Direita ou Esquerda: por quê?

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Matheus
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Re: Direita e/ou Esquerda

#16 Mensagem por Matheus » Seg Jun 04, 2018 1:54 pm

Acho que dizer que apenas a esquerda deseja a redução de desigualdades é uma grande bobagem. Direita e esquerda a desejam. A prosperidade econômica da nação como um todo é muito benéfico a elite. Vejam que banqueiros, grandes empresários, etc, nunca ganharam tanto dinheiro como na era Lula. A questão é que a esquerda defende a redução da desigualdade pela distribuição de renda, pelo estado grande, interventor. A direita, defende a redução através do desenvolvimento econômico, baseado num estado enxuto, que estimule a concorrência. Acho também que reduzir a direita atual àquela noção de clero+nobreza, que defende apenas os próprios privilégios, uma posição preconceituosa.

Eu tendo a me aproximar da direita "liberal conservative", que defende o individualismo em detrimento a coletividade forçada, o direito à propriedade, aos direitos individuais, o Estado Democrático de Direito e as instituições. Entendo que o Estado grande tende a ineficiência e a corrupção pela própria natureza humana. Deveria focar no básico: saúde, segurança, educação básica, administração tributária, justiça e defesa




nveras
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Re: Direita e/ou Esquerda

#17 Mensagem por nveras » Seg Jun 04, 2018 2:32 pm

De tudo o que está antes, e diga-se de passagem, muito bem dito, chego a conclusão que este país já é de esquerda, dada a intervenção do Estado em tudo o que fazemos.
Veja agora, por exemplo, o controle de preços do diesel nas bombas, coisa absurda, pois já deveríamos ter aprendido que não se controla preço na marra.
E vemos outros exemplos de intervenção estatal absurdas. A obrigação de msiturar alcool na gasolina, as cotas raciais, a proibição de portar arma, etc.
Ou seja, aos poucos o Estado tomou nossa liberdade, de consumidor, de empresário e de cidadão.
No fim, talvez isto explique a péssima situação econômica, ética e moral em que estamos metidos.




Não é nada meu. Não é nada meu. Excelência eu não tenho nada, isso é tudo de amigos meus.
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Bourne
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Re: Direita e/ou Esquerda

#18 Mensagem por Bourne » Seg Jun 04, 2018 2:33 pm

Só acho engraçado que tudo mundo é social-democrata. Quando na realidade só reflete o conceito de democracia liberal ocidental, que inclui: defesa de direitos individuais e civis. Isso quer dizer limitar a ação do estado, o aparelhamento pelas elites e forçar políticas de redistribuição e que elevem o bem-estar. Essa discussão está no contrato social lá do século XVIII quando hoje. A diferença é que o material atual usa metodologias e dados recente. No fundo quando se discute tributação e gasto, politica comercial e industrial tem relação com esses elementos.

Ou seja, não é social-democrata, não é de esquerda progressista e lacradora, mas sim defende a democracia liberal ocidental. Enquanto o "conservador ou liberal de direita" ou "esquerda revolucionária marxista" que não discute e defende esses pontos é autoritária com traços fascista que quer derrubar a estrutura dos governos ocidentais. Sob a estrutura de democracia liberal cabe tudo. Porque a delimitação de direitos, grau de interferência do estado na tributação e gastos, regulação e legislação possuem larga margem para discussão. E os resultados dependem das elites, sistema político e eleitoral, das preferências da sociedade, relações de poder que são elementos próprios de cada país ou local.

Os países são como grandes navios que não mudam de rota porque alguém foi iluminado e decidiu. Antes vai ter discussão e modificações para ser aprovado e como vai ser implementado. Não existe essa em um democracia liberal um partido bonzinho (de esquerda possivelmente) achou legal impor 40% de impostos, baseado em imposto de renda e propriedade, universalizar saúde, educação e construir infraestrutura. E o seguida vir o partido malvadão (de direita possivelmente) mudar tudo. Não é assim que funciona. Tudo é discutido, sofre resistências e modificações até que seja viável. E tende a persistir ao longo do tempo. Por exemplo, as cidades britânicas industriais do século XIX já tinha uns 20% de imposto sobre o produto local. Praticamente o mesmo nível de carga tributária de muitos países ao redor do mundo. A justificativa era que precisam de dinheiro para construir infraestrutura, ofertarem serviços públicos e não deixar as regiões industriais entrarem em colapso. Além de ser um sistema fortemente regionalizados com ligação direta do eleitor e política local. Os impostos incidiam sobre renda e propriedade que eram pagos por terem benefícios para os envolvidos.

