NOTÍCIAS POLÍTICAS

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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS

#25741 Mensagem por Bourne » Dom Jun 17, 2018 10:52 am

E o papel do judiciário que passa agir como ator político. O que acontece nos EUA é piorado nos países do sul que tentaram imitar o modelo. Não tem haver com presidencialismo vs monarquia, mas com a participação da sociedade, desenho do sistema político e eleitoral, qualidade das instituições e capacidade do estado.

Os EUA também tem o problema de segregação e exclusão de parcelas expressivas da sociedade como negros, latinos e imigrantes não europeus, brancos pobres. O sistema político e eleitoral aprofunda a separação e segregação. E estoura nos "guerra contra o establishment", aumento da violência e encarceração, militarização das polícias, seletividade da justiça e concertação de renda. Lembra outro país do sul ou vários.
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS

#25742 Mensagem por Bourne » Dom Jun 17, 2018 11:13 am

Agora faz sentido que todo mundo representa o novo, a renovação, a mudança na política. :mrgreen:

Segundo pesquisadores, movimentos de renovação na política estão errados
Rotatividade do Congresso brasileiro é uma das maiores do mundo
17.jun.2018 às 2h00

[RESUMO] Movimentos de renovação da política estão errados tanto em suas premissas quanto nas soluções que propõem, afirmam pesquisadores. Eles mostram que rotatividade do Congresso brasileiro é uma das maiores do mundo e dizem que país não precisa de salvadores da pátria.

Pelo menos desde a eclosão dos movimentos de junho de 2013, a sociedade brasileira atravessa um período de agudo questionamento da política e de seus representantes.

O fenômeno, que encontra paralelo em movimentações de outros países, ganhou aqui contornos inquietantes com o processo de afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) e a ampliação do arco partidário atingido por denúncias de corrupção e condenações da Lava Jato.

O enfraquecimento das principais siglas e lideranças levou a uma busca por saídas não convencionais que se traduziu no repentino prestígio de nomes até então pouco considerados ou sem experiência no jogo eleitoral.

Jair Bolsonaro, que permanece em posição de destaque nas pesquisas, é o mais rumoroso deles, mas especulou-se também, entre outras, sobre as candidaturas do apresentador de TV Luciano Huck e de Joaquim Barbosa, ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal.

Nesse cenário passou a prosperar a organização de movimentos da sociedade civil com o propósito de renovar a política. Em pouco tempo, a ideia de lançar nomes novos, éticos e jovens tornou-se coqueluche. Institutos e organizações se multiplicaram, e o discurso da renovação difundiu-se.

Seria imperioso renovar não só a Presidência, mas notadamente o Congresso, que se apresentou na TV, à época da votação do impeachment, em toda sua precariedade moral, vileza ética e despreparo cívico.

De uma hora para outra, assumiu-se em determinados círculos que o principal problema do país residia na perpetuação de políticos tradicionais, permeáveis à corrupção e ligados a interesses nebulosos.

homem segura placa em frente ao congresso
Protesto contra a corrupção e a favor da Operação Lava Jato em frente ao Congresso, em 2016 - Pedro Ladeira/Folhapress
Recentemente, uma dupla de pesquisadores brasileiros, Eduardo Cavaliere, 23, e Otavio Miranda, 24, arregaçou as mangas e partiu para levantar e analisar os números relativos à renovação do Congresso de 1986 a 2014 —o que eles chamam de "renovação orgânica" do Legislativo.

O esforço de Cavaliere, graduado em direito com concentração em matemática pela FGV do Rio, e de Miranda, pesquisador na área de economia política no Instituto Chongyang de Estudos Financeiros, na China, traz à luz fatos pouco conhecidos e levanta questionamentos a certas premissas do discurso dos movimentos renovadores, como o primado da ética ou a ideia de que candidaturas mais jovens seriam mais adequadas ao país.

Por exemplo:

1 - No Congresso, reeleição não é regra, mas exceção; 75% dos deputados federais não ultrapassam o segundo mandato.

2 - O excesso de nacionalização do debate público negligencia a complexidade da política local. Erros de avaliação do desempenho dos partidos levam a conclusões equivocadas sobre o Congresso. Por exemplo, apesar do bom resultado em eleições presidenciais, ao longo da história o pior desempenho eleitoral do PT, por regiões, é no Nordeste. O partido, aliás, elegeu mais deputados federais que o PSDB em São Paulo.

3 - Um número muito baixo (2,88%) de deputados federais venceu eleições majoritárias seguintes ao mandato no Legislativo.

4 - Não existe nenhum exemplo concreto na história brasileira em que o fortalecimento conjunto de jovens, figuras inexperientes e ativistas tenha desaguado em imediata melhora qualitativa na resolução dos principais gargalos da vida pública.

Na entrevista que se segue, os dois apresentam os diversos aspectos da pesquisa e comentam o debate acerca da renovação política no país.



Diversos movimentos têm defendido a necessidade de levar gente nova para a política no Brasil. Também se difunde a ideia de que um outsider seria uma solução contra a política tradicional. O que os dados levantados por vocês dizem sobre essas visões? Como tem sido a renovação do Congresso, por exemplo?

Há uma diferença significativa entre a percepção geral e os números sobre a renovação no Congresso. Ao compararmos a quantidade de reeleições de deputados, numa série histórica, os números indicam que grande parte dos congressistas têm "vida curta", contrariando, por exemplo, a percepção de que apenas "raposas velhas" ocupam a Câmara.

