Guerra do Paraguai

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suntsé
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Re: Guerra do Paraguai

#136 Mensagem por suntsé » Qui Mai 13, 2010 2:16 pm

jumentodonordeste escreveu: Argentina tem é que abrir o olho para não perder território para o Chile.
Eu espero que a argentina continue de olhos fechados por muito tempo, até eles apredenderem a ter mais respeito pelo Brasil (no minimo).

Eles tem é que apanhar muito ainda, se eles acordarem....cpncetesa iram se aliar aos EUA/UE para nos deixar em uma situação desconfortavel por aqui.




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Clermont
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Re: Guerra do Paraguai

#137 Mensagem por Clermont » Qui Jul 10, 2014 7:49 pm

A LIDERANÇA DE CAXIAS NA BATALHA DO ITORORÓ.

[img=http://img21.imagevenue.com/loc149/th_0 ... _149lo.JPG]


1. A MANOBRA DE FLANCO.

O esboço acima explica a manobra de flanco realizada pelas Forças da Triplice Aliança, sob o comando de Caxias, quando se depararam com a fortaleza de Angustura, no corte do arroio Piquiciri.

Verificando a impossibilidade de atacar frontalmente ou flanquear a posição paraguaia pelo Leste, Caxias conduziu suas tropas pela margem direita do rio (por Oeste), usando a Estrada do Chaco de 11 km, que mandara a Engenharia construir.

As baterias da Artilharia paraguaia, posicionadas entre Angustura e Villeta, impediam que os navios da esquadra brasileira subissem o rio transportando as tropas, situação que os deixava lentos e vulneráveis, porém não poderiam impedi-los se estivessem sem carga extra.

Assim, cerca de 17.000 homens de todas as Armas foram levados pela esquadra até um local de desembarque, pouco ao Norte de Santa Tereza e, a partir deste ponto, deslocaram-se pela Estrada do Chaco até a Barranca de Santa Helena, onde novamente embarcaram nos navios e transpuseram o rio, ficando em condições de acometer a posição fortificada inimiga pela retaguarda.

Entretanto, Solano Lopes vendo a manobra desbordante do inimigo, enviou para o Norte o corajoso e competente general Caballero, com 7000 homens e 12 bocas de fogo, para deter Caxias e suas tropas no corte do arroio Itororó, onde se deu o combate.

Ao ver o arroio, profundo, de águas rápidas e margens taludadas, Caxias percebeu, de imediato, a dificuldade que enfrentaria. Por isto, enviou Osório, seu melhor general, com suas tropas em busca de um vau que os guias diziam existir rio acima. Esta manobra possibilitaria atacar o inimigo pelo flanco e liberar a passagem.

Dionísio Cerqueira, que participou da batalha, nos conta o seguinte, em seu livro Reminiscências da Campanha do Paraguai:

2. DESCRIÇÃO DA BATALHA POR DIONÍSIO CERQUEIRA

”Na manhã de 6 (de dezembro), seguimos por uma estrada estreita bordada de capoeirões e pequenos campestres, dando a direita ao rio, que não corria distante. O caminho era ligeiramente acidentado.

Chegamos ao alto, donde avistamos ao longe, na baixada, uma ponte estreita. O inimigo estava do outro lado em grande número.

À esquerda, tínhamos a mata mais ou menos rarefeita; e à direita, recordo-me vagamente, o terreno era escabroso, com uma vegetação raquítica de cardos e árvores torcidas, cheias de espinhos, crescendo entre brejos; e céspedes enormes e irregulares, cobertos de gramíneas crestadas pelo sol.

Ao avistar-nos no alto, o inimigo, cuja artilharia dominava a ponte do arroio Itororó, rompeu fogo sobre a vanguarda. Travou-se o combate.

Penetramos por um trilho do capoeirão da esquerda, onde havia algumas clareiras. Postaram-nos em uma posição muito avançada, defendendo uma estrada, que vinha do interior e se bifurcava à nossa esquerda, com um largo ramal aberto e limpo, que ia ter ao campo onde combatiam os paraguaios perto de nós. A artilharia troava sem descanso.

As nossas cornetas tocavam sem cessar: avançar, fogo.

Às vezes, aos nossos ouvidos atentos, chegavam os sons plangentes do mais impressivo dos toques, naquela época da espingarda Minié: – Atiradores – o inimigo é cavalaria. Ao ruído crepitante da fuzilada, que de instante a instante recrudescia, misturava-se o estrupido dos nossos esquadrões, que passavam a galope pela estrada, à nossa direita.

E nós pouco víamos. De vez em quando, passava um ajudante-de-ordens, suarento, com o rosto afogueado, e dava-nos, em rápidas palavras, uma notícia:

- Fernando Machado caiu fulminado na frente de sua brigada.

A cavalaria recuou e atropelou os infantes na estreita ponte. Uma linha de atiradores do 10º foi acutilada e o comandante Guedes morreu como um herói. Repelimos os paraguaios e os levamos até bem longe; mas, voltaram à carga com fúria e o Azevedo caiu exangue.

As nossas tropas, lutando desesperadamente, foram arrojadas aquém da ponte.

As cornetas repetiam, incessantes, o toque de avançar; mas as tropas pareciam hesitantes. O Argolo e o Gurjão foram feridos.

Muitos comandantes estavam fora de combate, a ação estava indecisa e o terreno não permitia o desenvolvimento de grandes forças.

As reservas estavam inativas.

Apenas alguns batalhões foram substituir outros, que estavam dizimados. O terreno não se prestava a um grande desenvolvimento de tropas.

Passou pela nossa frente, animado, ereto no cavalo, o boné de capa branca com tapa-nuca, de pala levantada, preso ao queixo, pela jugular, a espada curva desembainhada, empunhada com vigor, e presa pelo fiador de ouro, o velho general chefe, que parecia ter recuperado a energia e o fogo dos vinte anos. Estava realmente belo. Perfilamo-nos como se uma centelha elétrica tivesse passado por todos nós.

Apertávamos o punho das espadas, e ouvia-se um murmúrio de bravos ao grande marechal. O batalhão mexia-se agitado e atraído pela nobre figura que abaixou a espada em ligeira saudação aos seus soldados. O comandante deu a voz de firme. Dali a pouco, o maior dos nossos generais arrojava-se impávido sobre a ponte, acompanhado pelos batalhões galvanizados pela irradiação da sua glória. Quando ele passou, houve quem visse os moribundos erguerem-se brandindo espadas ou carabinas para caírem mortos adiante.

A carga foi irresistível e o inimigo completamente feito em pedaços. As bandas tocaram o hino nacional, cujas notas sugestivas se mesclaram com a alvorada alegre, repetida pelos corneteiros que ainda viviam.

(...)

Itororó foi uma das ações mais porfiadas que tivemos, e onde relativamente foi maior o número de chefes sacrificados.”


Em seguida, será feito um estudo da liderança evidenciada por Caxias em Itororó onde cinco perguntas serão respondidas.

3. PEDIDOS

1. Os fatores da liderança são quatro: a situação, o líder, os liderados e a comunicação que se estabelece entre as pessoas em questão.
Comente os três primeiros, relacionando-os à batalha de Itororó.

2. De que maneira Caxias se comunicou com os seus soldados para que o seguissem na carga contra os paraguaios? (Comunicação: 4º fator da liderança)

3. Os soldados confiavam em Caxias? Tinha ele credibilidade (palavra chave da liderança)?

4. Quais os principais atributos demonstrados por Caxias em Itororó?

5. Qual o atributo fundamental demonstrado por Caxias em Itororó?


RESPOSTAS AOS PEDIDOS

1. Os fatores da liderança são quatro: a situação, o líder, os liderados e a comunicação que se estabelece entre as pessoas em questão.

Comente os três primeiros, relacionando-os à batalha de Itororó.

- A situação

A situação em que as tropas da Tríplice Aliança se encontravam em Itororó era crítica, pois o terreno, pleno de obstáculos naturais, não permitia o emprego das reservas e do apoio de fogo em boas condições e os paraguaios aproveitavam-se disto, contra-atacando e retomando a ponte sobre o ribeirão, sempre que os aliados a capturavam.
O general Osório tinha sido enviado, com parte das tropas que comandava, para procurar um vau rio acima, mas o tempo passava e dele não se tinha notícia. Enquanto isto, as baixas aumentavam e muitos comandantes experientes morriam ou eram gravemente feridos.

Caxias via todo o esforço que despendera na manobra de flanco pela margem direita do Rio Paraguai perder-se diante da feroz resistência inimiga.

Nas situações de normalidade, ou mesmo na guerra, quando se tem total domínio da situação, não é tão difícil comandar, pois os indivíduos não correm grandes riscos e não padecem com os ferimentos, com a fome, com o frio e com a exaustão. Portanto, é fácil dar ordens e ser obedecido. Mas é nas crises que se vê o valor dos bons comandantes e se pode avaliar com precisão a liderança que exercem sobre as suas tropas, obtendo a obediência, mesmo quando as vidas dos soldados estão em perigo.