Outro exemplo, nos EUA o Partido Democrata atual foi construído por Roosevelt e consolidado na década de 1960. Antes era o partido racista com membros que faziam parte da KKK, apoiava a segregação racional, favorável ao livre comércio e não tinha nenhuma simpatia por intervenção governamental. Até hoje existe uma grande rejeição ao partido democrata entre os negros e latinos por isso. Já o partido republicano comandou a construção da estrutura regulatória, maior imposto de renda e corporativo, gastos públicos em infraestrutura e defesa. Em especial, Theodore Roosevelt que bancou impostos sobre as empresas e encaminhou a reforma constitucional para viabilizar o imposto de renda nas décadas de 1900 e 1910. Os republicanos tinham uma visão mais sensível ao que seria uma democracia liberal e da igualdade. Ambos os partidos mudaram ao longo do tempo, especialmente entre as décadas de 1930 e 1960. O democrata virou simbolo dos liberais lacradores das estrelas de cinema. O republicano dos conservadores do interior e caipiras. Ainda que o comportamento do partido e dos membros não indique necessariamente a posição.

Não quer dizer que outros países da Ásia, Índia, Oriente Médio, China, Irã e até Rússia sejam autoritários malucos. A coisa funciona diferente. Simples assim. O sistema político, de decisões e como tratar o individuo e sociedade são diferentes. Não dá para colar o estado liberal ocidental no resto do mundo. Aliás, a esquerda e direita é um conceito ocidental e europeu que foi importado por outros países. Os países são muito diferentes.




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gusmano
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Re: Direita e/ou Esquerda

#19 Mensagem por gusmano » Seg Jun 04, 2018 5:35 pm

Simploriamente falando, existe uma infinidade de posições entre um extremo e outro. E acho que essa definição simples entre "esquerda X direita" é muito ruim para qualquer debate. De qualquer forma, eu me considero de centro esquerda.

abs




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Túlio
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Re: Direita ou Esquerda: por quê?

#20 Mensagem por Túlio » Seg Jun 04, 2018 9:05 pm

Algus escreveu: Dom Jun 03, 2018 3:11 pm Boa tarde.

Me baseio na definição de Norberto Bobbio sobre os conceitos de direita e esquerda.

A política de esquerda é aquela que visa combater a desigualdade social. Bolsa-família, cotas raciais/sociais e impostos progressivos são políticas de esquerda.
A política de direita é aquela que não se importa com a desigualde social, considerando-a natural ou até mesmo desejável para um bom funcionamento da sociedade (a desigualdade supostamente impele as pessoas a se esforçarem mais). Em resumo, defende uma sociedade hierarquizada.

Esquerda contemporânea normalmente defende Estado grande e políticas desenvolvimentistas, pois é através disso que podem combater a desigualdade, mas esta não é a característica principal, até porque existem ideologias de esquerda que defendem a abolição do Estado (ex: anarquismo, comunismo).
A direita contemporãnea normalmente defende Estado mínimo e mais "liberdade" à iniciativa privada para agir sem pressões que forcem a redução da margem de lucro das empresas (salários compensadores, impostos para custear programas sociais, preocupação ambiental etc), mas também não é uma regra. Singapura tem um Estado bastante interventor e é considerado de direita. Quase todas as ditaduras da América do Sul no século passado eram de direita.

A questão da desigualdade x hierarquização social é a única que parece explicar direita e esquerda contemporâneas e ainda fazer sentido com estes conceitos durante a Revolução Francesa. Na Revolução Francesa aqueles que se sentavam à esquerda no parlamento defendiam a redução dos benefícios que tinham o clero e a nobreza, tais como isenções ou reduções fiscais, tribunais específicos e maior representatividade no parlamento. A direita (clero e nobreza), justificava a manutenção dos seus privilégios por questões históricas/tradicionais e religiosas (a nobreza foi a fundadora e defensora da nação, o clero justificava seus privilégios por executarem a obra de deus). O que muda em relação à direita atual é a justificativa para a obtenção dos privilégios. Se antes a tradição e a religião imperavam, hoje é a tradição e a meritocracia. Sim, a tradição se mantém através do direito à herança. Para nós parece óbvio que nossos filhos fiquem com tudo que acumulamos e faz tanto sentido quanto fazia à nobreza que seus filhos detivessem os privilégios que sua família mereceu por terem salvado a nação e auxiliado o rei incontáveis vezes. Falo de privilégios porque, sendo de esquerda, é exatamente desta forma que vejo as coisas. Por exemplo, nossa constituição garante a todos o direito à ampla defesa, o direito de não sermos condenados sem julgamento, o direito de termos um advogado que nos defenda. Mas quem tem dinheiro pode ter vários e os melhores advogados. Embora a lei seja para todos, ela tende a favorecer aquele que tem mais dinheiro. Se a pessoa tem dinheiro porque é competente ou se teve a sorte de ter nascido em berço de ouro não me interessa. Não me interessa o mérito, do meu ponto de vista se trata de um privilégio não muito diferente do que a nobreza tinha há 200 anos.