De 1990 a 2014, no Congresso, reeleição não é regra, mas exceção. Nesse período, cerca de 25% dos deputados federais ultrapassaram o segundo mandato. Quer dizer, há muito mais deputados eleitos uma ou duas vezes do que figuras reeleitas indefinidamente. No mesmo período, cerca de 21% dos senadores foram reeleitos. Números bem menores do que a percepção popular.

Entre os deputados eleitos nesse período, em torno de 57% estiveram na Câmara por um mandato e 21% conquistaram um segundo, reeleitos de maneira contínua ou após um breve período de interrupção.

No Brasil, o percentual de deputados eleitos cai bastante conforme se adicionam mandatos. Aproximadamente 11% alcançaram a marca dos 3 mandatos, 5,3% conquistaram 4 mandatos, 3,3% tiveram 5 e só 2,4% chegaram a 6. [Para comparar,] nos EUA, na legislatura atual, apenas 13% da Câmara é representada por deputados de primeiro mandato.

Temos então muita rotatividade no Congresso?

A verdade é que temos um dos Legislativos mais rotativos do mundo. Em relação a democracias consolidadas, a renovação do Congresso brasileiro está acima da média de países comparáveis.

Em 2014, 53% dos deputados federais brasileiros foram reeleitos, enquanto que 95% dos congressistas americanos, 90% dos britânicos, 88% dos espanhóis, 80% dos australianos e 72% dos canadenses se reelegeram. A baixíssima renovação em cada um desses países é razão de atraso ou ausência de progresso nacional? Improvável.

O Congresso tem sido boa plataforma para outros cargos, como os majoritários?

Não. Dos 1.889 deputados eleitos de 1990 a 2014, 103 conseguiram se eleger senadores, prefeitos ou governadores ao final de seu mandato (5,4% do total).

No Senado, 27 dos 259 diplomados nesse período sagraram-se governadores, prefeitos ou deputados, durante ou imediatamente após o mandato (10,4%). Enquanto isso, 205 não foram reeleitos como senadores (79,2% do total).

É justo afirmar que desses 205, 23 foram eleitos para outro cargo (10%). Isso significa dizer que, nos últimos 28 anos, nenhuma das Casas serviu de trampolim a outros cargos.

Como explicar a proliferação de movimentos de renovação?

A ansiedade que marca este ano eleitoral não é incomum. Basta folhear a história brasileira desde a queda do império para perceber que momentos de instabilidade reduzem as barreiras para novos entrantes.

Assim nasceu boa parte dos movimentos de renovação política. Historicamente, eles pegam carona em narrativas pouco contestáveis, como o fim de privilégios ou o combate à corrupção, para se apresentarem como alternativas ao que está posto. "Varre, varre, vassourinha" de Jânio em 1960. Collor, o "caçador de marajás", em 90.

Mas o que há de novo nesses grupos pela renovação? Na verdade, esse perfil de discurso que ocupa —ciclicamente— o debate público brasileiro não é novo, mas releitura de algo conhecido na política nacional.

Os defensores de uma renovação de pessoas não conseguem explicar como esse difícil quebra-cabeças abrangeria as realidades de um país enorme, diverso e desigual como o Brasil. Quanto mais diferentes somos, mais difícil é a arte da política. Novos nomes não resolvem esses impasses. Política, sim.

Se a premissa em que esses grupos se baseiam para legitimar os outsiders não se sustenta, o que oferecem, então? Reduzir a política nacional à ocupação dos espaços de poder em Brasília é solução? Mudar os rostos resolve nossos problemas?

Não podemos condenar a esperança justa de brasileiras e brasileiros por ideias novas, mudanças e melhoria em suas vidas. O erro que não podemos cometer mais uma vez é confundir a luta por um país justo, menos desigual e mais desenvolvido com slogans de grupos que aspiram a ocupar esses espaços. Grupos que propõem a renovação de caras e práticas, mas nem sequer apresentam uma proposta clara e corajosa sobre como chegaremos lá.

Qual a experiência do Brasil com outsiders?

Outsiders não são novos nem no Brasil nem no mundo. Por exemplo, Getúlio Vargas pertencia ao estamento político gaúcho, apesar de a marginalização do estado nos arranjos políticos nacionais da época lhe fazerem não pertencer à elite política "catetista" [o Palácio do Catete foi a sede do Executivo federal até 1960].

Os anos que antecederam e desaguaram em 1964 foram turbulentos pelas movimentações de tenentes e comunistas em campos opostos, mas ambos antiestamento político. Décadas depois, a fundação do PSDB e a jornada do PT rumo a Brasília representaram a renovação pela reforma, disputando espaços então tradicionalmente ocupados pela política tradicional.

Na história recente, há semelhanças entre a chegada de Dilma ao Planalto e a chegada de outsiders ao poder em outros países. Dilma não era política, não tinha sido eleita nem disputado cargos eletivos até então. Ocupou, é verdade, cargos de confiança no governo, mas sempre foi apresentada como um quadro "técnico". Não teve uma carreira com projeção nacional, tampouco era membro histórica do PT.

Em 2018, no Brasil, a narrativa outsider tem se misturado com o discurso pela renovação. O ponto é que existe uma diferença clara entre renovação e "outsiderismo". Há muitas formas de argumentar por renovação através da política. Mas os movimentos que têm aparecido no Brasil, na verdade, advogam por mais pessoas de fora do sistema.

A ideia do outsider como salvador da política também tem crescido no plano internacional. Como o caso brasileiro se relaciona com o que ocorre em outros países?

Movimentos pela renovação política tentam introduzir no Brasil em 2018, por acidente ou não, um eixo de polarização inspirado em debates populares pelo mundo. Eles se concentram numa outra divisão política. Entram em campo os "nacional-conservadores" e "progressistas-transnacionais".

