da guarda do campo. Esses artifícios em geral falhavam, porque os ferroviários com freqüência conseguiam tirar fotografias das "casas de banho" de Auschwitz e Treblinka para vender, sabendo perfeitamente bem o que eram tais casas. Algumas dessas fotos chegaram até o gueto de Varsóvia.

Para os recém-chegados ao campo, a etapa seguinte era o processo de seleção, feito por médicos das SS. Durante os dois anos e meio de vigência do sistema, a seleção era sempre realizada no local e pelas mesmas razões: qualquer um que pudesse servir de empecilho - criança de tenra idade, mãe com bebê, mulher grávida, doente, idoso - era automaticamente transferido da coluna dos vivos para a dos que morreriam imediatamente, muitas vezes por um simples gesto de bengala.

Os que recebiam a trégua temporária eram então levados para a área de trabalho de Birkenau ou para o campo principal de Auschwitz.

Os escolhidos para a morte, aos quais às vezes se juntavam alguns que já se encontravam nos campos, eram então levados para um grupo de prédios onde lhes mandavam despir-se para um banho de chuveiro para "despiolhar"; então desciam uma rampa que levava à câmara de gás, se esta era subterrânea, ou percorriam um corredor aberto, cercado de arame farpado de ambos os lados, se a câmara era na superfície. Uma vez no interior da câmara, grandes portas de ferro fechavam-se com estrondo e eles esperavam que a água caísse dos chuveiros instalados no teto.

Do lado de fora, no gramado, as tampas, tipo cogumelo, dos ventiladores eram retiradas e à ordem: "Dêem-lhes a comida", os cristais de cianeto eram lançados nos tubos que levavam ao interior da câmara e que a percorriam em pilastras de metal perfurado. Depois de algum tempo, por efeito do gás sentido lá dentro, todos tentavam escapar; as pessoas se atiravam contra as portas, arranhando-se, atacando-se mutuamente. A morte demorava de cinco a quinze minutos.

Quando tudo lá dentro silenciava, quando os gritos de desespero se calavam, sinal de que a morte pusera fim à agonia dos condenados, ligavam-se então os exaustores e o Comando Especial, composto de judeus, que terminariam também nas câmaras, usando máscaras contra gás e botas, reabriam as portas. Os mortos, agora uma compacta massa, eram separados, com cordas e ganchos, para que lhes fossem retirados dentes e obturações de ouro, cabelos e óculos. Então os corpos eram levados para as fornalhas do crematório, por elevadores ou vagões ferroviários, dependendo da câmara usada. Eliminados os cadáveres, os ossos eram reduzidos a pó num moinho (por conselho de Blobel).

Este é o processo ao qual denominaram Sonderbehandlug - Tratamento Especial.

Contudo, a capacidade de Auschwitz é que o transformou no local predileto para a aplicação internacional da "Solução Final". O que ali ocorria em nada diferia do que se passava nos demais campos de extermínio, exceto quanto ao vulto da chacina. E isto marcou-o na memória dos povos.

Tanto na Grécia, como na poesia existencialista da França, o nome aparece na "nova música" a ser cantada com acompanhamento de bouzouki. Pois ali, de um total estimado em 67.000 judeus antes da guerra, pouco mais de 10.000 sobreviveram. Só de Salônica, onde havia a maior das comunidades de judeus gregos, cerca de 45.000 foram levados.

Na Iugoslávia, que não estava toda sob ocupação alemã, provavelmente 55.000 judeus pereceram. A cidade de Belgrado foi declarada livre de judeus em julho de 1941. Na Croácia, que se fizera estado independente, cerca de 20.000 judeus se refugiaram com os italianos, que tinham interesses na área. Os alemães iniciaram esforços diplomáticos para recuperá-los, mas seus anfitriões introduziram toda sorte de atrasos e confusões, de modo que, no fim, os alemães tiveram de contentar-se com os poucos que tinham conseguido agarrar.

A ordem de Hitler fora bem específica: todos os judeus da Europa deviam ser aniquilados. Assim, não só no leste como também no oeste, o nome de Auschwitz ressoa como um grito terrível saído de dentro de uma floresta escura.

