Brasil como segunda força do Hemisfério Ocidental?

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FCarvalho
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Re: Brasil como segunda força do Hemisfério Ocidental?

#16 Mensagem por FCarvalho » Qui Jun 09, 2016 3:51 pm

Wingate escreveu:
joaolx escreveu: Sim e o resto do globo ia mesmo deixar isso acontecer :wink: Isso parece o mundo de Tordesilhas em que portugueses e espanhóis dividiram o mundo entre si :D
É óbvio que falei "teoricamente". :) Porém, um tratado mútuo de defesa entre Brasil e África do Sul seria interessante, até para o maior desenvolvimento, em comum, de materiais de defesa.
Wingate
Creio que este link deve ajudar a esclarecer o fato da importância que tem em sermos capazes de "fechar o Atlântico Sul".

Missão e Visão de Futuro

:: Missão

"Preparar e empregar o Poder Naval, a fim de contribuir para a defesa da Pátria. Estar pronta para atuar na garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem; atuar em ações sob a égide de organismos internacionais e em apoio à política externa do País; e cumprir as atribuições subsidiárias previstas em Lei, com ênfase naquelas relacionadas à Autoridade Marítima, a fim de contribuir para a salvaguarda dos interesses nacionais".

:: Visão de Futuro

"A Marinha do Brasil será uma Força moderna, equilibrada e balanceada, e deverá dispor de meios navais, aeronavais e de fuzileiros navais compatíveis com a inserção político-estratégica do nosso País no cenário internacional e, em sintonia com os anseios da sociedade brasileira, estará permanentemente pronta para atuar no mar e em águas interiores, de forma singular ou conjunta, de modo a atender aos propósitos estatuídos na sua missão".


https://www.marinha.mil.br/content/miss ... -de-futuro

O exércicio de tais missões e visão de futuro, dispõe sobre a capacitação efetiva e real da MB em executar com integralidade e equilíbrio as quatro missões do poder naval quais sejam:

1. Projeção de poder (mar e terra);
2. Controle de Área Marítima;
3. Negação do uso do mar; e
4. Defesa dos interesses estratégicos do país no exterior.

Isso, em maior ou menor perspectiva significa que temos de ser capazes de nos impor (politica, econômica e militarmente) no espaço geográfico do Atlântico Sul. Em linhas resumidas, "ninguém entra e ninguém sai" sem nos sabermos, ou "permitirmos".

Em todo caso, para fazer tudo isso, o PEAMB na sua íntegra teria de ser realizado respeitando todo o seu cronograma de investumentos e o SIGAAZ estar funcionado a pleno.

Com exceção da US Navy, teríamos condições de reconhecer e controlar, invariavelmente, o trânsito das rotas comerciais, e militar no AS, e mesmo apor resistência, quando necessário.

Mas tudo isso claro, se tivéssemos à altura de tal empreendimento estratégico neste século XXI, assim como Portugal e Espanha, tendo condições ou não, empreenderam no sec XVI.

abs.




Um mal é um mal. Menor, maior, médio, tanto faz… As proporções são convencionadas e as fronteiras, imprecisas. Não sou um santo eremita e não pratiquei apenas o bem ao longo de minha vida. Mas, se me couber escolher entre dois males, prefiro abster-me por completo da escolha.
A. Sapkowski
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Re: Brasil como segunda força do Hemisfério Ocidental?

#17 Mensagem por ricardogf » Sáb Jun 11, 2016 8:19 am

Túlio escreveu:
Buenas, Ricardo

Vou tentar expor minha posição por pontos. Assim:

:arrow: Deveríamos em primeiro lugar estabelecer como se define o que é "potência". Se é pela qualidade ou quantidade/disponibilidade das tropas, dos equipamentos ou o quê. Não compreendi inteiramente quais os critérios usados pelo GFP - Site que nem conhecia, aliás - mas uma rápida olhada, com eles nos colocando em 1º lugar na América do Sul pareceu usar, entre seus pontos-chave, a existência de um NAe que apenas existe mas não está e dificilmente estará algum dia novamente operacional. Ademais, números simples dizem pouco, não faz muita diferença ter, no papel, trocentos navios ou aviões mas no ar e no mar há apenas um punhado em operação e são todos obsoletos/obsolescentes. Idem em terra, ao que somamos um grande Exército composto sobretudo por conscritos e sem qualquer experiência real em conflitos desde a 2GM. E nem falei na capacidade industrial que, no nosso caso, está em eterna decadência: qual a capacidade que temos de manter as FFAA em operação apenas com a BID? Praticamente ZERO! Para manter o foco apenas no hemisfério sul, os números apenas podem nos mostrar quantitativamente como muito mais fortes do que a África do Sul mas basta analisar com calma e ver que eles têm experiências bem mais recentes de combate e uma BID incomparavelmente melhor e mais capaz. E experiência em se virar quando sob embargo (durante o Apartheid chegaram e reconstruir seus Mirage III como Cheetah, com o apoio de Israel, devido precisamente aos embargos internacionais). Se restringirmos apenas à América do Sul, fica complicado comparar Leo1 e M-60 com Leo 2, F-16 com F-5, Niterói e T-22 com T-23, Scorpéne com IKL e conscritos com soldados em crescente profissionalização que o Chile (em :shock: sexto :shock: lugar na lista) tem. Entramos aí em uma série de dicotomias entre qualidade vs quantidade, meios modernos vs meios antigos, meios operacionais vs meios indisponíveis (como o citado NAe), efetivo maior (mas de conscritos) vs efetivo menor (mas de profissionais) e por aí vai. Não se trata de mera "viralatice" nem de seu oposto, a patriotada ufanística, e sim de ser realista e encarar de frente o que realmente temos e como usamos (se é que usamos). Assim, meu juízo pessoal sobre a metodologia empregada pelo Site em apreço é um bocado desfavorável.