Para os progressistas, o indivíduo é sobreposto por relações de etnia e gênero. O aspecto multifacetado da sociedade é substituído pelo binário "opressores naturais e oprimidos estruturais". A legitimidade representativa a partir do voto é sucedida pela crença na representatividade proporcional. E isso se soma ao tradicional eixo "direita-esquerda".

Esses aspectos foram o epicentro das eleições de 2016, tendo em Donald Trump uma vitória nacional-conservadora e em Emmanuel Macron uma vitória progressista-transnacional.

No Brasil, alguns desses grupos de renovação identificados com agendas progressistas-transnacionais tentaram apostar em Luciano Huck, outros orbitam em torno de Marina Silva (Rede), enquanto grupos nacional-conservadores seriam representados por Jair Bolsonaro (PSL).

O que nenhum movimento "renovado" procura explicar é: por que a única chance de o Brasil ser um país verdadeiramente desenvolvido só se dará quando um grupo de jovens líderes e outsiders conquistar o poder? Essa pergunta só pode ser respondida com base em crenças, não em evidências. O Brasil não precisa de salvadores da pátria, sejam eles uma pessoa, sejam um grupo.

A ideia de renovação parece valorizar mais o plano nacional do que o regional. Como esses dois planos se articulam no jogo político?

A política regional é a raiz da política nacional. Seja na disputa presidencial, seja no Congresso, o Brasil se define a partir de 27 eleições regionais. [Dado que] 35 partidos atualmente registrados dividem-se de maneira desigual em 27 estados e milhares de cidades, as composições políticas regionais não teriam como ser menos complexas.

Isso colabora para fortalecer a percepção de um Congresso menos representativo e mais afastado dos eleitores. Não é razoável esperar que o Congresso tenha instrumentos capazes de capturar todas as possibilidades de alinhamento político em cada região.

A isso se soma a realidade de que o espaço dos partidos em cada estado também está longe de ser consolidado. Cada eleição é uma nova batalha pela fidelidade do eleitor. Em razão dessa volatilidade e competitividade, não é natural que um político escolha a Câmara como primeira empreitada. Pelo contrário.

Na nossa opinião, [apostar na Câmara] é um grande erro desses movimentos. Não é difícil associar essa escolha com a necessidade de partidos pequenos aumentarem seus quadros em Brasília, sob risco de sua gradual extinção por falta de recursos e autonomia [por causa da cláusula de barreira].

Aqui, juntou-se a fome com a vontade de comer. A Rede, por exemplo, que não foi testada nas urnas em 2014, precisa aumentar sua representação na Câmara e está abrindo as portas para essas candidaturas. Após a última janela, o partido ficou com 2 deputados, mas tinha 5 um ano atrás. O mesmo vale para o PPS, que com 9 deputados eleitos por 7 estados em 2014, hoje estaria limitado pela cláusula de barreira.

A composição de uma chapa potencialmente vitoriosa ao governo de um estado acontece ao mesmo tempo em que se inicia a corrida rumo às cadeiras na Câmara.

As conversas ainda incluem uma composição de chapa que aproveite melhor os votos na disputa por posições majoritárias, limitando o canibalismo entre nomes relevantes para posições como Senado e governo. Além da negociação de apoios aos principais candidatos à Presidência, considerando seu respectivo endosso a candidatos em cada estado.

É isso que vemos nos jornais. São muitas combinações possíveis.

PT e PSDB polarizaram as eleições presidenciais nas últimas décadas, mas nos estados é diferente. Qual o papel dessa polarização na política nacional?

A "nacionalização" da política estadual desinforma o eleitorado. O exemplo mais claro é que o Brasil dos últimos anos está longe de ser definido por uma batalha campal entre tucanos e petistas. De fato, em todas as sete eleições presidenciais da Nova República, candidaturas encabeçadas por PT e PSDB foram as mais competitivas. Mas, quando olhamos o Congresso, o cenário é bem diferente.

Por exemplo, colorir vários estados do Nordeste de vermelho nas eleições presidenciais de 2002, 2006, 2010 e 2014 nos faz esquecer da força do PMDB. Engana-se quem pensa que o PT é força majoritária na região. Em seu melhor cenário histórico, o partido alcançou 16,5% dos assentos do Nordeste [na Câmara], enquanto o DEM teve em sua melhor marca 33,7% das cadeiras. O PMDB, por sua vez, conquistou 19,9% dos assentos em seu auge.

E o melhor resultado do PT no Nordeste não se compara aos seus percentuais em São Paulo, onde a marca de 25% dos assentos em 2002 faz do PT o recordista histórico de cadeiras conquistadas por um partido em uma só eleição no estado.

Outro exemplo claro é que, apesar de São Paulo ter consistentemente votado em candidatos tucanos à Presidência, é o estado que mais elegeu deputados petistas ao Congresso. Desde sua primeira eleição em 1986 até hoje, o PT elegeu mais deputados em São Paulo (103) que em todo o Nordeste combinado (99).

A polarização entre PT e PSDB em São Paulo é grande. Desde 1990, PT e PSDB brigaram por aproximadamente 40% do eleitorado paulista em eleições proporcionais ao Congresso. A cada eleição um dos dois fatura a maior bancada do estado. PSDB e PT foram donos do maior número de deputados eleitos em metade das eleições e empataram em uma.

Mas esse fenômeno não se repetiu em nenhum estado. São Paulo pode estar polarizada entre os dois partidos. O Brasil, não. A percepção dessa divisão nada mais é que a "nacionalização" de rivalidades locais. A situação no resto do país é bem mais complexa e menos petista ou tucana.

