AS ORDENS MILITARES DAS CRUZADAS.

Área destinada para discussão sobre os conflitos do passado, do presente, futuro e missões de paz

Moderador: Conselho de Moderação

Mensagem
Autor
Avatar do usuário
manuel.liste
Sênior
Sênior
Mensagens: 4056
Registrado em: Seg Set 12, 2005 11:25 am
Localização: Vigo - Espanha
Agradeceram: 8 vezes

#16 Mensagem por manuel.liste » Seg Fev 20, 2006 12:51 pm

Castillo de la Orden del Temple en Ponferrada (León - Noroeste de España):

Imagem


Orden de Alcántara

Orden de Santiago

Orden de Calatrava

Orden de Montesa

Saber más




Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceram: 644 vezes

#17 Mensagem por Clermont » Ter Fev 21, 2006 6:19 pm

Imagem




Editado pela última vez por Clermont em Seg Abr 10, 2006 9:37 pm, em um total de 2 vezes.
Avatar do usuário
Túlio
Site Admin
Site Admin
Mensagens: 60696
Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
Localização: Tramandaí, RS, Brasil
Agradeceram: 6378 vezes
Contato:

#18 Mensagem por Túlio » Sex Fev 24, 2006 12:47 am

Rui Elias Maltez escreveu:Cuidando que ninguem lhes
acudia se levantou a mesnada de D. Donald bradando à
coa e aqui d'el-rey Bush quem me acode e ay valha-me o
Sangue de Nosso Senhor Jesu Christo que nos matam,
retirando-se a bom fugir para terras onde houvessem
mais mercê
deixando derribado no chom o pendom e a
caldeira que logo tomaram para si os homens de pé e o
pendom em as mãos do chefe de sua mesnada, que o
deiteou ao chom e o piseou e cuspiu ordenando aos seus
que também assim fizessem antes de lhe pôr fogo como é
de uso muy antigo por aquelas terras.

Aut. Rui Elias y Carvalho N.


Magistral, Maltez, simplesmente MAGISTRAL! E dizer que só li em 23/02... Meu aniversário, e ri tanto que nenhum presente que ganhei me deixou mais alegre. Estupendo! Tentei fazer algo semelhante e dei com os burros n'água, pois é, :evil: quem nasce para Túlio nunca chega a Rui Elias :evil: ...
Muito obrigado mesmo... Fantástico isso aí...
Sem querer ser chato, mas...num tem mais nada no estoque não?
Abração




"Na guerra, o psicológico está para o físico como o número três está para o um."

Napoleão Bonaparte
Avatar do usuário
Túlio
Site Admin
Site Admin
Mensagens: 60696
Registrado em: Sáb Jul 02, 2005 9:23 pm
Localização: Tramandaí, RS, Brasil
Agradeceram: 6378 vezes
Contato:

#19 Mensagem por Túlio » Ter Abr 04, 2006 1:39 pm

Custou mas achei esse texto aqui, muito tri mesmo, e é REAL:

Em 1537 alguns marinheiros portugueses praticavam um crime, então classificado como uma "grave gafe diplomática". Em frente de Diu recebeu-se o Sultão Bahadur Xá a bordo de uma nau portuguesa. As conversações diplomáticas deram para o torto e o Sultão e sua comitiva resolveram retirar-se zangados. Alguns marinheiros portugueses, indisciplinados, dificultaram-lhes a entrada no batel, chegando ao ponto de dar com um remo, fortemente, na cabeça do Sultão, tendo este morrido afogado. A ação vergonhosa causou um grito de vingança desde os reinos muçulmanos do Golfo de Cambaia até ao Egito e Constantinopla. A viúva do Sultão ofereceu toda a sua fortuna para financiar uma expedição punitiva contra os portugueses. A fortaleza de Diu estava a ser defendida por 600 portugueses, comandados por António da Silveira. O Sultão de Cambaia e o turco Suleiman Paxá reuniram as suas forças, conseguindo cercar Diu com 70 galés turcas e um exército de terra de 23.000 homens. Tendo já feito prisioneiros alguns portugueses, enviou por um deles uma carta a António da Silveira. Temos de saber que Suleimão Paxá não era tido em boa conta pelos portugueses. Tratava-se de um eunuco que, através de uma revolução palaciana, com o levantamento geral dos eunucos [018] , conseguiu degolar a família real, usurpando o respectivo trono e poder.
Quando António da Silveira recebeu a carta do turco, virou-se para os seus companheiros dizendo: "VEJAMOS O QUE DIZ O PERRO DO CAPADO!" :twisted: e leu a carta em público. Suleimão Paxá prometia aos portugueses livre saída de pessoas e bens desde que fossem para a costa do Malabar e entregassem a fortaleza e as armas. Prometia esfolar todos vivos se não o fizessem e glorificava-se de ter reunido o maior exército em Cambaia, tendo muita gente que tomara Belgrado, Hungria e a ilha de Rhodes. Perguntava mesmo a António da Silveira como se iria defender num "curral com tão pouco gado!".
António da Silveira mandou vir papel e tinta e, estando todos presentes, enviou-lhe a seguinte resposta: "Muito honrado capitão Paxá, bem vi as palavras da tua carta. Se em Rhodes tivessem estado os cavaleiros que estão aqui neste curral podes crer que não a terias tomado. Fica a saber que aqui estão portugueses acostumados a matar muitos mouros e têm por capitão António da Silveira, que tem um par de tomates mais fortes que as balas dos teus canhões e que todos os portugueses aqui têm tomates e não temem quem não tenha!".
Não se pode imaginar insulto maior! Narra-nos Gaspar Correia que o capado, quando recebeu esta resposta, mandou logo matar alguns portugueses, feridos, que estavam na sua posse e começou uma luta de gigantes. Durante mais de um mês António da Silveira fez-lhe frente, ficando os portugueses capazes de lutar reduzidos a menos de quarenta, mas causando tais baixas aos turcos que estes resolveram levantar o cerco a Diu e retirar-se.