A mais importante das nações do oeste era, naturalmente, a França, e em 1942 na Kurfürstenstrasse n° 116 ainda havia preocupação com a falta de entusiasmo daquele país pela "Solução Final". O RSHA mostrava-se de certo modo culpado por não ter insistido, em maio de 1940, no tipo de acordo que funcionara de modo tão admirável na Rússia, onde seus Einsatzgruppen eram independentes do exército e resolveram por si próprios o problema judeu. Na França e na Bélgica foi difícil sequer introduzir a Estrela de Davi, o que só foi feito em junho de 1942, mesmo assim diante de oposição.

Para tentar pôr as coisas nos eixos, em outubro de 1941 registrou-se uma tentativa confusa de incendiar duas sinagogas, para que se tivesse a impressão de que os franceses queriam livrar-se também dos judeus. Ninguém se deixou iludir, descobrindo-se que a tentativa fora causada por um francês a serviço da Gestapo. Isto quase se transformou num incidente internacional.

Quando, contudo, houve uma série de ataques a soldados alemães, o fato foi bem aproveitado pelos nazistas: 1.100 judeus e 500 comunistas foram deportados para "trabalhos forçados" no leste.

No oeste os alemães não haviam criado guetos. Eles persuadiram os governos dos paises sob seu domínio a abrir "campos de internação" locais, que, de várias maneiras, serviram aos interesses dos colaboracionistas que, embora colaboracionistas, não apoiavam inteiramente os excessos do antisemitismo nazista. Enquanto os judeus internados estivessem em território nacional, eles achavam que tudo estava bem, e até mesmo os próprios judeus, livres e internados, compartilhavam dessa ilusão. Devido a isso, os alemães tiveram êxito, até que seus verdadeiros planos se tornaram conhecidos, isto é, conseguir arrebanhar e encarcerar grande número deles nos campos, de onde poderiam ser tranqüilamente levados para serem exterminados.

Na França Ocupada havia um desses campos, em Drancy, e dali, entre abril e junho, saíram cinco trens, levando 5.000 pessoas cada um, para Auschwitz.

Contudo, Eichmann estava de olho numa leva bem maior e a 16 de julho realizou-se um arrebanhamento muito bem planejado. Neste, esperava-se que pelo menos 22.000 judeus apátridas seriam recolhidos em Paris. Na realidade, a operação conseguiu pouco menos de 13.000, incluindo umas 4.000 crianças. Desses 13.000, 6.000 foram mandados diretamente para Drancy; o restante, inclusive as crianças, passaram cinco dias numa praça de esporte, o "Vélodrome d'Hiver". Os adultos foram então despachados para Auschwitz e as crianças para Drancy. No devido tempo, também elas foram enviadas para Auschwitz, com gendarmes franceses, para sua eterna vergonha, ajudando a arrastar os pequeninos em pânico para os trens da morte. (A gendarmeria francesa hoje ostenta orgulhosa a fourragère vermelha da Legião de Honra, pela sua "luta contra os alemães"!) Em novembro, ferroviários belgas examinaram vagões que haviam retornado vazios do leste e encontraram os corpos de 25 crianças de dois a quatro anos de idade.

Estes eram os judeus da cidade mais civilizada do mundo - Paris - sob o Terceiro Reich de Hitler.

Pelo final do verão, 25.000 judeus haviam sido deportados da França Ocupada, embora nenhum tivesse deixado o Território Não-Ocupado de Vichy. Esforços para convencer o governo de Pétain, através do seu Ministro do Exterior, Laval, para revogar as naturalizações que tornavam os judeus cidadãos franceses, em geral foram inúteis. Eichmann podia vituperar quanto quisesse ao ver os trens retornar vazios ou serem cancelados por falta de carga. Este crime não pode ser imputado a Laval, embora ele tivesse tornado insuportável a vida dos judeus franceses, através de seu Comissário de Assuntos Judaicos, Pellepoix.

Mesmo após a ocupação de toda a França, em novembro de 1942, os judeus ainda podiam encontrar santuário na zona de ocupação italiana, no sul. Pois, embora Mussolini tivesse adotado medidas contra os judeus já em 1938, estas encontraram tão reduzido apoio no seio do povo, que jamais puderam ser postas em vigor.