Considerando os estados, pode-se dizer então que o cenário político atual é menos polarizado do que parece?

É importante desconstruir algumas percepções erradas sobre o momento atual. O Brasil vive o auge de um processo de pulverização política —não de polarização. A análise caso a caso dos estados qualifica essa afirmação. De 1990 a 2010, é possível notar que na maioria dos estados existia alguma continuidade entre grupos de dois ou três partidos.

Canalizando de 40% a 50% dos votos por estado a cada eleição, partidos mais sólidos e com envergadura nacional formavam uma espécie de amortecedor natural entre partidos mais extremados, novos entrantes e as relações políticas tradicionais do estado. Transições políticas aconteceram, mas sempre de maneira a substituir algum dos principais partidos por uma força em ascensão.

Porém, o ano de 2014 foi difícil para os principais partidos brasileiros. A estratégia governista de fragmentação do DEM foi seguida da maior rejeição eleitoral ao PT e a segunda maior ao MDB em 30 anos de democracia. Só a perda conjunta de parlamentares desses três partidos totalizou 10% de todo o Congresso.

Que padrão de voto vocês identificam nos estados brasileiros?

De forma geral, o atual contexto político nacional nos permite agrupar a maioria dos estados brasileiros em três grandes segmentos: estados de polarização, pulverização e de transição gradual na política regional.

Em estados de polarização, notamos que, apesar dos problemas enfrentados nos últimos anos, ao menos dois partidos de envergadura sustentam suas candidaturas baseando-se na oposição pragmática de um ao outro. A polarização PT x PSDB em São Paulo e PP x PT no Rio Grande do Sul dão o tom da vida política em ambos os estados.

Nos de pulverização, estados com estruturas políticas fortes e tradicionais viveram uma onda de decréscimos em seus quadros e um aumento na quantidade de partidos a representar seu eleitorado. O Distrito Federal e o Maranhão são bons exemplos. Num curto espaço de tempo, partidos influentes viram suas bancadas estaduais no Congresso serem fragmentadas e reaproveitadas por legendas menores ou novatas.

Os estados de transição gradual têm sido marcados por transições de poder menos conturbadas. O Acre, ao longo da crise política, continuou elegendo candidatos e candidatas petistas de maneira implacável à maioria dos cargos.

Ao mesmo tempo, o Acre é o terceiro estado que mais renova seus quadros no Brasil (65% de troca, em média), perdendo apenas para o Distrito Federal (69%) e o Sergipe (69%). Logo, a crise política vivida por Brasília não afetou de maneira abrupta a tradição política hegemônica do estado.

Marcos Augusto Gonçalves é repórter especial da Folha, editor da série de cadernos temáticos "E agora, Brasil?" e autor de "1922 - A Semana que não Terminou". Foi editor da Ilustrada e da Ilustríssima.

https://www1.folha.uol.com.br/ilustriss ... ados.shtml

Visca é artista plástico.
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS

#25743 Mensagem por gabriel219 » Ter Jun 19, 2018 7:49 am

Alguém aqui teve estômago pra ver a sabatina do coroné na Jovem Pan, na íntegra?

Chega fico abismado como um cara desse ainda tem palanque.
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#25744 Mensagem por Bolovo » Ter Jun 19, 2018 11:09 pm

STF absolveu a Gleisi Hoffmann, a senadora do Bourne, e o Paulo Bernardo das acusações da Lava Jato.
"Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu."
Darcy Ribeiro (1922 - 1997)
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS

#25745 Mensagem por Matheus » Qua Jun 20, 2018 10:45 am

Deve ser algo muito normal um dos juízes que julgou ter sido advogado do partido do qual a réu é presidente...e segue o féretro...
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS

#25746 Mensagem por Clermont » Qua Jun 20, 2018 2:11 pm

gabriel219 escreveu: Ter Jun 19, 2018 7:49 am Alguém aqui teve estômago pra ver a sabatina do coroné na Jovem Pan, na íntegra?

Chega fico abismado como um cara desse ainda tem palanque.
Ignorância, má-fé e covardia.

Alexandre Schwartsman - Folha de São Paulo, 13 de junho de 2018.

É mentira que as despesas da dívida pública representem metade do gasto do governo, muito embora seja repetida à exaustão por candidatos que se dizem entendedores de economia, como Ciro Gomes. O truque empregado por quem quer propagar a lorota consiste em jogar no mesmo balaio o gasto com juros da dívida e o pagamento de amortizações, transações que têm natureza fundamentalmente distinta.

Para entender isto considere o seguinte exemplo (roubado, confesso, de Eduardo Gianetti). Muitos dos leitores (assim como eu) em algum momento de suas vidas alugaram um lugar para morar e pagaram ao proprietário pelo uso do imóvel. Este desembolso comprometeu parcela de sua renda.

Imagino também que, por vários motivos, inquilinos se mudaram e, claro, entregaram ao locatário o imóvel que vinham usando. Nenhum de nós, porém, considerou que devolver o imóvel alugado tenha sido uma despesa que consumiu parte da nossa renda. Nem deveria, porque não faz o menor sentido tomar como gasto o mero retorno de algo não é seu.

O pagamento de amortizações da dívida não é distinto da devolução do imóvel: o governo apenas retorna ao proprietário aquilo que não é seu, ou seja, dinheiro que tomou emprestado no passado para custear o excesso de despesas sobre suas receitas.