- O líder

Quando assumiu o comando das forças da Tríplice Aliança, o general Luis Alves de Lima e Silva, Marques de Caxias, tinha 65 anos. Era bastante conhecido no cenário nacional e no cenário platino.

O general ganhara notoriedade nas guerras do Prata e havia debelado diversas revoltas internas, no período da Regência e primeiros anos do reinado de Pedro II. Nessas últimas ações, ganhou a alcunha de “Pacificador”, pois embora não negociasse com adversários em armas, via os rebeldes como irmãos brasileiros, que deviam ser poupados, respeitados e escutados em suas reivindicações. De modo incrível, foi eleito senador pela Província do Rio Grande do Sul após vencer os Farrapos.

Na Campanha do Paraguai, quando assumiu a direção da guerra, tratou de suprir, equipar e treinar suas tropas, recuperando o moral, que estava abatido, devido às perdas graves em pessoal e a reveses sofridos diante das forças de Solano Lopes.
O Marques era um militar profissional, reconhecido como o mais capaz dos generais brasileiros. Pelo gosto dos soldados, deveria estar no comando desde o início da guerra.
Na batalha de Itororó, Caxias viu a necessidade de intervir pessoalmente no combate exercendo o que alguns autores chamam de liderança heróica e o fez.

- Os liderados

As tropas comandadas por Caxias eram integradas por homens de três origens: brasileiros, argentinos e uruguaios, com forte maioria dos primeiros e pouca quantidade dos últimos.

Entre os brasileiros havia Batalhões de Linha (profissionais) e Batalhões de Voluntários da Pátria, formados ao encargo de coronéis comissionados, homens de posse a quem a patente havia sido outorgada, em troca do compromisso de organizar e equipar um batalhão de voluntários. Muitos dos batalhões eram integrados por grande quantidade de negros escravos, que tinham recebido a promessa de alforria após a guerra.

Naquela época, esta foi a maneira encontrada para executar uma rápida mobilização, aumentando consideravelmente o efetivo do Exército Brasileiro, que possuía apenas cerca de 16.000 efetivos de linha, espalhados por todo o território nacional.
Contudo, esta tropa pouco homogênea recebera com respeito e esperança o novo comandante que vinha precedido de grande fama (carisma).

Mas, na região da ponte sobre o Arroio Itororó, a tropa ia sendo dizimada e já desanimava. Os batalhões em reserva não atendiam mais às ordens transmitidas através dos toques de corneta e tudo parecia perdido.

2. De que maneira Caxias se comunicou com os seus soldados para que o seguissem na carga contra os paraguaios? (Comunicação: 4º fator da liderança)

Embora a História conte que Caxias se dirigiu à tropa com o brado – SIGAM-ME OS QUE FOREM BRASILEIROS! – é pouco provável que sua voz tivesse preponderado sobre o troar dos canhões, mesclado com o pipocar dos disparos das armas individuais, o tropel da cavalaria, o lamento dos feridos e o alarido da tropa, balbúrdia sonora que costumava se instalar em tais situações.

O que magnetizou os soldados foi o fato de Caxias ter descido a estrada ao trote, com a espada desembainhada, na direção da ponte, sob a vista de todos, amigos e inimigos, dando incontestável exemplo de coragem. O risco que o general corria naquele momento foi entendido pelos soldados mais humildes e pelos oficiais mais importantes, que se negaram a deixar o comandante sozinho. Todos acorreram em seu apoio, porque não queriam perdê-lo, pois aquele não era apenas um comandante, porque era o líder, que seguiriam aos lugares mais perigosos.

3. Os soldados confiavam em Caxias? Tinha ele credibilidade (palavra chave da liderança)?

Todo o Exército confiava em Caxias. Por isto, naquele momento em que muitos desanimavam e já sentiam o peso da derrota, o gesto heróico do comandante, indo à frente e se expondo ao perigo, a todos reanimou. Tal atitude de destemor sinalizou que a vitória era possível e assim foi, porque os soldados acreditaram no líder e o seguiram.

4. Quais os principais atributos demonstrados por Caxias em Itororó?

Quatro atributos mais importantes foram evidenciados por Caxias. São eles:

- O equilíbrio emocional: que lhe permitiu raciocinar com clareza durante a crise.
- A iniciativa: que o fez agir prontamente para tentar resolver a situação.
- A decisão: que lhe permitiu escolher, com rapidez, entre várias linhas de ação possíveis (alternativas), uma que resolvesse o problema que enfrentava.
- A coragem: que lhe permitiu agir, adotando uma linha de ação que envolvia grande perigo, uma vez que expunha demasiadamente o comandante, mas que resolveu a questão.

5. Qual o atributo fundamental demonstrado por Caxias em Itororó?

O atributo fundamental foi a coragem, o único atributo visível para os subordinados naquela circunstância.

É importante saber que, em situações de perigo, os indivíduos não seguem os que têm galões e títulos, seguem os que têm coragem.

6. Conclusões

Do que foi dito, tiram-se três conclusões principais:

- A comunicação por intermédio do exemplo é vital para a liderança militar, principalmente no combate. A Batalha de Itororó foi decidida devido à intervenção pessoal e corajosa do líder, reanimando e conduzindo a tropa.

- A confiança que os oficiais e as praças tinham em Caxias e a credibilidade, resultante desta confiança, foram fatores importantíssimos na vitória das forças da Tríplice Aliança em Itororó.

- Tudo foi possível porque Caxias, ao longo da vida, desenvolvera elevada competência profissional e diversos atributos da área afetiva, extremamente favoráveis ao estabelecimento de laços de liderança com os subordinados.




Editado pela última vez por Clermont em Sex Jul 11, 2014 7:53 pm, em um total de 1 vez.
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Re: Guerra do Paraguai

#138 Mensagem por Wingate » Sex Jul 11, 2014 7:04 pm

Clermont escreveu:A LIDERANÇA DE CAXIAS NA BATALHA DO ITORORÓ.

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1. A MANOBRA DE FLANCO.

O esboço acima explica a manobra de flanco realizada pelas Forças da Triplice Aliança, sob o comando de Caxias, quando se depararam com a fortaleza de Angustura, no corte do arroio Piquiciri.

Verificando a impossibilidade de atacar frontalmente ou flanquear a posição paraguaia pelo Leste, Caxias conduziu suas tropas pela margem direita do rio (por Oeste), usando a Estrada do Chaco de 11 km, que mandara a Engenharia construir.

As baterias da Artilharia paraguaia, posicionadas entre Angustura e Villeta, impediam que os navios da esquadra brasileira subissem o rio transportando as tropas, situação que os deixava lentos e vulneráveis, porém não poderiam impedi-los se estivessem sem carga extra.

Assim, cerca de 17.000 homens de todas as Armas foram levados pela esquadra até um local de desembarque, pouco ao Norte de Santa Tereza e, a partir deste ponto, deslocaram-se pela Estrada do Chaco até a Barranca de Santa Helena, onde novamente embarcaram nos navios e transpuseram o rio, ficando em condições de acometer a posição fortificada inimiga pela retaguarda.

Entretanto, Solano Lopes vendo a manobra desbordante do inimigo, enviou para o Norte o corajoso e competente general Caballero, com 7000 homens e 12 bocas de fogo, para deter Caxias e suas tropas no corte do arroio Itororó, onde se deu o combate.

Ao ver o arroio, profundo, de águas rápidas e margens taludadas, Caxias percebeu, de imediato, a dificuldade que enfrentaria. Por isto, enviou Osório, seu melhor general, com suas tropas em busca de um vau que os guias diziam existir rio acima. Esta manobra possibilitaria atacar o inimigo pelo flanco e liberar a passagem.

Dionísio Cerqueira, que participou da batalha, nos conta o seguinte, em seu livro Reminiscências da Campanha do Paraguai:

2. DESCRIÇÃO DA BATALHA POR DIONÍSIO CERQUEIRA

”Na manhã de 6 (de dezembro), seguimos por uma estrada estreita bordada de capoeirões e pequenos campestres, dando a direita ao rio, que não corria distante. O caminho era ligeiramente acidentado.

Chegamos ao alto, donde avistamos ao longe, na baixada, uma ponte estreita. O inimigo estava do outro lado em grande número.

À esquerda, tínhamos a mata mais ou menos rarefeita; e à direita, recordo-me vagamente, o terreno era escabroso, com uma vegetação raquítica de cardos e árvores torcidas, cheias de espinhos, crescendo entre brejos; e céspedes enormes e irregulares, cobertos de gramíneas crestadas pelo sol.

Ao avistar-nos no alto, o inimigo, cuja artilharia dominava a ponte do arroio Itororó, rompeu fogo sobre a vanguarda. Travou-se o combate.

