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Mensagem
por FCarvalho » Seg Out 19, 2020 11:12 pm
Não temos uma sociedade preparada para colocar pessoas com um mínimo de equilíbrio e civilidade no poder público em nenhum lugar do Brasil. Nascemos e crescemos achando que a grama do vizinho é sempre melhor que a nossa, e que o que acontece no mundo lá fora é problema dele, e não nosso, também. Aqui está tudo bem enquanto está bem para quem nasceu com o fiofó virado pra lua.
Nossos militares sempre mais preocupados em esquentar a nossa eterna guerra fria interna para não ficar sem assunto e motivação, enquanto os políticos fingem não lutar uma guerra que eles mesmos criaram e mantém para justificar-se no horário eleitoral, na falta do que dizer. No meio desse conflito histórico, a população brasileira satisfeita com as bolsas esmolas garantindo o leite das crianças e esperando solenemente a novela das oito e o campeonato brasileiro logo depois.
Sério que dá para pensar em defesa em um país assim? Pode colocar a AS inteira na nossa cara cuspindo um trilhão de ameaças que o povo aqui só levanta a bunda do sofá se faltar o sinal da televisão. Ou a mulher reclamar que o cachorro mixou de novo no tapete da sala bem na hora do jogo.
Sabem quando vamos ter ciência de alguma coisa neste país? Dia de São Nunca.
Acompanho defesa há mais de trinta anos e vou te dizer, cansei. É sempre a mesma ladainha entra década, sai década. Estamos em um circulo vicioso do qual simplesmente não queremos sair.
De boa, podem invadir, vender, alugar, ou fazer qualquer outro negócio do território brasileiro que isso não significa muita coisa para a maioria. Somos um país bisonho subdesenvolvido e provinciano, com mentalidades mais provincianas ainda. E pior, com uma classe social, politica e econômica abastada demente e cheias de modismos de época, sonhando em ser chique no país dos outros quando não tem sequer modos em casa.
Eu gostaria muito de ver vários dos nossos problemas na defesa rapidamente resolvidos com uma única canetada de um presidente que prestasse. Mas ainda deve estar para nascer quem tenha culhão de verdade para fazer isso. Até porque Defesa não gera votos suficientes para eleger, e nem tirar, alguém no poder democraticamente.
Existe a necessidade de mais helos, pessoal e infraestrutura na Avex desde a sua recriação em 1986. Mas se vocês reparam bem, até hoje a aviação do exército conta praticamente com os mesmos meios de mais de 30 anos atrás basicamente. E só de dois anos para cá ela foi inserida no planejamento estratégico do EB, quando este já vinha desde o lançamento da END em 2008 sendo postulado junto ao MD e forças políticas. Há com certeza algo de muito errado em um exército que passa mais de trinta anos para reconhecer, de fato, a importância da sua aviação, ainda mais em um mundo onde o poder aéreo cada vez mais se sobressalta a olhos vistos desde o fim da SGM II. Será que só os nossos generais não perceberam isso quando até os nossos vizinhos já sabiam há tempos destas mudanças, implementando suas próprias forças com essa capacidade?
Como estamos sempre a cobrir a cabeça e descobrir os pés, e vice-versa, é improvável que venhamos algum dia a dispor de uma Avex com todos os recursos que lhes são mister, haja vista sempre ter algo mais prioritário do que ela nos planos do EB. Mesmo agora, o que está indicado aí em termos de novas aquisições e modernizações tem prazos tão dilatados, quando tem, que é difícil vislumbrar o que será a Avex daqui a dez, vinte ou trinta anos. Um exercício simples, regular e previsível em qualquer força armada que se preze, mas não no EB.
No Defesanet saiu um artigo sobre a decisão sobre a compra dos Sherpa. Essa aquisição está posta no planejamento da Avex há pelo menos uns 3 ou 4 anos. E não saiu até hoje. E quando o PR baixa uma decisão sobre o mesmo a fim de liberar seu uso na força, é desautorizado por oficiais de pijama da FAB e... volta atrás. Resultado, nem Sherpa, nem recursos, nem novos aviões, nem nada. Ficamos na mesma, todo mundo junto e f...do igualmente.
Hoje li que o USMC mandou para a reserva seus AH-1W. Não é preciso dizer que estes helos existem as centenas naquela força e que fariam um bom papel de transição aqui na Avex. Mas o pessoal bateu pé e quer porque quer helo de ataque novinho em folha, quando não temos nem para comprar usados ou sequer doutrina para usá-los. Mesmo a simples compra de sistemas de armas para os Esquilo/Pantera tem se mostrado uma novela interminável.
Os custos dos H225M são demasiado caros para uma força que mal tem recursos para comprar os suprimentos deles. O que dizer de manter horas de voo suficientes para fazer tudo que lhes é de ofício no campo militar... mas sempre tem gasolina quando voar é preciso nas cada vez maiores e mais exigidas missões subsidiárias. Comprar helos de menor custeio seria a solução, sem perder capacidade. Mas, qual helo hoje oferece essa condição quando o câmbio do país - e outras questões relativas mal resolvidas - ignora que temos outros interesses que não apenas ser uma grande fazenda agro-exportadora? Venhamos e convenhamos, nenhum helo no mundo hoje cabe no orçamento da Avex se as coisas continuarem do jeito que estão na seara econômica. E não tem nada a ver com crise disso ou daquilo, mas com a visão que se tem da gestão macro-econômica do país. Aliás, a falta de visão de que o pais é muito mais do que uma máquina de exportação continuamente empata qualquer tentativa de sairmos deste obscurantismo em que nos encontramos, em todos os sentidos.
Desde que o MD foi criado em 1999, não vimos mudanças críveis na gestão dos assuntos relativos a pasta. O que temos ainda é uma vaga tentativa de inserir a defesa como pauta de interesse do país, justamente quando não temos bases sólidas para dialogar com quem quer que seja, no poder político ou fora dele. Defesa ainda é um assunto de e para milicos e não se fala mais nisso, apesar da propaganda em contrário. E não confundir a confiança que a sociedade nutre pelas ffaa's com o reconhecimento da importância do tema defesa como questão de Estado. Uma coisa não tem nada a ver com a outra para o brasileiro médio. Para este, os militares são se muito o reflexo no espelho que ele faz de si, e do que acredita. E é só. Esta identificação não reverbera no campo político e de gestão pública. Nestes, falar em helos de ataque, carros de combate ou mísseis anti-tanque continua soando a coisa de quem "não tem o que fazer".
Enfim, as forças armadas no Brasil - e por conseguinte a Defesa - só fazem sentido enquanto muito boas naquilo que melhor se prestam à população em geral, que é desempenhar seu papel de garante das missões subsidiárias que lhes são impostas, seja por ordem institucional, seja pelas inserção na realidade das muitas mazelas históricas do país ao qual servem. Até onde os militares puderam ser este referencial do Estado bom samaritano tudo continuará como sempre. Nós aqui no nosso eterno berço esplendido e o mundo lá fora olhando esperando para ver o que vai nos acontecer. Até que um dia sem o menor aviso ou convite... BUUUMMM!!!.
abs
Carpe Diem