A Matriarca Fundadora do Iraque.

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A Matriarca Fundadora do Iraque.

#1 Mensagem por Clermont » Qui Ago 30, 2007 2:18 pm

A MATRIARCA FUNDADORA DO IRAQUE.

Por Charles Glass – 14 de julho de 2007.

Durante o gélido inverno de 2003, nas montanhas do Curdistão iraquiano, Ahmad Chalabi estava esperando que os Estados Unidos invadissem seu país. Ele estava lendo, entre outros livros, uma biografia de Gertrude Bell, prima inter pares dos fundadores britânicos do moderno Iraque. O livro, Desert Queen por Janet Wallach, incluía uma passagem que Chalabi gostava tanto que ele a lia alto para mim, ao lado de um fogo aceso em sua casa protegida em Sulaimaniya. Na anedota que ele selecionou de Desert Queen, a senhorita Bell estava ouvindo o idoso Abdul Rahman al Gailani, que, na qualidade de Naqib de Bagdá, era uma respeitada figura sunita muçulmana. O Naqib se dirigia a ela como “Khatun”, ou Dama (da palavra turca para mulher nobre), em Bagdá, a 6 de fevereiro de 1919, dois anos após a Grã-Bretanha conquistar a velha capital abássida mas antes de ter apresentado seus planos para o governo de pós-guerra. Falando em árabe, ele disse a ela:

“Sua nação é grande, rica e poderosa... Onde está seu poder? ... Vocês são os governadores e eu o governado. E quando me perguntam minha opinião quanto à continuação do domínio britânico, eu respondo que sou o súdito do vitorioso. Você, Khatun, tem uma compreensão dos assuntos do estado. Eu não hesitarei em lhe dizer que eu amava o governo turco quando ele era da forma como eu o conheci. Se eu pudesse retornar ao domínio dos sultões da Turquia, como eles eram nos tempos antigos, eu não faria nenhuma outra escolha. Mas eu desprezo e odeio, amaldiçôo e mando para o diabo o atual governo turco. O Turco está morto; ele se desvaneceu, e eu estou contente em me tornar súdito de vocês.”

Chalabi estava apostando que a postura do Naqib para com os britânicos em 1919 poderia servir como modelo para a recepção de Bagdá aos seus aliados americanos em 2003. No entanto, mesmo em 1919, o Naqib estava em minoria. Um ano mais tarde, a maioria da população do que se tornou o Iraque pegou em armas contra os britânicos. Mesmo assim, a senhorita Bell havia escolhido ouvir ao Naqib, ainda que seletivamente. Washington também preferiu, passando por cima de iraquianos mais céticos, ouvir as garantias do amigo de Chalabi e aliado político Kanan Makiya, que disse a George Bush que o povo iraquiano “iria saudar as tropas com doces e flores.” Como os eventos se desenrolaram, a saudação iraquiana consistiu mais de bombas do que de bombons.

Os círculos, ideologicamente carregados, dos neoconservadores de Washington possuíam pouco conhecimento ou compreensão do Oriente Médio, o que lhes permitiu desconsiderar as conseqüências previsíveis de invadir e ocupar o Iraque. (Havia precedentes que poderiam ter sido analisados: nos anos 1980, em particular, centenas de milhares de iraquianos, a maoria deles xiitas de quem se poderia esperar simpatias pelo revolucionário Irã, morreram enfrentando a invasão iraniana.) Mas uma mulher inteligente e informada como Gertrude Bell carecia do álibi da ignorância. Ela tinha viajado pelo país durante anos, e, provavelmente o conhecia melhor do qualquer outro ocidental. Seu desígnio de forçar os árabes – tanto sunitas quanto xiitas – e curdos em um estado artificial sob domínio britânico estava condenado a mergulhar o país na guerra. Ela, juntamente com outros competentes arabistas britânicos na administração de Bagdá, recusaram-se a ver a inevitável reação da imposição do filho do aliado de tempo de guerra da Grã-Bretanha, o Sharif Hussein bin Ali de Meca, sobre eles em 1920. Mesmo o Naqib a tinha prevenido que ele “antes preferiria mil vezes ter os turcos de volta no Iraque do que ver o Sharif ou seus filhos instalados lá.”