(Gaspar Correia: "Cronica dos Feytos da Índia", vol IV, pág. 34-36).
Rainer Daehnhardt: "Homens, Espadas e Tomates", pág. 43-44




"Na guerra, o psicológico está para o físico como o número três está para o um."

Napoleão Bonaparte
Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceram: 644 vezes

#20 Mensagem por Clermont » Sáb Out 06, 2007 1:45 pm

DOCUMENTOS SECRETOS DO VATICANO INOCENTAM OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS.

Por Malcolm Moore em Roma – Telegraphy,co.uk, 05 de outubro de 2007.

Os mistérios da Ordem dos Cavaleiros Templários poderão, em breve serem desnudados após o Vaticano anunciar a liberação de um documento crucial que não era visto há quase 700 anos.

Guardiões do Graal.

Um novo livro, Processus contra Templarios, irá ser publicado pelo Arquivo Secreto do Vaticano em 25 de outubro, e promete restaurar a reputação dos Templários, cujos líderes foram queimados como heréticos, quando a ordem foi dissolvida em 1314.

Os Cavaleiros Templários eram um poderoso e reservado grupo de monges-cavaleiros durante a Idade Média. O sigilo deles deu origem a infindáveis lendas, incluindo aquela de que eles guardavam o Santo Graal.

Recentemente, eles foram representados em filmes, incluindo o “Código Da Vinci” e “Indiana Jones e a Ùltima Cruzada”.

A ordem foi fundada por Hugo de Payens, um cavaleiro francês, após a Primeira Cruzada de 1099, para proteger peregrinos na estrada para Jerusalém. Seu quartel-general era a capturada mesquita Al-Aqsa no Monte do Templo, que emprestou aos Templários o seu nome.

Mas, quando Jerusalém caiu sob o domínio muçulmano em 1244, rumores vieram à tona de que os cavaleiros eram heréticos que idolatravam ídolos em uma cerimônia secreta de iniciação.

Em 1307, o Rei Filipe IV, “O Belo” de França, em desesperada necessidade de fundos, ordenou a detenção e tortura de todos os Templários. Após confessar vários pecados, o líder deles, Jacques de Molay, foi queimado na estaca.

O Papa Clemente V, então dissolveu a ordem e emitiu mandados de prisão para todos os membros remanescentes. Desde então, os Templários tem sido considerados como heréticos.

O novo livro é baseado em um pergaminho descoberto nos arquivos secretos do Vaticano em 2001 pela Professora Bárbara Frale. O documento há muito perdido é um registro do julgamento dos Templários perante o Papa Clemente, e termina com a absolvição papal de todas as heresias.

A Profª Frale disse: “Eu nem podia acreditar quando o achei. O documento foi posto no arquivo errado, no século XVII.”

O documento, conhecido como o Pergaminho Chinon, revela que os Templários tinham uma cerimônia de iniciação que envolvia “cuspir na cruz”, “negar Jesus” e beijar a parte baixa das costas, umbigo e boca de um homem que lhes exigisse.

Os Templários explicaram ao Papa Clemente que a iniciação simulava a humilhação que os cavaleiros poderiam sofrer se caíssem nas mãos dos sarracenos, enquanto a cerimônia do beijo era um símbolo de sua total obediência.

O Papa concluiu que o ritual de admissão não era, autenticamente blasfemo, como alegado pelo Rei Filipe quando deteve os cavaleiros. No entanto, ele foi forçado a dissolver a Ordem para manter a paz com a França e prevenir um cisma na igreja.

“Esta é a prova de que os Templários não eram heréticos,” disse a Profª Frale. “O Papa foi obrigado a pedir pelo perdão dos cavaleiros.”

“Por 700 anos, nós acreditamos que os Templários morreram como homens amaldiçoados, e isso os absolve.”


Imagem




Avatar do usuário
EDSON
Sênior
Sênior
Mensagens: 7303
Registrado em: Sex Fev 16, 2007 4:12 pm
Localização: CURITIBA/PR
Agradeceram: 335 vezes

#21 Mensagem por EDSON » Sáb Out 06, 2007 1:54 pm

Clermont escreveu:DOCUMENTOS SECRETOS DO VATICANO INOCENTAM OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS.

Por Malcolm Moore em Roma – Telegraphy,co.uk, 05 de outubro de 2007.

Os mistérios da Ordem dos Cavaleiros Templários poderão, em breve serem desnudados após o Vaticano anunciar a liberação de um documento crucial que não era visto há quase 700 anos.

Guardiões do Graal.

Um novo livro, Processus contra Templarios, irá ser publicado pelo Arquivo Secreto do Vaticano em 25 de outubro, e promete restaurar a reputação dos Templários, cujos líderes foram queimados como heréticos, quando a ordem foi dissolvida em 1314.

Os Cavaleiros Templários eram um poderoso e reservado grupo de monges-cavaleiros durante a Idade Média. O sigilo deles deu origem a infindáveis lendas, incluindo aquela de que eles guardavam o Santo Graal.

Recentemente, eles foram representados em filmes, incluindo o “Código Da Vinci” e “Indiana Jones e a Ùltima Cruzada”.

A ordem foi fundada por Hugo de Payens, um cavaleiro francês, após a Primeira Cruzada de 1099, para proteger peregrinos na estrada para Jerusalém. Seu quartel-general era a capturada mesquita Al-Aqsa no Monte do Templo, que emprestou aos Templários o seu nome.

Mas, quando Jerusalém caiu sob o domínio muçulmano em 1244, rumores vieram à tona de que os cavaleiros eram heréticos que idolatravam ídolos em uma cerimônia secreta de iniciação.

Em 1307, o Rei Filipe IV, “O Belo” de França, em desesperada necessidade de fundos, ordenou a detenção e tortura de todos os Templários. Após confessar vários pecados, o líder deles, Jacques de Molay, foi queimado na estaca.

O Papa Clemente V, então dissolveu a ordem e emitiu mandados de prisão para todos os membros remanescentes. Desde então, os Templários tem sido considerados como heréticos.

