60 anos da Força Expedicionária Brasileira

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Wingate
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Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira

#76 Mensagem por Wingate » Sex Jul 03, 2015 1:37 pm

Clermont escreveu:Livro Revela Descaso do Brasil com Militares Feridos na Segunda Guerra.

Marina Lemle - Blog de HCS-Manguinhos/Blog do Montedo.com, 03.07.15.

Episódio obscuro da história, a internação de cerca de 250 pacientes brasileiros em hospitais dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial vem à tona por meio do historiador Dennison de Oliveira, que acaba de lançar pela editora Juruá o livro Aliança Brasil-EUA – Nova História do Brasil na Segunda Guerra Mundial. O capítulo “Pacientes brasileiros internados nos EUA” trata do que o autor considera uma das faces mais trágicas da documentação a que teve acesso nos Arquivos Nacionais dos EUA em Maryland. Negligenciados pelo governo do Brasil, os feridos de guerra brasileiros recebiam daquele país resgate e atenção médica.

“Sabe-se que começa nesse momento uma das etapas mais importantes do processo de reintegração social do ex-combatente, que é sua recuperação e reabilitação motora e/ou sensorial. É lamentável que essa etapa tenha sido conduzida de forma tão inadequada e mesmo desrespeitosa para com aqueles que sacrificaram em prol da pátria sua saúde e felicidade no exercício do serviço militar em tempo de guerra”, afirma Oliveira. Em entrevista ao blog de HCS-Manguinhos, ele conta como foi o trabalho de pesquisa e o que descobriu.

- Sabe-se quantos brasileiros foram levados para tratamento nos EUA na Segunda Guerra?

O que dispomos, ainda hoje, são estimativas. Numa anotação rascunhada, anexa à História da Força Expedicionária Brasileira que o comando do Exército dos EUA no Brasil redigiu ao final da guerra, lê-se que teriam sido 776 os pacientes brasileiros evacuados da Itália para o Brasil, dos quais “pequeno número” teria antes passado por hospitais militares dos Estados Unidos. Com base nas pesquisas que realizei nos Arquivos Nacionais estadunidenses em setembro de 2014, estimo que cerca de 250 pacientes brasileiros foram internados em diferentes hospitais mantidos pelas forças armadas dos EUA naquele país durante a Segunda Guerra Mundial.

- Onde eles foram resgatados?

Uma vez removidos dos hospitais militares por toda frente de batalha da Campanha da Itália, seguiam para o porto de Nápoles. De lá eram embarcados em navios-hospitais até os EUA, onde eram internados em três diferentes hospitais militares, especializados respectivamente em doenças psiquiátricas, fraturas e amputações.

- Por que foram levados para os EUA e não para o Brasil?

Os pacientes removidos para os EUA eram os casos mais sérios que demandavam tratamento especializado, àquela época não disponível no Brasil. Os termos e condições que deveriam presidir a escolha dos pacientes a serem removidos para os EUA, a maneira pela qual seriam tratados, quando e de que forma deveriam ser repatriados jamais foram formalmente acordadas entre as autoridades do Brasil e dos EUA. Estas questões de importância fundamental para a saúde, o futuro e a felicidade dos veteranos de guerra brasileiros deveriam ter sido formalizadas numa resolução a ser emitida pela Comissão Conjunta de Defesa Brasil-EUA, com sede em Washington. Esta comissão e sua congênere no Brasil, a Comissão Militar Conjunta Brasil-EUA, com sede no Rio de Janeiro, foram tema de meu projeto de pesquisa de pós-doutorado, que motivou viagem de estudos aos EUA. No decorrer da pesquisa ficou claro que jamais foi assinado tal acordo, dando, na prática, carta branca às autoridades militares dos EUA para decidirem a respeito do destino dos pacientes brasileiros, incluindo se deveriam ou não seguir para tratamento naquele país. Em contraste, já em 1942 as autoridades militares dos EUA formalizaram, através de uma resolução baixada pela comissão em Washington, a forma pela qual funcionariam as enfermarias e hospitais de campanha que haviam instalado em cidades brasileiras como Natal, Belém e Recife. Esses estabelecimentos médicos destinavam-se a atender feridos e doentes estadunidenses, tanto oriundos do pessoal militar que trabalhava nas bases aéreas e navais mantidas pelos EUA no Brasil, quanto das tripulações de aeronaves que faziam a ponte aérea com a África, uma ligação de importância vital para a logística dos países Aliados então em luta contra as potências do Eixo durante a Segunda Guerra Mundial.