Se a combate à desigualdade caracteriza a esquerda, a extrema esquerda vai além e almeja a erradicação da desigualdade. Este é o ponto em comum que une anarquismo, socialismo e comunismo.
A direita justifica a desigualdade pelo esforço/competência das pessoas. Os mais competentes ou, na visão de Mises, os que se conseguem atender melhor as necessidades do mercado devem ascender socialmente, ou seja, a hierarquização é sobretudo fruto do esforço individual. Já para a extrema direita, a hierarquização social - apesar de também ter relação com o esforço pessoal - é sobretudo inerente à própria natureza do indivíduo. Existem aqueles que são naturalmente competentes, naturalmente superiores, e aqueles que são naturalmente inferiores. É por isso que o nazismo é caracterizado como de extrema direita.

Tem um exemplo que demonstra bem isso:
Temos o anarquismo e o anarcocapitalismo. Ambos defendem o fim do Estado, mas o anarquismo defende também o fim da propriedade privada dos meios de produção e do capitalismo, pois acredita que estes três pilares possibilitam a desigualdade social. Já o anarcocapitalismo defende apenas o fim do Estado e por um motivo totalmente diferente: O Estado intervere negativamente nas relações entre os indivíduos, ele impede o livre comércio e suas intervenções, mesmo com bons propósitos, geram distorções que supostamente só pioram as relações entre os indivíduos. O anarcocapitalismo não vê problema na desigualdade social, muito pelo contrário, ela é antes de tudo uma forma de incentivo às pessoas de sempre tentarem o seu melhor. Inclusive acredita que nada realmente precisa ser feito para salvar aqueles que mais necessitam. Se determinados grupos sociais estiverem literalmente morrendo de fome, cada cidadão deve se organizar voluntariamente para ajudá-los, se ninguém quiser ajudar fica por isso mesmo e eles morrem de fome.

Apesar de ambos defenderem o fim do Estado, anarquismo é uma ideologia de esquerda e anarcocapitalismo é uma ideologia de direita.

EDIT: Me considero de esquerda, social democrata.
Buenas

Para começar com franqueza, devo dizer que não estou acostumado a debater contigo, assim desconheço tuas áreas de expertise mas me permitas te expor uma das minhas: também dei meu passeio pelos bancos universitários e o curso era Direito. Bueno, minha primeira aula do primeiro semestre foi numa segunda-feira quente como o inferno em março e a cátedra era chamada TGE (Teoria Geral do Estado); com esta sigla ou outra todo mundo tem que passar por ela e, ao menos numa Universidade realmente prestigiada, não tem como não exigirem...Bobbio! Honestamente, foram dois mas me disseram que tive sorte porque o cara escrevia mais do que o Justiniano :mrgreen: , era livro em cima de livro. Faz décadas mas lembro de bastante coisa e uma que não lembro é a que disseste, assim, para ser justo, poderias me indicar qual livro? Quem de fato leu Bobbio sabe que é muito mais interessante do que Marx, com seus infinitos exemplos e repetições ("O Capital" me parece um livro escrito para gente de pouquíssima capacidade de compreensão; para quem a tem em maior grau deveria haver uma versão com ~ 1/4 do tamanho e não perderia nada do muito de bom e interessante que tem ali, embora neste século tenha perdido parte de sua importância prática - sempre a meu ver, claro - porque foi escrito à luz da Revolução Industrial que, na parte desenvolvida do mundo, começa a perder cada vez mais ímpeto com a crescente simbiose entre a Automação e a Informática, sendo uma das consequências que o setor de Serviços é o que mais cresce), já que uma das características do signore Norberto Bobbio é a clareza do texto, indo direto ao ponto, ao invés de se perder em um cemitério de circunlóquios e metáforas muitas vezes vazias. Pelo que recordo, ele verberava tanto contra o marxismo quanto contra o fascismo, que era o regime vigente em sua própria terra, o que me leva a crer que não louvava nem "esquerda" nem "direita", ao menos como aprendi a entender os conceitos (e que parecem não valer mais, tanto que criei este tópico e continuo confuso). Ainda sobre Bobbio e Direito, me foi dito na UNISC - campus Santa Cruz do Sul - que não passaria um único semestre sem que eu tivesse que ler ou reler algo dele mas, como naquele tempo curso superior era realmente coisa ou de quem tinha "bala na agulha" ou de cara que quer provar alguma coisa, e como nenhum dos dois era o meu caso, proleta mas seguro de mim mesmo, acabei saindo porque não me via exercendo qualquer profissão onde Direito é necessário. Claro, o dinheiro é melhor mas sem verdadeiros desafios profissão alguma vale a pena, além do que fui "projetado" para jamais abrir mão de meu porte de arma, de estar na chamada "linha de frente" e de permanecer no RS até bater as botas. Isso elimina simplesmente todas as profissões quer poderiam me interessar, como Agente Federal, p ex.