A diferença é apenas uma questão de prazo: o imóvel é devolvido ao final do contrato; já a dívida mobiliária federal tem prazo médio ao redor de 48 meses, ou seja, a cada ano cerca de um quarto da dívida precisa ser quitada. Isto é feito pela troca dos papagaios que vencem naquele ano por novos que vencerão dali a alguns anos, processo que é conhecido como rolagem da dívida. Como a dívida federal é da ordem de R$ 3,7 trilhões, o governo precisa rolar pouco mais de R$ 900 bilhões a cada ano.

O gasto primário (isto é, sem juros) do governo federal atingiu R$ 1,34 trilhão nos 12 meses até abril, enquanto o gasto com juros chegou a R$ 380 bilhões no mesmo período. O truque é somar aos gastos de verdade (1,34 + 0,38 = 1,72 trilhão) as amortizações, o que dá um total de R$ 2,6 trilhões. Aí considera-se o pagamento de juros e amortizações (R$ 1,3 trilhão) como “gasto financeiro” e temos uma cascata com aparência de verdade, embora seja, à luz do exemplo acima, tão falsa quanto somar o valor do apartamento devolvido como parte das despesas da família.

Por outro lado, o argumento também ignora os gastos dos demais níveis de governo, isto é, estados e municípios. No conjunto da obra o governo geral gastou no ano passado nada menos do que R$ 3,1 trilhões, algo como 47% do PIB, dos quais o gasto com juros representou pouco menos do um quinto do total.

Posto de outra forma, as despesas com juros consomem R$ 1,00 de cada R$ 5,00 gastos pelo governo em seus três níveis. Não é pouco, mas fica muito aquém do número repetido pelos ciros e similares, o que nos leva à seguinte pergunta: trata-se de ignorância ou má-fé?

Em certo sentido a resposta é irrelevante: ambas as alternativas são muito ruins, mas, se alguém estiver interessado na minha opinão, eu diria ser uma mistura equilibrada das duas.

Isto dito, é notável como nenhum dos economistas ligados ao candidato se manifestou acerca desta óbvia falsidade. Como imagino não ser por ignorância, adicionamos à má-fé outra possibilidade: a covardia, evidente no pavor de contrariar o chefe.
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS

#25747 Mensagem por LeandroGCard » Qua Jun 20, 2018 5:41 pm

Clermont escreveu: Qua Jun 20, 2018 2:11 pm
Ignorância, má-fé e covardia.

Alexandre Schwartsman - Folha de São Paulo, 13 de junho de 2018.

É mentira que as despesas da dívida pública representem metade do gasto do governo, muito embora seja repetida à exaustão por candidatos que se dizem entendedores de economia, como Ciro Gomes. O truque empregado por quem quer propagar a lorota consiste em jogar no mesmo balaio o gasto com juros da dívida e o pagamento de amortizações, transações que têm natureza fundamentalmente distinta.
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Isto dito, é notável como nenhum dos economistas ligados ao candidato se manifestou acerca desta óbvia falsidade. Como imagino não ser por ignorância, adicionamos à má-fé outra possibilidade: a covardia, evidente no pavor de contrariar o chefe.
Meu Deus, que texto absurdo.

Então por este raciocínio os juros do cartão de crédito não pago também não são despesa, podemos deixar a bola de neve rolar ad-infinitum e nem precisamos nos preocupar... :roll: .


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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS

#25748 Mensagem por Matheus » Qua Jun 20, 2018 5:55 pm

Vou "me quotar" porque o troço é tão absurdo... não bastasse o fato abaixo, o advogado da Gleisi é advogado de Gilmar Mendes e professor no instituto do beiçola, vulgo"laxante" (solta tudo que é merda)...dia 26, a mesma turma turminha vai soltar Lulalau.
Matheus escreveu: Qua Jun 20, 2018 10:45 am Deve ser algo muito normal um dos juízes que julgou ter sido advogado do partido do qual a réu é presidente...e segue o féretro...
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS

#25749 Mensagem por Bourne » Qua Jun 20, 2018 8:07 pm

LeandroGCard escreveu: Qua Jun 20, 2018 5:41 pm
Clermont escreveu: Qua Jun 20, 2018 2:11 pm
Ignorância, má-fé e covardia.

Alexandre Schwartsman - Folha de São Paulo, 13 de junho de 2018.

É mentira que as despesas da dívida pública representem metade do gasto do governo, muito embora seja repetida à exaustão por candidatos que se dizem entendedores de economia, como Ciro Gomes. O truque empregado por quem quer propagar a lorota consiste em jogar no mesmo balaio o gasto com juros da dívida e o pagamento de amortizações, transações que têm natureza fundamentalmente distinta.
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Isto dito, é notável como nenhum dos economistas ligados ao candidato se manifestou acerca desta óbvia falsidade. Como imagino não ser por ignorância, adicionamos à má-fé outra possibilidade: a covardia, evidente no pavor de contrariar o chefe.
Meu Deus, que texto absurdo.

Então por este raciocínio os juros do cartão de crédito não pago também não são despesa, podemos deixar a bola de neve rolar ad-infinitum e nem precisamos nos preocupar... :roll: .


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Juros, amortização e rolagem são coisas diferentes. Para governo, empresa e pessoal. Noção básica de contabilidade pública e que pode ser aplicada parcialmente em outras áreas.

Os juros e amortização implicam custo que vai ser retirado da receita tributária. Isso entra no orçamento porque é despesa. Tem a conta de juros e amortizações. Não lembro se são justos ou especificados. Mas os dados estão lá para governo federal, estadual e municipal no site do Tesouro Nacional e Bacen.