- Qual foi a postura das autoridades brasileiras em relação aos pacientes internados nos EUA?

A lista de irresponsabilidades, descasos e omissões é tão grande que seria mais fácil falar o que o Brasil fez pelos seus ex-combatentes internados em hospitais dos EUA: quase nada. Veteranos de guerra de ambos os sexos (combatentes e enfermeiras) demandando internamento hospitalar começaram a chegar aos EUA no final de 1944 pegando de surpresa os membros brasileiros da comissão em Washington que, inicialmente, nada podiam fazer por eles. Todos os pacientes careciam de roupas íntimas, uniformes, intérpretes, médicos e enfermeiras brasileiros, próteses e membros artificiais permanentes e soldos para pagarem pequenas despesas.

Com muito custo e depois de um tempo considerável conseguiu-se do Ministério da Guerra no Brasil o atendimento, tardio e parcial, de algumas dessas demandas. A demora em enviar uniformes do Brasil para os internos em hospitais dos EUA significou que eles passariam todo o tempo vestindo pijamas. Isso os impedia de sair do hospital para participar dos passeios e visitas a locais de lazer que lhes eram oferecidos pela Cruz Vermelha estadunidense e certamente os expunha a sentimentos como vexame e tédio, além de ser fonte de ressentimento.

Também jamais foram-lhes enviadas as medalhas por terem se ferido em combate ou se distinguido em ações de guerra, e nem mesmo os distintivos nacionais que teriam sido importantes para elevar seu moral. Os poucos membros brasileiros da comissão conjunta em Washington se esforçavam em visitar seus compatriotas internados, mas parece claro que sua atuação como intérpretes foi claramente insuficiente. Só a muito custo se conseguiu o envio do Brasil de médicos para fazer a triagem de pacientes para os hospitais dos EUA e para acompanhá-los de volta ao Brasil. As enfermeiras jamais foram enviadas, apesar dos repetidos protestos contra a má atuação dos enfermeiros brasileiros no trato com os internados. A situação nesse aspecto era tão ruim que a enfermeira Heloisa Villar, internada num hospital dos EUA para se recuperar de doença adquirida em campanha, resolveu voluntariamente permanecer nos EUA para ajudar a atender os pacientes brasileiros após receber alta.

A questão dos soldos também foi fonte de problemas, sendo pagos tardiamente, impedindo durante muito tempo os pacientes de realizarem pequenas despesas do seu interesse. Nesse aspecto quem mais sofreu foram os subtenentes brasileiros. Deles eram cobradas diárias nos navios hospitais dos EUA com se fossem oficiais, prática adotada na hierarquia militar dos EUA. Contudo, de acordo com a hierarquia brasileira, eles deveriam receber vencimentos correspondentes aos soldos pagos aos praças, o que certamente representou mais uma fonte de conflito para as autoridades militares do Brasil resolverem nos EUA.

Mas nada se compara à angústia pela qual passaram os mutilados de guerra, que dependiam de próteses e membros artificiais para suas atividades diárias. Não havia garantias de que o governo brasileiro iria pagar por isso quando deixassem os hospitais dos EUA de volta ao Brasil. A própria volta ao Brasil não foi garantida pelo governo Vargas. Muitos meses após o fim da Segunda Guerra Mundial ainda haviam dezenas de pacientes brasileiros obrigados a viver como exilados em hospitais dos EUA, face à indiferença do governo para com o seu destino. Foi somente apelando por carta diretamente à filha de Vargas que os últimos sessenta internos brasileiros conseguiram afinal voltar à pátria em fins de 1945.

- Como os EUA lidaram com a situação?

Na ausência de qualquer acordo formal, as autoridades estadunidenses se esforçaram em oferecer aos pacientes brasileiros rigorosamente o mesmo tratamento que dedicavam aos seus próprios internados.