O novo livro é baseado em um pergaminho descoberto nos arquivos secretos do Vaticano em 2001 pela Professora Bárbara Frale. O documento há muito perdido é um registro do julgamento dos Templários perante o Papa Clemente, e termina com a absolvição papal de todas as heresias.

A Profª Frale disse: “Eu nem podia acreditar quando o achei. O documento foi posto no arquivo errado, no século XVII.”

O documento, conhecido como o Pergaminho Chinon, revela que os Templários tinham uma cerimônia de iniciação que envolvia “cuspir na cruz”, “negar Jesus” e beijar a parte baixa das costas, umbigo e boca de um homem que lhes exigisse.

Os Templários explicaram ao Papa Clemente que a iniciação simulava a humilhação que os cavaleiros poderiam sofrer se caíssem nas mãos dos sarracenos, enquanto a cerimônia do beijo era um símbolo de sua total obediência.

O Papa concluiu que o ritual de admissão não era, autenticamente blasfemo, como alegado pelo Rei Filipe quando deteve os cavaleiros. No entanto, ele foi forçado a dissolver a Ordem para manter a paz com a França e prevenir um cisma na igreja.

“Esta é a prova de que os Templários não eram heréticos,” disse a Profª Frale. “O Papa foi obrigado a pedir pelo perdão dos cavaleiros.”

“Por 700 anos, nós acreditamos que os Templários morreram como homens amaldiçoados, e isso os absolve.”


Imagem



Agora que eles foram mortos e perseguidos. :?:




Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceram: 644 vezes

Re: AS ORDENS MILITARES DAS CRUZADAS.

#23 Mensagem por Clermont » Qui Jul 24, 2008 6:15 pm

OS CAVALEIROS TEMPLÁRIOS – Quem eram eles? E porque nos importamos?

Por Malcolm Barber – 20 de abril de 2006.

Na seqüência do sucesso colossal de “Código Da Vinci” de Dan Brown, dois novos thrillers, The Last Templar e The Templar Legacy, tem permanecido firmemente plantados na lista de mais vendidos do New York Times. Estes livros não vão atrás da quimera do Santo Graal, tão incansavelmente perseguida pelos dois protagonistas do Código; ao invés, eles focam sobre um dos elos na cadeia de provas no livro de Brown – este da extraordinária Ordem dos Cavaleiros Templários.

Os Templários reais tem pouca semelhança com suas recriações fictícias. Eles foram estabelecidos na Terra Santa, em 1119, por dois cavaleiros franceses, que juraram devotar-se à proteção dos peregrinos cristãos visitando Jerusalém e os Lugares Santos. Os cruzados tinham capturado Jerusalém, em 1099 e, deste então, lutavam para estabelecer uma efetiva estrutura militar e política para proteger suas conquistas. A contribuição destes cavaleiros fundadores foi pequena, mas eles, rapidamente, capturaram a imaginação da cristandade ocidental. Em breve, eles receberam uma base na Mesquita al-Aqsa, que os cristãos acreditavam ter sido o local do Templo de Salomão. Eles receberam reconhecimento papal no concílio de Troyes, na Champagne, em 1129, onde foram descritos como uma “ordem militar”, uma instituição muito única na época, pois eles não somente prestavam os usuais votos monásticos de pobreza, castidade e obediência, mas faziam uma quarta promessa-chave – defender os Lugares Santos contra o infiel.

Desde então, eles expandiram-se rapidamente, para uma ordem internacional, recebendo terras no ocidente que eles desenvolveram numa grande rede de preceptorias. Isso os permitiu fornecer homens e dinheiro para a causa da Terra Santa, tanto como oferecer um leque de serviços aos cruzados, o mais importante sendo ajuda com as finanças, uma função que eles expandiram para alguma coisa como um moderno serviço bancário.

Uma tal ordem poderia parecer invulnerável, mas no início do século XIV, os Cavaleiros Templários encararam uma série crise. Em 1291, os cristãos tinham sido expulsos da Palestina pelos mamelucos do Egito e, dessa forma, sido obrigados a travar a guerra santa a partir de sua base remanescente em Chipre. Esta expulsão foi particularmente séria para os Templários, cujo prestígio e funções eram cerradamente identificadas com a defesa dos locais associados com a vida, morte e ressurreição de Cristo. Eles estavam desesperados para ver planos papais para uma nova cruzada tomarem forma concreta. Em 1307, em resposta a uma requisição do Papa Clemente V, Jacques de Molay, o mestre, portanto viajou para o Ocidente para aconselhar o papado e recolher apoio nas cortes da cristandade.

E foi assim que em 12 de outubro, Jacques de Molay estava presente em Paris, segurando uma das cordas do pálio, no funeral de Catarina, esposa de Carlos de Valois, irmão do rei Filipe IV, “O Belo”, de França. Mas o mestre não tinha idéia alguma do que o aguardava. Sem aviso, funcionários reais, agindo sob ordens secretas de Filipe, caíram sobre os templários vivendo na França, numa operação coordenada que tomou centenas em custódia. A ordem para as detenções dizia que os Templários não eram uma força dedicada para a defesa da Terra Santa, desejosa de suportar o martírio por suas crenças – eles eram, de fato, apóstatas que negavam Cristo, cuspiam nos crucifixos, engajavam-se em beijos indecentes e sodomia compulsória, e adoravam ídolos.

Embora governantes fora da França, inicialmente considerassem as alegações difíceis de se acreditar, e o papa ficasse ultrajado por não haver sido consultado, à primeira vistas, as acusações pareciam se justificar. A maioria dos templários confessou um ou mais das alegações, incluindo o próprio De Molay, que repetiu suas admissões em público, na presença de uma seleta delegação de teólogos de universidades. No fim, nem a tentativa papal de assumir o julgamento, nem a robusta defesa da ordem, liderada por dois sacerdotes-advogados templários, puderam abalar o impacto destas primeiras confissões. Em março de 1312, no Concílio de Vienne, o papa viu-se forçado a suprimir a ordem, após quase dois séculos de serviço à fé cristã. Dois anos depois, em 14 de março de 1314, De Molay e Godofredo de Charney, preceptor da Normandia, foram queimados até a morte, como heréticos relapsos, sobre uma ilha no Sena, no meio de Paris.