De qualquer modo, como saí antes de completar o curso (fui até o fim em muito pouca coisa na vida e apenas uma de longo prazo - minha profissão, AP - incluindo dois casamentos), poderias me indicar qual livro de Bobbio eu deveria ler para acreditar na dicotomia a ele atribuída e que me fez sair catando as bolas pelo chão de tão espantado? Porque não é o que li escrito por ele ou mesmo sobre ele, em outros livros. Aliás, me proporcionou lições de vida que aplico até hoje, mesmo uma que uso muito como Moderador aqui no DB: não tem Cristo que me faça lembrar do nome do livro - é um montão, POWS!!! - mas li umas proposições muito legais dele, sendo a que me refiro aplicável a uma coisa muito comum, aquela do Colega que ataca outro, direta ou indiretamente, e depois se esconde atrás da bendita liberdade de expressão. Pois Bobbio - e digo em minhas palavras, porque realmente não lembro mais (e nem achei na net) do texto exato, propõe uma situação em que dois dos que ele chama Direitos Fundamentais (ao menos na tradução que li), quais sejam a dita liberdade de expressão e a liberdade de não ser atacado com abuso dela, e cuja resposta fundamenta grande parte do Direito Criminal no mundo todo, porque não nos expressamos apenas por palavras mas também por ações (é uma das arapucas mais comuns do curso de Direito, o Acadêmico acreditar que esta parte de Bobbio fundamente apenas os chamados "crimes contra a honra" e não os contra a vida, liberdade, incolumidade física, sexuais, etc). Sobre isso reitero que aprendi em sala de aula e não na Wikipédia, tri? Alguém que cursou Direito, por favor, me refute de maneira fundamentada, se discordar. Assim, não vi nada em Bobbio que autorize alguém a defini-lo como "de esquerda", exceto se o "critério" para isso for apenas não ser "de direita". O cara era Legalista até a medula, não viveria bem em lugar algum no qual o Estado de Direito tivesse sido suprimido. Como uma certa contemporânea da Itália fascista de Mussolini, a URSS "socialista" de Stálin...

Bueno, peço perdão por o post ter ficado bem mais longo do que eu gostaria mas compreendam, véio tem disso, começa a fazer digressões e aí deu pra bola. De qualquer modo, lendo com cuidado, vejo que terei que mudar o título do tópico, porque a última coisa que vou querer é ver outro "esquerda" vs "direita" e pensei ter deixado isso claro no post de abertura. O que me interessa saber é quem se considera "de esquerda" ou "de direita" e o porquê disso, me interessa como Ser Humano, não como Moderador e asseguro que ninguém sofrerá qualquer represália por ser "isso" ou "aquilo", pois considero como o que Bobbio chamaria de Direito Fundamental. Acredito ainda que todos nós poderíamos aprender muito sobre os Colegas e sobre nós mesmos se as respostas, ao invés de "camufladas" - e o @Bourne chamou a atenção para isso, depois vem me pagar que é disléxico :twisted: - como "social-democrata" ou algo assim. Vamos ser francos, POWS!!!

PS.: eu ia botar minha visão atual sobre o Estado mas ficou muito comprido, deixo para uma próxima ocasião.




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Re: Direita ou Esquerda: por quê?

#21 Mensagem por Bourne » Seg Jun 04, 2018 10:44 pm

A discussão sobre desigualdade não tem um caráter de esquerda ou direita. Na verdade ele toma esse caráter quando foi importando para os EUA. Porque a sociedade e economia norte-americana é extremamente elitista e segregacionista. Explico a partir da educação em duas partes.

Primeira parte: educação fundamental

A educação fundamental é estatal com responsabilidade dos governos locais. O problema é que existe muito heterogeneidade na qualidade do ensino. Os bairros ricos possuem melhores escolas, professores e infraestrutura. O mesmo ocorre para cidades pequenas mais ricas. Os alunos que saem dessas instituições têm melhores condições para ir para faculdade, se posicionar no mercado de trabalho, ocupar posições na burocracia, setor privado e forças armadas entre outros. Seja por terem o melhor preparo, se darem bem processos seletivos e ótimos contatos ou serem atletas. É o perfil de quem vai para faculdade, tem crédito e se beneficia da integração norte-americana com o mundo.

Os bairros pobres ou cidades em decadência como do meio oeste são excluídos. Porque tem colégios ruins, professores e estrutura sofrível. Esse pessoal são imigrantes de primeira ou segunda geração que fazem trabalho braçal. Ou brancos pobres ou que ficaram pobres com transferência das industriais de média e baixa tecnologia para outros países, sofrem a concorrência com os imigrantes que fazem o mesmo trabalho por menos. Para eles o sonho americano morreu. Desse meio que surge o "John Smith" que opera empilhadeira no interior do Nebrasca, casou com a namorada de colégio e reza para não perder o emprego. Hoje não tem crédito para comprar casa e ganha menos que as gerações passadas.

Só no ensino básico já excluí uma porcentagem enorme de gente. Aqueles que eram mais esforçados de colégios ruim são desconsiderados. Enquanto os que estão no primeiro grupo podem ir para faculdade ou fazer curso técnico, montarem seus negócios, serem a mão de obra para setor público e privado, terem maior renda. Só que não são necessariamente os melhores ou que mereciam.