Penetramos por um trilho do capoeirão da esquerda, onde havia algumas clareiras. Postaram-nos em uma posição muito avançada, defendendo uma estrada, que vinha do interior e se bifurcava à nossa esquerda, com um largo ramal aberto e limpo, que ia ter ao campo onde combatiam os paraguaios perto de nós. A artilharia troava sem descanso.

As nossas cornetas tocavam sem cessar: avançar, fogo.

Às vezes, aos nossos ouvidos atentos, chegavam os sons plangentes do mais impressivo dos toques, naquela época da espingarda Minié: – Atiradores – o inimigo é cavalaria. Ao ruído crepitante da fuzilada, que de instante a instante recrudescia, misturava-se o estrupido dos nossos esquadrões, que passavam a galope pela estrada, à nossa direita.

E nós pouco víamos. De vez em quando, passava um ajudante-de-ordens, suarento, com o rosto afogueado, e dava-nos, em rápidas palavras, uma notícia:

- Fernando Machado caiu fulminado na frente de sua brigada.

A cavalaria recuou e atropelou os infantes na estreita ponte. Uma linha de atiradores do 10º foi acutilada e o comandante Guedes morreu como um herói. Repelimos os paraguaios e os levamos até bem longe; mas, voltaram à carga com fúria e o Azevedo caiu exangue.

As nossas tropas, lutando desesperadamente, foram arrojadas aquém da ponte.

As cornetas repetiam, incessantes, o toque de avançar; mas as tropas pareciam hesitantes. O Argolo e o Gurjão foram feridos.

Muitos comandantes estavam fora de combate, a ação estava indecisa e o terreno não permitia o desenvolvimento de grandes forças.

As reservas estavam inativas.

Apenas alguns batalhões foram substituir outros, que estavam dizimados. O terreno não se prestava a um grande desenvolvimento de tropas.

Passou pela nossa frente, animado, ereto no cavalo, o boné de capa branca com tapa-nuca, de pala levantada, preso ao queixo, pela jugular, a espada curva desembainhada, empunhada com vigor, e presa pelo fiador de ouro, o velho general chefe, que parecia ter recuperado a energia e o fogo dos vinte anos. Estava realmente belo. Perfilamo-nos como se uma centelha elétrica tivesse passado por todos nós.

Apertávamos o punho das espadas, e ouvia-se um murmúrio de bravos ao grande marechal. O batalhão mexia-se agitado e atraído pela nobre figura que abaixou a espada em ligeira saudação aos seus soldados. O comandante deu a voz de firme. Dali a pouco, o maior dos nossos generais arrojava-se impávido sobre a ponte, acompanhado pelos batalhões galvanizados pela irradiação da sua glória. Quando ele passou, houve quem visse os moribundos erguerem-se brandindo espadas ou carabinas para caírem mortos adiante.

A carga foi irresistível e o inimigo completamente feito em pedaços. As bandas tocaram o hino nacional, cujas notas sugestivas se mesclaram com a alvorada alegre, repetida pelos corneteiros que ainda viviam.

(...)

Itororó foi uma das ações mais porfiadas que tivemos, e onde relativamente foi maior o número de chefes sacrificados.”


Em seguida, será feito um estudo da liderança evidenciada por Caxias em Itororó onde cinco perguntas serão respondidas.

3. PEDIDOS

1. Os fatores da liderança são quatro: a situação, o líder, os liderados e a comunicação que se estabelece entre as pessoas em questão.
Comente os três primeiros, relacionando-os à batalha de Itororó.

2. De que maneira Caxias se comunicou com os seus soldados para que o seguissem na carga contra os paraguaios? (Comunicação: 4º fator da liderança)

3. Os soldados confiavam em Caxias? Tinha ele credibilidade (palavra chave da liderança)?

4. Quais os principais atributos demonstrados por Caxias em Itororó?

5. Qual o atributo fundamental demonstrado por Caxias em Itororó?


RESPOSTAS AOS PEDIDOS

1. Os fatores da liderança são quatro: a situação, o líder, os liderados e a comunicação que se estabelece entre as pessoas em questão.

Comente os três primeiros, relacionando-os à batalha de Itororó.

- A situação

A situação em que as tropas da Tríplice Aliança se encontravam em Itororó era crítica, pois o terreno, pleno de obstáculos naturais, não permitia o emprego das reservas e do apoio de fogo em boas condições e os paraguaios aproveitavam-se disto, contra-atacando e retomando a ponte sobre o ribeirão, sempre que os aliados a capturavam.
O general Osório tinha sido enviado, com parte das tropas que comandava, para procurar um vau rio acima, mas o tempo passava e dele não se tinha notícia. Enquanto isto, as baixas aumentavam e muitos comandantes experientes morriam ou eram gravemente feridos.

Caxias via todo o esforço que despendera na manobra de flanco pela margem direita do Rio Paraguai perder-se diante da feroz resistência inimiga.

Nas situações de normalidade, ou mesmo na guerra, quando se tem total domínio da situação, não é tão difícil comandar, pois os indivíduos não correm grandes riscos e não padecem com os ferimentos, com a fome, com o frio e com a exaustão. Portanto, é fácil dar ordens e ser obedecido. Mas é nas crises que se vê o valor dos bons comandantes e se pode avaliar com precisão a liderança que exercem sobre as suas tropas, obtendo a obediência, mesmo quando as vidas dos soldados estão em perigo.

- O líder

Quando assumiu o comando das forças da Tríplice Aliança, o general Luis Alves de Lima e Silva, Marques de Caxias, tinha 65 anos. Era bastante conhecido no cenário nacional e no cenário platino.

O general ganhara notoriedade nas guerras do Prata e havia debelado diversas revoltas internas, no período da Regência e primeiros anos do reinado de Pedro II. Nessas últimas ações, ganhou a alcunha de “Pacificador”, pois embora não negociasse com adversários em armas, via os rebeldes como irmãos brasileiros, que deviam ser poupados, respeitados e escutados em suas reivindicações. De modo incrível, foi eleito senador pela Província do Rio Grande do Sul após vencer os Farrapos.

Na Campanha do Paraguai, quando assumiu a direção da guerra, tratou de suprir, equipar e treinar suas tropas, recuperando o moral, que estava abatido, devido às perdas graves em pessoal e a reveses sofridos diante das forças de Solano Lopes.
O Marques era um militar profissional, reconhecido como o mais capaz dos generais brasileiros. Pelo gosto dos soldados, deveria estar no comando desde o início da guerra.
Na batalha de Itororó, Caxias viu a necessidade de intervir pessoalmente no combate exercendo o que alguns autores chamam de liderança heróica e o fez.

- Os liderados

As tropas comandadas por Caxias eram integradas por homens de três origens: brasileiros, argentinos e uruguaios, com forte maioria dos primeiros e pouca quantidade dos últimos.

Entre os brasileiros havia Batalhões de Linha (profissionais) e Batalhões de Voluntários da Pátria, formados ao encargo de coronéis comissionados, homens de posse a quem a patente havia sido outorgada, em troca do compromisso de organizar e equipar um batalhão de voluntários. Muitos dos batalhões eram integrados por grande quantidade de negros escravos, que tinham recebido a promessa de alforria após a guerra.

Naquela época, esta foi a maneira encontrada para executar uma rápida mobilização, aumentando consideravelmente o efetivo do Exército Brasileiro, que possuía apenas cerca de 16.000 efetivos de linha, espalhados por todo o território nacional.
Contudo, esta tropa pouco homogênea recebera com respeito e esperança o novo comandante que vinha precedido de grande fama (carisma).

Mas, na região da ponte sobre o Arroio Itororó, a tropa ia sendo dizimada e já desanimava. Os batalhões em reserva não atendiam mais às ordens transmitidas através dos toques de corneta e tudo parecia perdido.

2. De que maneira Caxias se comunicou com os seus soldados para que o seguissem na carga contra os paraguaios? (Comunicação: 4º fator da liderança)

Embora a História conte que Caxias se dirigiu à tropa com o brado – SIGAM-ME OS QUE FOREM BRASILEIROS! – é pouco provável que sua voz tivesse preponderado sobre o troar dos canhões, mesclado com o pipocar dos disparos das armas individuais, o tropel da cavalaria, o lamento dos feridos e o alarido da tropa, balbúrdia sonora que costumava se instalar em tais situações.

O que magnetizou os soldados foi o fato de Caxias ter descido a estrada ao trote, com a espada desembainhada, na direção da ponte, sob a vista de todos, amigos e inimigos, dando incontestável exemplo de coragem. O risco que o general corria naquele momento foi entendido pelos soldados mais humildes e pelos oficiais mais importantes, que se negaram a deixar o comandante sozinho. Todos acorreram em seu apoio, porque não queriam perdê-lo, pois aquele não era apenas um comandante, porque era o líder, que seguiriam aos lugares mais perigosos.