O julgamento causou sensação e permanece como assunto de fascínio e especulação, sete séculos depois. As circunstâncias são intrigantes, não apenas porque eles evocam gritantes paralelos modernos; os julgamentos de exibição stalinistas e as inquisições McCartistas tiveram seus precursores medievais. O próprio Filipe, O Belo, estava, com certeza, motivado em suprimir a ordem por ter interesse em suas propriedades, pois ele reinava sobre um regime em constante crise financeira. Apesar disso, tão fanaticamente pio e, freqüentemente, crédulo rei, ele pode ter acreditado, genuinamente, que o seu reino estava ameaçado por uma conspiração secreta anti-cristã, que era seu dever esmagar.

Poucos historiadores, hoje, duvidam de que as acusações foram montadas e as confissões obtidas por tortura. Mas a inocência dos Templários não tem recebido proteção alguma contra o sensacionalismo moderno, pois a matéria-prima oferecida pelo queda espetacular da ordem é tentadora demais para ser ignorada. Entre os primeiros a explorá-la estavam os franco-maçons do séc. XVIII. Estes adotaram a lenda do assassinato de Hirão, rei de Tiro, que foi encarregado da construção do Templo de Salomão, e foi assassinado para que não revelasse os segredos maçônicos. De acordo com a versão franco-maçonica da história, os Templários foram abolidos pois, como ocupantes do Templo de Salomão, eles manteriam conhecimento-chave que podia, em potencial, desacreditar, tanto a Igreja quanto o estado.

De acordo com o mito, naquela noite de março de 1314, conhecimento único foi, supostamente, passado para o cuidado das gerações futuras, tornando os Templários e seu mistério um recurso, particularmente fértil para novelistas e historiadores populares. Sir Walter Scott, cujo olho para uma história envolvente tornou seus livros como mais vendidos em sua época, criou o modelo para a ficção e drama que muitos, desde então, seguiram. Em “Ivanhoé”, que ele publicou em 1819, seu vilanesco templário, Sir Brian de Bois-Guilbert, vê, com desdém, a austeridade dos primeiros Templários, e, depois daquele tempo, ele e seus companheiros adotaram práticas secretas “dedicadas à finalidades com as quais nossos pios fundadores pouco sonharam.” Hoje, como Casaubon diz em “O Pêndulo de Foucault, sátira de Umberto Eco, “Os Templários tem alguma coisa a ver com qualquer coisa.”




Avatar do usuário
LeandroGCard
Sênior
Sênior
Mensagens: 8754
Registrado em: Qui Ago 03, 2006 9:50 am
Localização: S.B. do Campo
Agradeceram: 812 vezes

Re:

#24 Mensagem por LeandroGCard » Qui Jul 31, 2008 2:45 pm

Clermont escreveu:
Pt escreveu: Remetem-me para um livro que li há pouco, e que é um Best-Seller, chamado "O Codigo DaVinci".
Estou ouvindo muito falarem desse livro. Ele parece com aquela obra de há uns 20 anos atrás, "O Nome da Rosa", de Umberto Eco. Um livro que me fascinou - e fascina até hoje. Sempre quis voltar a ler alguma coisa semelhante. Tomara que esse "O Código DaVinci" seja isso.
Caro Amigo Clermont, só uma dica sem querer poluir o tópico que está muito interessante:

Infelizmente o livro "O código DaVinci" não tem nada em termos de qualidade literária com "O nome da rosa". A história de Humberto Eco é uma exelente trama de mistério narrada dentro de uma recriação da vida em um mosteiro medieval, escrita como só um erudito como seu autor sabe fazer. Já o livro de Dan Brown é apenas um folhetim de ação que inclui na trama uma sequência de charadas no estilo Agatha Cristie. O único motivo de se falar tanto neste livro é o fato de o enredo envolver um dogma básico do cristianismo (a ascenção de Cristo), que na estória seria refutado.

Se quer uma sugestão de um bom livro com referências históricas realmente elaboradas, fique no Humberto Eco. Eu sugiro "O pêndulo de Foucault", que achei ainda melhor que "O nome da Rosa".

Um abraço,


Leandro G. Card




Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceram: 644 vezes

Re: Re:

#25 Mensagem por Clermont » Qui Jul 31, 2008 6:23 pm

LeandroGCard escreveu:Infelizmente o livro "O código DaVinci" não tem nada em termos de qualidade literária com "O nome da rosa".

(...)

Eu sugiro "O pêndulo de Foucault", que achei ainda melhor que "O nome da Rosa".
É bom saber isso. Afinal, após uns dois anos, ainda não tive a chance de ler esse tão famoso livro de Dan Brown. Pelo menos, não fico com essa sensação de que estou perdendo alguma coisa.

Quanto ao "Pêndulo de Foucault", já tinha ouvido falar, mas não sabia que era um livro do estilo "O Nome da Rosa". Se esbarrar com ele na livraria, vou experimentar.

Valeu pela dica.




Avatar do usuário
LeandroGCard
Sênior
Sênior
Mensagens: 8754
Registrado em: Qui Ago 03, 2006 9:50 am
Localização: S.B. do Campo
Agradeceram: 812 vezes

Re: Re:

#26 Mensagem por LeandroGCard » Qui Jul 31, 2008 7:11 pm

Clermont escreveu:
LeandroGCard escreveu:Infelizmente o livro "O código DaVinci" não tem nada em termos de qualidade literária com "O nome da rosa".

(...)

Eu sugiro "O pêndulo de Foucault", que achei ainda melhor que "O nome da Rosa".
É bom saber isso. Afinal, após uns dois anos, ainda não tive a chance de ler esse tão famoso livro de Dan Brown. Pelo menos, não fico com essa sensação de que estou perdendo alguma coisa.

Quanto ao "Pêndulo de Foucault", já tinha ouvido falar, mas não sabia que era um livro do estilo "O Nome da Rosa". Se esbarrar com ele na livraria, vou experimentar.