A rolagem não é despesa porque a dívida é rolada. Ai o conceito mais próprio de governo. Porque a dívida são títulos negociados em mercado. Não existe o "banco", mas um monte de agentes que negociam os títulos da dívida que são emitidas pelo responsável que é no Brasil Tesouro Nacional. Ele que controla o quanto precisa e ver como os agentes reagem. A reação está na taxa de juros, prazo, se os agentes compram ou não, e como negociam entre si. Portanto, não sai da receita tributária.

O ponto não é esse. É que o estoque dívida e o perfil é um indicador de solvência do governo que afeta o custo e prazo. Existe a endogenidade dentro da relação das variáveis. Os governos rola ao ad-infinitum a dívida porque são títulos e que baseiam o mercado financeiro e alocação de poupança. O sistema financeiro é baseado em como o título público se comporta e o quanto o governo precisa para rolar.

Por isso, que os indicadores de solvência são:

:arrow: Tamanho da dívida bruta em relação ao PIB. Se estivar tudo certo o comportamento ao longo do tempo é estável, ou melhor, gira em torno de uma média. Usa a bruta porque é melhor indicado. A líquida que no Brasil adoram usar inclui os créditos do governo para setor privado, que não é um bom indicador porque em crise financeira vão sumir porque os os agentes privados podem ficar insolventes.

:arrow: Prazo e taxa de juros. Maior prazo e menor taxa de juros indicam confiança e que o título é seguro. Seja no nível nacional ou internacional. A importância é que todas as outras operações ficam mais baratas porque reduz custos e riscos todo o sistema.

Adicionalmente, inclui crescimento do produto porque eleva a arrecadação tributária e reduz risco de insolvência dando maior margem de ação ao governo. Outro ponto é resultado primário. A politica fiscal só controla o resultado primário por isso é tão importante. Também serve para amortecer os choques da economia e manter a dívida estável ao longo do tempo. Assim respeita "a restrição orçamentária intertemporal" que é a limitação de quanto o governo pode gastar em termos reais e se endividar ao longo do tempo. O governo ameniza as flutuações de receita e da economia pela dívida pública.

---------------------

Governo não é o pai de família.

No caso dos juros do cartão de crédito. Se rolou, dentro da lógica de contabilidade pública, não reduziu tua renda e capacidade de gastá-la, mas continua existindo. O que se pagou foi os juros e, se amortizar, ai sai da sua renda e reduz a capacidade consumir. Porém há uma enorme diferença. Um dia a operadora de cartão de crédito vai cobrar e executar em algum momento com custos muito maiores que o governo paga. Porque não é governo. E se não pagar vai para SPC com fechamento de novas linhas de crédito.

Já no governo, se a dívida for insustentável, tem dois caminhos.

Um gerar inflação mantendo a despesa e emitindo mais dívida. Assim os juros reais caem e a arrecadação por imposto inflacionário sobe. O Brasil da década de 1980. So não dura muito. Logo implode o sistema financeira, a moeda, as relações de comércio, consumo e produção. Assim precisa do plano de ajuste que geralmente é uma pancada como Plano Real de 1994 ou os planos de ajuste da Alemanha e Europa oriental na década de 1920. Assim gera desemprego e quebradeiras porque muda tudo.

Outro é dar o calote. Não paga. Aí implode tudo. Se for em moeda nacional é suicídio. Se estrangeira há alguma possibilidade de forçar a negociação. É claro que existe os meios termos como "renegociações forçadas", mas tem que combinar com o "russos". Geralmente o país está tão desesperado nesse ponto e que gerou muita inflação que não é suficiente e não gera mais receita. Possivelmente caminha para hiperinflação, desemprego enorme, produção despencou ou parou, não tem crédito doméstico e externo. É o desastre que vemos na Venezuela atual. Por isso os governos preferem gerar inflação ou dar uma pancada de ajuste antes que chegue a esse ponto.

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Caso Ciro Gomes,

O dado sobre rolagem, amortização e juros é correto. Porém lê de forma errada. Parte do principio errado de que rolagem se paga como pai de família. Ignora os conceitos contabilidade pública e estrutura de financiamento.

Aliás, um assessor do PSOL mete o pau nesse ponto nas falas do Ciro Gomes. Algo como "se ele não sabe ler o orçamento, vai governar como?". Pior, assessores do Ciro Gomes dizem que ele está errado, mas ele não aceita. Isso que ele foi ministro da fazenda.
Ciro Gomes, ao mesmo tempo que defende uma urgente reforma da previdência, alegou, em entrevista recente, que 50% do orçamento vai para o pagamento de despesas com a dívida, 30% vai para a previdência e sobra apenas 20% para todo o resto.

Se ele acredita no que falou, não bastaria cortar a fatia dos gastos com a dívida para sustentar a previdência e ainda ampliar os outros gastos ?

Ele é um dos políticos mais confusos que já vi.

A sorte dele é que nosso jornalismo econômico é de baixíssimo nível.

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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS

#25750 Mensagem por gabriel219 » Qua Jun 20, 2018 10:00 pm

"Como vai pagar a dívida?" "pagando" "mas como?" "PAGANDO".

Fez cosplay de Maria do Rosário e soltou Pagando ad eternum.
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS

#25751 Mensagem por LeandroGCard » Qui Jun 21, 2018 7:13 am

Bourne escreveu: Qua Jun 20, 2018 8:07 pm
Juros, amortização e rolagem são coisas diferentes. Para governo, empresa e pessoal. Noção básica de contabilidade pública e que pode ser aplicada parcialmente em outras áreas.

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Governo não é o pai de família.