Bell imaginava que o filho de Hussein, Faisal, que havia lutado pelos britânicos contra a Turquia durante a Grande Guerra e sido expulso da Síria pelos franceses, depois disso, iria ser aceitável para a maioria dos iraquianos. Enquanto não fosse provável que os curdos dessem boas-vindas a um chefe de estado árabe sob tutela britânica, ela acreditava que os árabes xiitas iriam ver em Faisal um descendente direto do Profeta Mohammad, através do mui reverenciado Ali e que os árabes sunitas iriam considerá-lo como um deles próprios. O Naqib, cujo conselho ela ignorou, a havia prevenido, “O Hejaz é um e o Iraque é outro, não há conexão entre eles exceto, pela Fé. Nossas políticas, nosso comércio, nossa agricultura são todas diferentes daquelas do Hejaz.” Era a intenção dela tornar o Iraque governável ao criar o que os britânicos iriam chamar de “duas maiorias” a partir das três comunidades. A teoria permitiria a qualquer grupo se combinar com outro, permitindo a dois constituir-se em maioria. Assim, muçulmanos sunitas árabes e curdos podiam dominar os árabes xiitas; inversamente, as duas comunidades árabes, xiitas e sunitas, combinadas teriam uma maioria sobre os curdos. Os iraquianos nunca foram capazes de exercer os direitos da maioria devido às facções, principalmente mas não exclusivamente de árabes sunitas, governarem o país sob os britânicos, a monarquia e o Partido Baath sem referência ao governo da maioria ou a qualquer outra noção de democracia. Quando eleições finalmente foram efetuadas, sob ocupação americana, os sunitas as boicotaram – deixando os xiitas árabes e os sunitas curdos constituírem o governo, uma combinação que desafia as diferenças étnicas e religiosas e que os britânicos não tinham antecipado.

Em 1920, quando a Grã-Bretanha deixou clara sua intenção de governar sem levar em conta as intenções árabes e curdas, os grupos se rebelaram. A Grã-Bretanha os reprimiu implacavelmente, enviando a Real Força Aérea para empreender o primeiro bombardeio aéreo em massa de civis. O então Secretário de Estado da Guerra e do Ar Winston Churchill propôs a utilização de armas químicas contra os curdos iraquianos, mas a tecnologia para lançamento de gás venenoso pelo ar ainda estava para ser desenvolvida. Um ultrajado T.E. Lawrence (“Da Arábia”) escreveu para o Sunday Times em 1920, “Nós matamos dez mil árabes no levante deste verão. Não podemos esperar manter uma tal média: aquele é um país pobre, esparsamente povoado.” O Daily Times, normalmente apoiador da expansão imperial, notou que a Grã-Bretanha estava impondo aos iraquianos “uma elaborada e dispendiosa administração pela qual eles nunca pediram e que não querem.”

Como os americanos mais tarde, os britânicos encenaram uma eleição – realmente um referendo, o modelo para as subseqüentes fraudes eleitorais no mundo árabe – na qual 96 % dos votantes, ostensivamente aceitaram os planos da Grã-Bretanha para eles. Assim foi o Príncipe Faisal, filho de Hussein de Meca, coroado rei do Iraque. Aos 10 mil mortos em 1920, a Grã-Bretanha adicionou milhares mais, debelando as revoltas árabes e curdas dos anos 1920 através dos anos 1940. Em 1958, um ano após a Grã-Bretanha retirar sua última base da RAF de Habbaniya, próximo a Bagdá, uma revolução derrubou a monarquia que ela havia imposto. A invasão e ocupação americanas tem levado às mortes de tantos iraquianos que as melhores pesquisas até essa data calculam entre um mínimo de 392.979 e um máximo de 942.636. Ninguém sabe quantos mais morrerão antes que os Estados Unidos se retirem ou quantos mais serão mortos após a última base americana ser fechada. É dessa forma que os impérios se intrometem, cortam as perdas e fogem.

Foi, em parte para reverter os efeitos catastróficos do nascimento do Iraque que os Estados Unidos invadiram o país em março de 2003. Bell, o mentor dela Sir Percy Cox e outros orientalistas britânicos haviam criado um estado auto-destrutivo que, raramente conheceu a paz – sofrendo incontáveis rebeliões, massacres de assírios e curdos nos primeiros anos, golpes militares, assassínio como política de estado e uma guerra com o Irã que deixou um milhão de mortos. Essa história culminou na feroz tirania de Saddam Hussein, cujo desprezo pela autodeterminação do seu povo excedia aquele dos britânicos. Os americanos, longe de desfazerem o legado britânico de derramamento de sangue, o prolongaram e o intensificaram. O estado unificado iraquiano da Grã-Bretanha pode não existir mais, porém o legado da tomada de decisões através da violência continua.