Valeu pela dica.
Ele não é bem no estilo de "O nome da rosa", é uma história bem louca sobre revisores de uma editora que decidem fazer sucesso escrevendo um livro sobre exoterismo com um enredo falso que eles mesmo inventam. Neste enredo eles misturam um monte de fatos históricos (a erudição de Humberto Eco deixa sua marca) com as invencionices da moda, e as associações que eles fazem são ao mesmo tempo incrivelmente convincentes e hilárias, tem horas que você chora de tanto rir.

Mas depois alguma coisa alguma começa a dar errado...

Bem, deixa eu parar de poluir o tópico.


Um grande abraço,

Leandro G. Card




Avatar do usuário
Guerra
Sênior
Sênior
Mensagens: 14202
Registrado em: Dom Abr 27, 2003 10:47 pm
Agradeceram: 135 vezes

Re: AS ORDENS MILITARES DAS CRUZADAS.

#27 Mensagem por Guerra » Sex Ago 01, 2008 8:44 am

O nome da rosa trata de uma ordem "secreta" mas não militar chamada os "justos".


O MOVIMENTO DOS PSEUDO-APÓSTOLOS
O movimento inspirou-se na mais interessante e
elaborada concepção milenarista que se conhece. Joaquim
de Fiore, um abade cistercense do sul da Itália,
morto em 1207, escreveu a obra A Unidade da Trindade,
na qual comparava os três personagens da Trindade,
o Pai, o Filho e o Espírito Santo, às três idades do
mundo. O passado fora o tempo do Pai, dominado
pela Lei e identificado pelo Império Romano; o presente
era o tempo do Filho, dominado pelos clérigos,
que simbolizava a unidade da Europa sob a autoridade
da Igreja; e o futuro seria o tempo do Espírito Santo,
a época do Evangelho Eterno, que inauguraria uma
era de prosperidade e justiça, que seria anunciada pelo
advento de uma nova ordem religiosa, a Ordem dos
Justos
. A nova e última idade do mundo iniciar-se-ia
em 1260.
A aspiração de ascetismo e de pobreza, marcante
na Europa a partir do século XIII, deu origem às chamadas
Ordens Mendicantes, a dos Franciscanos e a
dos Dominicanos, rapidamente cooptadas pela Igreja.
E os Franciscanos acabaram identificados com os justos,
com aqueles que iniciariam a nova era, o milênio
de beatitude, devido ao contraste que seu cotidiano,
baseado na pobreza, na humildade, no auxílio aos
excluídos e no trabalho “com as mãos”, estabelecia
com à posição da Igreja, que, rica, hierarquizada e
mundana, afastava-se cada vez mais dos carentes,
deixando órfãs significativas parcelas da cristandade.
João de Parma, ministro geral da ordem entre 1247 e
1257, favoreceu a difusão das idéias joaquimistas e,
em 1254, o franciscano Gerardo de Borgo san Donnino
elaborou uma Introdução à obra de Giachomo de Fiore,
intitulada Introdução ao Evangelho Eterno, reafirmando
a identificação entre os Justos da profecia e os
Franciscanos (GRUNDMANN, 1950, p. 36s.).
A condenação papal a essas idéias não teve efeito
prático: a corrente joaquimita, profética e anticlerical,
levou à cisão da Ordem Franciscana. Foi utilizada como
base teórica pelos Espirituais, também conhecidos
como Frades Menores ou Fraticelli, para a afirmação
da pobreza absoluta de Cristo. Os Espirituais insistiam
na idéia da pobreza como condição essencial para se
alcançar a perfeição espiritual, pregando uma imitação
da vida de Cristo “[...] que nunca possuiu bem
material algum, e viveu da caridade de seus seguidores”
(op. cit., p. 74).
Os Espirituais acabaram condenados como heréticos,
pelo papa João XXII, em 1318, e, ironicamente,
foram os Dominicanos, seus irmãos de mendicância,
que lhes moveram a mais implacável das perseguições,
fazendo jus à grafia de seu nome em latim,
“dominicani”, ou seja, cães do senhor.
As tensões escatológicas, muito ativas na Itália, local
de pujante vida urbana e de corolárias, de grande
marginalização social e flagrante situação de injustiça,
robusteceram-se com as idéias joaquimitas e com as
pregações dos Franciscanos Espirituais, fazendo surgir
na península, em meados do século XIII, o movimento
dos Pseudo-Apóstolos.
Foi iniciado por Geraldo Segarelli, um filho de padre,
e, depois, liderado por Dolcino de Novara, um
ex-noviço. Ambos eram homens de poucas letras, mas
dotados de grande carisma, e, intitulando-se como a
encarnação do Cristo do Fim dos Tempos, cercaramse
de “Apóstolos”, em uma imitação da pregação de
Cristo, agrupando a seu redor milhares de seguidores.
Anunciavam a proximidade do Milênio e a necessidade
de pobreza e penitência para se alcançar a salvação.
A expressão penitenziagite, que, em dialeto italiano,
significa “penitencia-te”, foi seu grito de guerra,
que reverberou estrondosamente pelas estradas da
península.

O movimento teve expressiva adesão popular, e
espalhou-se pelo centro e nordeste da Itália, procurando
antecipar o advento do Milênio pela imposição
da pobreza por meios violentos. Mosteiros e abadias
foram incendiados, pessoas ricas foram despojadas de
seus bens, e os poderosos, destituídos de seu poder.
Ferozmente perseguido pela Igreja, Geraldo foi queimado
vivo em 1300, e Dolcino e seus seguidores,
massacrados em 1305, em uma cruzada organizada
pelo papa Clemente V (o episódio é magistralmente
romanceado por Umberto Eco, em O Nome da Rosa).
Mas ele não desapareceu por completo. Em 1350,
pseudo-apóstolos foram descobertos na cidade de
Pádua; em 1372, foram identificados e exterminados
na Sicília; e até mesmo em 1402, alguns ainda
perambulavam pelas cidades portuárias do norte da
Alemanha, especialmente Lübeck (COHN, 1980, p. 89-
92).