3. Os soldados confiavam em Caxias? Tinha ele credibilidade (palavra chave da liderança)?

Todo o Exército confiava em Caxias. Por isto, naquele momento em que muitos desanimavam e já sentiam o peso da derrota, o gesto heróico do comandante, indo à frente e se expondo ao perigo, a todos reanimou. Tal atitude de destemor sinalizou que a vitória era possível e assim foi, porque os soldados acreditaram no líder e o seguiram.

4. Quais os principais atributos demonstrados por Caxias em Itororó?

Quatro atributos mais importantes foram evidenciados por Caxias. São eles:

- O equilíbrio emocional: que lhe permitiu raciocinar com clareza durante a crise.
- A iniciativa: que o fez agir prontamente para tentar resolver a situação.
- A decisão: que lhe permitiu escolher, com rapidez, entre várias linhas de ação possíveis (alternativas), uma que resolvesse o problema que enfrentava.
- A coragem: que lhe permitiu agir, adotando uma linha de ação que envolvia grande perigo, uma vez que expunha demasiadamente o comandante, mas que resolveu a questão.

5. Qual o atributo fundamental demonstrado por Caxias em Itororó?

O atributo fundamental foi a coragem, o único atributo visível para os subordinados naquela circunstância.

É importante saber que, em situações de perigo, os indivíduos não seguem os que têm galões e títulos, seguem os que têm coragem.

6. Conclusões

Do que foi dito, tiram-se três conclusões principais:

- A comunicação por intermédio do exemplo é vital para a liderança militar, principalmente no combate. A Batalha de Itororó foi decidida devido à intervenção pessoal e corajosa do líder, reanimando e conduzindo a tropa.

- A confiança que os oficiais e as praças tinham em Caxias e a credibilidade, resultante desta confiança, foram fatores importantíssimos na vitória das forças da Tríplice Aliança em Itororó.

- Tudo foi possível porque Caxias, ao longo da vida, desenvolvera elevada competência profissional e diversos atributos da área afetiva, extremamente favoráveis ao estabelecimento de laços de liderança com os subordinados.
Modernas (para a época) e mortais:

http://www.armasbrasil.com/Pagdiversas/ ... _minie.htm

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Hermes
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Re: Guerra do Paraguai

#139 Mensagem por Hermes » Sáb Jul 12, 2014 3:31 pm

E subutilizadas pelas tropas brasileiras que não as empregavam em seu alcance máximo efetivo, preferindo o combate corpo a corpo.




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Re: Guerra do Paraguai

#140 Mensagem por romeo » Qua Ago 20, 2014 11:13 am

Texto de autoria do General Hamilton Bonat....
http://www.bonat.com.br/2014/08/19/a-es ... ira-latas/
--------------
A esquecida morte de 50 mil vira-latas.

Por que atacar o Brasil, se a disputa era entre Assunção e Buenos Aires, que sufocava a economia paraguaia? Seria esta a pergunta que, se pudesse, eu faria a Francisco Solano López. Vai completar 150 anos que ele mandou aprisionar o vapor Marquês de Olinda e trancafiou sua tripulação e passageiros, entre eles o Presidente da Província de Mato Grosso, que sucumbiriam à fome e aos maus tratos na prisão. Pouco mais tarde, milhares de suas fanatizadas tropas tomariam Forte Coimbra, Dourados, Nioaque, Miranda e Coxim, não sem antes ceifar inúmeras vidas.

López deve ter-se apercebido da nossa fragilidade. Éramos um país dividido. A Corte, centralizadora, e as oligarquias regionais, ávidas por autonomia, olhavam-se com desconfiança. Do Imperador tinham tirado o exército. Fracionaram-no em guardas nacionais, subordinadas aos propósitos da elite escravista. O efetivo terrestre não chegava a 20 mil. López deve ter imaginado que seria presa fácil para os seus 50 mil bravos. Havia, ainda, uma cruel divisão entre homens livres e escravos. Ele confiava na sublevação destes últimos. Não contava, aí o seu erro, com o poder aglutinador e a capacidade de mobilização da Coroa.

Apesar de estarem documentalmente registradas, evidências históricas parecem nada valer para certos autores, que, numa autofagia incompreensível, insistem em atribuir ao Brasil a culpabilidade pela sangrenta guerra que se prolongaria por quase seis anos. Segundo eles, influenciados pelos ingleses, fomos os responsáveis, não só por ela, mas pelo extermínio da população masculina do vizinho país.

Não lembram dos mais de 50 mil brasileiros, a maioria muito jovem, que deixaram suas vidas longe do pedaço de chão onde eram amados. Tratam-nos como vira-latas, termo recorrente em demagógicos discursos de líderes políticos nacionais. O eufemista “complexo de vira-latas”, rotineiramente usado, parece-lhes mais agradável do que afirmar que não somos de nada. A conclusão que se tira disso tudo é que somos realmente vira-latas!

Enquanto nossos irmãos paraguaios enaltecem seus mais de 150 mil mortos, não permitimos que os nossos 50 mil descansem, condenando-os ao fogo eterno. Com sua ideologia, carcomido instrumento de dominação externa, brasileiros tentam impor ideias, que não são deles, mas importadas, baseadas em suposições que mascaram a realidade.

Ainda bem que autores há para desmenti-los. “A Maldita Guerra”, de Francisco Doratioto, é resultado de séria pesquisa e revela inexistir comprovação da industrialização guarani. Seu consumo interno era ínfimo. Portanto, afirmar que a Inglaterra queria abrir mercado, patrocinando uma guerra, é algo totalmente ilógico. A falta de lógica é reforçada quando Doratioto revela que, quando o conflito começou, o Brasil tinha relações rompidas com a Inglaterra.

Passa longe de mim a intenção de defender os ingleses, os donos do mundo de então. Muito menos pretendo elevá-los ao altar, pois santos eles nunca foram. Que o digam os indígenas da América do Norte, ou as vítimas chinesas da guerra do Ópio. Com o tempo, sua influência foi diminuindo, menos por aqui, onde continuam dando as cartas, num jogo de um perdedor só: o vira-lata. Quem dá as cartas são suas organizações ambientalistas, aquelas que agem contra o progresso em todo o mundo, menos, e estranhamente, na Europa Ocidental. Fez bem o senhor Putin ao dar-lhes um “chega prá lá” quando tentaram invadir uma plataforma de petróleo russa. Fazem bem os chineses ao não admitirem sua intromissão em sua cozinha. Mas no território brasileiro elas têm livre trânsito, contando com a cumplicidade de autoridades do alto escalão e, até, de pretendentes a tal. Quantos brasileiros mais irão morrer no trecho da Serra do Cafezal da Régis Bittencourt? Até quando permaneceremos sem a energia da usina de Belo Monte? Até quando durará a nossa submissão? A resposta é simples: até o dia em que deixarmos de ser vira-latas.

Mas até mesmo guerras geram avanços. Após a do Paraguai, o Brasil passaria por sua maior revolução política e social. Antecipou-se o fim de quase 400 anos de escravidão, mancha com que os lusitanos e seus descendentes marcaram a nossa história. Sentindo que iriam perder a mão de obra gratuita, apressaram-se em incentivar, com falsas promessas, a imigração de europeus. Entre outros, chegaram poloneses, ucranianos, suíços, alemães e italianos, gente que nunca escravizou e que passaria a viver aqui em regime de quase escravidão.

Os que mandavam no pedaço não demoraram em alcunhá-los coxas-brancas, com o subliminar intento de taxá-los como racistas. Uma vez mais, invertia-se a realidade. Por não conseguir entender, acrescento mais um vira-lata nessa história: este guaipeca que vos fala.




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Re: Guerra do Paraguai

#141 Mensagem por Clermont » Dom Abr 19, 2015 9:35 pm

[Repostei o texto, para poder encaixar nele um mapa muito interessante do dispositivo paraguaio que achei na Net. Tomara que a figura não desapareça depois de algum tempo.]

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BATALHA DO TUYUTI.

Por John Hoyt Williams, professor de História na Universidade do Estado de Indiana, especializado em história sul-americana.

Após um ano e meio de guerra, a agressiva República do Paraguai não estava se saindo bem contra a chamada Tríplice Aliança, formada para opor-se a ela. O ditador e autoproclamado mariscal, ou marechal do Paraguai, Francisco Solano López, havia desperdiçado a nata do seu exército em uma infortunada ofensiva em 1865, e sua frota fluvial foi obliterada na decisiva Batalha do Riachuelo.