Segunda parte: faculdade

Do primeiro grupo que pode ir para faculdade nem todos irão. Porque as vagas são limitadas e realmente diferenciadas são umas 20 ou 30 que foram a elite do país. Para entrar nelas precisa ter alguma dessas coisas:

:arrow: Aluno sensacional com 10, 10 e 10 no histórico em bom colégio
:arrow: Ter bons contados com já formados que vão recomendar
:arrow: Ter dinheiro para pagar. Já que mesmo as públicas estaduais e fundações cobram caro
:arrow: Ser atleta

O aluno da elite milionária ou bilionária vai conseguir a vaga em qualquer curso. Porque tem dinheiro, contados e frequentou bons colégios públicos ou privados. Já o da classe média ou média alta se vira para pagar ou arranjar bolsa ou entrar no financiamento de longo prazo. A maioria dos aluno está no segundo grupo. Isto é, o aluno vai financiar os mensalidade, se mantar quatro ou cinco anos na faculdade, depois tem dívida para pagar nos próximo 20 ou 30 anos. Se der tudo certo, pode pagar. Se não vira inadimplente como boa parte atualmente após a crise de 2007/2008.

O resultado é que criou uma enorme desigualdade. De um lado, os alunos norte-americanos nas instituições top-20 ou top-30 são ruins. Longe de serem os melhores disponíveis. De outro, quando chaga na pós-graduação (doutorado) para formar novos pesquisadores, gente altamente especializada para atuar na academia, setor privado ou público precisam importar alunos. A participação de estrangeiros nas universidades nortes-americanas é enorme. Assim como nas empresas privadas e centros de pesquisa.

E o resultado?

Primeiro, todo sistema educacional ajuda a preservar a estrutura de elites e acentuar a concentração de renda. Quem é de fora não entra ou tem uma enorme dificuldade. O "John Smith" que opera empilhadeira no Nebrasca, se não morrer com overdose de opiáceos, vai ver o filho fazendo a mesma coisa. E o pior que possivelmente vai ter um nível de vida ainda mais baixo. Já o aluno que saiu de Harvard ou Princeton vai ter que pagar o financiamento estudantil, mas pode ficar milionário com ótimo trabalho na California. Em outros casos, especialmente os milionários ou que já fazem parte da alta burocracia estatal, assumir os negócios da família, montar seu próprio, ser congressista, governador ou presidente.

Aliás, essas paradas de "millenniums" não tem sentido para 95% da população norte-americana. Já que boa parte não está na universidade ou é subempregada. Os que estão têm pesadelos de como pagar os empréstimos e vão virar noites de trabalho para conseguir o mesmo nível de vida dos país. Ou são imigrantes e pobres que romperam com elitismo e estão trincados para construir patrimônio e tirar o resto da família da pobreza.

Segundo, o sistema de saúde público e previdência não é universal e acentua a desigualdade. No dia em que o "John Smith" tiver câncer ou algum problema crônico em que pode mais trabalhar o governo deixa ele na rua da amargura. Não vai morrer de fome. Mas vai ter uma redução substancial na qualidade de vida.

Terceiro, o sistema é tão bizarro que hoje boa parte do serviço público, forças armadas e trabalhos no setor privados são dominados por imigrantes. Inclusive com gente nascido fora dos EUA. Por exemplo, o pessoal da Europa oriental toma as posições de segurança, fiscalização, cargos técnicos médio, caminhoneiro e operador de máquinas, etc... Porque eles tem uma educação de qualidade muito superior em relação aos norte-americanos.

E nos outros países?

Basicamente renegam esse modelo norte-americano como bizarro. Na Europa em especial, existe rede de assistência de saúde, social e previdência universal para garantir o mínimo de bem-estar aos cidadãos. Ao mesmo tempo programas de transferência de renda pela tributação e os gastos para manter essa estrutura. Além disso, a seleção de estudantes para ensino superior é mais democrático e buscar encontrar os mais esforçados e com potencial. Às vezes os sistemas podem ser cruéis como na Alemanha, mas funcionam. Mesmo onde cobram, tem mensalidade subsidiada.

E digo mais, o acesso ao ensino superior no Brasil não é tão elitista. Ao contrário. A classe média baixa é possível entrar em cursos de instituições nacionais renomadas. O problema é estudar para vestibular/enem e a dedicação ao curso. O que de alguma forma permite que gente de fora da elite obtenha qualificação, faça contatos, e tenha condições de assumir posições no setor privado, universidades e setor público.

------------------------------------------

Aliás, programas sociais, transferência de renda, universalizar a educação, igualdade de oportunidade são conceitos liberais e de uma democracia liberal. A diferença é a graduação e como se concilia esses pontos.

Já os carinhas da Alt-right ou esquerda revolucionária são contra essas coisas. A alt-right norte-americana é tão bizarra que não cultura que reflete o sistema educacional. Ela se descola totalmente da tradição da direita liberal e da discussões do partido republicano. É um fenômeno totalmente diferente. Enquanto a europeia busca de fato fundamentar as posições e conversar com mainstream.




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Re: Direita ou Esquerda: por quê?