A HONESTIDADE É UM PRESENTE MUITO CARO, NÃO ESPERE ISSO DE PESSOAS BARATAS!
Avatar do usuário
delmar
Sênior
Sênior
Mensagens: 5242
Registrado em: Qui Jun 16, 2005 10:24 pm
Localização: porto alegre
Agradeceram: 502 vezes

Re: AS ORDENS MILITARES DAS CRUZADAS.

#28 Mensagem por delmar » Sex Ago 01, 2008 12:26 pm

Muito ilustrativa a contribuição do Sgt Guerra. Especialmente quanto aos "fraticellis" e a radicalização da opção pela pobreza, causando um cisma nos franciscanos. São correntes subterraneas que existem na igreja católica até hoje. Eventualmente afloram como a chamada Teologia da libertação. Surgem padres e bispos, no interior, que recusam até a batizar os filhos de pessoas ricas. O presidente do Paraguai, que é bispo, está ligado a estes movimentos cuja origem vem desde a idade média.

Saudações




Todas coisas que nós ouvimos são uma opinião, não um fato. Todas coisas que nós vemos são uma perspectiva, não a verdade. by Marco Aurélio, imperador romano.
Avatar do usuário
Clermont
Sênior
Sênior
Mensagens: 8842
Registrado em: Sáb Abr 26, 2003 11:16 pm
Agradeceram: 644 vezes

Re: AS ORDENS MILITARES DAS CRUZADAS.

#29 Mensagem por Clermont » Sáb Ago 02, 2008 5:09 pm

NOVAS DESCOBERTAS SOBRE AS CRUZADAS - Thomas Madden, historiador americano, desmascara os mitos.

Agência Zenit, 25 de outubro de 2004.

SAN LUIS (Missouri), segunda-feira, 25 de outubro de 2004 (ZENIT.org).- Os cruzados não eram ávidos depredadores ou colonizadores medievais como afirmam alguns livros de história, diz um especialista ao concluir um estudo com novas revelações.

Thomas Madden, professor associado da Faculdade de História da Universidade de San Luis (Estados Unidos) e autor de «A Concise History of the Crusades» («Breve História das Cruzadas»), sustenta que os cruzados representavam uma força defensiva que não aproveitava as próprias empresas para ganhar com isso riquezas terrenas ou territórios.

A atual tensão entre o Ocidente e os países muçulmanos tem muito pouco a ver com as Cruzadas. Afirma que, desde a perspectiva muçulmana, não se deu tanta importâncias às Cruzadas. A visão mudou quando, no século XIX, os revisionistas começaram a reconsiderar as Cruzadas como guerras imperialistas.

Madden traçou para Zenit os mitos mais difundidos sobre os cruzados e os novos descobrimentos históricos que os privam de fundamento.


Quais são os erros historiográficos mais comuns sobre as Cruzadas e sobre os cruzados?

MADDEN: Alguns dos mitos mais comuns e as razões de sua falta de fundamento são os seguintes:

Mito nº 1: As Cruzadas eram guerras de agressão provocadas contra um mundo muçulmano pacífico.

Esta afirmação é completamente errônea. Desde os tempos de Maomé os muçulmanos haviam tentado conquistar o mundo cristão. E inclusive haviam obtido êxitos notáveis. Após vários séculos de contínuas conquistas, os exércitos muçulmanos dominavam todo o norte da África, o Oriente Médio, a Ásia Menor e grande parte da Espanha.

Em outras palavras, ao final do século XI, as forças islâmicas haviam conquistado dois terços do mundo cristão. Palestina, a terra de Jesus Cristo; Egito, onde nasce o cristianismo monástico; Ásia Menor, onde São Paulo havia plantado as sementes das primeiras comunidades cristãs. Estes lugares não estavam na periferia da cristandade, mas eram seu verdadeiro centro.

E os impérios muçulmanos não acabavam ali. Seguiram expandindo-se para o Ocidente, para Constantinopla e mais além chegando até os confins da Europa. As agressões provinham, portanto, da parte muçulmana. Chegados a um certo ponto, a parte que ficava do mundo cristão não tinha mais remédio além de se defender, se não quisesse sucumbir à conquista islâmica.

Mito nº 2: Os cruzados levavam crucifixos, mas a única coisa que lhes interessava era conquistar riquezas e terras. Suas intenções piedosas eram só uma cobertura sob a que se escondia uma avidez voraz.

Há tempos, os historiadores afirmavam que na Europa se havia produzido um aumento demográfico que levou a um número excessivo de nobres secundários, adestrados nas artes da guerra de cavalaria, mas privados da herança de terras feudais. As cruzadas, portanto, eram vistas como uma válvula de escape que impulsionava estes homens guerreiros a sair da Europa para terras por conquistar a expensas de outros.

A historiografia moderna, com a ajuda da chegada das bases de dados computadorizadas, destruiu este mito. Hoje sabemos que foram mais os primogênitos da Europa os que responderam ao chamado do Papa em 1095 e à conseguinte Cruzada.

Ir a uma cruzada era uma operação muito custosa. Os senhores se viam obrigados a vender ou hipotecar as próprias casas para conseguir fundos necessários. Muitos deles, também, não tinham interesse em constituir um reino de ultramar. Mais ou menos como os soldados de hoje, os cruzados medievais se sentiam orgulhosos de cumprir com seu dever, mas ao mesmo tempo desejavam voltar para casa.

Após os êxitos espetaculares da primeira cruzada, com a conquista de Jerusalém e de grande parte da Palestina, praticamente todos os cruzados voltaram para casa. Só uma mínima parte ficou para consolidar e governar os novos territórios.

Desta forma o ganho era escasso. Ainda que os cruzados tivessem sonhado com grandes riquezas nas opulentas cidades orientais, praticamente quase nenhum conseguiu nem sequer recuperar os gastos. Contudo, o dinheiro e a terra não eram o motivo para se lançar à aventura de uma cruzada, iam para expiar os pecados e ganhar a salvação mediante as boas obras em uma terra distante.