No caso dos juros do cartão de crédito. Se rolou, dentro da lógica de contabilidade pública, não reduziu tua renda e capacidade de gastá-la, mas continua existindo. O que se pagou foi os juros e, se amortizar, ai sai da sua renda e reduz a capacidade consumir. Porém há uma enorme diferença. Um dia a operadora de cartão de crédito vai cobrar e executar em algum momento com custos muito maiores que o governo paga. Porque não é governo. E se não pagar vai para SPC com fechamento de novas linhas de crédito.

Já no governo, se a dívida for insustentável, tem dois caminhos.

Um gerar inflação mantendo a despesa e emitindo mais dívida. Assim os juros reais caem e a arrecadação por imposto inflacionário sobe. O Brasil da década de 1980. So não dura muito. Logo implode o sistema financeira, a moeda, as relações de comércio, consumo e produção. Assim precisa do plano de ajuste que geralmente é uma pancada como Plano Real de 1994 ou os planos de ajuste da Alemanha e Europa oriental na década de 1920. Assim gera desemprego e quebradeiras porque muda tudo.

Outro é dar o calote. Não paga. Aí implode tudo. Se for em moeda nacional é suicídio. Se estrangeira há alguma possibilidade de forçar a negociação. É claro que existe os meios termos como "renegociações forçadas", mas tem que combinar com o "russos". Geralmente o país está tão desesperado nesse ponto e que gerou muita inflação que não é suficiente e não gera mais receita. Possivelmente caminha para hiperinflação, desemprego enorme, produção despencou ou parou, não tem crédito doméstico e externo. É o desastre que vemos na Venezuela atual. Por isso os governos preferem gerar inflação ou dar uma pancada de ajuste antes que chegue a esse ponto.

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Ele é um dos políticos mais confusos que já vi.

A sorte dele é que nosso jornalismo econômico é de baixíssimo nível.
Bourne,

Você falou, falou, e no final o que ficou foi o seguinte: Dívida pública ou se paga ou se paga, pois as duas outras opções apresentadas são ou o calote ou uma explosão inflacionária, ambas em princípio totalmente contrárias à boa administração financeira do estado. E se é assim, qual a diferença afinal para as contas de um pai de família (aliás isso é muito engraçado, quando se trata de déficit nominal o consenso dos economistas é que sim, o governo tem que se comportar mesmo como um pai de família, viver dentro de suas posses, cortar despesas e etc... . Mas quando se trata dos juros da dívida aí não, não tem nada a ver, é só uma questão menor de administração, não precisa pensar no dia de pagar e por aí vai. Muito engraçado mesmo :roll: ).

Mas nem precisa elucubrar muito, basta ver os números oficiais da economia nacional e fazer contas simples: Some os déficits públicos nominais dos últimos anos e compare com o crescimento da dívida pública no mesmo período para ver a enorme diferença que você vai encontrar. E depois venha aqui tentar explicar esta diferença de centenas de bilhões e porque mesmo assim o serviço de rolagem da dívida e o uso de taxas elevadas de juros como ferramenta de política econômica "não são um problema"... :? .

A menos, é claro, que já se esteja desde o princípio premeditando um calote. É isso então?


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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS

#25752 Mensagem por Marechal-do-ar » Qui Jun 21, 2018 11:41 am

LeandroGCard escreveu: Qui Jun 21, 2018 7:13 amE se é assim, qual a diferença afinal para as contas de um pai de família
A diferença para um pai de família é que um pai de família tem dinheiro e dívidas, o governo tem títulos públicos, que são dívidas, e dinheiro, que é um outro tipo de dívida.

Ai, para manter uma boa saúde fiscal é preciso gastar pouco, que nem um pai de família, mas na hora de pagar dívidas, o pai de família usa o que sobrou para pagar, o governo consegue, no máximo, trocar um tipo de dívida por outro.

Em relação ao tipo de dívida mais barato para o governo, mesmo isso não é tão simples, se o dinheiro fosse mais barato então nem existiria título público, quando fosse preciso fazer um investimento seria só emitir mais dinheiro, mas o dinheiro usado dessa forma acaba tendo um custo muito alto, tão alto que as vezes é melhor emitir um título público com um prazo e juros do que emitir mais dinheiro.

O desafio é equilibrar os dois tipos de dívida para reduzir o custo da dívida ao mínimo.
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS

#25753 Mensagem por LeandroGCard » Qui Jun 21, 2018 1:03 pm

Marechal-do-ar escreveu: Qui Jun 21, 2018 11:41 amA diferença para um pai de família é que um pai de família tem dinheiro e dívidas, o governo tem títulos públicos, que são dívidas, e dinheiro, que é um outro tipo de dívida.
Marechal, você vai ter que explicar melhor isso aí:

Que história é essa de que dinheiro é dívida? Quando eu pago meus impostos e o governo recebe o dinheiro o que é que ele fica automaticamente devendo e a quem?
Ai, para manter uma boa saúde fiscal é preciso gastar pouco, que nem um pai de família, mas na hora de pagar dívidas, o pai de família usa o que sobrou para pagar, o governo consegue, no máximo, trocar um tipo de dívida por outro.
O pai de família pode fazer o mesmo (por exemplo, pegar um empréstimo pessoal para quitar o cartão de crédito). Mas isso depende da disponibilidade de linhas de crédito com juros menores para ele, que não é ele que decide. Mas o governo pode até certo ponto definir a taxa de juros que quer pagar. O limite mínimo é dado basicamente pela confiança que lhe confere o mercado, o que é medido por índices como o risco país. Este estava em 345 no dia 19/06/2018 ou seja, o limite estaria em 5,45% a.a. (considerando a taxa de juros anual dos EUA, que está em 2%). Valores acima disso não são mais necessários (pelo menos nesta data) para fins de se obter financiamnetos ou rolar a dívida pública, e são decisão do governo considerando outros motivos.