:arrow: Não há (nem vai haver, ao menos no futuro previsível) hipótese que sustente um cenário de conflito na América do Sul sem considerar algum envolvimento, político e/ou econômico e/ou militar dos EUA. Mesmo no caso das Falklands ficou claro que houve apoio Americano à Inglaterra, tendo inclusive sido este o começo do fim do TIAR, que hoje é apenas um pedaço de papel sem valor real. Não há potência em parte alguma do planeta (muito menos aqui na região) com capacidade de desafiar a US Navy no Atlântico Sul. Sobre isto basta saber que um único CVN concentra maior capacidade de projeção de poder aéreo do que qualquer País Sul-Americano dispõe e uma única de suas Frotas pode mandar para o fundo qualquer coisa que Russos ou Chineses (presumindo-se que seriam os únicos com alguma capacidade de tentar isso) mandem para cá. Outra vez, nada de "viralatice", apenas uma apreciação objetiva do que é real agora e dificilmente deixará de ser nas décadas vindouras.

:arrow: Por fim, qualquer conflito entre forças Sul-Americanas que dure mais do que uns poucos dias e inclua mais do que algumas poucas GUs se tornará (ou melhor, deverá ser considerado) longo e de modo algum poderá ser sustentado basicamente por recursos disponíveis em qualquer das Nações envolvidas. Cada propulsor com defeito significará um vetor a menos (pois ninguém aqui fabrica seus próprios propulsores), cada míssil ar-ar/antiaéreo disparado trará para mais perto o fim dos estoques (pois ninguém fabrica AAM nem SAM, ao menos não todas as peças. Notar que até o radar Saber M60 tem parte de seus componentes originários de outros Países), cada pneu usado em aeronaves de alto desempenho que for baixado não poderá ser substituído, pois ninguém na América do Sul fabrica e etc, etc, etc. Novamente, nada de "viralatice", é a nossa realidade.
Olá Túlio, e obrigado pela resposta detalhada - no entanto, gostaria de discordar em parte de suas colocações - tenho a impressão de que vc repete uma percepção extremamente pessimista da capacidade brasileira em empreender um esforço de guerra sustentado, sem aplicar os mesmos standards a outros países vizinhos. Na verdade, o ranking estabelecido pelo site GFP não é apenas um somatório de números - ele analisa o tamanho da economia nacional bem como sua capacidade de concentrar esforços e recursos em caso de conflito militar.

E neste quesito, é mais do que óbvio que o Brasil detém imensas possibilidades já que produz praticamente tudo em casa, com um mercado interno gigantesco - por esta e outras razões vê-se o Brasil como um país ainda muito fechado para o resto do mundo (OMC e várias outras organizações o confirmam), o que, ironicamente, seria algo positivo para nós se fontes externas secassem.

Fica claro também que a exclusão do "400-pound gorilla in the room", os EUA, é um exercício teórico - mas mesmo assim temos precedentes onde eles escolheram o não-envolvimento em casos onde seus interesses não estavam sendo afetados de forma considerável - inúmeros conflitos bilaterais/regionais no passado recente (i.e. desde 1850 ou algo assim) NÃO tiveram intervenção norte-americana.

Mesmo o caso das Falklands mostrou que os EUA tinham pouco apetite para apoiar ostensivamente GB ou Argentina - in fact they left such countries to their own devices, como diríamos em inglês.

Assim sendo, manteria meu entendimento de que, parafraseando outro colega acima, somos "caolhos" em um terra de cegos - nem Chile, nem Argentina, nem Colômbia, nem África do Sul nem Venezuela teriam QUALQUER capacidade industrial ou bélica de dominar nosso país - e uma vez unificado o povo ao redor de um conflito (difícil pensar nisto em termos de paz, mas quase SEMPRE acontece), nossa vasta indústria se tornaria, SIM, uma indústria de guerra pronta a produzir o que fosse necessário excetuados talvez itens de altíssima tecnologia fornecidos por EUA/EU. E vou mais longe: até mesmo a França padece de uma péssima reputação quando projeta força: vide o ridículo trabalho que fizeram na Líbia recentemente - sem apoio logístico dos EUA a Europa é um tigre sem dentes.

Também discordo de sua análise de que tudo o que temos é "obsoleto" - tropas de paz brasileiras têm feito um ótimo trabalho em outras paragens, e particularmente nossos equipamentos de terra deixam muito pouco a desejar em termos de qualidade - nossas tropas de selva são as melhores do mundo - nossas tropas de segurança urbanas também estão expostas a riscos que poucas outras tropas de elite encaram. E uma vez mais: TODA a supply chain militar hoje em dia é internacionalizada - até no caso do desastre chamado F-35 vemos inúmeros itens produzidos fora dos EUA; mas daí a dizer que, em caso de crise não temos capacidade de produzir mísseis, munição e peças de reparo é um pouco excessivo. Nossa indústria bélica beneficia de acordos de transferência de tecnologia bem como de longa experiência advinda dos tempos de ENGESA etc. - fora que, em caso de conflito, a hipótese de isolamento COMPLETO à la Coréia do Norte é muito remota.

De qq forma, obrigado pelas atenciosas colocações..!




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Re: Brasil como segunda força do Hemisfério Ocidental?

#18 Mensagem por Túlio » Sáb Jun 11, 2016 3:10 pm

OK! Ur right.

Thanks.




"The two most powerful warriors are patience and time." - Leon Tolstoy
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