Enfrentavam gastos e fatigas porque acreditavam que, indo socorrer suas irmãs e seus irmãos cristãos no Oriente, haveriam acumulado riquezas onde nem a ferrugem nem a traça corroem.

Eram bem conscientes da exortação de Cristo, segundo a qual quem não toma sua cruz não é digno d’Ele. Recordavam também que «ninguém tem um amor maior do que aquele que dá a vida pelos amigos».

Mito nº 3: Quando os cruzados conquistaram Jerusalém, em 1099, massacraram todos os homens, mulheres e crianças da cidade, até inundar as ruas e sangue.

Esta é uma das histórias preferidas por quem quer demonstrar a natureza malvada das Cruzadas.

Certamente é verdade que muitas pessoas em Jerusalém encontraram a morte depois que os cruzados conquistaram a cidade. Mas este aspecto se deve considerar no contexto histórico.

O princípio moral aceito em todas as civilizações européias ou asiáticas pré-modernas era que uma cidade que havia resistido à captura e havia sido tomada pela força pertencia aos vencedores. E isto não incluía somente os edifícios e os bens, mas os habitantes. Por esta razão, cada cidade ou fortaleza tinha que pesar cuidadosamente se podia se permitir resistir aos sitiadores. Se não, era mais sábio negociar os termos da rendição.

No caso de Jerusalém, tentou-se a defesa até o último momento. Calculava-se que as formidáveis muralhas da cidade deteriam os cruzados até a chegada de uma força proveniente do Egito. Mas estavam em um erro. E quando a cidade caiu, foi saqueada. Deu-se morte de muitos habitantes, mas outros muitos foram resgatados ou libertados.

Segundo o critério moderno, isto pode parecer brutal. Mas um cavaleiro medieval poderia fazer notar que um número muito maior de homens, mulheres e crianças inocentes morreria cada dia mediante as modernas técnicas de guerra, comparado com o número de pessoas que podiam cair sob a espada durante um ou dois dias. Há que observar que nas cidades muçulmanas que se renderam aos cruzados, as pessoas não foram atacadas. Suas propriedades eram confiscadas e se lhes deixavam livres para professar a própria fé.

Mito nº 4: As cruzadas eram uma forma de colonialismo medieval revestido de atributos religiosos.

É importante recordar que na Idade Média o Ocidente não era uma cultura poderosa e dominante que se aventurava em uma região primitiva e atrasada. Na realidade, quem era potente, acomodado e opulento era o Oriente muçulmano. A Europa era o Terceiro Mundo.

Os Estados Cruzados, fundados após a primeira cruzada, não eram novos assentamentos de católicos em um mundo muçulmano, semelhante às colonizações britânicas na América. A presença católica nos Estados cruzados era sempre muito reduzida, em geral inferior 10% da população. Eram governantes e magistrados, comerciantes italianos e membros das Ordens Militares. A grande maioria da população dos Estados cruzados era muçulmana.

Não eram, portanto, colônias no sentido de plantações ou fábricas, como no caso da Índia. Eram postos de avanço. A finalidade última dos Estados cruzados era defender os santos lugares na Palestina, especialmente Jerusalém, e proporcionar um ambiente seguro para os peregrinos cristãos que visitavam aqueles lugares.

Não havia um país de referência dos Estados cruzados com o qual pudessem manter relações econômicas, nem os europeus obtinham benefícios econômicos destes Estados. Pelo contrário, os gastos das cruzadas para manter o Oriente latino pesavam fortemente sobre os recursos europeus. Como posições de vanguarda, os Estados cruzados tinham um caráter militar.

Enquanto os muçulmanos combatiam entre eles, os Estados cruzados estavam a salvo, mas, quando os muçulmanos se uniram, foram capazes de derrubar as fortificações, tomar as cidades e, em 1291, expulsar completamente os cristãos.

Mito nº 5: As cruzadas se fizeram também contra os judeus.

Nenhum Papa lançou jamais uma cruzada contra os judeus. Durante a primeira cruzada, um numeroso bando de malfeitores, não pertencentes ao exército principal, invadiram as cidades de Renania e decidiram depredar e assassinar os judeus que ali residiam. Isto se produziu em parte por pura avidez e em parte por uma errônea concepção pela qual os judeus, enquanto responsáveis pela crucificação de Cristo, eram objetivos legítimos da guerra.

O Papa Urbano II e os Papas sucessivos condenaram energicamente estes ataques contra os judeus. Os bispos locais e os outros eclesiásticos e leigos trataram de defender os judeus ainda que com pouco êxito. De modo parecido, durante fase inicial da segunda cruzada, um grupo de renegados assassinou muitos judeus na Alemanha, antes que São Bernardo conseguisse alcançá-los e detê-los.

Estes desvios do movimento eram um indesejado subproduto do entusiasmo das Cruzadas, mas não eram o objetivo das Cruzadas. Par usar uma analogia moderna, durante a Segunda Guerra Mundial alguns soldados americanos cometeram crimes enquanto se encontravam em ultramar. Foram presos e castigados por tais crimes, mas o motivo pelo qual haviam entrado em guerra não era o de cometer crimes.

Pensa que a luta entre o Ocidente e o mundo muçulmano é de certo modo uma reação às Cruzadas?

MADDEN: Não. Pode parecer uma estranha a resposta se consideramos que Osama Bin Laden e outros islâmicos com freqüência se referem aos americanos como «Cruzados».

É importante recordar que durante a Idade Média, na realidade até finais do século XVI, a superpotência do mundo ocidental era o islã. As civilizações muçulmanas gozavam de grande bem-estar, eram sofisticadas e imensamente poderosas. O que hoje chamamos Ocidente era atrasado e relativamente fraco.

Há que fazer notar que, com a exceção da Primeira Cruzada, praticamente o restante das cruzadas lançadas pelo Ocidente - e houve centenas - não tiveram êxito.