No início de 1866, os Aliados – os gigantes Brasil e Argentina e o pequeno Uruguai – possuíam um exército de cerca de 35 mil homens (na maioria brasileiros) avançando através do sul do Paraguai. No grande pântano conhecido como Estero Bellaco, 6 mil paraguaios, sob o comando do coronel José Díaz, lançaram-se contra os invasores em 2 de maio de 1866, apenas para serem rechaçados com a perda de metade dos seus efetivos, comparada com as baixas de 1001 brasileiros, 400 uruguaios e 49 argentinos. Neste ponto, entretanto o exército aliado acampou durante 18 dias antes de retomar seu avanço rumo ao norte. Tirando vantagem deste intervalo para agrupar novas levas de seus patrióticos cidadãos, López decidiu arriscar o maior contingente de seu reconstituído exército, cerca de 27 mil homens, num golpe esmagador de surpresa, do tipo tudo ou nada, contra a hoste aliada acampada no área pantanosa, coberta de densos matagais, chamada Tuyutí.

O plano paraguaio dependia fundamentalmente de dois elementos, dos quais a surpresa era o mais importante. López esperava que suas forças pudessem se concentrar silenciosamente à noite dentro de uns mil metros da linha aliada, protegidos pelas árvores e densos matagais. O segundo elemento crítico era o tempo. A menos que todas as colunas irrompessem no mesmo instante, ou quase, o maciço poder de fogo aliado – especialmente artilharia – e potencial humano (haviam, pelo menos 34 mil homens no acampamento aliado) levariam à destruição, por partes, das forças paraguaias. O simples peso de um ataque de surpresa, se levado a efeito com brio, poderia destroçar a frente inimiga e empurrar os atordoados remanescentes para trás, dentro dos indefensáveis pântanos, onde eles poderiam ser eliminados com toda a calma, numa simples operação de limpeza.

Os aliados estavam acampados entre o denso matagal e o braço meridional do Estero Bellaco, em terreno aberto e pantanoso. Atrás das unidades de piquete, a esquerda e o centro de sua linha apoiavam-se numa bateria uruguaia com oito canhões e no 1º Regimento de Artilharia à Cavalo do Brasil com 27 canhões, apoiado por dois batalhões de infantaria uruguaios e um brasileiro, sob o comando do coronel uruguaio Léon de Palleja. Cerca de mil metros à retaguarda, estava a vanguarda do exército brasileiro – a 3ª Divisão de Infantaria sob o brigadeiro Antônio de Sampaio (duas brigadas com cinco batalhões de infantaria e três de voluntários); e a poderosa 6ª Divisão de Infantaria do brigadeiro Vitorino Monteiro com três brigadas de oito batalhões de voluntários e três de infantaria; com o apoio dos 1º e 3º Batalhões de Artilharia à Pé. Outros mil metros para trás, em terreno relativamente alto, estavam a 1ª Divisão de Infantaria brasileira do brigadeiro Alexandre Gomes de Argolo Ferrão (duas brigadas com três batalhões de infantaria e seis de voluntários) e a 4ª Divisão de Infantaria do brigadeiro Guilherme Xavier de Souza (duas brigadas com três batalhões de infantaria e cinco de voluntários) e a 19ª Brigada Auxiliar com 2 batalhões de voluntários. Mais distante à retaguarda estavam as divisões 2ª de Cavalaria do brigadeiro João Manuel Mena Barreto e a 5ª de Cavalaria do brigadeiro Tristão Pinto (num total de dois regimentos de cavalaria do Exército e dez corpos de cavalaria da Guarda Nacional), apoiadas por dois batalhões de infantaria. Como o marechal-de-campo Manuel Luís Osório – ao contrário de López – tivesse apenas uns 600 cavalos aptos, a maior parte de sua cavalaria iria lutar a pé. Guardando o trem de suprimentos quase na margem do fétido estero, estava a Brigada Ligeira do brigadeiro Felipe Neto, com quatro corpos de cavalaria de voluntários gaúchos, na maioria desmontados. A esquerda e o centro totalizavam cerca de 22 mil soldados brasileiros e 1600 uruguaios.

A direita aliada, recuava num ângulo de 45 graus, cobrindo um frente similar – certa de 3500 metros. As quatro divisões do general argentino Venceslau Paunero estavam desdobradas com duas na frente, duas em reserva, com elementos de cavalaria provincial como piquetes; o 1º Regimento de Artilharia (17 canhões) no centro, e dois regimentos de cavalaria na reserva. As quatro divisões do general Bartolomé Mitre – que viria a ser o próximo presidente da Argentina – estavam disposta de forma similar em torno do 2º Regimento de Artilharia (20 canhões), com três regimentos de cavalaria e a pequena Legião Paraguaia (renegados paraguaios) na reserva. A ala direita compreendia menos de 11 mil homens.

A força de ataque paraguaia foi dividida em quatro fortes colunas, que deviam atacar simultaneamente. Da direita para a esquerda dos paraguaios, estavam o general Vicente Barrios, com dez batalhões de infantaria (7500 homens) e dois regimentos de cavalaria (1200); coronel Díaz com cinco batalhões (3750) e dois regimentos (1200); comandante Hilário Marcó, liderando quatro batalhões (cerca de 3000 homens) e dois regimentos (1200); e o general Isidoro Resquín, com oito regimentos de cavalaria (4800 homens) e dois batalhões de infantaria (1500) – um total geral de uns 27 mil soldados quando se inclui algumas unidades anexadas.

Imagem

Embora tenham planejado usar o matagal como cobertura para se aproximarem das linhas inimigas, os paraguaios subestimaram a desvantagem que ele oferecia como obstáculo. Os cavalarianos tinham que conduzir suas montarias em fila indiana e foram ainda mais lentos que a infantaria para alcançar sua linha de partida. O matagal espinhento provocou um problema especial para o exército de López, já que seus soldados estavam (com a exceção do 40º Batalhão de Infantaria, de elite) descalços.

As unidades de Barrios foram, particularmente, lentas, graças ao terreno atroz. Em conseqüência, ao invés de um maciço ataque ao nascer do sol do dia 24 de maio de 1866, já passavam das 11h:55m quando um foguete sinalizador foi disparado. Mesmo então, as unidades de assalto paraguaias tiveram de se desvencilhar do matagal, formar linhas de batalha e avançar em plena vista do inimigo, oferecendo-se como os mais promissores alvos. Infelizmente para os paraguaios, os matagais acabaram tornando os ataques menos que simultâneos, e algumas unidades entraram em combate um hora ou mais depois que as primeiras haviam feito isto. O elemento surpresa foi totalmente perdido.

A coluna Díaz avançou primeiro, com várias de suas unidades de infantaria e cavalaria, atravessando os matagais, alinhando suas fileiras e avançando rumo às alarmadas linhas de piquetes brasileiros e uruguaios. O coronel Palleja observava o avanço paraguaio com admiração. “A coluna lançou-se de suas coberturas sem disparar um só tiro”, ele notou, “a cavalaria com sabres na mão, a infantaria com baionetas caladas.”

Díaz, que em 1864 havia sido um simples tenente no Batalhão de Polícia, pessoalmente liderou sua força mista rumo aos piquetes aliados. Em minutos, os batalhões “Libertad” e “Independencia” uruguaios e o 41º Batalhão de Voluntários da Pátria brasileiro haviam sido avassalados com pesadas baixas. Díaz, então, fez uma pausa, observou a linha aliada e permitiu que mais unidades de seu comando avançassem. Sua bateria de canhões 16 libras foi arrastada à frente por seus artilheiros, índios paiaguás, e foguetes Congreve foram posicionados a cerca de 1200 metros do inimigo. Díaz acenou com a mão, dois trombeteiros responderam, e seus dois regimentos de cavalaria, espadas e lanças refletindo o sol do meio-dia, abriram galope rumo aos batalhões uruguaios “24 de Abril” e “Florida”, estacionados em ambos os lados da sua bateria de artilharia, reforçados por centenas de abalados sobreviventes brasileiros e uruguaios da linha de piquetes.

Foi uma luta desigual desde o início. Os canhões orientais abriram fogo ao alcance de mil metros, enviando pesados projéteis sólidos de 18 libras através das fileiras paraguaias densamente agrupadas. No alcance de 400 metros, os fuzis uruguaios desfecharam um regular fogo de salva, reduzindo os cavalarianos a frangalhos. Em suas camisas largas ou ponchos leves, de um vermelho vivo, os paraguaios suavam apesar do frio invernal, suas esporas do tipo gaúcho cortando a carne de suas montarias. Centenas caíam amontoando-se em pilhas, muitos eram, então, esmagados pelos companheiros que avançavam.

Quando os paraguaios estavam a cerca de 200 metros da linha uruguaia, os 27 canhões do 1º Regimento de Artilharia à Cavalo do coronel Emílio Mallet abriram fogo contra o flanco do inimigo que progredia. A carnificina foi pavorosa – e já sem sentido.