Gertrude Bell amava o Iraque e queria o melhor para seu povo, como ela e não ele, entendia isso. Neste sentido, ela era uma versão britânica ingênua de Paul Wolfowitz. Mas esse último foi o arquiteto de uma guerra, enquanto a senhorita Bell desenhou o que, para ela significava a paz. Wolfowitz, armado com preconceitos doutrinários, nunca viveu entre árabes ou curdos. A senhorita Bell conhecia as tribos, redes de família, hierarquias religiosos e a paisagem da Mesopotâmia, Síria e Arábia. Durante anos, antes da ocupação britânica, ela viajou por lá à pé, à cavalo e de camelo, como ela relembra em seu memorável livro de viagens, The Desert and the Sown. Como uma mulher sozinha, ela confiava para sua sobrevivência na hospitalidade e cortesia dos anciãos tribais – que eles concediam livremente. Ainda assim, as motivações dela eram mais do que acadêmicas. Quando o chefe de uma das mais importantes tribos do Iraque, os shammar, lhe disse que ela seria bem-vinda em todas as tendas shammar, ela escreveu para casa, “Algum dia, eu tirarei partido desse convite. Eu gosto de me tornar conhecida desses senhores do deserto, isso sempre pode ser útil.” Útil para a Grã-Bretanha.

Ela arriscou sua vida para estudar os árabes, e se tornou amiga e confidente de muitos sheiks que não estimavam o intelecto feminino até a encontrarem. (A senhorita Bell, uma proeminente membro da Liga Anti-Sufrágio das Mulheres, tinha pouca consideração pela inteligência de seu sexo e daria uma improvável heroína feminista – apesar do fato de que a maioria dos seus biógrafos são mulheres admiradoras.) Georgina Howell, sua última biógrafa, observa que Bell escreveu sobre uma anterior expedição entre os curdos, que ela tinha “com certeza perdido seu coração” para eles, mas nunca foi capaz de persuadir seus chefes de que se tornar parte do Iraque iria ser bom para eles. Até o fim do domínio britânico, eles insistiram na independência que os aliados lhes haviam prometido, imediatamente após a Grande Guerra. Ela fez poucos avanços com os árabes xiitas, escrevendo em 1920, “Até bem recentemente, eu estive totalmente isolada [dos xiitas] porque seus fundamentos os proíbem de olhar para uma mulher sem véu e os meus fundamentos não me permitem usar o véu.” Ainda assim, ela tinha inúmeros chefes de todas as seitas entre seus amigos, incluindo o velho Naqib de Bagdá, a quem ela tinha conhecido desde sua visita em 1909 à cidade. Se alguém podia bajular e influenciar as pessoas daquilo que se estava tornando o Iraque, foi essa excêntrica, voluntariosa e inteligente inglesa de alta-classe média. Ela ajudou a Grã-Bretanha a impor a idéia de um Iraque sobre povos recalcitrantes; mas ela falhou, como ocasionalmente reconhecia em tempos de crise, em tornar aceitável o imperium britânico.

A vida de Gertrude Bell teria sido interessante mesmo sem sua aventura do Iraque, mas ela poderia não ter sido assunto de tantas biografias – das quais Gertrude Bell: Queen of the Desert, Shaper of Nations de Howell é, pelo menos a décima em inglês desde 1940. (Também publicados foram os dois volumes de cartas e seus diários árabes.) A senhorita Bell era uma acadêmica de mérito, uma das raras mulheres de seu tempo a receber um grau de Honra de Primeira-Classe de Oxford, em 1888, e uma escritora instigante. Filha de industriais do norte de inclinações liberais, ela se movia com facilidade entre os círculos intelectuais britânicos da época. Desapontada no amor – os dois homens que ela desejou desposar, morreram, e a maioria de seus biógrafos acredita que ela permaneceu virgem – ela era, contudo uma arqueóloga, exploradora e alpinista, completa. Mas não fosse seu engajamento político no Iraque entre a invasão da Grã-Bretanha em 1916 e o suicídio dela em 1926, Gertrude Bell teria tomado seu lugar no elenco de damas viajantes inglesas, como Lady Hester Stanhope e Jane Digby, que tinham, meramente ido viver entre os árabes. Como assistente de Sir Percy Cox, o primeiro Alto-Comissário da Grã-Bretanha sobre o Mandato no Iraque, a senhorita Bell utilizou suas conexões em Londres e entre os líderes árabes do país para estabelecer um estado que ela imaginava iria beneficiar seus súditos, e sua influência sobre ele foi, provavelmente maior do que a de qualquer outro funcionário britânico. Ela era uma implacável lutadora burocrática, se livrando de rivais tão disparatados como o legendário arabista Harry St. John Philby e o nacionalista árabe iraquiano Sayyid Talib Pasha.