País vizinho da França, na Bélgica o campo de internação era a Caserna Dossin, em Malines. De 4 de agosto de 1942 em diante, um serviço de trens destinado a levar judeus para Auschwitz estava funcionando, mas as tentativas de arrebanhamento mostravam-se difíceis, porque entre os belgas não havia hostilidade para com os judeus. Serras, com que os prisioneiros podiam abrir buracos nos trens, eram-lhes contrabandeadas; ferroviários conseguiam deixar as portas de alguns vagões abertas; e uma vez um trem caiu numa emboscada organizada por guerrilheiros belgas e 150 judeus escaparam. Mesmo assim, cerca de 25.000 deles foram deportados.

Na Holanda, na segunda quinzena de julho de 1942, 5.742 judeus foram levados para Auschwitz, retirados do campo de Westbork. Contudo, como acontecia na Bélgica, a deportação estava sendo um trabalho difícil. Muitos judeus começaram a ser escondidos em casas de famílias holandesas (o mais famoso desses judeus foi Anna Frank, uma frágil menina que permaneceu oculta num sótão com a família e que escreveu um diário comovente, bastante divulgado). Depois de buscarem judeus por todos os cantos, os alemães se voltaram contra os asilos de velhos; desamparados, orfanatos e hospícios, para que os trens não voltassem vazios, preocupação única dos nazistas.

Foram feitas também tentativas de impor a "Solução Final" na Escandinávia ocupada. Na Noruega, cerca de 725 judeus foram arrebanhados pela polícia alemã e pela milícia de Quisling em novembro de 1942. Destes, só 26 não foram deportados. Outros 158 seguiram em março de 1943. Apenas 13 sobreviveram à guerra. Contudo, um número maior, cerca de 900, conseguiu escapar cruzando a fronteira da Suécia neutra, ajudados pelo underground norueguês.

Na Dinamarca, país neutro, mas ocupado pelos alemães, esforços para usar pressões diplomáticas e medidas destinadas a impor a "Solução Final" fracassaram quase que totalmente. Duas razões principais concorreram para isso: uma foi a resoluta posição do Rei Cristiano - ele disse que se a Estrela de Davi fosse introduzida, ele e sua corte seriam os primeiros a usá-la, e passou a comparecer às festas religiosas judias nas sinagogas de Copenhague. A segunda razão do fracasso era o fato de que, como na Noruega, os dinamarqueses conseguiram contrabandear muitos judeus para fora do país.

Os esforços de Eichmann não se limitavam sos países submetidos pela Alemanha. Através do Departamento Deutschland III, do Ministério das Relações Exteriores de Ribbentrop, foram feitas pressões sobre os aliados da Alemanha na guerra com a Rússia e até mesmo sobre países neutros, como Espanha e Portugal - baldadas em ambos os casos. Em Gross Wannsee, concordara-se que os governos eslovaco, croata, búlgaro e húngaro seriam abordados e informados de que os alemães estavam dispostos a livra-los dos seus judeus. Na Hungria, país aliado à Alemanha contra a Rússia, cerca de 18.000 judeus, entre os muitos que foram deportados para a Europa oriental, pereceram. Mesmo em fins de 1944 e começos de 1945, de 30.000 a 40.000 judeus da Hungria, inclusive mulheres, crianças e velhos, foram deportados, alguns para ajudar na construção da Muralha Sudeste, destinada a impedir que os russos chegassem a Viena. Poucos conseguiram retornar. As negociações para arrebanhar mais ainda prosseguiam quando a Hungria se rendeu aos russos e Eichmann, que estava na cidade, só no último instante escapou de Budapeste.

Na Romênia, outra aliada da Alemanha, com uma população de 692.000 judeus, cerca de 220.000 devem ter morrido. Os judeus búlgaros tiveram muito mais sorte. Da população judia de 50.000, em 1939, 46.500 sobreviveram até o fim da guerra. As tentativas de impor a "Solução Final" encontraram toda sorte de obstáculos, inclusive manifestações públicas quando judeus eram deportados. Dizem que o Rabino de Sófia esteve oculto na casa do Arcebispo Metropolitano Ortodoxo, Stefan.