#22 Mensagem por LeandroGCard » Qua Jun 06, 2018 12:47 pm

Túlio escreveu: Seg Jun 04, 2018 9:05 pm Faz décadas mas lembro de bastante coisa e uma que não lembro é a que disseste, assim, para ser justo, poderias me indicar qual livro?
http://consciencia.blog.br/2014/09/rese ... obbio.html


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Re: Direita ou Esquerda: por quê?

#23 Mensagem por Túlio » Qua Jun 06, 2018 3:36 pm

LeandroGCard escreveu: Qua Jun 06, 2018 12:47 pm
Túlio escreveu: Seg Jun 04, 2018 9:05 pm Faz décadas mas lembro de bastante coisa e uma que não lembro é a que disseste, assim, para ser justo, poderias me indicar qual livro?
http://consciencia.blog.br/2014/09/rese ... obbio.html


Leandro G. Card
Tks, camarada Leandro! :twisted: :twisted: :twisted: :twisted:

A resenha foi muito bem feita mas vou ter mesmo que comprar o livro (afinal, uma resenha é a opinião de alguém sobre a opinião de alguém; por mais que me agrade, prefiro formar a minha, além de, como já afirmei acima, ler Bobbio é um grande prazer). De qualquer modo, e apenas com base no texto que indicaste, creio que eu, Túlio, deveria me definir como centro-direita (mas isso me parece camuflagem porque a pergunta não é essa, assim, se tenho mesmo que escolher um "lado", então que seja, me autoproclamo como sendo provavelmente DE DIREITA*), mesmo que no diagrama citado na resenha - e que já apareceu aqui no DB, como tópico, inclusive - parece que saí como centro-esquerda, o que me deixou meio confuso. Como perguntado no tópico, não basta dizer O QUÊ mas também O PORQUÊ:

Bueno, a meu ver o Estado tem seu papel (e é importante) mas deve ser contido sempre que sua concorrência com a iniciativa privada for monopolista¹ ou mesmo oligopolista. Estado não tem que ter banco de varejo tipo BB, Caixa, Banrisul (é o Central e talvez algum de fomento, tipo BNDES, apesar do seu histórico desabonatório, e fim), mineradora, siderúrgica & quetales e sim órgãos de Regulamentação/Regulação e Fiscalização/Arrecadação. Ou seja, deve impor regras e controles e a partir daí fiscalizá-los, além de arrecadar. O resto é com a iniciativa privada, daí eu ser favorável a praticamente toda privatização, a ponto de não cair nessa lorota de "nossa Petrobrás": qual "nossa", cara-pálida? Acaso posso ir a um posto, abastecer e não pagar porque sou um dos que já pagam para isso existir? Alguém me repassa dividendo? Então não é "nossa", é deles!

Estado, a meu ver, deve estar presente - como concorrente, servindo idealmente como "fiel da balança" - na Saúde, Educação (até o EM, porque em Universidade pública a coisa mais braba de achar é pobre estudando, a esmagadora maioria que estuda ali pode pagar para estudar onde quiser) Previdência e Infraestrutura; como monopolista, na Governação, que se traduz em Segurança (aqui talvez apenas parcialmente, pois creio que uma parte bem razoável do Sistema Prisional, bem como outras áreas da SegPub, poderia ser privatizada²) Pública, Defesa, Legislação, Justiça e, como já dito, Regulação (serviços como o Sistema Bancário e Financeiro, p ex, que se deixados por conta própria quebram qualquer País), Fiscalização e Arrecadação. Passou daí já me parece excesso.

Sobre a questão social, sou contra as "bolsas" - e aqui entra uma curiosidade: me considero Keynesiano, ao menos em parte, mas apenas por ter lido sobre alegados resultados de suas ideias (New Deal), porque jamais li um só livro de JMK, está na lista mas não sei qual título seria mais interessante para começar - pela sua falta de sustentabilidade. Não se pode extrair o infinito daquilo que é finito e o crescimento da quantidade de pessoas necessitadas sempre será maior do que o daquelas que não o são e ainda têm que sustentar, além de si próprias, aquelas do primeiro grupo. O desequilíbrio será inevitável e, prosseguindo assim, catastrófico para todos. Roosevelt pelo menos fazia as pessoas trabalharem para receber o dinheiro do Estado - ou seja, "cumpra primeiro o Dever para só então ter acesso ao Direito" - o que tinha o condão de, tão logo os empregos aparecessem, largassem da teta dos cofres públicos e se incorporassem ao mercado "normal" de trabalho. Também discordo disso de "cotas raciais" - o que, convenhamos, é puro racismo - por descrer que algumas pessoas, pela simples cor da pele, sejam mais humanas e aptas à sobrevivência do que as outras, dentro das mesmas condições objetivas. O resto me parece coitadismo de quem não está nem aí para progredir e, principalmente, de quem usa pessoas assim como mera massa de manobra.