Aqueles paraguaios que puderam, voltaram atrás, detendo-se apenas quando os matagais se fecharam sobre eles. Díaz estava furioso. Quase metade de sua cavalaria foi derrubada – e nem um único homem havia tombado a 100 metros do inimigo. E mais, a falta de armas de fogo de seus regimentos de cavalaria significava que o adversário estava basicamente intocado, exceto por alguns desgarrados ou vítimas de afortunadas balas de canhão paraguaias. Onde, perguntava Díaz, com raiva crescente, estavam Barrios, ou Resquín? Naquele momento, seus cinco batalhões de infantaria, incluindo o reconstruído e bem-armado 40º de Infantaria, estavam formando linha de batalha, e a primeira das unidades de Marcos tornava-se visível cerca de mil metros à sua esquerda.

A ordem de batalha paraguaia crescia, porém, o mesmo ocorria com os, já totalmente alertados, aliados. O brigadeiro Sampaio enviou seis de seus oito batalhões para proteger o flanco esquerdo dos uruguaios. Eles chegaram no mesmo instante em que os batalhões de Díaz, baionetas caladas, davam início à carga. Por ordens de Sampaio, cada infante brasileiro em sua divisão carregava 100 cartuchos e 125 cápsulas de percussão, e cada batalhão era seguido por vários carroças de munição.

Cerca das 12h:30m, a bateria uruguaia abriu fogo sobre a infantaria paraguaia em avanço, sendo seguida, imediatamente, pelos canhões de Mallet e, logo, pelo fogo emassado dos fuzis de cerca de seis batalhões de infantaria. Enquanto os infantes paraguaios, com camisas brancas, se detinham para responder ao fogo, as balas e granadas ceifavam suas fileiras.

Enquanto a infantaria trocava salvas, a dizimada, porém reorganizada cavalaria paraguaia, lançava uma barulhenta carga, à ponta de espada, diretamente contra o 1º de Artilharia brasileiro. Gritando para seus homens, “Por aqui não entram!”, Mallet voltou seus canhões para a frente, e sob suas ordens eles começaram a disparar tão rapidamente que foram mais tarde chamados a “artilharia-revólver”. A matança foi espantosa, e o observador coronel Palleja registrou em seu diário que o efeito da artilharia sobre os paraguaios “era como o de um relâmpago; membros e roupas dos cavalarianos voavam pelos ares, com selas e pedaços dos cavalos.” Os paraguaios nem precisaram se preocupar com o profundo fosso cavado em frente aos canhões de Mallet, pois o mais próximo dos seus cadáveres, jazia a uns 50 metros dele. Os remanescentes dos regimentos de Díaz, muitos à pé e feridos, desviaram-se para a direita para juntarem-se ao ataque de infantaria em progresso.

Aí, sua imolação foi completada. Enquanto os bravos mas desorganizados e depauperados esquadrões carregavam o 4º Batalhão de Infantaria brasileiro, um dos oficiais desta unidade, tenente Dionísio Cerqueira, escreveu, “Nosso fogo foi tremendo... os bravos guerreiros de López, desfechando golpes de lança e espada, inutilmente.” Os paraguaios tombavam aos montes, alguns diante dos canhões de Mallet, cujas bocas haviam guiado o seu avanço. “Nossos soldados, queimando de ardor, saíram das fileiras e carregaram à baioneta... foi uma carnificina; poucos escaparam,” disse Cerqueira.

Então os homens de Cerqueira tiveram de voltar atrás rapidamente, pois elementos descansados da infantaria paraguaia estavam quase sobre eles. O fogo, em breve, era geral ao longo da linha, as fileiras de frente quase invisíveis na grossa fumaça.

O marechal-de-campo Osório, com total desdém por sua segurança pessoal, galopava para cima e para baixo da área de luta. O velho gaúcho, que havia organizado a Cavalaria brasileira anos atrás, estava em seu momento de glória, e embora tenha ficado atordoado com a explosão de uma granada no início da batalha, parecia ser indestrutível para seus homens. Ele enviou os últimos dois batalhões de Sampaio para apoiar a bateria uruguaia e, enquanto o fogo se intensificava, liderou pessoalmente cinco batalhões da 1ª Divisão de Argolo para tapar uma brecha potencial aparecendo na esquerda da linha. Um destes, o 2º de Voluntários da Pátria, era liderado pelo futuro marechal e presidente Deodoro da Fonseca. Então, galopando para a retaguarda, Osório liderou quatro batalhões da 4ª Divisão de Xavier de Souza contra outra coluna paraguaia que acabara de emergir dos matagais.

Enquanto a luta grassava – algumas vezes corpo-a-corpo, facão contra baioneta – os onze batalhões da 6ª Divisão de Vitorino Monteiro recebiam ordens de avançar, com parte do 3º Batalhão de Artilharia a Pé, para ambos os lados da posição de Mallet. O comandante de uma das brigadas, Joaquim Rodrigues Coelho Kelly, liderou cinco destes batalhões para além da linha de artilharia, cruzando o fosso em busca do inimigo e foi ordenado a voltar atrás, para a segurança, por um irado brigadeiro Vitorino (que, no campo de batalha, preferia ser chamado pelo primeiro nome, de preferência ao seu nome de família). Os batalhões brasileiros descansados, mal tomaram posição quando os paraguaios de Marcós atingiram o centro da linha aliada, suas massas movendo-se a passo acelerado, rumo aos canhões de Mallet. Na primeira onda do avanço de Marcós, alguns homens de seu 2º Batalhão conseguiram abrir caminho através do fogo fulminante, e avançar por entre os canhões brasileiros, para aí serem mortos.

À esquerda de Mallet, o Batalhão “Florida” do coronel Palleja, ironicamente, encontrou-se, frente-à-frente, contra o 40º Batalhão de Infantaria paraguaio, comandado pelo capitão Ramón Ávalos. Apenas três semanas antes, estas mesmas unidades haviam se esfrangalhado uma a outra, na Batalha do Estero Bellaco, onde os uruguaios haviam perdido sua bandeira de batalha. Agora, com ajuda de outros batalhões, Palleja poderia ter sua vingança. O combate transformou-se numa série de cargas e contra-cargas, uma versão latino-americana de Waterloo. Os brasileiros gritavam “Viva a Pátria!”. Os uruguaios cantavam seu hino nacional enquanto aguardavam outra carga. Os paraguaios avançavam, gritando insultos em seu gutural guarani, enquanto do 6º de Voluntários da Pátria brasileiro vinham respostas nas igualmente guturais vozes dos imigrantes que faziam parte da Legião Alemã. O Batalhão “Nambi-I” paraguaio, formado apenas por negros, avançou contra o 3º de Voluntários da Pátria, em grande parte também formado por negros. No combate aproximado, o tenente Cerqueira comentou, “cabeças eram esmagadas ou decepadas, braços cortados fora,” e ele observou que seus homens estavam “delirantes... como doidos, ferindo e matando” sem pensar. Neste sorvedouro de vidas, o 40º Batalhão de Ávalos, pereceu mais uma vez, sofrendo mais de 80 por cento de baixas. De acordo com um relato da destruição deste batalhão de elite formado em Assunção, “a flor da raça espanhola no Paraguai foi obliterada neste dia.”

Apesar do fato de que o exército paraguaio inteiro, provavelmente, não poderia ter rompido esta linha aliada de ferro, as colunas de Díaz e Marcó, unidades descansadas misturadas com remanescentes, avançavam de novo e de novo, tropeçando nos camaradas caídos, para atacar os invasores, alguns portando espadas e facões em ambas as mãos. O combate já se arrastava por mais de três horas, e a divisão de Sampaio foi erodida, quase tão severamente como os paraguaios, sofrendo 1033 baixas. O 4º de Voluntários da Pátria, sozinho, perdeu 192 de seus 300 homens. O brigadeiro Sampaio, montado num cavalo branco e sempre no meio do mais aceso da luta, foi arrancado da sela à bala, três vezes, e um dos seus comandantes de brigada assumiu o comando da divisão. Sampaio iria morrer no caminho para o hospital em Buenos Aires. Apenas a chegada de unidades descansadas, trazidas por Osório, salvou a 3ª Divisão de Infantaria brasileira de uma destruição completa.

A carnificina no centro e na esquerda da linha aliada coincidiu com a chegada dos oito regimentos de cavalaria de Resquín, à direita aliada, justamente onde as forças argentinas se ligavam aos canhões brasileiros e a 6ª Divisão de Vitorino. Ocupados com esta evidente ameaça, Osório e outros líderes aliados deram pouca atenção as suas unidades da extrema esquerda. Ali, os dois regimentos de cavalaria de Barrios haviam, silenciosamente, levados seus cavalos, invisíveis no matagal, bem para dentro da retaguarda aliada, seguidos quase que imediatamente por dois fortes batalhões de infantaria, o 4º e o 7º .