Ribbentrop enviou representações diplomáticas à Eslováquia, o satélite criado pelo desmembramento da Tchecoslováquia após o acordo de Munique. Cerca de 17.000 judeus do sexo masculino foram deportados para Auschwitz em março de 1942, supostamente para trabalhar, bem como 10.000 outros, mais tarde, dos quais 7.000 eram crianças. De tal forma as autoridades e os judeus se deixaram convencer de que se destinavam a trabalhar, que as famílias dos deportados acabaram pedindo para os acompanhar. Pelo final de junho, 52.000 pessoas haviam partido, mas, ao terminar a guerra, só 284 sobreviventes havia. Depois de reiterados pedidos para visitar os campos de trabalho, o governo eslovaco, que era predominantemente católico, foi avisado, através do Núncio Papal, sobre o que estava acontecendo com os deportados. O processo foi então suspenso, mas os alemães tiveram de ser subornados. A Wisliceny, representante de Eichmann, prometeram 55 mil dólares se ele fosse a Berlim para suspender os transportes. Só para se garantir de que receberia o dinheiro, outros 3.000 judeus foram tirados do país às escondidas.

Na Itália também foram feitas demarches no sentido do banimento dos judeus, mas não obtiveram respostas favoráveis. Só em 1943, quando os alemães a dominaram, após o armistício, é que os judeus passaram a ser presos. Então, cerca de 10.000 foram deportados. Nem mesmo Roma, a Cidade Eterna, foi poupada. Bem nas barbas do Vaticano, que nada pôde fazer no sentido de salvá-los, 615 foram levados para Auschwitz.

Dada a quantidade, de toda a Europa, de judeus levados às câmaras de gás de Treblinka, Sobibor, Majdanek, Belsec, Chelmno e sobretudo Auschwitz-Birkenau, comumente as vítimas eram forçadas a entrar nas câmaras da morte de braços erguidos, para que nelas coubesse o máximo, sendo-lhes ainda jogadas por cima as crianças, inclusive nas grandes câmaras para 2.000 vítimas, como as de Auschwitz. Os que sobravam, por falta de espaço nesses recintos, eram rapidamente alinhados pelos Comandos Especiais, a golpes de cassetete e chicote, para receberem o tiro na nuca, suplício, afinal, menos doloroso que a aflitiva morte nas câmaras de gás.

Nesses períodos, o número de cadáveres era excessivo para a capacidade dos crematórios. Aí então os corpos das vítimas eram arrastados para enormes buracos e incendiados a gasolina.

Pelo que deixou transparecer quando submetido a interrogatório em Nuremberg, Höss, o homem de olhos ansiosos que tanto se orgulhava da incumbência de dar cumprimento à ordem do Führer, de promover a eliminação sistemática de seres humanos, não agüentava lá muito bem o dantesco. Em geral, ao chefe de segurança de campo, Capitão Fritzsch, passava a tarefa de dirigir o processo. Às vezes era obrigado a estar presente. Então: "Eu tinha de observar friamente enquanto mães, com filhos, rindo ou chorando, entravam nas câmaras de gás... Minha pena era tão grande que eu tinha vontade de desaparecer dali; mas não podia mostrar o menor traço de emoção".

Durante o interrogatório, perguntaram-lhe sobre isso: "Como lhe era possível executar esses atos, a despeito da pena que sentia?"

"Em vista das dúvidas que tinha, o único e decisivo argumento eram a ordem estrita do Reichsführer Himmler e a razão que apresentava para emiti-la".

Se nos falha o sentimento de pena quando comparamos o destino de Höss com o dos que estavam à sua mercê, podemos "consolar-nos" com a idéia de que Himmler sempre foi profundamente compassivo para com Höss e sua espécie na terrível tarefa que lhes pedira para empreender. Assim falou ele numa reunião de Altos Líderes das SS e da Polícia em 1943: "A maioria de vocês sabe o que significa quando uma centena de cadáveres jaz largada lado a lado - ou quinhentos - ou mil. Mas ao mesmo tempo terem-se mantido firmes - à parte as exceções causadas pela fraqueza humana - terem permanecido homens decentes... Esta é uma página de glória na nossa história que jamais foi escrita e jamais será escrita pois deve permanecer secreta".

Mas, apesar do ininterrupto funcionamento dos campos de extermínio, do sistema ferroviário de Eichmann abrangendo a Europa inteira, com os trens da morte correndo no horário, o processo não chegara ao fim. Em uns oito grandes guetos russos e poloneses a liquidação prosseguia.

O primeiro a ser visado foi Lvow, onde a "recolonização" começou a 21 de junho e terminou seis dias depois. Mas os judeus de Lwow não se entregaram sem luta, e ali as armas que conseguiram foram mais terríveis do que as pistolas dos resistentes de Varsóvia. Piolhos infeccionados com tifo exantemático tinham surgido no gueto e cerca de 120 dos homens das SS que executavam a ação foram afetados pelo mal.