As Cruzadas podem haver freado o expansionismo muçulmano mas de nenhum modo o detiveram. O império muçulmano continuou expandindo-se para territórios cristãos, conquistando os Bálcãs, grande parte da Europa do Leste e inclusive a maior cidade cristã do mundo, Constantinopla.

Desde a perspectiva muçulmana, não tiveram tanta importância. Se você tivesse perguntado a alguém do mundo muçulmano pelas Cruzadas no século XVIII, não saberia nada do tema. Eram importantes para os europeus porque foram esforços massivos que fracassaram.

Contudo, durante o século XX, quando os europeus começaram a conquistar e colonizar países do Oriente Médio, muitos historiadores - especialmente escritores franceses nacionalistas ou monárquicos - começaram a denominar as Cruzadas como o primeiro intento da Europa de levar os frutos da civilização ocidental ao mundo muçulmano atrasado. Em outras palavras, as Cruzadas foram transformadas em guerras imperialistas.

Estas histórias se ensinavam nas escolas coloniais e se converteram no ponto de vista normalmente aceito no Oriente Médio e mais além. No século XX, o imperialismo foi desacreditado. Islamistas e alguns nacionalistas árabes assumiram a visão colonial das Cruzadas, denunciando que o Ocidente era responsável por sua miséria porque havia depredado os muçulmanos desde as Cruzadas.

Diz-se com freqüência que o povo no Oriente Médio tem uma memória duradoura; é verdade. Mas no caso das Cruzadas, tem uma memória reconstruída, fabricada por seus conquistadores europeus.

Há semelhanças entre as Cruzadas e a atual guerra contra o terrorismo?

MADDEN: Junto ao fato de que os soldados de ambas guerras desejavam servir a alguém maior que eles mesmos e que desejavam voltar para casa enquanto acabaram, não vejo outras semelhanças entre os cruzados medievais e a guerra contra o terror. As motivações da sociedade secular de depois do Iluminismo são muito diferentes das do mundo medieval.

Em que as Cruzadas se diferenciam da jihad islâmica ou de outras guerras de religião?

MADDEN : O objetivo fundamental da jihad (guerra santa) é estender o «Dar al-Islã» - (A Morada do Islã). Em outras palavras, a jihad é expansionista, busca conquistar os não-muçulmanos e impor-lhes o regime muçulmano.

Aos que são conquistados é dada uma só possibilidade. Para os que não são do Povo do Livro - em outras palavras, os que não são cristãos ou judeus - a única opção é converter-se ao Islã ou morrer. Para os que pertencem ao Povo do Livro, a opção é submeter-se ao regime muçulmano e à lei islâmica ou morrer. A expansão do islã, portanto, estava diretamente ligada ao êxito militar da jihad.

Os cruzados eram outra coisa. Desde seus inícios a Cristandade sempre proibiu a conversão forçada de qualquer tipo. A conversão pela espada, por conseguinte, não era possível para a Cristandade. Ao contrário da jihad, o objetivo dos cruzados não era estender o mundo cristão nem expandir a Cristandade mediante conversões forçadas.

Os cruzados eram uma resposta direta e relacionada com os séculos de conquistas muçulmanas de terras cristãs. O acontecimento que fez explodir a Primeira Cruzada foi a conquista turca de toda Ásia Menor de 1070 a 1090.

A Primeira Cruzada foi convocada pelo Papa Urbano II em 1095 em resposta a uma urgente petição de ajuda do imperador bizantino de Constantinopla. Urbano fez um chamado aos cavaleiros da Cristandade para que acudissem a ajudar seus irmãos do Oriente.

A Ásia Menor era cristã. Formava parte do império bizantino e foi em primeiro lugar evangelizada por São Paulo. São Pedro foi o primeiro bispo de Antioquia. Paulo escreveu sua famosa carta aos cristãos de Éfeso. O credo da Igreja foi redigido em Nicéia. Todos estes lugares estão na Ásia Menor.

O imperador bizantino suplicou aos cristãos do Ocidente ajuda para recuperar estas terras e expulsar os turcos. As Cruzadas foram esta ajuda. Seu objetivo, contudo, não era só reconquistar a Ásia Menor, mas recuperar outras terras antigamente cristãs perdidas por causa das jihads islâmicas. Inclusive a Terra Santa.

Em poucas palavras, portanto, a maior diferença entre Cruzada e jihad é que a primeira foi uma defesa contra a segunda. Toda a história das Cruzadas no Oriente é uma resposta à agressão muçulmana.

Tiveram algum êxito os cruzados em converter o mundo muçulmano?

MADDEN: Quero fazer notar que no século XIII alguns franciscanos iniciaram uma missão no Oriente Médio para tentar converter os muçulmanos. Não tiveram êxito, em grande parte porque a lei islâmica castiga a conversão a outra religião com a pena de morte.

Este intento, contudo, era uma coisa distinta das Cruzadas, que não tinham nada a ver com a conversão. E foi um intento e persuasão pacíficos.

Como a Cristandade assimilou sua derrota nas Cruzadas?

MADDEN: Da mesma maneira que os judeus do Antigo Testamento. Deus negou a vitória a seu povo porque era pecador. Isto levou a um movimento devocionista de grande escala na Europa, cujo objetivo era purificar totalmente a sociedade cristã.




Avatar do usuário
Al Zarqawi
Sênior
Sênior
Mensagens: 1828
Registrado em: Ter Jul 03, 2007 8:07 pm
Localização: Rio de Janeiro

Re: AS ORDENS MILITARES DAS CRUZADAS.

#30 Mensagem por Al Zarqawi » Seg Ago 04, 2008 12:04 am

Clermont,

Seu texto postado e outros são de enorme qualidade,mas as opiniões de Madden leio com grandes reservas.Me parece lógico e evidente e não vem ao caso se pelos melhores propósitos ou não que as Cruzadas tinham uma vertente claramente expansionista da fé cristã em detrimento da fé muçulmana.Um fenómeno evidencia e comprova a existência do outro.Ambos se complementam e se explicam.

Abraços,




Al Zarqawi - O Dragão!

"A inveja é doce,o olho grande é que é uma merda"Autor desconhecido.
Imagem
Responder