J.Ricardo escreveu: Sex Abr 17, 2020 9:18 am
Nesse ponto vou discordar de você, se não for para ter um avião que possa pelo menos, em um exercício conjunto, operar em um PA de nação amiga, não faz sentido ter os aviões.
Um Gripen convencional ou outro que também não seja naval, não vai ajudar em nada em manter essa capacidade, melhor seria então comprar uns M-345 que são mais baratos de operar e podem servir pra manter a turma adestrada.
Se for pra ter caças na MB que seja um navalizado, para justamente ser usado em exercícios conjuntos. Por fim, acho que nem a MB sabe o que quer, dizem que preferem um com rampa, isso acaba por limitar a opção no F-35B, o Gripen Naval é só uma teoria que pode dar certo ou não e pode sair até mais caro que o americano...
Olá JRicardo.
Você está partindo do princípio de que sem um Nae a aviação de caça da MB não tem mérito algum do ponto de vista operacional. Muito pelo contrário. Antes mesmo do primeiro Nae existir, a aviação naval já exercia suas funções básicas sem maiores problemas. O navio é um plus a mais em qualquer esquadra, mas não significa que seja indispensável. É só ver o exemplo russo e de outros países que mesmo sem um Nae possuem aviações navais com caças e outros meios que não deixam dúvidas sobre sua capacidade e efetividade.
Manter o VF-1, e por tabela o VEC-1, para a MB é muito mais do que uma questão de manutenção operacional, é manter viva a asa fixa na aviação naval, e mais, não perder, de novo, todo o know how acumulado duramente durante estes últimos 22 anos. A marinha pagou um preço muito caro por passar anos sem dispor dos próprios meios aéreos por causa da briga com a FAB. E sabe muito bem que sem isso, ela fica capenga em uma das suas áreas suporte mais importantes. Este erro portanto não será cometido novamente.
Há de se contar, portanto, desde já, com a hipótese de que nunca mais venhamos a dispor de um Nae, caso isto seja posto nos próximos doc's da END que virão, apesar de que em nossa estratégia naval, a existência de uma FT nucleada em Nae ser ativo fulcral e considerado indispensável para a manutenção de nossos interesses geopolíticos no AS. Mas esta é uma decisão muito mais de Estado do que da marinha.
Assim, a operação de caças pelo VF-1, no momento, prescinde da existência de Nae na esquadra, dado que o objetivo primário ainda não foi ultrapassado, que é a obtenção, manutenção, desenvolvimento e efetivação da caça naval (asa fixa) na cultura da aviação naval. Sem isto não poderemos dar os próximos passos de forma segura, quais sejam, retomar a aviação de patrulha, transporte, SAR e ISR na aviação naval. Acrescente-se a isso o uso de VANT que deve começar a disseminar-se pela esquadra também. Mas isso só será possível com uma massa de mão de obra qualificada para tal, e não vamos conseguí-lo apenas com treinadores e/ou caças dos anos 1950.
Com os Gripen C/D o VF-1 poderia contar com um caça efetivo e plenamente operacional em todos os sentidos, capaz de realizar tanto a manutenção/desenvolvimento doutrinal quanto apoiar de verdade as operações da esquadra e do CFN ao longo de todo o território nacional e na nossa ZEE, e fora dela caso necessário, posto que estes caças poderiam ser dotados de capacidade Revo. O raio de ação do modelo C/D por sí só já é bem superlativo em relação aos atuais A-4, fora que a sua introdução na aviação naval traria um salto qualitativo imenso, retirando assim numa única tacada o atraso de pelo menos 10 anos no que diz respeito a capacidade/operacionalidade do VF-1. Além disso, o Gripen possui qualidades de um caça naval já atestadas por pilotos da MB, o que também pode ensejar a possibilidade de treinos de toque e arremetida em Nae que eventualmente cruzem nossas águas, o que também já é feito hoje na pista da Macega com os mesmos procedimentos de pouso a bordo.
Enfim, esperar que tenhamos um Nae ou usar treinadores para manter apenas o pé e mão dos pilotos do VF-1, sem nenhuma ou pouca capacidade operacional efetiva não é uma solução adequada para a MB. Precisamos de ambas as coisas no mesmo nível E ao mesmo tempo. Isto pode ser oferecido pelo Gripen C/D a custo aceitável ao orçamento da MB, e que ainda trás benefícios à indústria nacional.
É, enfim, uma opção que poderia ser rapidamente introduzida no VF-1, além de que toda a infraestrutura de apoio, industrial, logística e operacional poder ser implantada aqui mesmo sem maiores percalços e/ou a necessidade de investir quantias vultosas do orçamento. Eu estimo em dois anos, no máximo, a completude de toda a operação, desde a decisão até a disponibilidade do primeiro caça na rampa.
Não temos boas expectativa para um Nae na MB antes de 2040. E isso pode ser facilmente notado pelos muitos problemas que temos de sanar em relação a praticamente tudo na MB, desde a esquadra até as delegacias navais e fluviais. Tentar cobrir este hiato material, que só se agiganta a cada dia, irá tomar muito tempo e dinheiro do orçamento da MB, além de quê, presumivelmente, irá demandar pelo menos 10 a 15 anos de investimento, se eventualmente não houver cortes que demandem, como de praxe, a reorganização anual dos cronogramas dos projetos. Em se tratando de Brasil isso é praticamente impossível.
Como se pode ver, a SAAB está torcendo(negociando) para que a força aérea sueca mantenha os Gripen C/D até 2035 junto aos Gripen E (o que já vem sendo ventilado concretamente por lá), e Isso cria de fato um seguro contra quaisquer intempéries no fornecimento de apoio à operacionalidade destes caças. Para a MB seria a escolha que menos geraria surpresas, ao contrário, nos daria a regularidade, longevidade e previsibilidade de que tanto precisamos. Outros caças não nos oferecem isso.
Neste contexto como um todo, fiz um pequeno estudo teórico do que pode ser a atualização/ampliação da asa fixa na MB a partir dos projetos da BID/indústria nacional aqui mesmo neste tópico. Se metade daquilo que dispus ali chegar a ser efetivamente posto na prática via PEAMB, já teremos muita coisa para fazer; e principalmente, precisaremos de tempo - e recursos - para tirá-los do papel. Com o VF-1 sendo uma preocupação a menos, se adotada a solução proposta, com certeza poderemos investir com celeridade e inventividade na ampliação da aviação de asa fixa na MB.
abs