Isto não ajudou muito a prolongar a vida dos judeus de Lwow. Num local de fuzilamento situado nos arredores da cidade, a "Colina de Areia", quase toda a população do gueto, de 20.000 pessoas, morreu. Escaparam uns poucos, que foram encontrados pelo Exército Vermelho.

De Sosnowiece, o gueto seguinte a ser eliminado, cerca de 25.000 - virtualmente todos os judeus dali - foram mandados para Auschwitz. Destes, só 500 não foram mortos de pronto. A ação durou uma semana.

Em Bialystok, onde o processo teve início a 21 de agosto, o progresso foi mais lento. Os campos de extermínio encontravam-se abarrotados; além disso, muitos judeus estavam trabalhando nas fábricas de tecidos da cidade, consideradas essenciais. Quando eles foram, finalmente, arrebanhados, registrou-se uma tentativa de fuga, que se frustrou, sofrendo os judeus baixas pesadas. Os sobreviventes - cerca de 25.000 - foram todos enviados para Treblinka.

Dos guetos poloneses, só restava Lodz, com uma população de 85.000. Das comunidades da Rússia e dos Estados Bálticos, a primeira a desaparecer foi Minsk, a 14 de setembro. Ali viviam 8.500 sobreviventes do massacre feito pelo Einsatzgruppe, que se foram reduzindo sos poucos, nos meses seguintes, com o uso dos caminhões de gás. Da mesma forma desapareceram os judeus ricos daquela comunidade, deixados para o fim da operação.

Em Vilna, na Lituânia, havia cerca de 20.000 dos quais alguns haviam sido convencidos a ir para os poços da morte em Ponari, já em atividade, sob a alegação de que seriam reinstalados no gueto de Kovno. Houve uma tentativa de resistência quando o programa de recolonizaçâo começou, que se resumiu numa refrega na estação ferroviária. A maioria foi para os campos. Quando os russos tomaram a cidade, encontraram uns 600 judeus ocultos nos esgotos.

A resistência em Riga não passou de falatório e os 15.000 judeus da cidade foram reduzidos para 4.000. Cerca de metade foi para os campos de trabalho. O resto, embarcado em trens que, depois de muitos desvios, saltando de uma linha para outra, cumpriram um longo percurso até Auschwitz, chegando com parte da carga humana já vitimada pelo frio e pela fome.

O gueto de Kovno continha cerca de 20.000 pessoas, 7.000 das quais provindas da Alemanha e da Lituânia. Quando já se encontravam reduzidas á poucos milhares, o presidente do Conselho Judeu implorou para que eles pudessem esperar ali pelos russos. A princípio a Gestapo mostrou-se disposta a concordar, mas no último instante foram todos despachados para a Alemanha.

Chegara a vez de Lodz, onde a evacuação em massa começou em agosto de 1944. Pelo meio do mês, a população, faminta e aterrorizada, fora reduzida de 85.000 para 61.000. Durante as semanas seguintes também eles foram distribuídos pelos campos.

A 17 de dezembro de 1942, a Declaração das Nações Unidas de que os que praticavam o extermínio dos judeus seriam punidos, foi lida na Câmara dos Comuns, em Londres, cujos membros ficaram em silêncio. O gesto, ainda que tocante, era totalmente vazio, pois um ano antes um vapor havia deixado o porto romeno de Constanza, com 769 refugiados judeus, entre os quais 70 crianças, com destino a Haifa, na Palestina. O navio sofreu um problema de máquina quando ao largo de Istambul e, por não terem os refugiados visto de imigração, as autoridades turcas não permitiram que desembarcassem até que os britânicos lhes dessem permissão de prosseguir imediatamente para a Palestina, mas isto lhes foi recusado categoricamente. Depois de dez semanas, o navio foi levado para o altomar por rebocadores turcos, onde se rompeu e afundou. Duas pessoas chegaram à praia; as restantes foram tragadas pelo mar.

Depois de mais de um ano de genocídio maciço, cujos detalhes eram perfeitamente conhecidos do governo, não havia indícios de que a cruel política estipulada pelo Documento Branco Britânico de 1939, restringindo a entrada de judeus na Palestina, viesse a sofrer qualquer alteração.




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