Durante os preparativos americanos para a invasão do Iraque no final de 2002 e início de 2003, iraquianos que se opunham a Saddam Hussein mencionavam Gertrude Bell com mais freqüência do que a qualquer outra figura imperial britânica. Eles acusavam certos funcionários americanos de buscarem se tornar a nova Gertrude Bell, cujo nome eles utilizavam pejorativamente. Que a maioria dos americanos jamais tenha ouvido falar dela, indica que o conhecimento americano do Iraque se destinava, somente a administrar seu petróleo, seu relacionamento com Israel e seu potencial como base militar de longo prazo de onde controlar o Oriente Médio. Com uma agenda mais limitada do que a da Grã-Bretanha, precisariam os americanos conhecer, como a senhorita Bell o fez, cada tribo e todos os dialetos? O conhecimento dela fez pouco mais pelo Iraque do que a ignorância americana, pois o fator operativo no relacionamento entre ambos os impérios e o Iraque era o emprego da força. A Grã-Bretanha e os Estados Unidos a utilizaram liberalmente.

Ainda assim, a influência de Bell sobre o Iraque foi, de certo modo, mais construtiva do que essa dos ocupantes americanos que sucederam os britânicos. O Museu Nacional do Iraque, ao qual os saqueadores pilharam em abril de 2003, enquanto forças americanas guarneciam o ministério do petróleo, foi criação dela. Ela tinha acalentado a história da Mesopotâmia quase tão ferozmente quanto buscou determinar seu futuro. A invasão americana, setenta e sete anos depois da morte dela, não apenas desmantelou o Iraque unificado que ela havia desenhado, mas também destruiu o registro do passado iraquiano através do saque do museu dela, o vandalismo da Halliburton na Babilônia e as pichações de fuzileiros navais sobre o zigurate de Ur. Nunca, desde os mongóis, invasores tinham demonstrado um tal desrespeito pela história da Mesopotâmia. Como as coisas se passaram, não houve nenhuma Gertrude Bell americana desejosa de salvar e preservar os artefatos históricos onde se diz ter começado a história civilizada da humanidade.

Há muitas razões para escrever uma nova biografia sobre um velho assunto: a descoberta de novo material, desenvolvendo-se uma interpretação original, colocando a vida em contexto fresco ou o desejo de escrever um livro melhor do que estes que vieram antes. “Gertrude Bell” de Howell não pode clamar nada disso, embora ele seja, claramente o resultado de uma copiosa pesquisa. Publicado apenas dez anos após o de Janet Wallach e no mesmo ano de outra biografia de Bell, por Liora Lukitz, o livro de Howell acrescenta pouco aos trabalhos anteriores. Em seu prefácio, Howell afirma que a voz de Bell “precisa ser ouvida e apreciada, me parece – por isso decidi usar muito mais de suas palavras do que iria aparecer em uma biografia convencional”. Mesmo assim, ela não parece usar muito mais das palavras da senhorita Bell do que fizeram Janet Wallach, ou H.V.F. Winstone, em seu “Gertrude Bell” de 1978. Howell aceita, acriticamente, - como, aliás, o fizeram a maioria dos anteriores biógrafos – a interpretação da senhorita Bell dos eventos, enquanto ela os relatava.

A história do político iraquiano Sayyid Talib Pasha é um exemplo. Talib era o filho do Naqib de Basra. Durante a Grande Guerra, quando a Grã-Bretanha estava enfrentando o Império Otomano, ele havia fundado um movimento nacionalista árabe oposto ao domínio turco. Apesar disso, ele não era tão cúmplice quanto poderiam ter gostado os britânicos. Sir Percy Cox, então o oficial político do exército britânico na Mesopotâmia, o mandou deportar para a Índia em 1916. Talib retornou após os britânicos ocuparem Bagdá em 1917, mas ele estava desejoso de cooperar com a Grã-Bretanha – atuando, por um tempo como ministro do interior – enquanto a Grã-Bretanha mantivesse sua promessa de conceder total independência ao país. Em um jantar em sua casa de Bagdá, em abril de 1921, Talib contou a seus convidados árabes e britânicos, “Se os britânicos não mantiverem lealmente suas promessas, há o Amir Rabiah com 20 mil nativos, e o Shaikh Salim com toda a sua tribo para perguntar as razões disso.” Ele tinha criticado um certo funcionário britânico que estaria exercendo influência para forçar os iraquianos a aceitarem o Sharif Faisal do Hejaz como seu futuro líder. Isso era uma clara referência a Bell. Quando a conversa foi relatada a ela, na manhã seguinte, ela escreveu, imediatamente para Sir Percy, agora o Alto-Comissário. Cox convidou Talib para o chá em sua casa, mas foi cuidadoso de não estar presente em pessoa. Um dos convidados, major Bovill, saiu mais cedo. Depois de agradecer à Lady Cox e dizer adeus a senhorita Bell, Talib saiu da casa rumo ao Tigre. O major Bovil estava aguardando na ponte. “Eu lamento ter ordens para detê-lo,” ele disse. Talib foi transportado rapidamente, enviado para o Ceilão e proibido de retornar ao Iraque. Howell não encontra nenhuma duplicidade nisso e isenta a senhorita Bell pelo que equivalia ao seqüestro de um obstáculo aos planos britânicos para o país de Talib. Referindo-se ao “menos que salubre Sayyid Talib,” Howell escreve, “Ela (Bell) argumentou que as ameaças de Talib o tinham desqualificado para participar no processo democrático.” Processo democrático?