Quase na margem em declive do estero, no final da retaguarda do campo aliado, estavam os quatro corpos de cavalaria de voluntários gaúchos da Brigada Ligeira do brigadeiro Neto – contando com uns 700 cavalarianos – em serviço de proteção à retaguarda. Os homens de Neto estavam entediados, dando de pastar às suas escassas montarias. Então, os gaúchos ficaram estupefatos ao verem os 13º e 20º Regimentos de Cavalaria paraguaios, repentinamente, carregarem a partir do mato. Em poucos minutos, após confusa luta, a brigada de Neto, foi empurrada para trás e dispersada, sendo salva da destruição apenas pela rápida chegada dos próximos 1º e 24º Batalhões de Voluntários da Pátria. Estes batalhões avançaram, contendo o assalto paraguaio.

A luta continuou, por entre os vagões do trem de suprimentos. A cavalaria paraguaia recusou-se a bater em retirada, e os 4º e 7º Batalhões avançaram para reforçá-la. Mas enquanto mais e mais paraguaios saíam de dentro dos matos, também um número crescente de brasileiros apareciam para enfrentá-los. O ubíquo Osório havia, pessoalmente, esquadrinhado a situação na retaguarda, vivamente saudado por toda parte enquanto galopava pelo campo de batalha, semelhante a um Senhor da Guerra medieval, em seu ornado poncho e quépi branco, empunhando uma lança marchetada de prata. Analisando a situação, ele descobriu por meio de um oficial paraguaio ferido, a força do inimigo e a rota de suas colunas. Sabendo que seu centro e esquerda não estavam, no momento, em grande perigo de ceder terreno, e que os argentinos de Mitre estavam se mantendo bem, ele manobrou a maior parte da retaguarda do seu exército para enfrentar a ameaça real. Osório ordenou que as desmontadas 2ª e 5ª Divisões de Cavalaria (num total de 12 regimentos) contra-atacassem os paraguaios que ainda avançavam, e rapidamente, enviou a 19ª Brigada Auxiliar e dois batalhões, um da 1ª e outro da 4ª Divisões de Infantaria.

Enquanto esta potente força empurrava para trás a coluna de Barrios, Osório também mandou para a retaguarda a maior parte de sua artilharia ainda não engajada em combate. Estes canhões, dirigindo seu fogo sobre as saídas das poucas trilhas naturais através do matagal, simplesmente, moeram os paraguaios assim que estes emergiam. O 13º Regimento de Cavalaria do capitão José Maria Delgado, que iniciou o ataque de Barrios com 412 soldados, deixou de existir em apenas 30 minutos. Um sargento paraguaio, não identificado, horrivelmente mutilado, apertou a bandeira regimental ao peito, arrastando-a para dentro do matagal e, quando foi alcançado e morto pelos perseguidores brasileiros, estava ocupado em destruí-la com os dentes, para impedir sua captura. Relatos do seu feito foram publicados nos jornais de Buenos Aires e Rio de Janeiro.

Dos dez batalhões de Barrios, apenas seis realmente alcançaram a retaguarda aliada. Há razões para crer que alguns dos outros – com ou sem ordens – juntaram-se a ofensiva paralisada de Díaz contra o flanco esquerdo aliado.

Em uma hora, a ameaça à retaguarda aliada havia sido contida, mas até o fim da batalha vários milhares de paraguaios permaneceram nos matagais observando as bocas de fogo brasileiras, porém hesitantes em se lançar contra elas. Respirando mais aliviado, Osório deixou suas unidades de retaguarda onde estavam e cavalgou calmamente, com seu pequeno estado-maior, para a direita aliada, onde os argentinos ainda combatiam o inimigo.

Os homens de Resquín haviam sido os últimos a entrar em combate, lançando unidade após unidade a partir dos matagais através da junção entre as forças argentinas e uruguaio-brasileiras. Destruindo os piquetes de cavalaria dos gaúchos argentinos, os rápidos regimentos de ponta de Resquín, incluindo os fanáticos e bem-armados regimentos de elite “Aca Moroti” e “Aca Carajá”, sondaram as linhas argentinas, com rápidas e ferozes cargas, procurando um flanco que pudesse ser envolvido ou um batalhão que entrasse em pânico. Avançando, mais e mais longe para a estrema direita dos argentinos, eles sondavam, retiravam-se do alcance de fogo, e sondavam novamente.

Como nenhum ataque sério era desfechado, o general argentino Paunero lançou, por sua própria conta, sua única força montada de cavalaria – 90 homens da 2ª Brigada do brigadeiro Felix Hornos – num ataque glorioso, porém impossível. Em questão de minutos, a maior parte dos homens de Hornos jaziam por terra, aniquilados, e a linha de Paunero se encontrava sob crescente pressão, enquanto mais regimentos de Resquín e seus dois batalhões de infantaria entravam em ação. Mesmo assim, não houve vacilação nas fileiras argentinas e nem um assalto total por parte dos paraguaios.

O 1º Regimento de Artilharia argentino usou de forma eficaz, seus 17 canhões, mantendo os paraguaios além do alcance de tiro de fuzil. Os canhões estavam estacionados entre as duas divisões de linha-de-frente de Paunero, enquanto outras duas estavam à retaguarda. Assim, os canhões podiam oferecer suporte a qualquer uma das quatro divisões que deles necessitassem. A 1ª Divisão argentina, na esquerda de Paunero, liderada pelo coronel Antonio Rivas, logo teve tal necessidade.

A cavalaria paraguaia atingiu a divisão de Rivas com força, criando numerosas brechas e despejando-se através delas. A infantaria argentina, embora em situação difícil, não entrou em pânico, face aos sabres cortantes da cavalaria inimiga. Lembrando de seus manuais de adestramento, rapidamente, formaram quadrados eriçados de baionetas. Durante cerca de quinze minutos, os esquadrões paraguaios deslizavam por todos os lados dos 1º, 3º e 4º Batalhões de Linha argentinos, mas foram feitos em fatias por tempestades de fogo de fuzil e canhão dos uruguaios próximos e da 3ª Divisão argentina na retaguarda.

Não há dúvida de que o fogo concentrado também matou e feriu muitos argentinos dos batalhões cercados (o coronel Palleja admitiu que as salvas do seu Batalhão “Florida” fizeram isso), mas o dano causado aos paraguaios foi infinitamente pior. O 4º Regimento de Cavalaria paraguaio e mais outro foram quase erradicados dentro e próximo das brechas por eles criadas na linha argentina, seus sobreviventes finalmente galopando para longe, gritando loucamente como se tivessem triunfado.

Enquanto tudo isso se sucedia, o capitão paraguaio José de Jesus Martinez, com três esquadrões do Regimento “Mariscal López”, unidade de escolta de cavalaria, penetrou a retaguarda dos 4º e 6º Batalhões de Linha, tendo como alvo, a artilharia próxima. Em questão de minutos, entretanto, os dois batalhões de Rivas, reforçados por partes do 5º de Linha, exterminaram completamente os paraguaios.

Nem tudo saiu tão bem para os aliados. Rivas ordenou a seu 3º Batalhão de Linha que atacasse uma unidade de cavalaria paraguaia que emergia do matagal, porém, já era tarde demais quando os argentinos compreenderam que a unidade contra a qual avançavam, era constituída de um regimento de cavalaria à plena força, apoiado pela maior parte de um batalhão de infantaria, cujos infantes eram transportados pelos cavalarianos na garupa. Num selvagem combate cerrado, o 3º de Linha, em sua maioria formado por imigrantes, foi empurrado para trás, cambaleante, apenas se salvando da total destruição pela rápida chegada de reforços, que rechaçaram os paraguaios.

No último ataque paraguaio do dia, o grosso de cinco regimentos de cavalaria e dois batalhões de infantaria avançou, algo hesitante, contra a extrema direita da linha argentina. Mitre, entretanto, havia sido capaz de concentrar consideráveis reservas descansadas durante a batalha, incluindo a 1ª Divisão (do corpo de Mitre) que, tendo artilharia anexada, avançou para reforçar a ameaçada 2ª Divisão, e o fogo emassado argentino deteve os paraguaios onde estavam.

Com os regimentos de López, maltratados e se desfazendo numa aparente confusão, Mitre enviou para a frente uma bateria com quatro canhões para completar a carnificina, porém esta foi quase que totalmente aniquilada por uma força de cavalaria paraguaia, oculta numa ravina rasa. Admitindo que o ataque paraguaio havia sido “magnífico”, o marechal-de-campo Osório que, naquele momento, havia chegado à extrema direita, saudou a valorosa defesa de seus aliados argentinos, e a saudação à Osório, com as vozes roucas de milhares de soldados argentinos, ecoou por todo o sinistro campo de batalha, abafando os gritos dos feridos. Por volta das 16h:30m, a luta havia terminado.