Aliás, se não fosse pela atenção e cuidado que dedicaram aos brasileiros, provavelmente todos eles teriam morrido de frio. É um alívio, mas também um constrangimento, constatar na documentação pesquisada o cuidado que as autoridades dos EUA no Recife dedicaram aos enfermeiros brasileiros em trânsito para hospitais daquele país. Percebendo que os uniformes brasileiros eram claramente insuficientes para suportar o inverno em Nova York, se apressaram em retirar dos seus próprios estoques as roupas e agasalhos que foram fornecidos ao pessoal médico. Como resultado, médicos, enfermeiros e pacientes brasileiros nos EUA ficaram a maior parte do tempo usando fardamentos do exército norte-americano, o que certamente foi mais uma fonte de vexames e conflitos para todos eles.

Autoridades de Washington comunicavam aos seus colegas brasileiros as necessidades dos compatriotas feridos e doentes em diversos hospitais dos EUA. Estes, por sua vez, apelavam ao Ministério da Guerra para verem atendidas pelo menos as necessidades mais essenciais dos internados, obtendo nessa missão sucesso apenas relativo. Não cabe dúvida sobre nossa dívida de gratidão para com as autoridades dos EUA nessa questão. Se tivessem se mostrado indiferentes, nossos doentes e feridos de guerra teriam sofrido ainda mais, de forma cruel e desnecessária.

- Qual a importância desse episódio no contexto do livro?

O que se pode concluir das evidências colhidas pela pesquisa que deu origem a esse livro é que o entendimento da história dos veteranos e veteranas de guerra da FEB em seu processo de reinserção social começa no tratamento que receberam nos hospitais militares estadunidenses durante e depois da Segunda Guerra Mundial. Do grau de sucesso desse tratamento é que se entende o maior ou menor êxito do processo de reintegração social desses ex-combatentes na vida civil no pós-guerra. Esse episódio tem também muito a nos ensinar sobre a história das relações internacionais militares do Exército Brasileiro. É de se esperar que, no futuro, mais eventos, episódios e personagens envolvidos com o tema se tornem objeto de pesquisa dos historiadores.
---------------

Como completação ao citado acima, poderia ser acrescentado o fato de que os militares norte-americanos, ao retornarem da guerra ainda tinham o "Servicemen´s Readjustment Act" ("G.I. Bill Act") como auxílio para se reintegrarem no mundo civil.

http://www.nolo.com/legal-encyclopedia/ ... l-act.html

E os veteranos brasileiros, qual foi seu quinhão?

Wingate




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Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira

#77 Mensagem por Hermes » Sáb Jul 04, 2015 1:05 pm

Complementando o texto acima, relato de um dos brasileiros que foi internado nos EUA por ter perdido a perna em combate:

"Nos Estados Unidos, segundo Joaquim Magalhães, os brasileiros foram muito bem tratados. Eram 150. “Para o companheiro Boni­fácio Cruz eram dois braços, um olho de vidro, um par de dentaduras e um par de óculos superforte. O colega Círio, do Rio Grande do Sul, ia receber duas pernas, o Enoque um pé; o seu uma mina anti-pessoal tirou; e o Coutinho, a perna esquerda. (…) Alberto Rossi ia receber uma perna, um olho de vidro e algumas operações plásticas; o seu rosto ficou bastante deformado pela explosão de uma mina. No braço dele ia também aparecendo uma protrusão que a cada dia se parecia mais saliente. Então lhe perguntei: ‘Que protrusão é essa em seu braço, Alberto?’ ‘Não sei, Magalhães, e isto está crescendo e ficando dolorido’. Alberto tirou a radiografia e por incrível que pareça encontrou uma lasca de osso saída de sua própria perna e implantada no seu braço pela explosão da minha.” Os brasileiros foram levados para vários Estados americanos. O pracinha foi para Utah.