No caso brasileiro, o motivo alegado é o controle da inflação, e é aí que está o grande problema. Com esta idéia de que rolagem da dívida não é despesa o BC se sente livre (ou é deixado livre) para elevar as taxas de juros para quanto ele bem achar que deve, como se não fosse necessário pensar depois no pagamento do aumento do serviço da dívida. Só que isso É PRECISO, pois caso contrário irá gerar volumes de juros cada vez mais altos que serão impossíveis de pagar e farão a dívida explodir não importa o que governo faça em termos de esforço fiscal e redução de despesas. Foi exatamente isso o que aconteceu entre 2015 e 2018, quando a soma dos déficits públicos somou algo entre 200 e 300 bilhões, mas devido á elevação dos juros a dívida pública subiu mais de 1 trilhão devido justamente ao "desimportante" e "inócuo" serviço da dívida. E enquanto persistir esta idéia de que os juros da dívida não são despesa isso vai continuar acontecendo, como vem ocorrendo desde o início do governo FHC, até que o país fique inadimplente e seja obrigado ou ao calote ou a um novo surto de hiperinflação. E não tem economia possível nos gastos do governo que possa evitar isso se a taxa de juros continuar a ser utilizada de forma tão irresponsável.
Em relação ao tipo de dívida mais barato para o governo, mesmo isso não é tão simples, se o dinheiro fosse mais barato então nem existiria título público, quando fosse preciso fazer um investimento seria só emitir mais dinheiro, mas o dinheiro usado dessa forma acaba tendo um custo muito alto, tão alto que as vezes é melhor emitir um título público com um prazo e juros do que emitir mais dinheiro.

O desafio é equilibrar os dois tipos de dívida para reduzir o custo da dívida ao mínimo.
O problema da emissão de moeda é que ela aumenta a base monetária, pressionando a inflação para cima. E de novo: Qual a dívida criada quando o governo recebe impostos?

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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS

#25754 Mensagem por Bourne » Qui Jun 21, 2018 1:26 pm

LeandroGCard, essa coisa do "pai de família" é bobagem. Não sei da onde saiu isso. Se foi dos críticos ou da tentativa dos defensores explicar alguma coisa. Porque isso não está nem na discussão teórica dos anos de 1970 sobre sustentabilidade da dívida pública que baseia a discussão atual. Por que o governo é tão grande e importante que muda tudo. É mais o menos na linha do que marechal explicou.

O que determina para onde vai a divida: crescimento do PIB; taxa de juros real (juros nominais menos expectativa de inflação); e resultado primário.

Crescimento do PIB porque aumenta a arrecadação e reduz a proporção do tamanho da dívida. Já que PIB cresce mais rápido que o estoque da divida. Quando tem recessão a relação dívida/PIB aumenta porque o PIB cai. Isso flutua ao longo tempo e deve. Porque é a forma do governo amortecer as flutuações de arrecadação e obrigações de gasto.

Taxa de juros real porque indica o custo. Isso significa que se tiver muita inflação implica na redução do custo da divida. Porque juros reais caem com custo real. No limite implica que pode reduzir o estoque de dívida já que está abatendo do montante e não precisa ser rolado. De forma mais geral, incorpora risco e capacidade de financiamento.

Em teoria, o governo só tem controle sobre resultado primário que é arrecadação tributaria e gasto real. Aí se o governo que estabilizar a dívida no longo prazo pode calibrar um resultado primário que estabilize a dívida. O que pode ser positivo por alguns anos, quando negativo. Ambos são aceitáveis e não significam o apocalipse. E se dívida é estável é possível alongar o perfil e reduzir os custos.

A diferença entre déficit nominal e primário está nessa conta. Essas relações mudam o tempo todo. Por exemplo, o Brasil da década de 2000 em que a situação era tão favorável (crescimento, resultado primário e juros reais baixos) que a divida bruta despencou. Desde 2014 está direção inversa e subindo. O estoque de dívida e direcionamento é discussão intergenerational que é muito tempo ou tempo infinito porque indica adiantar ou reduzir consumo entre gerações. Por exemplo, no caso do Brasil, a dívida atual, mesmo com uma calote branco, vai ser paga pela próxima geração ou a economia na década de 2020/2030. Seja pela inflação, juros mais altos, maior carga tributária ou menor capacidade do governo gastar. Ao contrário também é verdade.

Por fim, da onde sai a inflação pela política fiscal. O crescimento da dívida e os déficits nominal primário é a forma de expandir a base monetária e manter a demanda agregada por meio do gasto do governo, mas sem extrair renda da sociedade por meio de maiores impostos. A pressão da inflação tem via a demanda e instabilidade devido a desconfiança em relação a sustentabilidade da divida. Usada ponderadamente serve para estabilizar a economia, manter a inflação em nível baixo e positivo. Mas no limite alimenta a inflação persistente e começa o ciclo que pode levar a hiperinflação. O caso clássico da Alemanha e países da europa oriental que na década começaram a emitir dívida para manter funcionando. E explodiu na hiperinflação.
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Re: NOTÍCIAS POLÍTICAS

#25755 Mensagem por Sterrius » Qui Jun 21, 2018 2:01 pm

Outra diferença basica a divida do pai de familia pra governo.

È que o governo determina os juros que vai pagar, diferente de uma pessoa fisica que paga juros definidos por terceiros.

No caso, inflação e Selic.

Ambos podem ser esmagados com certa facilidade. Mas fazer isso obviamente reduz bastante a quantidade de grana que ta entrando.
mas bem menos do que um calote ou hiperinflação.
Trancado