As supramencionadas condições objetivas, no entanto, deveriam ser criadas pelo mesmo Estado, ao menos até não haver mais diferença significativa: não há igualdade de oportunidade quando uma pessoa "bem nascida" tem acesso a um tipo muito bom de Educação e outra, "mal nascida", tem que se contentar com outro inferior ou mesmo nenhum; sem querer partidarizar, reconheço aí um grande mérito do tão execrado - e com razão, mas por outros motivos - PT, que, sempre a meu ver (mas acho brabo de contrariar) realmente democratizou o acesso ao Ensino Superior, mesmo que com o custo de uma expansão desenfreada e desregulada da oferta, a ponto de grande parte dos formandos, ao invés de buscar um emprego na área em que estudou por anos, sair "papirando" para concurso público (o que eu vi de AP formado(a) em áreas como Direito, Psicologia, Engenharia e até :shock: Medicina :shock: não tá no gibi, e faziam o mesmo serviço que eu), tale a pobreza da instrução recebida em instituição "caça-níqueis", e que os(as) impede de competir no mercado de trabalho com quem estudou desde criança em escola particular e depois ainda teve tempo e dinheiro do papai e da mamãe para fazer cursinho e a tale de imersão, caminho reto e certo para uma Federal ou mesmo particular mas "de elite". Sério que um cara com um diplominha da ULBRA (PQP, quem não sabe a fria que é?) tem como encarar um da UFSM para trainee de uma multinacional? Bobear e nem passa da primeira entrevista...

Tem muito mais mas creio que já dei algumas razões, o post encompridou (para variar :roll: ).

* - Uma das minhas maiores dificuldades em me declarar "de direita" é a questão religiosa: se supõe que uma pessoa assim seja religiosa (fundamentalista até, como bem sabes) e não é meu caso, sequer Cristão eu sou, me limito a acreditar em Deus por falta de explicação melhor para o porquê de existir um Universo e nele pessoas capazes de fazer esta pergunta...

1 - Exceto se não houver empresário disposto a investir em determinada área. Como exemplo, sem a ação direta do Estado não existiria EMBRAER ou CVRD; quando já atrativa$, foram corretamente privatizadas. Assim deveria ser com Petrobrás, BB, & quetales.

2 - Uma triagem bem feita mostraria que - e todo mundo aqui sabe que não falo de ler na Wikipédia - tem mais preso disposto a trabalhar do que vago "só pela pedra"; era empresário investir em cadeia bem desenhada/construída e pessoal de bom nível e ganhar por dois lados, a "mesada" do governo e os lucros do que a mão de obra prisional produziria; ações hoje executadas pelas Polícias e Guardas Municipais poderiam também ser privatizadas, como serviços de segurança patrimonial, residencial e até pessoal (que já existem, inclusive, mas esbarram na falta de status, seu trabalho pode ser prejudicado e até impedido por qualquer um com um simples "carteiraço"). Este tipo de atividade deveria ser contemplado com legislação específica, impedindo a Polícia de atrapalhar, eis que boa parte é uma espécie de feudo de Policiais e APs da ativa e/ou aposentados.




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Re: Direita ou Esquerda: por quê?

#24 Mensagem por gabriel219 » Qui Jun 07, 2018 6:59 pm

Mas pra ser de direita não precisa ser religioso, há muitos direitistas ateus e que falam que são ateus abertamente.

O problema do ensino superior público possuir muito mais ricos é devido ao ensino público básico ser um lixo, mas muitos tem problema em admitir isso e acha que cota resolve tudo.

É o mesmo quando vem aquilo de "Homem ganha mais que Mulheres", sem considerar tempo de trabalho e muito menos á função.

Recentemente houve experimentos sociais na escandinávia á respeito disso, em tentar forçar uma igualdade e o que resultado foi totalmente o contrário.

Esse é o problema que vejo em grande parte da esquerda, tentar tornar as pessoas iguais e não trata-las iguais perante leis. Nisso há um abismo enorme de diferença.




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Re: Direita ou Esquerda: por quê?

#25 Mensagem por Wingate » Qui Jun 07, 2018 7:40 pm

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Re: Direita ou Esquerda: por quê?

#26 Mensagem por Túlio » Qui Jun 07, 2018 7:48 pm

E aí temos outro problema que vejo em me declarar "de direita": não tenho nenhuma treta com quem é "de esquerda" apenas por sê-lo e sim quando começa a viajar. Pior, tenho o mesmo com os "de direita", CREDO, parece crente, mal vê a gente e, se correspondemos a um singelo "bom dia", lá vem o véio "o senhor tem um minutinho para conhecer O Verdadeiro Cristo?" e já era, hora da conversão.

POWS, é tão errado assim não querer ser fundamentalista? É tão insuportável ter que conviver com quem paga as próprias contas e que, portanto, não se vê na obrigação de baixar a cabeça e dobrar o joelho para algum Messias ou alguma Verdade Fundamental? Somos Humanos, logo, somos diferentes, por que diabos temos que ser iguais? Quem mandou?

Sodas... :roll: :roll: :roll: :roll:




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Re: Direita ou Esquerda: por quê?