A Red Cross, a Cruz Vermelha americana, colocava mutilados americanos ao lado dos brasileiros. “Lembro-me de um rapaz americano que não possuía os dois braços e com braços mecânicos escrevia à máquina, vestia sua roupa, tirava o cigarro do maço, pegava o isqueiro e o acendia, comia sozinho. Tinha os que não tinham pernas e com pernas mecânicas andavam muito bem, desciam escadas quase correndo, dançavam e andavam até de patins. A minha estreia não foi lá tão animadora. Saí do gesso, peguei uma muleta, dei o passo como se tivesse a perna e esparrelei no chão. A minha perna estava no cérebro, mas não no lugar real. Cuidei de me treinar. Fui aos exercícios físicos, me adaptei e após uma semana fui de muleta passear em Salt Lake City bem aprumado. Estava pronto para receber a perna mecânica. Esta veio, foi outra dificuldade, mas exercitei bastante e logo consegui andar sem bengala, dar até umas carreirinhas e dançar.”

Joaquim Magalhães, que morreu em 2004, aos 84 anos, sugere que os pracinhas foram abandonados pelo governo federal. Ele tem razão."

Fonte: http://www.jornalopcao.com.br/colunas-e ... ial-39068/




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Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira

#78 Mensagem por Clermont » Qui Jul 14, 2016 8:33 pm

Yes, a FEB é roqueira!.

Montedo.com, 14.07.16.

Numa grande sacada, o Ministério da Defesa aproveitou o Dia do Rock (ontem, 13) para prestar uma homenagem aos Heróis da Força Expedicionária Brasileira.

O MD publicou em sua página um vídeo da banda sueca Sabaton, que gravou uma música em homenagem a FEB, em seu álbum Heroes, de 2014.

“Smoking Snakes'', é uma referência ao símbolo da FEB, uma “cobra fumando'', ou seja, uma cobra com um cachimbo na boca. Segundo o site oficial do Sabaton, com versão corroborada pelo fã-clube da banda no Brasil, a música fala sobre três heróis que não se rendem, o que logo foi relacionado a um fato verídico da atuação brasileira na Itália. Seria uma homenagem direta aos soldados brasileiros Arlindo Lúcio da Silva, Geraldo Rodrigues de Souza e Geraldo Baêta da Cruz, que após uma ação de combate se desgarraram de seu grupo e acabaram dando de frente com uma unidade alemã.

De acordo com o site Portal FEB, os três lutaram até a última bala e não se renderam. Foram mortos pelos inimigos, que após o combate colocaram uma cruz perto dos túmulos dos três com a inscrição: Drei Brasilianische helden (três heróis brasileiros). A história é verdadeira e documentada entre os vários atos de bravura dos soldados nacionais naquela campanha.






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Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira

#79 Mensagem por FCarvalho » Qua Ago 07, 2019 1:08 am

LIBERATORI





Um mal é um mal. Menor, maior, médio, tanto faz… As proporções são convencionadas e as fronteiras, imprecisas. Não sou um santo eremita e não pratiquei apenas o bem ao longo de minha vida. Mas, se me couber escolher entre dois males, prefiro abster-me por completo da escolha.
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Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira

#80 Mensagem por J.Ricardo » Qua Ago 07, 2019 1:55 pm

Vargas foi um grande fdp pelo tratamento dado aos pracinhas quando voltaram, um legítimo ditador fascista, e tem esquerdista que idolatra ele, que genuinamente, foi o único fascista que tivemos na presidência.




Não temais ímpias falanges,
Que apresentam face hostil,
Vossos peitos, vossos braços,
São muralhas do Brasil!
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Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira

#81 Mensagem por FCarvalho » Qua Ago 07, 2019 7:50 pm

Getúlio Vargas sempre foi uma figura controversa na história brasileira. Há muitos prós e contras a serem apontados em relação a ditadura que comandou aqui.
Mas fato é que ele foi um dos poucos estadistas de verdade que o Brasil chegou a dispor. Não pelo homem em si, mas pelo pensamento fora do quadrado político de seu tempo.
Mas nem por isso deixou de ser o coronel de barranco que sempre foi, e que mantinham as suas costas largas.

abs




Um mal é um mal. Menor, maior, médio, tanto faz… As proporções são convencionadas e as fronteiras, imprecisas. Não sou um santo eremita e não pratiquei apenas o bem ao longo de minha vida. Mas, se me couber escolher entre dois males, prefiro abster-me por completo da escolha.
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Re: 60 anos da Força Expedicionária Brasileira

#83 Mensagem por EduClau » Sáb Set 05, 2020 12:52 pm

Muito bom esse documento, obrigado por compartir.

sds.




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