Um capitão de artilharia brasileiro recordou que, nesta tarde “nossa frente havia se transformado num pântano de sangue... uma montanha feita de cadáveres, de homens e de cavalos, mortos e feridos... somente na nossa proximidade o número de mortos passava de mil.” Conquanto as perdas aliadas fossem severas, não eram incapacitantes – 996 oficiais e soldados mortos e 2935 feridos (dos quais, muitos morreriam mais tarde). Dos quase 27 mil paraguaios empenhados na Batalha do Tuyutí, estima-se que 7 mil morreram no campo de luta, enquanto outros 8 mil saíram gravemente feridos. Levando-se em conta a quase total carência de serviços médicos dos paraguaios, uma alta proporção dos feridos morreu nos dias e semanas que se seguiram. George Masterman, um farmacêutico inglês que servia ao Exército paraguaio, mais tarde escreveu que, embora não fosse treinado em cirurgia, aprendeu como fazer amputações depois da batalha. Foram feitos poucos prisioneiros.

Barrios e Díaz, que haviam sobrevivido por milagre, galoparam, naquela noite, rumo ao acampamento de López em Passo Gomez, para efetuar seus sombrios relatos e avaliações. Para iludir seu próprio povo, o ditador ordenou que suas bandas militares tocassem a noite toda e, no dia seguinte, por ordem sua, o jornal oficial em Assunção, El Semanário, noticiou, com júbilo, a “grande vitória” em Tuyutí. Meses mais tarde, o aventureiro inglês Richard Burton, passando através do campo de batalha, registrou que o mau-cheiro da morte ainda era quase sufocante.

O Exército paraguaio, com suas melhores unidades reduzidas a esqueletos e com seu moral destroçado jamais montaria uma ofensiva em larga escala de novo. A guerra, entretanto, se arrastaria por mais horrendos 46 meses, terminando nas profundezas das florestas do norte em 1º de Março de 1870.

Ali, depois de sofrer um ferimento de lança no estômago pelo 2º tenente José Francisco de Lacerda e ver seu filho mais velho, Francisco, morto em combate, o Mariscal López tentou escapar para dentro da selva, apenas para ser alcançado e receber a última chance de se render, pelo general José Antônio Corrêa da Câmara. López recusou-a, e foi baleado e morto, por um infante brasileiro. Com López, nesta última batalha, estava o 40º Batalhão de Infantaria que, tendo apenas 33 homens, era sua tropa mais numerosa. O Paraguai, desmembrado pelos vencedores aliados, sua população dizimada pela guerra, doenças e fome, havia sido riscado do equilíbrio de poder regional.


____________________________________________________

Extraído de Military History N° 1/vol. 17 – Primedia Publication, Leesburg/Vírginia.

FRAGOSO, General Tasso – História da Guerra Entre a Tríplice Aliança e o Paraguai, vol. II. Rio de Janeiro, Bibliex, 1957.




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Re: Guerra do Paraguai

#142 Mensagem por Clermont » Qui Jul 16, 2015 8:48 am

General Osório perde a espada para os ladrões.

Caio Barretto Briso - O Globo, 15.07.2015.

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General Osório sem a espada Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

RIO - Com a cara fechada, a estátua em homenagem ao gaúcho Manuel Luís Osório, o General Osório, mostra o militar mais benquisto do século XIX empunhando uma espada sobre seu cavalo. Está lá, no coração da Praça Quinze, desde 1894. Meses atrás, ao redor do equino, havia 20 balas de canhão dos tempos da Guerra do Paraguai, uma das muitas campanhas do Exército Brasileiro da qual Osório voltou como herói. Mas já não há mais balas de canhão, tampouco espada. Nem mesmo a grade em bronze que protegia o monumento existe mais. O general foi saqueado.

Osório era tão querido que sua estátua foi construída com dinheiro de doações da população carioca. Cada um podia contribuir com o valor máximo de 500 réis. Contratou-se, então, o escultor Rodolfo Bernadelli por 160 contos de réis. Ele montou seu ateliê no antigo Beco da Pouca Vergonha (hoje Rua Vinte de Abril) e precisou de dois anos de trabalho apenas para fazer o cavalo.

Por tudo isso, é surpreendente que a estátua de oito metros, diante do Paço Imperial, esteja em estado de conservação deplorável.

- Eles chegam de madrugada, às vezes com o dia amanhecendo. A última vez que vieram foi há uns três meses. Abri com força a porta da banca, eles se assustaram e correram. Mas sempre voltam, e ninguém faz nada - lamenta Leônidas Aguiar, que há 39 anos possui uma banca de jornal diante do general.

Quem são “eles”? Segundo o restaurador de móveis Marconi Andrade, um dos fundadores da página no Facebook “S.O.S. Patrimônio”, são especialistas em dilapidar a História.

- Já fiz diversas denúncias, mas a prefeitura dá de ombros. Só não roubaram a estátua inteira porque é muito pesada - afirma.

Imagem
Inauguração da estátua do Marechal Osório, em 1894 (Imagem: Blog a História dos Monumentos do Rio).

Inaugurado no dia 12 de novembro de 1894, no governo do presidente Floriano Peixoto, o monumento guardava em sua cripta o corpo do general, morto em 1879 (mais tarde, os restos foram levados ao Rio Grande do Sul). Imagens antigas mostram a Praça Quinze apinhada de gente: além do próprio presidente, havia na inauguração membros do governo, militares de todas as patentes, bandas de música e até uma delegação do Uruguai, aliado do Brasil na Guerra do Paraguai.

- Era um general que declamava poesia, que contava piadas para a tropa. Foi também um político liberal, aberto a ideias progressistas. A popularidade de Osório começou a ser ameaçada quando o Exército passou por divisões e começou a cultuar a imagem de Duque de Caxias, que era o mais conservador dos líderes militares. Mas a grande quantidade de logradouros em homenagem a Osório, em todo o Brasil, mostra quem era o mais querido - afirma o historiador Marcus Dezemone, professor da Uerj e da UFF.




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Re: Guerra do Paraguai

#143 Mensagem por NettoBR » Seg Jul 27, 2015 11:02 pm

http://www.youtube.com/watch?v=2lGEagENznE




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Re: Guerra do Paraguai

#144 Mensagem por J.Ricardo » Qui Jul 30, 2015 11:41 pm

Esse "documentário" foi uma grande b...




Não temais ímpias falanges,
Que apresentam face hostil,
Vossos peitos, vossos braços,
São muralhas do Brasil!
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Re: Guerra do Paraguai

#145 Mensagem por Túlio » Sex Jul 31, 2015 12:57 am

Triste mesmo era ver os caras com carabina de chumbinho. History é sodas (assisti lá, dão um monte de opiniões mas não concluem nada que preste no final, parece ser PADRÃO deles)...




"Na guerra, o psicológico está para o físico como o número três está para o um."

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Re: Guerra do Paraguai

#146 Mensagem por Bourne » Dom Ago 02, 2015 10:20 am

Antes fosse só opiniões... Há muito tempo o History Channel só pensa em uma coisa:

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Em um documentário sobre o mar do diabo no japão ficaram uns 50 minutos especulando sobre motivos sobrenaturais e os aliens que sequestravam os navios e sumiam com os tripulantes. Até que nos últimos minutos mostraram as evidências do pessoal da Caltech sobre o que ocorria naquela região. A resposta sem graça cientificamente embasada foi que "atividade vulcânica que provocava a liberação de bolsões de gases. Os bolsões podem afetar a flutuabilidade e estrutura dos navios, também podendo serem tóxicos para ser humano".




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Re: Guerra do Paraguai

#147 Mensagem por Túlio » Dom Ago 02, 2015 4:11 pm

Vi este e o sobre as Bermudas. Para variar, ficou isso por isso mesmo... :roll: :roll: :roll: :roll:




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Re: Guerra do Paraguai

#148 Mensagem por denilson » Dom Ago 02, 2015 7:58 pm





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Re: Guerra do Paraguai

#149 Mensagem por FCarvalho » Seg Ago 03, 2015 8:10 pm

2 de agosto de 2015
Paraguai reclama do Brasil por violação de soberania durante a operação Ágata 2015

CONFRONTO ENTRE MILITARES E CONTRABANDISTAS PARAGUAIOS EM RIO DO PAÍS VIZINHO GEROU PROTESTO

ClippingO ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Eladio Loizaga, chamou, na sexta-feira (31), o embaixador brasileiro em Assuncão, José Felicio, para expressar descontentamento com o que seria uma “flagrante violação da soberania” do Paraguai pelo Brasil. Militares brasileiros teriam enfrentado contrabandistas paraguaios em um rio na região de Salto del Guairá, na fronteira com o Brasil. As informações são do jornal paraguaio Color Abc.

http://www.forte.jor.br/2015/08/02/para ... gata-2015/




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Re: Guerra do Paraguai

#150 Mensagem por Túlio » Ter Ago 04, 2015 2:58 pm

Logo o ABC Color, que tanto nos "ama"... :roll: :roll: :roll: :roll:

Volta e meia penso que o D. Pedro II tinha menos colhão do que a própria Princesa Isabel; devia ter seguido a sugestão dos argies, anexado a nossa parte e hoje teria um paiseco a menos nos enchendo o saco.




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