#27 Mensagem por Marcelo Ponciano » Sex Jun 08, 2018 7:53 pm

Longe de pretender dar uma resposta absoluta, vou contribuir com o tópico com o meu entendimento sobre direita e esquerda.

Primeiramente entendo que a definição do que é direita e esquersa depende do contexto histórico de um dado tempo.

Observe, por exemplo, que Getúlio Vargas era um político de direita, prendeu e perseguiu comunistas, e no entanto é chamado de Pai dos Pobres e da CLT. Hoje o legado de Vargas é defendido por unhas e dentes pela esquerda Brasileira. Indago, por quê?

O mesmo vale para algumas políticas econômicas. Muito do que a esquerda defende hoje é idêntico ao New Deal americano criado para enfrentar a crise de 1929. Alguém aqui é louco de acusar os americanos de esquerdistas? A dúvida é, por que isso ocorre?

Vou usar um filósofo cujo pensamento foi o fundamento usado por Karl Marx, mas esclareço desde ja que não sou marxista.

O filósofo alemão Hegel interpreta toda a realidade a partir de três fases que hoje são chamadas de Dialética Hegeliana: tese, antítese e síntese. Toda realidade primeiro se apresenta, depois se nega, daí surge uma terceira via.

Karl Marx usa a dialética hegeliana para explicar a luta de classes. Donos do capital (tese) luta contra a classe operária (antítese), surgindo daí uma síntese que para ele seria o socialismo.

Para mim, Karl Marx acerta nas premissas e erra na conclusão. De fato existe uma oposição de tese e antítese entre donos de capital e trabalhdores, mas dela não necessariamente surgirá o socialismo. E foi juntamente o que aconteceu.

No Brasil e na maior parte do mundo ocidental o capitalismo reagiu e concedeu benefícios à classe trabalhadora, e esta por sua vez se contentou com esses benéficos. É justamente o caso da CLT e da política econômica intervencionista.

A síntese da luta entre tese e antítese não foi necessariamente o socialismo previsto por Marx, mas sim um capitalismo concessivo.

Até a esquerda adotou essa nova síntese e passou a defender ela.

Ser de esquerda na década de 30 a 50 era defender o comunismo e destruição da propriedade privada. Essa esquerda odiava a CLT e as políticas econômicas intervencionistas e protetivas do trabalho.

Ser de esquerda hoje é defender a CLT e o intervencionismo e a proteção do trabalho.

Hegel previu esse fenômeno. A síntese se tornará a nova tese, e em dado momento histórico encontrará uma nova antítese, da qual surgirá uma nova síntese. O erro de Marx foi tentar prever a síntese, pois as possibilidades são quase infinitas.

Esclareço que nunca li as fontes originais. Não li os livros de Hegel e nem de Marx. Mas estudei muito filosofia e ciências políticas por fontes indiretas, uma vez que minha formação acadêmica englobou essas matérias na grade curricular. Por ter estudado esses temas por fontes indiretas é possível que eu esteja enganado em algum ponto. Faço esse esclarecimento pois é possível que algum forista aqui tenha estudado mais do que eu e lido os "originais" por assim dizer, razão pela qual deixo claro que posso estar enganado.

Concluo, portanto, que a definição de esquerda ou direita depende de qual ponto estamos na história.

Particularmente me defino de esquerda (defendo a CLT ea intervenção do Estado), até que surja a síntese que me supere e prove que estou errado, dando uma solução melhor para os desafios modernos, quando então com humildade me alinharei com a nova síntese em nome do progresso histórico.

Saudações.




Tudo estaria perdido se o mesmo homem, ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres, ou do povo exercesse os três poderes: o de fazer as leis, o de executar as resoluções públicas e o de julgar. (MONTESQUIEU. O Espírito das Leis. Livro XI, Cap. VI)
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Re: Direita ou Esquerda: por quê?

#28 Mensagem por gingerfish » Dom Jun 17, 2018 2:17 am

E o que seria, formalmente, a direita e esquerda no contexto específico da segurança pública, o que eles pensam com relação a direitos humanos fundamentais, 'truculência' etc?




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Re: Direita ou Esquerda: por quê?

#29 Mensagem por P44 » Dom Jun 17, 2018 7:43 am

Os de direita sao todos uns cabroins que querem enriquecer a todo o custo, roubando aos pobres.

Podem fechar o tópico.




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Re: Direita ou Esquerda: por quê?

#30 Mensagem por Túlio » Dom Jun 17, 2018 8:23 am

P44 escreveu: Dom Jun 17, 2018 7:43 am Os de direita sao todos uns cabroins que querem enriquecer a todo o custo, roubando aos pobres.

Podem fechar o tópico.

Isso é ATENTADO A IDOSO E ANIMAIS, seu COMUNAZZZ!!!

Li esse treco e ri tão alto que a cachorrada enlouqueceu, POWS!!!

Oito e pouco da manhã de domingo, acho que só EU estava acordado num raio de uns dez km, dae acordei todo mundo, acho QUE VOU APANHAR. [003] [003] [003] [003]




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