Wallach também compartilhou do preconceito de Bell, chamando Talib um “patife inconveniente”; mas Winstone se baseou menos nas auto-desculpas da personagem de sua obra: “A detenção foi um ato de insensibilidade política e social, e a parte de Gertrude nisso não pode escapar de crítica, mais do podem Sir Percy ou Lady Cox.” A representação de Howell – como também de Wallach e Lukitz – do que era, fundamentalmente a versão imperial britânica da fundação do Iraque pode ser explicada, em parte pelos reconhecimentos em sua obra. Como outros biógrafos de Bell, ela agradece bibliotecas, diplomatas, funcionários e acadêmicos no Ocidente. Ela não parece ter consultado quaisquer iraquianos. Talvez a versão deles seja aquela que deva ser escrita a seguir.

A primeira pessoa a contar a história foi, é claro, a própria senhorita Bell. “Nenhuma vida jamais pôde ser melhor documentada do que a de Gertrude Bell,” Winstone, um dos seu primeiros biógrafos homens, escreveu. “Da tenra infância ao fim de seus dias, ela registrou cada passo, cada evento significativo, em cartas para sua família e amigos.” O website dos Arquivos Nacionais Britânicos declara, “Os documentos consistem de dezesseis mil cartas, dezesseis diários, sete livros de notas e quarenta e quatro pacotes de material diverso.” Isso em adição às 7 mil fotografias dela. (O próximo biógrafo de Bell irá achar a maioria desses documentos na Universidade de Newcastle no norte da Inglaterra. O material é abundante, mas também o são seus biógrafos. De algum modo, a vida e o suicídio de Bell aos 57 anos permanecem tão enigmáticos quanto a insistência das potências ocidentais em seu direito de intervirem no Iraque – não importam os resultados.


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Re: A Matriarca Fundadora do Iraque.

#2 Mensagem por Clermont » Qui Jul 17, 2014 7:34 pm

"Queen of The Desert" - Herzog dirige drama sobre Gertrude Bell, versão feminina de T.E. Lawrence.

www.epipoca.com.br - 16.07.14.

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Não há ainda uma data definida para a estreia do novo trabalho do diretor alemão Werner Herzog, mas é certo que muito em breve o filme estará nas telas dos cinemas. Trata-se de "Queen of the Desert", cuja produção está sendo filmada no Marrocos e na Jordânia. Os produtores do projeto são Nick N. Raslan e Cassian Elwes.

"Queen of The Desert" trará no elenco Nicole Kidman no papel central, o da escritora, viajante, arqueóloga, exploradora e cartógrafa inglesa Gertrude Bell - Gertrude Margaret Lowthian Bell (14/07/1868 – 12/07/1926). Figura das mais importantes na história, Gertrude Bell atuou na Inteligência Britânica durante a Primeira Guerra Mundial e colaborou com o desmantelamento do Império Otomano. Teve papel decisivo nas relações entre o Império Britânico e as lideranças tribais do Oriente Médio, tendo ajudado a criar as dinastias Hachemitas nas regiões hoje conhecidas como Jordânia e Iraque. Por sua presença política, Gertrude é considerada a versão feminina de T.E. Lawrence, personagem que ficou famoso no clássico "Lawrence da Arábia", dirigido por David Lean.

T.E. Lawrence, aliás, também será retrado em "Queen of The Desert". O papel, que no filme de 1962 foi de Peter O'Toole, ficará agora com o ator Robert Pattinson. O elenco ainda conta com James Franco e Damian Lewis (conhecido do público por sua participação na premiada série de TV "Homeland").




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